Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, novembro 30, 2015

Democracia Política e novo Reformismo: Ricardo Noblat: Basta de Dilma!

Democracia Política e novo Reformismo: Ricardo Noblat: Basta de Dilma!

Ricardo Noblat: Basta de Dilma!

- O Globo


"Nós somos a vitamina para este país voltar a crescer." Lula


A reputação de Dilma Rousseff, até aqui, se amparava em duas coisas: foi torturada durante a ditadura militar e não delatou ("coração valente"); embora seja um fracasso como administradora, nunca roubou em causa própria e nem deixou que roubassem ("a faxineira ética"). Aí vem a Lava-Jato e carimba na testa de Dilma a acusação de que ela comanda o governo mais corrupto da História do Brasil.


ESTAMOS DIANTE de uma injustiça com Dilma, invenção de Lula, o presidente do mensalão, apontado como o responsável pela montagem do esquema que assaltou a Petrobras? Lula, que antes de subir a rampa do Palácio do Planalto pela primeira vez, morava de favor em apartamento de um amigo, e dois anos depois de ter descido a rampa pela última vez já era um homem rico?


POUCO IMPORTA que, sob esse aspecto, não se faça justiça a Dilma. A vida é assim. A mais recente pesquisa do Datafolha aponta a corrupção como o maior problema do país. Desde 1996, ela jamais havia sido citada como o problema campeão das aflições dos brasileiros. O campeão sempre foi a Saúde.


DE RESTO, DILMA não é tão inocente como parecia. Em depoimento à Lava-Jato, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) disse que fora consultado por Dilma, na época ministra de Minas e Energia de Lula, sobre a indicação de Nestor Cerveró para a diretoria da Petrobras. Cerveró está preso. Delcídio, também. Paulo Roberto Costa, outro ex-diretor da Petrobras, está solto. Compareceu como convidado de Dilma ao casamento da filha dela em abril de 2008.


EM BREVE, CERVERÓ começará a contar o que sabe sobre a compra superfaturada da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma acompanhou tudo de perto. Desconfiada por natureza, cobrou explicações à farta. Para ao fim e ao cabo, ao explodir o escândalo, culpar Cerveró pelo mau negócio.


DILMA CARECE DE competência e conhecimento para o exercício do cargo, e de prazer para governar. É uma mulher atormentada por seus demônios. Lula imaginou pilotá-la e voltar à Presidência quatro anos depois. Dilma o impediu. Centralizadora e autoritária, ela mantém distância de pessoas criativas e de espírito livre. Prefere cercar-se de tarefeiros à sua imagem e semelhança quando jovem.


NA LUTA CONTRA a ditadura de 64, Dilma não passou de uma tarefeira aplicada e obediente na organização política à qual pertencia. Seu maior feito foi suportar a tortura sem entregar ninguém. Obrigada como presidente a conceber e dar ordens, encrencou-se. E entregou a sorte do país às incertezas de uma crise econômica que destrói seis mil empregos formais por dia.


A CRISE POLÍTICA é a irmã mais nova da crise econômica. Dilma é a mãe das duas. Admiradora de Brizola, ela viu em Lula seu passaporte para o cume do poder. Ali, não conseguira chegar usando armas. Chegou compartilhando a ideia de que era preciso manter o poder pelo máximo de tempo possível para mudar o país. Aprendeu com Lula que, sem dinheiro fácil, o poder vira uma quimera.


SE NÃO ROUBOU,Dilma arrisca-se a ser condenada por conivência. Falta-lhe autoridade política para enfrentar o difícil momento que o Brasil atravessa. Seu governo é uma nau sem destino repleta de medíocres, inclusive ela mesma. As crises que paralisam o país só serão resolvidas em menos tempo se a tarefeira abdicar. Ou então se ela for removida, respeitada a lei.



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domingo, novembro 29, 2015

Abertura já - Gustavo Franco Estadão

Abertura já - Economia - Estadão

Abertura já

Na época, havia muitas dúvidas sobre os modelos de desenvolvimento econômico mais apropriados ao que vinha pela frente, e entre os países hoje conhecidos como emergentes destacavam-se duas "escolas": de um lado estavam os chamados "tigres asiáticos" (Coreia, Taiwan, Hong Kong e Cingapura), que buscavam maior integração na economia global através da "promoção de exportações" (e importações), e de outro, os latino-americanos, com seus modelos de "substituição de importações", ênfase no mercado interno e autossuficiência.

Outras Notícias

Eu dava meus primeiros passos como pesquisador, e, em conferências internacionais, os encontros com os colegas asiáticos tinham lugar em um clima de certa rivalidade, muitas vezes sadia e bem-humorada, mas com alguns estranhamentos patrióticos inevitáveis. Todos eram acadêmicos em busca de verdade, mas com certa torcida.

Nós defendíamos nossas cores argumentando que o modelo não era importante se o país fosse competitivo e que, como o mercado interno dava escala ao produtor nacional, o protecionismo devia ser utilizado de forma pragmática. Ademais, era justo que o Brasil procurasse reduzir sua vulnerabilidade externa em razão dos estragos causados pelos preços do petróleo.

