Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 30, 2014

A Petrobras e o pré-sal no fundo do poço Gilberto Menezes Côrtes


O GLOBO

Famílias temem que a economia entre em longo ciclo de inflação alta com baixo crescimento, fatal ao emprego e à renda, até na indústria naval. Teria o sonho acabado?

Nem o maior crítico das decisões de Dilma quando acumulou nos governos Lula o Ministério de Minas e Energia e a Casa Civil com a presidência do Conselho de Administração da Petrobras podia supor que a empresa fecharia 2014 em situação tão dramática. Sem o lastro de gigantes campos de petróleo (mais de dois milhões de barris/dia e mais de 16 bilhões de barris em reservas), refinarias, petroquímica, navios e plataformas próprias ou arrendadas, poderia seguir o destino da petroleira de Eike Batista, a OGX, com um só campo de produção, inviável. Entre a descoberta provada do pré-sal — em 2007, quando o barril valia US$ 105 (chegou a US$ 160 no mercado futuro, em agosto de 2008, quando o estouro da bolha financeira de Wall Street jogou a economia mundial ao chão) — e dezembro de 2014 (US$ 59, com a redução da demanda nos EUA, após exploração do shale gas), tudo o que podia ser feito de errado aconteceu na Petrobras, a "tempestade perfeita".

Certa de que o Brasil ganhara na loteria e garantira seu futuro no século 21 (embora sem base educacional e produção industrial sofisticada ou tecnologia de ponta), Dilma convenceu Lula a suspender os leilões da ANP, a rever o marco regulatório e dar à Petrobras posição obrigatória mínima de 30% em cada novo poço. Manteve o rígido controle dos preços dos derivados, incluindo o GLP, que dá popularidade, mas mina as receitas da estatal. Confiante, o governo fez do petróleo o novo motor da economia e lançou ambicioso programa de produção de barcos de apoio, plataformas, navios de transporte, tudo com alto índice de nacionalização. Moleza para empreiteiras e fornecedores.

Quando as entregas atrasavam, ou tinham defeito (caso do navio João Cândido, posto ao mar, com soldas mal feitas no Estaleiro Atlântico Sul, em maio de 2010, em Pernambuco, para servir de palanque ao lançamento oficial da candidatura Dilma), dizia-se que era "o preço da curva de aprendizagem". Véu que encobria tenebrosas transações. Como informou O GLOBO, a manobra teve bis em Angra dos Reis (no estaleiro Toyo Setal, com executivos na delação premiada) entre o primeiro o segundo turnos de 2010, ao custo extra de US$ 25 milhões para antecipar a entrega da plataforma P-57 (custou US$ 1,2 bilhão), majestoso palanque da eleição de Dilma. O pré-sal serviu para costurar alianças com políticos dos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, dando-lhes maior fatia na redistribuição dos royalties do óleo do mar, prejudicando Rio de Janeiro (responsável por 80% do petróleo do país), Espírito Santo e São Paulo. E atrelou 75% dos recursos à saúde e à educação. Daí, a forte votação de Dilma no Norte/Nordeste em 2010 e 2014.

Na crise de 2008/2009, o governo dobrou as fichas no petróleo. Estimulou a venda de carros à nova classe C em até seis anos e manteve gasolina e álcool congelados. Gerou engarrafamentos diários e superendividamento das famílias. Agora, hesita em agir. As famílias temem que a economia entre em longo ciclo de inflação alta com baixo crescimento, fatal ao emprego e à renda, até na indústria naval. Teria o sonho acabado? A desmoralização da Petrobras fez seus ativos valerem menos que as dívidas para tocar o pré-sal. Com os problemas da estatal e a queda vertiginosa do petróleo (e dos minérios e das commodities agrícolas), além de sérios problemas na balança comercial e nas contas externas, a sonhada redenção do Brasil, via petróleo e a educação de qualidade, corre risco de se limitar a uma segunda época no Pronatec.

Gilberto Menezes Côrtes é jornalista

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http://oglobo.globo.com/opiniao/a-petrobras-o-pre-sal-no-fundo-do-poco-14931547

Se tivesse falado a verdade, Dilma teria sido reeleita? Ricardo Noblat

De Dilma, em 22 de outubro deste ano, às vésperas de se reeleger por uma vantagem modesta de votos:

- As pessoas são o centro do meu governo como foram o centro do governo Lula. Vamos mostrar que este país não vai voltar atrás. As duras conquistas não serão tiradas de nós.

De Dilma em mais de uma ocasião da campanha no primeiro e no segundo turnos:

- A inflação está sob controle. Não vou aplicar os métodos do PSDB. Não estou aqui para aumentar os juros e desempregar ninguém.

Da reeleição para cá, o Banco Central já aumentou os juros duas vezes. E a impressão digital do PSDB apareceu com nitidez no pacote de medidas anunciado, ontem, para organizar as finanças do governo que a presidente jamais admitiu que estivessem desorganizadas.

O pacote reúne mudanças que atingem o abono salarial, o seguro-desemprego, o seguro-desemprego dos pescadores artesanais, a pensão por morte e o auxílio-doença.

No blog do Planalto - e também no blog da Dilma -, o duro ajuste fiscal bancado por Joaquim Levy, futuro ministro da Fazenda, e destinado a economizar no próximo ano R$ 18 bilhões, foi apresentado sob a manchete: "Governo corrige distorções na concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários".

Quem diria que benefícios conquistados pelos brasileiros que mais precisam seriam chamados de "distorções" por auxiliares de Dilma. Quem diria que Dilma e sua turma se valeriam da receita do PSDB para pôr a casa em ordem.

Estelionato é, segundo o Dicionário do Aurélio, o "ato de obter, para si ou para outrem, vantagem patrimonial ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo em erro alguém, por meio fraudulento".

Substitua "vantagem patrimonial ilícita" por "vantagem eleitoral ilícita" para ter uma ideia do que cometeu Dilma na campanha em que se reelegeu.

Ela negou tudo ou quase tudo que começou a fazer para governar outra vez. Simples assim.

Daniel Aarão Reis ‘Claro que sí, podemos!’

'Claro que sí, podemos!'

O programa apresentado pelos candidatos do Podemos tentou captar e canalizar demandas fortes na sociedade espanhola

Desde começos do ano apareceu na cena política espanhola uma alternativa, um novo ator coletivo, o partido Podemos.

Lançado em 16 de janeiro, num teatro de Madri, formado por educadores, professores e artistas, alguns com presença na mídia nacional, quase todos entre 30 e 40 anos, instituiu-se numa assembleia aberta, convocada pela internet, com o objetivo de disputar as eleições europeias, previstas para maio.

Os resultados surpreenderam os mais otimistas: numa campanha barata, com grande participação de militantes anônimos, sem contar com doações de empresas e sem prestar "consultorias" rentáveis, o Podemos registrou quase 8% dos votos, elegendo cinco deputados para o Parlamento Europeu, virando a quarta força política do país. Em algumas cidades e regiões, ultrapassou o patamar de 10% dos votos, tomando o terceiro lugar.

O programa político apresentado pelos candidatos do Podemos tentou captar e canalizar demandas fortes na sociedade espanhola, desde que explodiu a crise econômica de 2008: revigoramento dos sistemas públicos de saúde e de educação; políticas de reindustrialização; incentivos à construção civil para as pessoas de baixa renda; reajustes salariais, revertendo a curva declinante das remunerações dos trabalhadores.

A preocupação em defender a sociedade exprimiu-se na fórmula: "Toda a riqueza do país, nas suas diferentes formas, e seja qual for a sua titularidade, está subordinada ao interesse geral." Trata-se, a rigor, de um princípio inserido na Constituição espanhola e foi curioso observar como um princípio constitucional podia transformar-se numa proposta com ares de subversiva. Ou subversivos estariam sendo os governantes, mais preocupados em cuidar dos bancos e das grandes empresas do que do bem-estar e da felicidade das pessoas?

