Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 13, 2015

A receita de Armínio Fraga



Armínio Fraga deu a sua receita básica para que o Brasil saia da crise. Perfeita, mas faltaram dois ingredientes. Eis a receita...
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quarta-feira, setembro 09, 2015

Reinaldo Azevedo Fábio Júnior, Chico Buarque, Fernanda Montenegro e o ódio ao povo brasileiro de fato!



Fábio Júnior, Chico Buarque, Fernanda Montenegro e o ódio ao povo brasileiro de fato!

Vejam esta foto. É um flagrante do Brazilian Day.
FOTO CARTAZ NOVA YORK
A fala do ator, cantor e compositor Fábio Júnior, no Brazilian Day, no domingo, em Nova York, merece um tratamento que vai além do jocoso, como se tenta aqui e ali, à esquerda e à direita. É coisa mais séria, que guarda mais intimidade com os males do Brasil do que parece.
As elites intelectuais, ou as pessoas que em tanto se arvoram, odeiam o povo que há. Para elas, sempre será o vulgo, a brutalidade, a estupidez, a tolice. Na cabeça desses vigaristas — e insisto: pouco importa se direitistas ou esquerdistas; eles só são diferentes, no particular, na forma de silenciar a plebe rude —, a função da patuleia é carregar pedras para os monumentos. Os dois grupos teriam dado, se existissem então, um pé no traseiro de Shakespeare e suas banalidades humanas…
A forma contemporânea que as elites intelectuais de esquerdas têm de isolar o povo é tomar a estética como uma ética. O produto mais elaborado tecnicamente carregaria consigo necessariamente uma utopia, digamos, superior. O terreno da fruição, que é o da arte, passa a ser tomado como o das dissensões e disputas sociais. Os artistas considerados mais elaborados pela crítica serão necessariamente tomados como portadores das melhores respostas coletivas.
Fiquemos no caso em questão. Fábio Júnior é um artista popular. Já foi considerado, em programas de humor da TV, o preferido das domésticas — e havia naquilo certo riso de escárnio. Suas letras não costumam dialogar com uma certa tradição literária — não mais do que isso — buscada por Chico Buarque. O "eu lírico" das letras tem menos matizes, é mais direito, exibe menos relevos existenciais. Em suma: na música, Fábio Júnior não é Chico Buarque.
Cito Chico Buarque como o exemplo de uma espécie de coronelismo moral que toma conta das artes no Brasil. Alguns luminares são dotados de uma espécie de monopólio das boas intenções, pouco importa a porcaria que digam, em razão de suas escolhas políticas. Há três dias, tentando explicar o desastre da novela "Babilônia" — que só naufragou porque era ruim —, Fernanda Montenegro preferiu criticar o suposto conservadorismo do Brasil e produziu as seguintes pérolas:
"Babilônia, de Gilberto Braga, tem uma importância histórica muito grande. O beijo gay do qual tanto se falou não foi um beijo lambido, chupado, uma comendo a boca da outra. Foi a expressão de carinho de duas mulheres de 80 anos que há 40 estão juntas. Mulheres que representam uma elite. Não são ripongas. São bem-sucedidas e responsáveis. Habitam bem, comem bem. Um beijo carinhoso causou todo esse escândalo? Para mim, foi uma manta protetora, para distrair a atenção. Porque a novela foi histórica por outra coisa. Pela afirmação da negritude. Negros, mulatos, pardos, todos se afirmaram pela atitude. Ninguém era subserviente. Ninguém de uniforme, servil. O único de uniforme foi o motorista negro, amante da patroa, e assassinado no começo. Glorinha (Pires) ficou louca de desejo por um homem de outro estrato social. Essa foi a verdadeira revolução da novela. Nunca tantos negros se casaram com brancos, nunca houve tanta miscigenação. A negra que se forma advogada, o que tem sua barraquinha. Isso foi o que incomodou. O resto foi pretexto."
Há aí uma tal soma de bobagens, de generalizações cretinas, de preconceitos enrustidos, que fica difícil saber por onde começar. Em primeiro lugar, hoje, o segundo maior contingente de cor de pele do Brasil é constituído de pardos, quase igual aos brancos, segundo dados do IBGE de 2010: 47,7% de brancos; 43,1 de pardos e 7,6% de negros. Antes de Gilberto Braga, o país misturou os brasileiros. A realidade brasileira, Fernanda, é diferente da americana, onde há apenas 13% de negros, já considerados neste grupo os mestiços. Nunca é tarde para estudar.
Sobra a sugestão de que as duas lésbicas deveriam ter sido aceitas porque, afinal, exibem os padrões da Zona Sul.
A observação, por sua vez, entra em choque com a bobagem racialista, jamais evocada pelos críticos da novela — e notem que foi o povo que se divorciou dela, justamente aquele formado por uma maioria de mestiços. Finalmente, noto que a atriz atribui certa, como posso chamar?, superioridade viril ao negro uniformizado que pega a patroa branca. Bem, nesse caso, já deixamos o terreno da sociologia para entrar no do fetiche.
Os esquerdistas e progressistas no geral podem ser os donos da pauta da imprensa, podem ser os donos dos meios influentes de divulgação de ideias, podem ser os donos "da arte", mas não são os donos do povo. Independentemente do que digam ou divulguem, há uma realidade viva em construção, que consegue, de vez em quando, furar o muro da vergonha das placas de aço.
Ninguém precisa trocar os versos de Chico Buarque pelos de Fábio Júnior. Ninguém precisa trocar o preferido das patroas — sobretudo das que se banham no mar do Leblon — pelo preferido das domésticas. Nem Chico produz uma ética nem Fábio Júnior. São apenas dois compositores e cantores. Um saudado pelo crítica — às vezes, por maus motivos; outro, atacado — às vezes, também por maus motivos.
Chico Buarque, Caetano Veloso ou quantos outros vocês queiram incluir aí, inseridos à esquerda no debate cultural, não deveriam, por pudor, jamais misturar o prestígio que angariaram no terreno da estética para tentar nos vender uma ética — especialmente quando, no caso de Chico, ela se confunde com o apoio descarado a uma elite corrupta e truculenta que hoje toma conta do estado brasileiro. Caetano é um pouco mais matizado, mas se deixou fantasiar de black bloc num momento em que o país, sem querer parecer meramente retórica, tem é de tirar a máscara.
Fábio Júnior nunca ganhou um tostão com proselitismo político. Considerando o trabalho que faz, é possível que mais tenha dissabores do que ganhos com o discurso que fez no Brazilian Day. Não confundiu a sua opinião — muito sensata: ele atacou a roubalheira, certo? Não tentou justificá-la, como Chico Buarque — com os seus versos; não procurou o apoio irrestrito que lhe conferem os meios de comunicação para tentar vender uma tese política.
O Brasil, meus caros, mesmo quando se manifesta lá em Nova York, está mudando. Há uma gente nova na rua, para desespero dos que se queriam donos da opinião.
Vejam lá o cartaz que reproduz uma frase deste escriba. Os petistas adorariam que fosse exibido por um louro, de olhos azuis. Assim, eles, que se consideram donos dos negros, poderiam fazer seu proselitismo vigarista, me associando a uma elite branca que estaria contra o povo.
Mas não! Quem porta o cartaz é um negro. O negro em nome dos quais procuram falar Fernanda Montenegro e Chico Buarque. Para o delírio dos brancos de esquerda da Zona Sul.
Esse país, felizmente, está chegando ao fim.
Por Reinaldo Azevedo