Como éramos ingênuos...

Eles diziam que não estávamos entendendo nada sobre globalização e que era bom nos adaptarmos a isso em vez de nos esconder, e que a proteção redundava em deprimir a competitividade, pois as "economias da preguiça" dominavam as de escala. Diziam também que o mercado interno não era nada comparado com o mercado mundial, que estávamos olhando o problema da vulnerabilidade externa de cabeça para baixo, e que a maneira mais barata de arrumar petróleo era produzir alguma coisa em que fôssemos competitivos para trocar com os árabes.

E ficamos assim, cada qual defendendo o seu quadrado.

Trinta e cinco anos depois, está mais do que claro que nós levamos uma surra, que eles tinham razão e que nós embarcamos em uma canoa furada.

A renda per capita da Coreia hoje está perto de 75% da renda per capita dos EUA, ou seja, mais que triplicou, ao passo que o Brasil, que estava perto de 25% da renda americana nos anos 1980, desceu para 18% na avaliação mais recente.

Nos 50 anos anteriores a 1982, o Brasil estava entre os melhores desempenhos do mundo em matéria de crescimento. Mas a mágica que funcionou até aí se perdeu, ou as circunstâncias mudaram, ou ambas. Talvez o segredo do sucesso esteja em adaptar-se a circunstâncias incomuns, como fizemos nos anos 1930, mas fracassamos redondamente depois de 1982. Permanecemos insistindo nas mesmas receitas e já fazem 35 anos de desempenho medíocre.

Será que não está na hora de repensar radicalmente a nossa estratégia de inserção externa? E de rever nossas crenças sobre o conteúdo nacional, "adensamento das cadeias produtivas" e acordos internacionais?

Eles estavam certos em outras coisas, como a suprema importância da exposição à competição internacional para conduzir as empresas à competitividade. Isso se dava, segundo diziam, por que não existia mais "indústrias nascentes", apenas multinacionais mudando de lugar, e fazendo escolhas tecnológicas determinadas pelo ambiente.

Se é para abastecer um mercado interno protegido e com obrigações de conteúdo local, elas adotam o "kit nacionalista", mas se é para participar da globalização, a chave é outra e a filial se organiza para fazer parte de uma cadeia internacional de valor.

Uma estatística para filiais americanas funcionando no Brasil em 1977 indicava que apenas 8,7% das vendas eram para o exterior, enquanto que na Ásia a razão exportações sobre vendas totais era de 81,2%. As proporções foram para 25% e 52% em 2010, e a média mundial é 45%.

Eram estilos diferentes de inserção externa e que traziam vastas implicações para o tema da vulnerabilidade externa. A descoberta sobre esse assunto nada tinha de intuitiva para nós: em assuntos de balanço de pagamentos, o rabo balança o cachorro.

Explica-se. Um país com importações iguais a exportações na faixa de 35% do PIB, como a Coreia, podia gerar um superávit comercial de 7% do PIB com uma desvalorização cambial de meros 10%. Mas, para um país como o Brasil, com importações iguais a exportações na faixa de 7% do PIB, o mesmo superávit precisaria de uma desvalorização cinco vezes maior, de 50%, uma encrenca. Portanto, e surpreendentemente, quanto mais fechado, mais "vulnerável"!

Descobrimos essa triste matemática em 1982, quando começou uma "década perdida" que está durando 35 anos.

Uma conclusão tentativa é que, como coletividade, o Brasil é de uma teimosia exasperante no terreno das relações internacionais, mais até que nos assuntos ligados à inflação, onde insistimos com "teorias" heterodoxas até esgotar a paciência do brasileiro. Ressalvada a escorregada recente, aprendemos a lição sobre inflação.

O demônio do protecionismo, todavia, parece bem mais resistente, talvez por que os interesses que vivem sob a sua sombra possam se enrolar na bandeira nacional e exibir uma falsa respeitabilidade beirando a canalhice. Na verdade, a proteção tarifária, as reservas de mercado, desonerações e facilidades para "campeões" parecem se amontoar em tempos recentes, no contexto do "capitalismo de quadrilhas" que aqui se quis implantar, e que a Operação Lava Jato se empenha em combater.

Num livro de 1988, o professor Robert Klitgaard, de Harvard, definiu o grande problema nacional em uma simples equação:

Corrupção = Monopólio + Arbitrariedade – Transparência.

Ou seja, quanto mais distantes do mercado estiverem as relações entre o público e o privado, quanto mais discricionárias as decisões, e quanto menor a transparência, maior será a corrupção.

Tendo em mente a equação acima, apenas uma observação sobre "política industrial ativa", uma das prioridades do petismo.

Dois economistas (Alberto Ades e Rafael Di Tella) procuraram especificamente uma relação entre corrupção e o que eles denominaram "campeões nacionais". Usando dados para 1989-92, de alguns milhares de depoimentos de executivos atuando em dezenas de países, concluem que valores entre 16% e 44% dos investimentos viabilizados por "políticas industriais ativas" se transformam em propina: 30%, em média!