Havia, em outros aspectos, ousadas ideias: impedir restrições à lei sobre a interrupção voluntária da gravidez; retirar a Espanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan); revogar a Lei sobre os Estrangeiros; respeitar a liberdade da Catalunha — ou outras regiões do país — de decidir o próprio destino.

O sucesso tornou populares os líderes e as propostas do Podemos. Entre maio e julho, o partido multiplicou por seis seus apoios nas redes sociais, de cem mil para 600 mil. Neste último mês, pesquisas do Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS) apontavam o Podemos como segunda força política, superando o tradicional representante da social democracia, o Partido Socialista Espanhol (PSOE), e a apenas um ponto do Partido Popular (PP), de direita, que preside o atual governo.

As inscrições abertas pela internet explodiram, passando, em três meses, de julho a outubro, de 32 mil para mais de 200 mil filiados. Ao mesmo tempo, entrevistas de lideranças do Podemos em programas de televisão registravam recordes de audiência.

Outras pesquisas, publicadas no início de novembro, situaram o novo partido como principal força política eleitoral, à frente do PP e do PSOE. Entretanto, considerando-se as próximas eleições gerais, de novembro do próximo ano, observaram-se ainda oscilações, mas por diferenças mínimas, entre os principais partidos.

Em virtude da importância política adquirida, o Podemos transformou-se rapidamente em alvo de restrições, agravos e denúncias.

Os mais indulgentes chamam seus líderes de "ingênuos", e suas propostas, de "irrealistas." Num registro mais severo, são acusados de "irresponsáveis" e de "populistas", destacando-se a "perigosa" aproximação com a experiência em curso na Venezuela e na Bolívia, e as "inaceitáveis" evocações de V. Lênin nas intervenções de Pablo Iglesias Turrión, um dos recém-eleitos eurodeputados e principal liderança política e midiática do partido.

O Podemos experimenta um momento de euforia, comum em experiências inovadoras, que surgem com alto índice de entusiasmo. Com uma organização democrática, embora sujeita a questionamentos, acionando as redes sociais e se beneficiando de seu potencial "horizontalizador", terá pela frente desafios que já fizeram naufragar aventuras semelhantes: combinar demandas sociais com o jogo político-partidário institucional. As disputas eleitorais com a mudança social.

As repetidas manifestações de rua (os "indignados"), mesmo muito amplas, mas sem participação no jogo institucional, propondo o voto nulo ou a abstenção, contribuíram, involuntariamente, para ascenso da direita ao poder político. Já a concentração exclusiva nas disputas institucionais — o cretinismo parlamentar — levou ao abandono da perspectiva de mudança. Foi o caso do PSOE, que se tornou um mero gestor da crise sistêmica do capitalismo em detrimento dos interesses das maiorias.

Trata-se de "converter a indignação social em mudança política". O Podemos terá êxito? "Claro que sí, podemos", responde Iglesias. Coragem e esperança, um belo presente de Natal para os espanhóis.

Daniel Aarão Reis é professor de História Contemporânea da UFF

daniel.aaraoreis@gmail.com



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O programa apresentado pelos candidatos do Podemos tentou captar e canalizar demandas fortes na sociedade espanhola

Desde começos do ano apareceu na cena política espanhola uma alternativa, um novo ator coletivo, o partido Podemos.

Lançado em 16 de janeiro, num teatro de Madri, formado por educadores, professores e artistas, alguns com presença na mídia nacional, quase todos entre 30 e 40 anos, instituiu-se numa assembleia aberta, convocada pela internet, com o objetivo de disputar as eleições europeias, previstas para maio.

Os resultados surpreenderam os mais otimistas: numa campanha barata, com grande participação de militantes anônimos, sem contar com doações de empresas e sem prestar "consultorias" rentáveis, o Podemos registrou quase 8% dos votos, elegendo cinco deputados para o Parlamento Europeu, virando a quarta força política do país. Em algumas cidades e regiões, ultrapassou o patamar de 10% dos votos, tomando o terceiro lugar.

O programa político apresentado pelos candidatos do Podemos tentou captar e canalizar demandas fortes na sociedade espanhola, desde que explodiu a crise econômica de 2008: revigoramento dos sistemas públicos de saúde e de educação; políticas de reindustrialização; incentivos à construção civil para as pessoas de baixa renda; reajustes salariais, revertendo a curva declinante das remunerações dos trabalhadores.

A preocupação em defender a sociedade exprimiu-se na fórmula: "Toda a riqueza do país, nas suas diferentes formas, e seja qual for a sua titularidade, está subordinada ao interesse geral." Trata-se, a rigor, de um princípio inserido na Constituição espanhola e foi curioso observar como um princípio constitucional podia transformar-se numa proposta com ares de subversiva. Ou subversivos estariam sendo os governantes, mais preocupados em cuidar dos bancos e das grandes empresas do que do bem-estar e da felicidade das pessoas?

Havia, em outros aspectos, ousadas ideias: impedir restrições à lei sobre a interrupção voluntária da gravidez; retirar a Espanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan); revogar a Lei sobre os Estrangeiros; respeitar a liberdade da Catalunha — ou outras regiões do país — de decidir o próprio destino.

O sucesso tornou populares os líderes e as propostas do Podemos. Entre maio e julho, o partido multiplicou por seis seus apoios nas redes sociais, de cem mil para 600 mil. Neste último mês, pesquisas do Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS) apontavam o Podemos como segunda força política, superando o tradicional representante da social democracia, o Partido Socialista Espanhol (PSOE), e a apenas um ponto do Partido Popular (PP), de direita, que preside o atual governo.

As inscrições abertas pela internet explodiram, passando, em três meses, de julho a outubro, de 32 mil para mais de 200 mil filiados. Ao mesmo tempo, entrevistas de lideranças do Podemos em programas de televisão registravam recordes de audiência.

Outras pesquisas, publicadas no início de novembro, situaram o novo partido como principal força política eleitoral, à frente do PP e do PSOE. Entretanto, considerando-se as próximas eleições gerais, de novembro do próximo ano, observaram-se ainda oscilações, mas por diferenças mínimas, entre os principais partidos.

Em virtude da importância política adquirida, o Podemos transformou-se rapidamente em alvo de restrições, agravos e denúncias.

Os mais indulgentes chamam seus líderes de "ingênuos", e suas propostas, de "irrealistas." Num registro mais severo, são acusados de "irresponsáveis" e de "populistas", destacando-se a "perigosa" aproximação com a experiência em curso na Venezuela e na Bolívia, e as "inaceitáveis" evocações de V. Lênin nas intervenções de Pablo Iglesias Turrión, um dos recém-eleitos eurodeputados e principal liderança política e midiática do partido.

O Podemos experimenta um momento de euforia, comum em experiências inovadoras, que surgem com alto índice de entusiasmo. Com uma organização democrática, embora sujeita a questionamentos, acionando as redes sociais e se beneficiando de seu potencial "horizontalizador", terá pela frente desafios que já fizeram naufragar aventuras semelhantes: combinar demandas sociais com o jogo político-partidário institucional. As disputas eleitorais com a mudança social.

As repetidas manifestações de rua (os "indignados"), mesmo muito amplas, mas sem participação no jogo institucional, propondo o voto nulo ou a abstenção, contribuíram, involuntariamente, para ascenso da direita ao poder político. Já a concentração exclusiva nas disputas institucionais — o cretinismo parlamentar — levou ao abandono da perspectiva de mudança. Foi o caso do PSOE, que se tornou um mero gestor da crise sistêmica do capitalismo em detrimento dos interesses das maiorias.