Reinaldo Azevedo Fábio Júnior, Chico Buarque, Fernanda Montenegro e o ódio ao povo brasileiro de fato!

Fábio Júnior, Chico Buarque, Fernanda Montenegro e o ódio ao povo brasileiro de fato!

Vejam esta foto. É um flagrante do Brazilian Day.

FOTO CARTAZ NOVA YORK

A fala do ator, cantor e compositor Fábio Júnior, no Brazilian Day, no domingo, em Nova York, merece um tratamento que vai além do jocoso, como se tenta aqui e ali, à esquerda e à direita. É coisa mais séria, que guarda mais intimidade com os males do Brasil do que parece.

As elites intelectuais, ou as pessoas que em tanto se arvoram, odeiam o povo que há. Para elas, sempre será o vulgo, a brutalidade, a estupidez, a tolice. Na cabeça desses vigaristas — e insisto: pouco importa se direitistas ou esquerdistas; eles só são diferentes, no particular, na forma de silenciar a plebe rude —, a função da patuleia é carregar pedras para os monumentos. Os dois grupos teriam dado, se existissem então, um pé no traseiro de Shakespeare e suas banalidades humanas…

A forma contemporânea que as elites intelectuais de esquerdas têm de isolar o povo é tomar a estética como uma ética. O produto mais elaborado tecnicamente carregaria consigo necessariamente uma utopia, digamos, superior. O terreno da fruição, que é o da arte, passa a ser tomado como o das dissensões e disputas sociais. Os artistas considerados mais elaborados pela crítica serão necessariamente tomados como portadores das melhores respostas coletivas.