Trata-se de "converter a indignação social em mudança política". O Podemos terá êxito? "Claro que sí, podemos", responde Iglesias. Coragem e esperança, um belo presente de Natal para os espanhóis.

Daniel Aarão Reis é professor de História Contemporânea da UFF

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Um ministério à feição de mensalões e petrolões EDITORIAL O GLOBO

Escândalos que arranham o lulopetismo desde 2005 não impedem Dilma de fazer escolhas com base no fisiologismo, raiz de casos de corrupção

por Editorial
30/12/2014 0:00

Talvez a peculiaridade das eleições de 2014 que mais chame a atenção seja o fato de o candidato derrotado, o tucano Aécio Neves, ter saído das urnas revigorado, enquanto Dilma Rousseff, reeleita, amargue uma série de dissabores.

Parte deles tem a ver com a estratégia de campanha da petista, assentada num discurso de negação de qualquer dificuldade na economia e de crítica cerrada a mudanças que, encerrado o pleito, ela teria de admitir. Mesmo dentro do seu partido há quem se sinta vítima de estelionato eleitoral.

Uma outra peculiaridade ainda está em curso. Trata-se da montagem do ministério para o segundo mandato, em que velhos erros são cometidos, num temerário repeteco das fórmulas fisiológicas do toma lá dá cá, origem dos escândalos que arranham o lulopetismo desde 2005, quando o mensalão foi descoberto. O loteamento de cargos na diretoria da Petrobras, com fins político-eleitorais, é que produziu o maior escândalo da histórias do país, ainda em investigação.

A barganha da cessão de orçamentos ministeriais em troca de votos no Congresso, sabem todos, é a antessala de deslizes éticos e/ou ineficiência administrativa. Planta-se hoje a CPI e o escândalo de amanhã.

É preocupante, por exemplo, escalar um dos Gomes do Ceará, Cid (PROS), para o MEC, sem que se conheça qualquer especialização do governador na área crítica da Educação, bem como o deputado pelo PRB e pastor da Universal George Hilton para o Ministério dos Esportes, enquanto se entra na fase final dos preparativos das Olimpíadas no Rio. Além de o futebol se encontrar em meio a importante debate sobre a renegociação do passivo tributário dos clubes, em troca da sua modernização gerencial.

Como o objetivo prioritário é manter no cabresto apoios no Legislativo, transfere-se Aldo Rebelo (PCdoB) dos Esportes para Ciência e Tecnologia. Nos Esportes, o ministro tratou do futebol com a devida prioridade e desativou a usina de malfeitorias de camaradas tripulantes de ONGs fajutas ou quase. Com a nova área, Rebelo não demonstra afinidades. Quando não defende teses equivocadas: em 1994, propôs projeto de lei para impedir a adoção, pelos órgãos públicos, de tecnologias que poupem mão de obra. Fez lembrar a inglória luta de operários ingleses contra as máquinas, na Revolução Industrial.

Se o objetivo fosse montar uma equipe à altura da agenda de problemas, não faria também sentido empregar derrotados de 2014: Helder Barbalho (PMDB do Pará, filho do cacique ficha suja Jader) e Eduardo Braga ( PMDB-AM), próximos ministros da Pesca e de Minas e Energia. Num ministério de 39 Pastas, a possibilidade de se cometer erros é imensa. E eles estão sendo cometidos.

A presidente Dilma fez autocrítica na condução da economia. Faltou admitir equívocos na gestão política e administrativa do restante do seu primeiro mandato.

terça-feira, dezembro 23, 2014

Paulo Rabello de Castro Mais do mesmo em 2015

O GLOBO

É fato corrente a perplexidade empresarial frente à (falta de) perspectiva de 2015. Nem tanto pelo novo PIB projetado pelo mercado — um raquítico 0,8% — que não dá para cobrir sequer o crescimento vegetativo da população, deixando estagnada a renda per capita por dois anos consecutivos. O que mais estarrece e faz congelar o sentimento empresarial é não conseguirmos enxergar um palmo à frente. Aquela sensação de o país ser "a bola da vez", na hora da arrancada para a prosperidade, foi se desmanchando nos anos recentes pela constatação de que a economia brasileira não estava indo a lugar nenhum, isso se não estiver rumando para uma quebradeira bestial, ao início de 2015. Os gestores da economia confiaram cegamente no hiperciclo das commodities, surfando os altos preços do agronegócio e dos minérios, como se a bonança pudesse durar para sempre. Concentraram fichas no setor de óleo, gás e petroquímica, sem o mínimo cuidado de planejar uma indústria forte e diversificada. O retorno ao que já fomos será duríssimo, isso se caminho houver.

A estagnação da produção nacional não será revertida só porque temos bons nomes à frente da economia, gente séria e preparada para devolver ordem à barafunda fiscal armada pela "contabilidade criativa" do governo federal. Nem tampouco bastará o esforço de realinhar os preços relativos da energia elétrica, água e combustíveis. É a própria estrutura de funcionamento da economia que está torta e manca. A população tem respondido a sinais equivocados da política econômica, que confundem trabalhadores, os aplicadores de capital e empreendedores. Esses incentivos com sinal errado engatam marcha a ré no progresso conquistado nos anos de euforia. O "governo grátis", em sua bondade temerária ou mal intencionada, emite cerca de 23 milhões de cheques mensais, apenas para sustentar os beneficiários de seguro-desemprego e de bolsa-família, com regras que estimulam a evasão ao trabalho. Viúvas jovens, felizes sobreviventes de idosos segurados do INSS, também recebem outras centenas de milhares de contracheques do bom governo. Os pagadores de impostos sustentarão o salão de cabeleireiro dessas alegres viúvas por décadas. Bilhões de reais vazam pelas veias fiscais do governo praticante das mais diversas formas de ilusionismo social, enquanto novos expedientes ameaçam quem trabalha e empreende, pela repudiada CPMF, pela Cide rediviva, pelos tarifaços pós-eleitorais.

Outro sinal errado: a indigesta escalada dos juros pelo Banco Central, fórmula agradável ao rentismo, outro esporte nacional, que tunga a sociedade — pasmem! — em R$ 260 bilhões, um custo social de dez Copas do Mundo POR ANO, ano após ano. Sem uma regra clara e forte de contenção do gasto público, a carga tributária acrescentada, que já beira os 50%, dará outro salto em 2015, produzindo um efeito paralisante bem mais grave do que o de um severo controle do gasto. Quem cogitará de investir num país que tributa quase 50 centavos sobre cada real de PIB produzido a mais? Quantos casais assalariados, com R$ 5 mil de renda mensal, conseguirão poupar se já deixam, em tributos, 53% do que ganham na mão do "patrão governo"? A geração de caixa pelas empresas nunca foi tão baixa como nesta virada de ano. Não há espaço para crescer no setor produtivo. Brasília, no entanto, com sua notória insensibilidade, prepara nova tesourada na renda de 2015 pelo corte abrupto do crédito à produção, com a explosão do custo financeiro e outra surra de impostos extratores do resto do ganho empresarial. A Brasília que eleva seus próprios subsídios às vésperas de um morticínio do setor empresarial se posiciona como o capitão que larga para trás seus passageiros no navio que afunda.

No dia 1º de janeiro ouviremos discursos de posse. Se a nova equipe não puder atacar os imensos estímulos ao ócio nacional, aos juros da agiotagem oficial e à escalada ao bolso do contribuinte, continuaremos voando sem rumo. Com uma notável diferença: em 2015 enfrentaremos turbulência, como não se via desde a virada do milênio.

Paulo Rabello de Castro é coordenador do Movimento Brasil Eficient

José Casado Mensageiro noturno

o Globo

Justiça federal considerou ameaça a testemunha como um dos motivos para manter encarcerados os dirigentes de empresas envolvidas em corrupção na Petrobras

Era noite quando um advogado de empreiteiras entrou no escritório paulistano da contadora Meire Poza, que trabalhou para Alberto Youssef, personagem central dos casos de corrupção na Petrobras. A conversa, gravada, faz parte do processo público. Alguns trechos:

— Dona Meire, eu quero que a senhora entenda que faz parte de um grupo fechado.