Fiquemos no caso em questão. Fábio Júnior é um artista popular. Já foi considerado, em programas de humor da TV, o preferido das domésticas — e havia naquilo certo riso de escárnio. Suas letras não costumam dialogar com uma certa tradição literária — não mais do que isso — buscada por Chico Buarque. O "eu lírico" das letras tem menos matizes, é mais direito, exibe menos relevos existenciais. Em suma: na música, Fábio Júnior não é Chico Buarque.

Cito Chico Buarque como o exemplo de uma espécie de coronelismo moral que toma conta das artes no Brasil. Alguns luminares são dotados de uma espécie de monopólio das boas intenções, pouco importa a porcaria que digam, em razão de suas escolhas políticas. Há três dias, tentando explicar o desastre da novela "Babilônia" — que só naufragou porque era ruim —, Fernanda Montenegro preferiu criticar o suposto conservadorismo do Brasil e produziu as seguintes pérolas:
"Babilônia, de Gilberto Braga, tem uma importância histórica muito grande. O beijo gay do qual tanto se falou não foi um beijo lambido, chupado, uma comendo a boca da outra. Foi a expressão de carinho de duas mulheres de 80 anos que há 40 estão juntas. Mulheres que representam uma elite. Não são ripongas. São bem-sucedidas e responsáveis. Habitam bem, comem bem. Um beijo carinhoso causou todo esse escândalo? Para mim, foi uma manta protetora, para distrair a atenção. Porque a novela foi histórica por outra coisa. Pela afirmação da negritude. Negros, mulatos, pardos, todos se afirmaram pela atitude. Ninguém era subserviente. Ninguém de uniforme, servil. O único de uniforme foi o motorista negro, amante da patroa, e assassinado no começo. Glorinha (Pires) ficou louca de desejo por um homem de outro estrato social. Essa foi a verdadeira revolução da novela. Nunca tantos negros se casaram com brancos, nunca houve tanta miscigenação. A negra que se forma advogada, o que tem sua barraquinha. Isso foi o que incomodou. O resto foi pretexto."

Há aí uma tal soma de bobagens, de generalizações cretinas, de preconceitos enrustidos, que fica difícil saber por onde começar. Em primeiro lugar, hoje, o segundo maior contingente de cor de pele do Brasil é constituído de pardos, quase igual aos brancos, segundo dados do IBGE de 2010: 47,7% de brancos; 43,1 de pardos e 7,6% de negros. Antes de Gilberto Braga, o país misturou os brasileiros. A realidade brasileira, Fernanda, é diferente da americana, onde há apenas 13% de negros, já considerados neste grupo os mestiços. Nunca é tarde para estudar.

Sobra a sugestão de que as duas lésbicas deveriam ter sido aceitas porque, afinal, exibem os padrões da Zona Sul.

A observação, por sua vez, entra em choque com a bobagem racialista, jamais evocada pelos críticos da novela — e notem que foi o povo que se divorciou dela, justamente aquele formado por uma maioria de mestiços. Finalmente, noto que a atriz atribui certa, como posso chamar?, superioridade viril ao negro uniformizado que pega a patroa branca. Bem, nesse caso, já deixamos o terreno da sociologia para entrar no do fetiche.

Os esquerdistas e progressistas no geral podem ser os donos da pauta da imprensa, podem ser os donos dos meios influentes de divulgação de ideias, podem ser os donos "da arte", mas não são os donos do povo. Independentemente do que digam ou divulguem, há uma realidade viva em construção, que consegue, de vez em quando, furar o muro da vergonha das placas de aço.

Ninguém precisa trocar os versos de Chico Buarque pelos de Fábio Júnior. Ninguém precisa trocar o preferido das patroas — sobretudo das que se banham no mar do Leblon — pelo preferido das domésticas. Nem Chico produz uma ética nem Fábio Júnior. São apenas dois compositores e cantores. Um saudado pelo crítica — às vezes, por maus motivos; outro, atacado — às vezes, também por maus motivos.

Chico Buarque, Caetano Veloso ou quantos outros vocês queiram incluir aí, inseridos à esquerda no debate cultural, não deveriam, por pudor, jamais misturar o prestígio que angariaram no terreno da estética para tentar nos vender uma ética — especialmente quando, no caso de Chico, ela se confunde com o apoio descarado a uma elite corrupta e truculenta que hoje toma conta do estado brasileiro. Caetano é um pouco mais matizado, mas se deixou fantasiar de black bloc num momento em que o país, sem querer parecer meramente retórica, tem é de tirar a máscara.