— Imagina... (Risos)

— Faz parte, faz parte, faz, faz, faz, sim.

— Nem do grupo da Igreja eu faço parte.

— Sabe, essas pessoas se ajudam, ? São poucas pessoas, privilegiadas, que se ajudam.

— É, mas eu não  nesse grupo. Eu posso garantir que eu não  nesse grupo.

— E nós nos ocupamos integralmente desse caso. Além do que a senhora faz parte de um dos principais... núcleos. Então, a gente não pode deixar que a senhora não aceite essa ajuda.

— Mas eu não vou aceitar, doutor (...)

— É uma ajuda. Eu quero que a senhora entenda isso. Não tem como ser recusado, sabe.

— Tem, doutor. Eu  recusando. Eu não quero ajuda (...)

— Agora, não dá pra sair assim, sabe? Ninguém quer ser prejudicado.

— Tô começando a não gostar dessa conversa (...)

— Dona Meire, o importante é não falar demais.

— Doutor, eu sou burra. Vocês me acham esperta, mas eu sou burra pra caramba. É a segunda vez que a gente fala, e eu tô com a sensação...  achando que vocês estão me ameaçando.

— A senhora pode, sem querer, ir contra grandes empresas, políticos, construtoras, as maiores do país, a senhora entendeu? (...)

— Doutor, eu entendi. Deixa eu falar uma coisa... Não põe a mão em mim, por favor, porque eu não gosto. Deixa eu falar uma coisa...

— Desculpa.

—  desculpado. Tem três coisas que me irritam profundamente e até agora você fez as três: você falou da minha filha...

— Não, não, você tá nervosa.

— Não, não  nervosa. Você falou da minha filha. Vocês estão me pressionando, ameaçando.

— Não, não existe pressão (...)

— Doutor, deixa eu te falar uma coisa? Nós não vamos conversar mais, eu não quero (...)

— Não, não, calma. Toma mais uma água.

— Não, não quero água. Olha, vamos parar por aqui. Eu não quero a ajuda de vocês. Eu já falei que eu não quero dinheiro, deixei isso claro. A única coisa que eu quero é esquecer tudo isso e tocar a minha vida (...)

— A gente precisa conversar.

— Não. Obrigada por ter vindo, doutor (...)

— Desculpa, não era essa a intenção.

— Não, não era... Antes que eu me esqueça, o senhor vai me fazer uma outra gentileza: o senhor provavelmente vai estar lá com os seus clientes, com a Camargo, com a UTC, Constran, com a OAS...

— Pois não, pois não, ok.

— Manda todo mundo ir tomar ***.

— Não, não faz isso...

Aconteceu há três meses, na quarta-feira 24 de setembro. A Justiça considerou a gravação uma prova de ameaça a testemunha, e um dos motivos para manter presos dirigentes de empreiteiras envolvidas em corrupção. Juízes dizem que o país mudou, mas algumas empresas e seus advogados ainda não perceberam.

José Casado é jornalista

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Esperança Rodrigo Constantino O GLOBO

Esperança

Esperança

Acabo de retornar de uma viagem a Israel, tendo rodado o país de norte a sul e dedicado boa parte do tempo a visitas em Jerusalém e Nazaré. Como não falar, então, do tema da esperança neste clima natalino?

O povo judeu é perseguido desde tempos imemoriais. Egípcios, assírios, babilônios: a "judeofobia" não é novidade. Apenas no último século tivemos duas tentativas de destruição dos judeus: o nazismo de Hitler e as guerras dos países árabes contra Israel, visando à sua completa aniquilação. Não obstante, a nação judaica resiste, firme e forte, inclusive prosperando, com uma renda per capita acima de US$ 35 mil.

Uma das visitas mais tocantes foi, sem dúvida, ao museu do Holocausto. A tentativa de transformar os judeus em uma espécie sub-humana foi fundamental para o assassinato em massa perpetrado pelos nazistas, feito sem peso na consciência. Algo indescritível, que nos remete a um lado sombrio e asqueroso da natureza humana, que jamais deve ser ignorado ou esquecido.

Mas nem mesmo a morte de seis milhões de judeus pelos nazistas foi capaz de impedir a vontade de sobreviver e avançar do "povo escolhido", que impressiona justamente por sua capacidade de superação. Não há vitimização sensacionalista ali, e sim a obrigação de jamais se permitir o esquecimento do que aconteceu. Após atravessar aquelas imagens lúgubres, chocantes, vemos a luz emanando da floresta de Jerusalém, para reforçar a ideia de que, no fim, há salvação.

Não sem muita luta, trabalho e esforço. Israel superou não só os obstáculos naturais, de um solo desértico com pouca água, como também a vizinhança hostil que deseja destruí-lo. Fez isso arregaçando as mangas, inovando com muita tecnologia moderna, preservando uma democracia plural com respeito às minorias. É um exemplo notável de autoconfiança, que não pode ser confundida com ilusões vãs de quem sonha com um futuro radiante enquanto nada faz para no presente alcançá-lo. Os israelenses assumiram a responsabilidade por seu próprio destino.

Lá convivem em relativa paz e harmonia muitas religiões distintas. É um mosaico de culturas diferentes, todas sob o mesmo Estado e suas leis. Foi emocionante ver o senso de patriotismo dos drusos, por exemplo, uma dissidência islâmica que representa menos de 2% da população, mas que sente profundo orgulho daqueles que deram seu sangue para defender a liberdade possível em Israel.

Mais impressionante ainda foi ver judeus e muçulmanos trabalhando juntos em uma fábrica na Cisjordânia, todos unidos pelo mesmo propósito: o sucesso do negócio. O comércio une, como historicamente podemos comprovar. O gerente muçulmano não quer nada além de paz, e disse que mesmo se criarem um Estado Palestino, vai escolher viver onde houver democracia. Sente-se bem entre os amigos judeus.

Esse sempre foi o espírito do Natal para mim: a esperança de que é possível viver em paz, em um ambiente de tolerância para com as diferenças. Mas sem falsas ilusões, sem romantismo infantil. Sabemos que construir isso, o que chamamos civilização, não é fácil nem sem custo. Os bárbaros sempre estarão à espreita, muitas vezes ao nosso lado, lutando para destruir tudo aquilo que mais valorizamos.

O otimismo dos israelenses, apesar dos pesares, é contagiante. Mas sabem que não sobreviveriam nem por um dia sem a força de seu Exército, sem enfrentar com coragem e determinação os terroristas que desejam sua destruição. Não são tolos a ponto de achar que serão deixados em paz de oferecerem flores para cada míssil lançado sobre suas cabeças. Possuem clareza moral, pois sabem o que está em jogo.

"A esperança é a grande falsária da verdade", disse Baltasar Gracián. Sem dúvida: para quem apenas "espera" que coisas boas aconteçam, sem labutar por isso, estará vivendo uma doce ilusão, uma mentira. A esperança que importa é aquela erguida sobre pilares realistas, por pessoas cientes de como é árdua a tarefa de manter sua chama acesa. É a última que morre, na mitologia grega. Mas até ela pode morrer se não for cultivada.

Os brasileiros não podem perder a esperança. Preocupa-me a quantidade de gente jogando a toalha, adotando uma visão fatalista de que estamos fadados ao fracasso, que o povo não presta e nossa democracia não tem jeito. Tem sim! Não será fácil, as ameaças são grandes e os obstáculos, enormes. Mas podemos mudar. E temos sinais alvissareiros de instituições funcionando com relativa independência, tirando o sono dos corruptos, dos cupins que corroem nossa República, dos bárbaros. Esperança! E um Feliz Natal a todos.

Rodrigo Constantino é economista


segunda-feira, dezembro 22, 2014

'Governo vai provar do seu veneno na economia', diz Aécio - 22/12/2014 - Poder - Folha de S.Paulo

'Governo vai provar do seu veneno na economia', diz Aécio - 22/12/2014 - Poder - Folha de S.Paulo

'Governo vai provar do seu veneno na economia', diz Aécio

Derrotado na disputa pela Presidência da República em outubro, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) aposta que as medidas da nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff serão insuficientes para conter o clima de desconfiança com os rumos do país. "O governo vai provar do seu próprio veneno."

Ele afirma que o próximo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, enfrentará mais resistência da base do governo do que da oposição. "Ele sabe que é um corpo estranho neste processo", diz. E, em tom irônico, arremata: "Vamos conhecer o neoliberalismo petista".

Aécio promete não apoiar aumentos de impostos propostos pelo governo para fazer um ajuste de R$ 100 bilhões em 2015. "De onde vai vir isso?", questiona.

O tucano afirma não ver motivos para um impeachment de Dilma, como têm defendido alguns grupos em protestos de rua, mas defende a investigação da campanha. Revela ainda que ficou "decepcionado" com a atuação do ex-presidente Lula, com quem tinha boa relação.

Aécio desconversa sobre nova candidatura e faz acenos na direção do colega Geraldo Alckmin (PSDB-SP).

*

Folha - Fica mais difícil criticar o novo governo agora que ele assume uma política econômica semelhante àquela que o sr. defendia?

Aécio Neves - Ao contrário. Acho que fica difícil para este governo sustentar o discurso da eleição. O país cantado para os brasileiros -equilibrado, próspero, com inflação sob controle- é, na verdade, uma grande ilusão. A cada medida que o governo anuncia, ele, na verdade, corrobora todos os alertas que fizemos na campanha eleitoral.

A que se refere?

Anúncios de ajustes fiscais extremamente duros, as maldades anunciadas agora pelo futuro ministro [da Fazenda, Joaquim Levy]. Na verdade, estamos vendo uma grande esquizofrenia, uma contradição entre aquilo que se anuncia e aquilo que o governo vem praticando. Conheceremos o neoliberalismo petista [risos]. Vamos ver até quando as convicções da presidente se alinharão com as da equipe que ela nomeou.

Vão vir ao Congresso propostas de aumento de impostos, cortes, mudanças no seguro-desemprego. O PSDB vai aprovar essas iniciativas?
Disse a campanha inteira que não faria pacotes. Os nossos ajustes seriam feitos a partir da credibilidade que nós inspiraríamos no mercado. Como eles não têm esse ativo, o que se anuncia é um pacote de maldades.

Será contra novos impostos?

Claramente. E qualquer alteração de direitos trabalhistas teria que ser negociada com as centrais sindicais. Estamos voltando ao tempo do pacotaço. Para se alcançar o superávit proposto pela nova equipe, de 1,2% do PIB, é preciso um ajuste em 2015 de R$ 100 bilhões. De onde vai vir isso? O governo vai provar seu próprio veneno.

O sr. ligou para parabenizar Joaquim Levy? Ele colaborou com sua campanha.

Talvez solidariedade fosse mais apropriado [risos]. Não, eu jamais iria constrangê-lo. Respeito muito o Levy, mas ele sabe que é um corpo estranho neste processo. Ele será combatido até mais pela base do governo e dos setores que o sustentam do que pela oposição.

O sr. pediu a investigação da campanha de Dilma. Não há risco de alimentar a tese de que não aceitou a derrota?

Esse é o discurso do PT. Fui o primeiro a assumir a derrota, quando liguei para a presidente. Mas a vitória não dá salvo-conduto a ela. Se houve ilegalidade, existem outras sanções [fora a perda do mandato]. Se amanhã ficar provado que os Correios omitiram material dos adversários para favorecer o governo -o que não muda a eleição, mas é um crime-, essa pessoa tem que ser responsabilizada.

A oposição tem ressaltado que o sr. tem um patrimônio de 51 milhões de votos. Quantos são de Aécio Neves e quantos são apenas anti-Dilma?

O PT, pela primeira vez, enfrentará uma oposição que reflete o sentimento de uma sociedade. Agora, não vamos cometer o erro crasso de personalizar a oposição. A oposição tem que ter vários rostos. A Marina [Silva] é, o PSB é, e nós somos oposição. Vamos estimular as pessoas a ter uma militância pós-eleição. Esse é o maior ativo. É uma coisa viva. É isso que assusta o PT.

Têm ocorrido atos anti-PT. Um grupo que defende a volta dos militares se somou a eles. Como vê esses eventos?

Não podemos permitir que os saudosistas do autoritarismo se transformem agora nos nossos black blocs e inibam manifestações democráticas. Essa, inclusive, tem sido a estratégia do PT: misturar as coisas. Fora da democracia, nada nos interessa.

Existem elementos para pedir o impeachment?

Não. Não trabalho com essa hipótese. Estamos fazendo aquilo que na democracia é permitido: acionar a Justiça pedindo investigação. Pode ser até que se comprove que não houve nada, mas este é um direito inalienável.

Pretende ir a atos anti-Dilma?

Não tenho programação para isso. Quero ter uma agenda de viagens pelo país.

Depois das caravanas do ex-presidente Lula teremos caravanas de Aécio Neves?

Não é isso. Quero continuar mostrando o Brasil real em contraponto à propaganda oficial. Quero fazer, por exemplo, uma viagem desde São Roque [de Minas], onde nasce o rio São Francisco, até onde ele se encontra com o oceano.

Preparação para 2018?

Quero me reencontrar com as pessoas que sonharam comigo, com um tempo novo. Perdi a eleição, não perdi a luta política. O governo está ajudando a mostrar que eu estava falando a verdade, e não eles. Não preciso ser candidato à Presidência para continuar atuando. A candidatura não é uma carreira.

Mas o sr. pensa em ser candidato novamente?

Não mesmo. Talvez já tenha cumprido o meu papel. O candidato vai ser aquele que tiver as melhores condições de enfrentar o governo. Meu papel é manter a oposição forte. O governador de São Paulo [Geraldo Alckmin] é um nome colocado e tem todas as condições. Outros nomes serão lembrados. Seria um erro antecipar este processo.

Vê envolvimento da presidente no caso da Petrobras?

Não acho que a presidente se beneficiou de forma pecuniária, para ela, pessoalmente. Politicamente, claro que se beneficiou. Ela e todo o governo, desde lá atrás.

Anotações [encontradas em meio ao material apreendido em uma das empresas] apontam que o sr. teria sido procurado por uma empreiteira para segurar a CPI. Isso ocorreu?

Nunca. Basta ver o meu papel nisso. Fui eu o responsável, em última instância, pela instalação da CPI. Estimulei o relatório paralelo da oposição, que indicia todo mundo.

Teme que o Brasil pare, já que donos das grandes empreiteiras estão presos?

Não. O que tem que parar é a corrupção. Outras empresas surgirão para ocupar o espaço. Esse discurso é dos que querem que as investigações se limitem a onde chegaram.

Várias empresas envolvidas na Lava Jato doaram para sua campanha. Acha que o escândalo forçará mudanças no sistema de financiamento?

Não cometam o equívoco -porque atende o interesse de quem não quer apuração nenhuma- de confundir doação legal com corrupção, com crime. Agora, acho que o sistema de financiamento vai ter de ser mudado. Talvez limitar doações de empresas para que não tenham o peso que tiveram nestas eleições.

Qual o papel do ex-presidente Lula no caso da Petrobras?