Fábio Júnior nunca ganhou um tostão com proselitismo político. Considerando o trabalho que faz, é possível que mais tenha dissabores do que ganhos com o discurso que fez no Brazilian Day. Não confundiu a sua opinião — muito sensata: ele atacou a roubalheira, certo? Não tentou justificá-la, como Chico Buarque — com os seus versos; não procurou o apoio irrestrito que lhe conferem os meios de comunicação para tentar vender uma tese política.

O Brasil, meus caros, mesmo quando se manifesta lá em Nova York, está mudando. Há uma gente nova na rua, para desespero dos que se queriam donos da opinião.

Vejam lá o cartaz que reproduz uma frase deste escriba. Os petistas adorariam que fosse exibido por um louro, de olhos azuis. Assim, eles, que se consideram donos dos negros, poderiam fazer seu proselitismo vigarista, me associando a uma elite branca que estaria contra o povo.

Mas não! Quem porta o cartaz é um negro. O negro em nome dos quais procuram falar Fernanda Montenegro e Chico Buarque. Para o delírio dos brancos de esquerda da Zona Sul.

Esse país, felizmente, está chegando ao fim.

Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, setembro 03, 2015

ARTIGOS 3/9/15

terça-feira, setembro 01, 2015

Rodrigo Constatino Fim de papo

O Globo

Patrulha demonstra um grau de intolerância com as divergências diametralmente oposto ao grau de tolerância que alega defender

George Orwell descreveu em “1984” o inferno que seria viver num mundo dominado pelo “Grande Irmão”, com um Estado onipresente que invade até nossos sonhos para controlar nossos pensamentos. O que ele não poderia ter previsto é um mundo dominado não por um, mas por milhões de “pequenos irmãos”, todos atentos a cada comentário nas redes sociais, para verificar se estamos seguindo de perto a cartilha do politicamente correto.
Essa patrulha demonstra um grau de intolerância com as divergências diametralmente oposto ao grau de tolerância que alega defender. Os patrulheiros falam em nome das “minorias”, desejam salvar o planeta, combatem todo tipo de preconceito e amam todos, desde que se encaixem exatamente no perfil “correto” que eles mesmos possuem. Desviou uma vírgula, fogo no herege!
Em “End of Discussion”, Mary Katherine Ham e Guy Benson mostram como essa postura está matando o livre debate de ideias nos Estados Unidos, nação formada com base no amplo respeito à liberdade de expressão. Com inúmeros casos reais, eles demonstram que essa patrulha, quase sempre da esquerda, cria um ambiente de intolerância que leva cada um a adotar a autocensura para não cair em desgraça se fizer um comentário infeliz.
Os indivíduos razoáveis preferem muitas vezes ficar de boca fechada sobre assuntos mais controversos para evitar a fúria de uma minoria raivosa e organizada, que consegue intimidar eventualmente até uma maioria silenciosa. Trata-se de uma polícia do pensamento cada vez mais agressiva, que não mede esforços em rotular com adjetivos nefastos aqueles que discordam de sua seita.
Ninguém gosta de ser chamado de racista, reacionário, preconceituoso, especialmente aquele que não é nada disso. Por esse motivo, a tática funciona. Xingar um canalha de canalha não surte o efeito desejado, pois ele, sendo canalha, não liga. Mas acusar alguém de “homofóbico”, por exemplo, por ter sentimentos desconfortáveis com a ideia de jogar no lixo a instituição milenar do casamento tradicional, isso irá, sem dúvida, lhe incomodar.
O medo de ser ridicularizado ou ofendido publicamente poderá impedi-lo de se expressar e de travar um diálogo construtivo acerca do tema polêmico. Alguns não ligam, ou possuem instrumentos de defesa, como blogs bastante acessados. Mas e aquele que apenas desejava expor sua visão aos amigos nas redes sociais e, de repente, se vê alvo de ataques furiosos da patrulha organizada? Sua tendência natural será recuar, calar-se para não ter que conviver com aquilo.
A internet ajudou a criar esse clima bipolar, maniqueista, que, por sua vez, politizou cada esfera de nossas vidas. Tudo passa a ser questão de partidos, e você deve escolher seu lado, ter opinião formada sobre cada assunto, por mais polêmico que seja. Não após muita reflexão e debates civilizados e honestos, mas de forma simplista: é contra ou a favor? E isso irá defini-lo como uma pessoa “do bem” ou “do mal”, do lado “correto” ou do lado “errado”.
É a cultura do “cala a boca” que deriva do monopólio das virtudes e fins nobres de um dos lados ideológicos. O ponto não é mais discutir de forma apaixonada sobre o que você defende ou acredita, e sim argumentar que o outro lado não deveria se manifestar. Ele é “ruim” em suas intenções, “malvado”, e não deve ter direito de ser sequer oferecido como uma visão alternativa.
Mas quando todos vivem como se estivessem eternamente em campanha, de olho nas “curtidas”, então cada um irá agir como um político, mais cínico, atento ao que o outro lado quer ouvir, em vez de falar o que realmente pensa, como um ator mascarado. Cada um de nós será um ativista, um militante 24 horas por dia, observando se os amigos estão defendendo as causas “certas” ou se estão se desviando para o lado do “mal”. É algo cansativo e até insuportável para a maioria.
Há uma máquina demagógica em curso que atira para matar em seus oponentes. Qualquer um que já experimentou defender publicamente bandeiras mais conservadoras sabe disso. “Fascista!”, gritam aqueles que se parecem com os “camisas negras” italianos sem nem se dar conta disso. “Reacionário intolerante!”, bradam as “almas bondosas” que, se poder tivessem, usariam uma guilhotina para encerrar o assunto logo de uma vez, como fizeram seus antecessores jacobinos.
Outra vítima desses jacobinos modernos é, claramente, o humor. Piadas inteligentes, ironias, leveza, nem tente isso com os cruzados politicamente corretos. Eles preferem te eliminar a rir das coisas complicadas da vida. Você é um insensível, um monstro. E fim de papo!
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/fim-de-papo-17364114#ixzz3kVxIwqjI
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José Casado O Estado quebrou