A Justiça vai definir. O fato, e quem diz não sou eu, mas a Polícia Federal, é que a partir de 2003 constitui-se no seio da Petrobras uma organização criminosa.

A eleição mudou sua relação? Em setembro, ele disse que o sr. era "amigo". Depois o chamou de "filhinho de papai".

Nunca tratei adversários como inimigos. Era até um pouco cobrado por isso. Confesso que me decepcionei apenas com o tom, porque a crítica política deve existir. Não sei se fez bem à alma dele. Acho que ele se apequenou.

O sr. sofreu dupla derrota em seu Estado. O que aconteceu?

A derrota ensina e a responsabilidade é minha. Houve um processo de desconstrução, nossa candidatura não conseguiu ampliar forças e perdemos a eleição. É do jogo. Nunca me achei o dono da vontade dos mineiros. Desejo que o governador eleito [Fernando Pimentel] tenha sucesso, é importante para Minas manter as conquistas.

FHC chegou a dizer que Dilma é uma presidente ilegítima. O sr. concorda?

Não chego neste termo. Acho que é uma presidente apequenada pela forma como venceu as eleições e pela -usando um termo adequado- dependência de sua base. No momento em que era necessário um presidente que conduzisse o país, nós temos uma presidente conduzida. Ela começará [o segundo mandato] de uma forma pior do que termina o primeiro.



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quinta-feira, dezembro 18, 2014

A Líbia na esquina Demétrio Magnoli

A inversão da trajetória de preços do petróleo que está em curso anuncia o colapso do regime chavista. Os indícios apontam para o cenário de uma ruptura violenta

O termômetro tradicional da política venezuelana é fornecido pelos preços do barril de petróleo. Como regra, as etapas de alta de preços correspondem a períodos de bonança econômica e estabilidade política; enquanto as etapas de baixa coincidem com intervalos de crise econômica e desordem política. O movimento “bolivariano” nasceu no solo arado pela retração das cotações do barril, em meados da década de 1980, e o poder de Hugo Chávez consolidou-se ao longo da forte elevação de preços da década de 2000. Contudo, excepcionalmente, o chavismo armou uma crise econômica durante o auge das cotações do produto. A inversão da trajetória de preços que está em curso anuncia o colapso do regime chavista. Os indícios apontam para o cenário de uma ruptura violenta. O espectro da Líbia ronda a América Latina.
O chavismo não é uma versão singular do populismo latino-americano. Não é lulismo, nem kirchnerismo. Os analistas convencionais não entenderam a natureza do regime venezuelano quando, em 2008 e 2013, profetizaram uma prudente correção de rumos da política econômica. A “revolução bolivariana” ultrapassou uma barreira desde a fundação do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e o subsequente armamento das milícias chavistas. De lá para cá, fechou-se o caminho político para um retorno aos equilíbrios de mercado.
A “unidade bolivariana” só existe nos discursos de Maduro. A demissão do ministro do Planejamento Jorge Giordani, um expoente da ala marxista do chavismo, em junho, evidenciou as profundas fraturas internas e evitou a aceleração das políticas estatizantes, mas não provocou a reviravolta tantas vezes profetizada. O fraco sucessor de Chávez recusou a “saída para frente” de Giordani, mas não tem os meios para operar um “giro para trás”. Não haverá um Joaquim Levy venezuelano — e nem mesmo um Nelson Barbosa. Estrategicamente paralisado, vergado sob o peso da inflação, do desabastecimento e do aumento do desemprego, o regime tenta apenas impedir a eclosão de uma inevitável hecatombe financeira.
A unidade da oposição, construída em torno de Henrique Capriles, em 2011, não sobreviveu à onda de protestos deflagrada em fevereiro pelo Vontade Popular, o partido dirigido por Leopoldo López. Diferentemente do candidato presidencial oposicionista, López concluiu que a crise do chavismo só não redundaria na “cubanização” completa do regime, com a supressão da pluralidade política, se um levante popular pacífico pusesse um ponto final na agonia. Entretanto, como o tempo demonstraria, Capriles tinha razão: os estudantes e a classe média careciam do apoio ativo dos pobres de Caracas, que abandonaram Maduro, mas ainda não estavam dispostos a sublevar-se contra seus antigos líderes. A repressão implacável aos protestos, a prisão de López e a cassação do mandato de María Corina Machado representaram a travessia de uma nova fronteira na marcha rumo à ditadura. Ao mesmo tempo, cindiram a oposição em duas correntes separadas por um fosso de amargura.
Uma bomba-relógio paira sobre a Venezuela. As finanças do país são sustentadas artificialmente por um balão de oxigênio inflado pela China em 2007, quando se negociou um empréstimo de US$ 46 bilhões pagáveis em petróleo. Como contrapartida, o regime chavista estabeleceu uma relação de dependência neocolonial, conectando as exportações petrolíferas a importações compulsórias de manufaturados chineses. O torniquete apertou com a recusa da Opep, no fim de novembro, de cortar sua produção. Diante da perspectiva de um ciclo de baixos preços do barril, Maduro despachou seu ministro das Finanças à China, em busca de novos empréstimos. Os chineses, porém, não parecem propensos a mais que uma negociação de prazos. Hoje, Caracas manobra na tempestade, tentando revender a bancos americanos títulos da dívida de países envolvidos nas aquisições de petróleo subsidiado venezuelano.
As sondagens revelam que os índices de aprovação do governo de Maduro rondam a marca fúnebre de 25%. Há um quarto de século, índices similares, produzidos pela depressão econômica que resultou da etapa de baixos preços do barril, detonaram uma insurreição popular em Caracas contra o presidente Carlos Andrés Perez. A repressão ao “Caracazo” de fevereiro de 1989 deixou um saldo de centenas de mortos, preparou a cena para o frustrado golpe de Chávez de 1992 e encerrou a longa história da democracia oligárquica na Venezuela. Sinais palpáveis, inquietantes, de um novo “Caracazo” transpiram da frustração nos bairros pobres da capital. Dessa vez, contudo, o governo conta, além da polícia e dos militares, com as milícias chavistas.
O Brasil já desempenhou papel construtivo na Venezuela, no passado recente. No início de 2003, diante da crise aberta pela paralisação oposicionista na empresa estatal de petróleo, Lula tomou a iniciativa de constituir o Grupo de Países Amigos da Venezuela, que incluía os EUA e a Espanha, evitando uma ruptura catastrófica. Depois, porém, o lulopetismo optou pela proteção incondicional do chavismo, até converter o Mercosul num casulo diplomático para a deriva autoritária da “revolução bolivariana”. O vergonhoso silêncio do Itamaraty diante das comprovadas torturas aplicadas em manifestantes detidos, da prisão ilegal de López e da cassação do mandato de Corina Machado desmoralizou o Brasil diante de todos os setores da oposição venezuelana. Mesmo assim, não existe nenhuma outra potência regional capaz de alinhavar uma saída para o impasse no país vizinho.
O Brasil tem a alternativa de mobilizar a OEA, a Celac e a Unasul para falar a dura verdade a Maduro, exigindo a restauração das liberdades públicas e das garantias democráticas, como pressupostos para um diálogo nacional genuíno. A bomba-relógio não será desarmada milagrosamente. Aí na esquina, do outro lado da fronteira, desenham-se os contornos de uma Líbia.
Demétrio Magnoli é sociólogo
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terça-feira, dezembro 16, 2014

Controvérsias que persistem Josef Barat Estadão

O Brasil é o lugar onde idéias políticas ultrapassadas permanecem e ressurgem como novas. Para ficar em dois exemplos singelos: causa surpresa aos franceses como o Positivismo perdurou aqui por tanto tempo e aos alemães como ainda se acredita no Comunismo. Entre economistas, há controvérsias vindas dos anos 50 e 60 que ainda estão em pauta. Sua origem vem do embate entre as formulações nacionalistas e industrialistas, de um lado, e as liberais e monetaristas, de outro. As primeiras provêm de um misto de teses ideológicas do velho Partidão, do getulismo e do seu PTB, levadas posteriormente ao paroxismo no governo Geisel. As segundas, da visão liberal da UDN e vigentes no governo Castelo. 

Selecionei quatro controvérsias que, a meu ver, ficaram obsoletas frente aos impactos da globalização, do desenvolvimento do comercio mundial, bem como da conectividade decorrente dos avanços nas tecnologias de informação. A primeira controvérsia é a da expansão e consolidação do mercado interno, em oposição ao aumento do esforço de exportar. Trata-se da oposição, em voga nos anos 60, entre o desenvolvimento para dentro e para fora. Em termos mais simples, o Brasil se industrializaria para dentro ou seguiria um modelo exportador tipo asiático? Hoje se constata que o desenvolvimento moderno ocorre nas duas direções – uma fortalecendo a outra – na medida em que são alcançados novos patamares de produtividade e competitividade.

A segunda diz respeito ao dilema entre o aprofundamento do desenvolvimento industrial, em oposição à expansão da agricultura. O Brasil estaria fadado a ser uma potência industrial ou agrícola? Este era o tema do famoso debate entre Roberto Simonsen e Eugênio Gudin, por volta de 1950, e que permaneceu por muito tempo. Hoje percebemos que pode haver uma profícua coexistência entre os dois caminhos, inclusive devido ao grande desenvolvimento tecnológico do moderno agronegócio. Não foi este, voltado mais para fora, que prejudicou a indústria. Muito ao contrário, ele deu suporte para ampliar a produção de máquinas e equipamentos.

A terceira controvérsia que perdura é a da oposição entre a maior presença estatal e a maior liberdade de mercado. Com as privatizações de empresas estatais e as concessões de serviços públicos, ficou claro que segmentos antes de atuação predominante do Estado – infraestruturas e insumos básicos – poderiam ser operados por empresas privadas. Por outro lado, os papéis que hoje o Estado teria a cumprir – como indutor do desenvolvimento – são bem diferentes dos que tinha nos anos 50 e 60, exacerbados no regime militar, quando o nacional-desenvolvimentismo atingiu seu apogeu.

Neste sentido, é importante que haja uma profunda reformulação do papel do Estado e mudanças nas formas de governança dos recursos públicos, em especial daqueles destinados à Pesquisa & Desenvolvimento. Hoje é crucial que se instrumentalize novas formas de financiamento e se tenha maior seletividade das ações do governo, para estimular pesquisas e parcerias que visem gerar e absorver inovações tecnológicas.

Por fim, a quarta – talvez a mais persistente – é aquela que contrapõe os desenvolvimentistas aos que defendem a estabilidade monetária, estes pejorativamente chamados de neoliberais. Hoje não é mais possível sustentar o crescimento com fortes investimentos estatais e financiá-lo por meio de: endividamento externo e interno; maciças transferências de renda para o Estado, por meio da inflação; e elevada carga tributária. Este tipo de financiamento seria inviável, o que obriga a busca de outros papéis e formas de atuação para o Estado no fomento e financiamento do desenvolvimento. Ou seja, o contexto histórico de hoje, não admite mais crescimento com inflação e descontrole dos gastos públicos. Prova disto é que a recente condução frouxa da política monetária não estimulou o crescimento, muito ao contrário. Controvérsias muitas vezes permanecem apenas para criar mais controvérsia. É hora de abandoná-las e cuidar melhor da consistência da política econômica.

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Josef Barat – Economista, consultor de entidades públicas e privadas, é Coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial de São Paulo.

 

 

 

 

 

segunda-feira, dezembro 15, 2014

Adriano Pires É preciso refundar a Petrobras

Blog do Noblat

Caso se queira refundar a Petrobras e pôr um fim na tempestade perfeita, a solução estrutural é promover políticas que incentivem a concorrência

15/12/2014 - 09h12

, O Globo

A Petrobras vive a sua tempestade perfeita. A operação Lava-Jato, que prendeu diretores da empresa, revelou seus males: desvios de recursos que lesaram drasticamente os seus acionistas; perdas no caixa, decorrentes da utilização da empresa para conter a inflação; a assunção de uma dívida que já ultrapassa os R$ 300 bilhões; o não cumprimento das metas de produção de petróleo e a sua atual posição de importadora de petróleo e de derivados, que continua a adiar a sempre e tão almejada autossuficiência.

E quais seriam as razões que levaram a Petrobras à pior situação desde a sua criação? A principal explicação, sem dúvida, foi o fato de o governo do PT — sob o argumento de que estava protegendo o patrimônio do povo brasileiro e, mesmo, reforçando o valor da empresa e seu papel na economia — ter implantado políticas que aumentaram o poder de monopólio e monopsônio da companhia, o que estimulou a ineficiência administrativa e as práticas de corrupção.

Ao estimular o poder de monopólio, o governo, ao mesmo tempo, passou a tratar a Petrobras como se a empresa fosse 100% estatal, esquecendo-se inteiramente dos interesses dos acionistas minoritários. O exemplo maior é a condução da política de preços da gasolina e do diesel.

Nos últimos quatro anos, o governo, ao impedir que a Petrobras tivesse o preço da gasolina e do diesel reajustado de acordo com o mercado internacional, transformou a estatal no único produtor e importador de gasolina e diesel e gerou um rombo no caixa da empresa de R$ 100 bilhões.

No segmento de exploração e produção, o monopólio foi reforçado com a criação do modelo de partilha para a exploração de petróleo no pré-sal e a sanção de uma lei na qual a estatal passaria a ter no mínimo 30% de todos os blocos leiloados, além de ser a única operadora desses campos de petróleo. Ou seja, quem quiser explorar petróleo no pré-sal brasileiro terá que ter, obrigatoriamente, a Petrobras como sócia e será impedido de operar os campos.

Esse aumento do poder de monopólio da Petrobras transformou o mercado de fornecimento de bens e serviços para o setor de óleo e gás em um monopsônio, estimulando as práticas de corrupção.

Ao converter a Petrobras, praticamente, na única compradora da indústria fornecedora de bens e serviços, o governo deu um poder demasiado aos gestores da estatal, conduzidos aos cargos por partidos políticos da base governista.

Essa estrutura, aliada a uma política de conteúdo local, que estimula reserva de mercado e elege com isso os "amigos do rei", criou a atmosfera perfeita para um conluio entre partidos políticos, funcionários da Petrobras e as empresas fornecedoras.

Caso se queira refundar a Petrobras e pôr um fim na tempestade perfeita, a solução estrutural é promover políticas que incentivem a concorrência.

Ao estimular a concorrência, a estatal passaria a criar uma blindagem contra as interferências políticas, obrigaria a empresa a ter uma governança e uma administração eficientes, protegeria os interesses dos acionistas e se criariam, no mercado brasileiro, as condições para que outras empresas passem a ser compradoras da indústria fornecedora de bens e serviços.

A Petrobras, ao contrário do que o governo de forma populista transmite para a sociedade brasileira, está totalmente preparada para atuar num mercado competitivo. A Petrobras tem um quadro técnico altamente qualificado, é detentora de tecnologia de explorar petróleo no mar e possui a quarta reserva de petróleo do mundo.

Petrobras (Foto: Divulgação)Petrobras (Imagem: Divulgação)

Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura

domingo, dezembro 14, 2014

A urgência de Lula - Opinião - Estadão

A urgência de Lula - Opinião - Estadão

A urgência de Lula

O Estado de S.Paulo

14 Dezembro 2014 | 02h 04

A presidente Dilma Rousseff nem começou seu segundo mandato e seu padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, já está em plena campanha para a eleição de 2018. A bem da verdade, Lula nunca desceu do palanque - desde 2003, os governos lulopetistas se notabilizaram por administrar o País pensando somente na eleição seguinte, transformando o Estado em máquina partidária. Agora, no entanto, parece haver um sentido de urgência na atitude do ex-presidente, porque a oposição se fortaleceu pelo bom desempenho na última disputa presidencial e, também, porque o descalabro econômico e o maior escândalo de corrupção da história brasileira tornaram-se ameaças sérias a seu projeto de poder.