O Globo

Na sexta-feira 17 de janeiro do ano eleitoral de 2014 chegou uma carta ao escritório dos procuradores federais que atuam no Tribunal de Contas da União, em Brasília. Cinco páginas descreviam detalhes dos “truques e maquiagens” usados pelo governo Dilma Rousseff para fechar o Orçamento com superávit.
Advertiam: a “contabilidade criativa” corroía a confiança de investidores na estabilidade da economia. Eles exigiam remuneração cada vez mais elevada para comprar os títulos governamentais, que sustentavam o endividamento em espiral do setor público.
Foi a primeira denúncia formal das pedaladas fiscais.
Passaram-se 19 meses e 13 dias.
Dilma jogou a toalha, ontem. Confessou má gerência ao apresentar uma exuberante meta de déficit de R$ 30,5 bilhões no Orçamento da União para 2016. O vice Michel Temer gastou o dia recitando pecados compartilhados, e até imolando-se em lamento de impotência diante de uma plateia de empresários paulistas: “Nem eu nem o governo temos uma estratégia”.
Cinco quilômetros ao sul do Palácio do Planalto, numa casa simples em Brasília, quatro pessoas passaram o dia em reunião. Compõem o efetivo da organização não governamental Contas Abertas. Ela não recebe dinheiro público, mantém uma página na internet sobre transparência orçamentária e tenta sobreviver com esquálida receita de pesquisas (R$ 48 mil mensais) inferior à remuneração de assessor ministerial com jeton de conselho de empresa estatal.
Foram esses integrantes do Contas Abertas que, no verão da reeleição presidencial, pesquisaram, revelaram e denunciaram, por escrito, as consequências das pedaladas do governo Dilma. Viram com olhos de ver o Orçamento, enquanto nas universidades, bancos e consultorias a maioria dos economistas se mantinha crédula, genuflexa e cegamente viciada na interpretação de boletins do Banco Central.
A linguagem do BC é sempre dogmática, propositalmente cifrada para permitir múltiplas e variadas possibilidades de escolhas. Suas publicações costumam torturar até fazer gritar o idioma. Em geral, incitam à construção de uma espécie de teologia da economia brasileira.
Desta vez, o Banco Central resolveu omitir. Manteve um volume crescente de bilhões de reais em passivos da União fora dos registros sobre a dívida pública. Ocultou, deliberadamente, o rombo nas contas federais.
O Tribunal de Contas comprovou, depois de 17 meses de auditoria sobre as pedaladas provocada pela Contas Abertas: “O BC deixou à margem de suas estatísticas passivos da União que, de acordo com os seus próprios critérios, deveriam compor a dívida líquida do setor público.” E assim, concluiu, “faltou com a diligência e transparência esperada no desempenho de suas atribuições”.
O flerte eleitoral com a irresponsabilidade fiscal levou à quebra do Estado. Despesas floresceram numa etapa de receita declinante. No Tesouro sobram faturas pendentes.
Uma delas (“restos a pagar”) é de R$ 227 bilhões — sete vezes mais que a meta de déficit para 2016. Outras são mais recentes, como o aumento (27,3%) para todo o funcionalismo.
Devem resultar em aumento de carga tributária, com peso maior para os pobres, dependentes de serviços públicos cada vez mais precários e frequentemente indisponíveis, por sucessivas greves.

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