A principal estratégia de Lula e de seus seguidores tem sido atribuir cinicamente à oposição o mau comportamento republicano que hoje caracteriza o PT. "Eles acham que a campanha não acabou", afirmou o ex-presidente, em discurso na abertura do 5.º Congresso do PT, em Brasília.

Com isso, Lula busca tirar a legitimidade das críticas da oposição, transformando-as em mera artimanha das "elites" para dar um "golpe" em Dilma e em seu partido - quando na verdade é Lula quem desmoraliza a democracia ao sistematicamente desrespeitar os que não votam nos petistas nem aceitam o assalto ao Estado. Para esse fim, vale tudo: no mesmo pronunciamento, Lula defendeu os envolvidos no escândalo da Petrobrás, dizendo que eles já foram condenados pela imprensa antes mesmo da análise do caso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - uma maneira nada sutil de dizer que, se o STF acatar as denúncias, só o fará por pressão dos jornais.

Na construção desse discurso contra a oposição, Lula especializou-se em ofender a inteligência alheia, apostando numa espécie de amnésia coletiva. "Eu perdi em 89, e todo mundo sabe como perdi, entretanto não fiquei na rua protestando, fui me preparar para a outra", afirmou Lula, referindo-se à eleição presidencial de 1989, quando foi derrotado por Fernando Collor. Insinuando que a eleição de Collor não foi legítima ("todo mundo sabe como perdi"), Lula quis dizer que, apesar disso, não fez protestos como os que a oposição hoje faz. E foi adiante: "Quando a gente perdia, a gente acatava o resultado".

Não é preciso fazer um grande esforço para lembrar que o PT sempre fez oposição sem trégua - votou contra o Plano Real e contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, para ficar em apenas dois exemplos da inconsequência do partido - e promoveu uma campanha sistemática para minar o governo de Fernando Henrique Cardoso, especialmente no segundo mandato. Líderes do partido, que hoje dizem "acatar o resultado" das eleições e se queixam das manifestações contra Dilma em razão do escândalo da Petrobrás, chegaram a defender o impeachment de FHC diante das suspeitas de irregularidades nas privatizações. Era o "Fora FHC!". Hoje, porém, Lula não se constrange em pedir que cessem os protestos contra Dilma porque ela "precisa governar": "Deixem a mulher trabalhar, gente! Ela ganhou as eleições".

Empenhado em ditar os rumos do segundo mandato, para fortalecer sua eventual candidatura em 2018, o ex-presidente, sempre que pode, cita as próximas eleições. "Eles (a oposição) começam a ficar apavorados com a perspectiva do quinto mandato", discursou Lula, dando a senha para que os correligionários o ovacionassem. Em seguida, bem ao seu estilo, disse que "ninguém tem de pensar em 2018", mas deixou clara a pressão sobre Dilma, ao dizer que espera dela o "sinal que ela vai dar do ponto de vista econômico, das políticas sociais, de desenvolvimento".

Lula parece saber que é do desempenho de Dilma que depende sua força e a de seu partido para enfrentar a tempestade do escândalo de corrupção e sobreviver no poder em 2018. Essa é sua grande aflição e a razão pela qual imputa tudo o que se diz sobre o escândalo na Petrobrás a uma campanha para "destruir" o PT.



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sábado, dezembro 13, 2014

O custo da espera Miriam Leitão

http://m.oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2014/12/13/o-custo-da-espera-556907.asp
O GLOBO
Se a confiança na economia começa pela bolsa de valores, as notícias atuais não são boas. Os investidores são os primeiros a farejar sinais de mudança, mas não é o que indica o Ibovespa, que voltou a 48 mil pontos. Há fatores externos para explicar a queda, como o fortalecimento da moeda americana no mundo e a redução de preço das commodities. Internamente, a nova equipe econômica segue no banco de reservas.
Segundo o economista Álvaro Bandeira, da Órama Corretora, não há nada de novo na economia brasileira, apesar do anúncio de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. O que se vê é a continuação das políticas implementadas pela dupla Mantega/Augustin. O Tesouro fez nova emissão de títulos para emprestar ao BNDES, no valor de R$ 30 bilhões. Também virou fiador de uma operação envolvendo a Petrobras e a Eletrobras, no valor de R$ 8,5 bi. A dívida de estados e municípios foi recalculada retroativamente, e o superávit primário este ano foi praticamente extinto. Tudo isso vai aumentar a dívida pública.
— Estamos vendo uma enorme gastança do governo neste final de ano. O novo ministro foi anunciado, mas ainda não assumiu. Esse quadro interno intensifica as incertezas, num contexto de aumento da aversão ao risco, que vem de fora — explicou Bandeira.
A ausência de notícias novas na política econômica dá margem a ruídos e boatos. Um exemplo é a ameaça de volta da cobrança da CPMF, que tem afetado as ações dos bancos. A recriação do imposto, se acontecer, vai desestimular operações financeiras. A sangria da Petrobras e seus desdobramentos imprevisíveis complementam o quadro.
De fora, os efeitos vêm do crescimento mais forte dos EUA, que intensifica a valorização do dólar no mundo, e a desaceleração da China, que derruba os preços das commodities. Assim como o Brasil, outros emergentes, como a Rússia e a Austrália, estão vendo suas moedas perderem valor. Os títulos públicos americanos estão tendo forte procura, num sinal de que o fluxo de crédito está se invertendo, deixando mercados arriscados em busca de rentabilidade segura.
A nomeação de Joaquim Levy e seu primeiro pronunciamento deram esperança de que o Brasil começasse a corrigir o rumo. Mas a repetição dos métodos neste fechamento de ano, os temores sobre escolhas de pessoas inadequadas para bancos públicos, e o aprofundamento da crise da Petrobras estão minando a pouca confiança que Levy injetou. Com o ambiente externo adverso, a hora é mais séria do que o governo parece se dar conta.
Balanço atrasado antecipou dívidas
Por divulgar o balanço fora do prazo, a Petrobras foi punida com o vencimento antecipado de R$ 7 bi em dívidas, conta o analista da XP Investimentos Celson Plácido. Esse é o montante que a petroleira pretende captar com a negociação dos recebíveis esta semana. Para ajudar a empresa, o governo fez a Eletrobras reconhecer uma dívida de R$ 2 bi com a petroleira. Da CDE, fundo mantido pelo consumidor de luz, serão transferidos mais R$ 6,5 bi. Para ter o dinheiro agora, a Petrobras vai vender os créditos (garantidos pelo Tesouro) com desconto. Mais dívidas vencerão caso o balanço anual não saia até abril de 2015.
Tecnologia se salva
Na indústria eletroeletrônica, que deve fechar o ano com queda real de 6% nas receitas, o único segmento que cresce é o de telecomunicação, graças às vendas de smartphones e tablets. Humberto Barbato, presidente da Abinee, explica que o baixo crescimento do país tem a ver com a indústria. A atual política industrial, calcada em subsídios, não deu certo. A associação pede mais acordos comerciais para abrir mercados em outros países. 
BOM SINAL. O PIB mensal calculado pelo Itaú Unibanco subiu 0,6% em outubro, indicando um quarto trimestre melhor que o terceiro.
PRESSÃO NO FED. A confiança do consumidor nos EUA chegou ao maior nível dos últimos sete anos, pelo indicador da Universidade de Michigan.

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