Pois é.

Seria maravilhoso se, junto aos desdobramentos da Operação Lava Jato, pudéssemos rever a vasta constelação de políticas públicas discricionárias e seletivas que tanto favorecem mercados cativos, desvios éticos e prejuízos ao nosso crescimento.



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Dora Kramer Castelo de areia - Política - Estadão

Castelo de areia - Política - Estadão

Castelo de areia

Certeira a previsão da então presidente da Petrobrás, Graça Foster, lá pelos idos de 2014 de que não ficaria "pedra sobre pedra" quando concluídas as investigações sobre as traficâncias cometidas por funcionários, políticos e empresários em nome e ao custo da empresa outrora símbolo de pujança na economia do Brasil. 

Outras Notícias

Em fidelidade à exatidão, a executiva se referia à capacidade da Petrobrás de promover ela mesma o desmonte da corrupção. Fazia uma promessa vã, quase uma bravata. A afirmação, no entanto, revelou-se premonitória no tocante ao resultado, uma vez que nada mais fica em pé na rede de mentiras e ilicitudes montada pelo governo para de um lado sustentar e de outro patrocinar o financiamento do projeto de perpetuação do PT no poder.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi preso na quarta-feira, 25, suspeito de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi preso na quarta-feira, 25, suspeito de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato Foto: Fábio Motta/Estadão

A semana passada foi exemplar: começou com a prisão do amigo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai, sobre quem pesam várias acusações, entre as quais a de ter intermediado pagamento de propina para calar testemunha que ameaçava revelar fatos sobre o assassinato de Celso Daniel, prefeito de Santo André morto por ter descoberto esquema de corrupção na prefeitura. 

No dia seguinte, foram presos o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, e o banqueiro André Esteves por tentativa de obstrução da Justiça. Na sexta-feira, a empreiteira Andrade Gutierrez se comprometeu a pagar multa de R$ 1 bilhão depois de confessar ser uma pagadora contumaz de subornos: na Petrobrás, nas obras da Copa do Mundo, na usina nuclear de Angra 3, em Belo Monte e na ferrovia Norte-sul.

Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, corre o risco de ser cassado por quebra de decoro, está denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal e começa a temer que seu destino seja o mesmo do senador Delcídio, depois de estabelecido o precedente. Isso sem falar no presidente do Senado, Renan Calheiros, cuja denúncia por peculato e falsidade ideológica já foi aceita pelo STF.

Se disso tudo decorrerá algum tipo de ruptura, seja em relação ao mandato da atual presidente ou na consolidação da falência ao modelo político em vigor, os acontecimentos é que continuarão ditando o rumo. Mas, o cenário da demolição está posto, independentemente do que virá em substituição.

Não há escapatória. Um dado é preciso levar em consideração: Delcídio Amaral não é um senador qualquer. Era líder do governo, escolhido pelo Planalto (não pela bancada do PT no Senado) para em seu nome atuar e falar. Estava de posse dessa delegação quando se prontificou a interceder por Nestor Cerveró no Supremo e a proporcionar condições de fuga ao ex-diretor da Petrobrás. Em troca de um silêncio que, se quebrado, não prejudicaria apenas o senador, mas a todos os que nos últimos dois anos insistiram que nada de errado havia na Petrobrás.

Ladeira abaixo. O PT entrou numa trajetória "água de morro abaixo" que não tem volta. Erra até quando acerta. Acertou na recusa de emprestar solidariedade ao senador Delcídio Amaral – não obstante devesse tê-lo feito em relação a petistas de "raiz", cujas ilicitudes levaram a condenações e prisões –, mas errou feio na justificativa.

Segundo a nota do presidente do partido, Rui Falcão, diferentemente dos outros, Delcídio não estava em "atividade partidária" e daí seu erro. Não foi um ato falho. Foi, antes, a manifestação explícita e consciente de que o PT governa em causa própria.

DORA KRAMER ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS 



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quinta-feira, novembro 26, 2015

"Viva a Lava-Jato", por Carlos Alberto Sardenberg

Rota 2014 - Blog do José Tomaz: "Viva a Lava-Jato", por Carlos Alberto Sardenberg

"Viva a Lava-Jato", por Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

A prisão do senador líder do governo, determinada pelo STF, jogou a criseum degrau acima
 



Dizem que as crises políticas e econômicas, num dado momento, geram os líderes necessários para sua solução. Dizem também que é muito difícil antecipar quando esse momento está se aproximando, mas que a gente percebe quando chegou. Pois no Brasil de hoje, parece o contrário. O momento já está passando.


O senador Delcídio Amaral e o banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, foram presos, por determinação do Supremo Tribunal Federal, sob a acusação de obstrução da Justiça. Mas as peças do processo mostram que essa denúncia, embora muito grave, é até menor diante dos casos que são ali mencionados.


Vamos reparar: o BTG Pactual não é um banco qualquer. É o maior banco de investimentos do país, tem projeção internacional e, nessa condição, está conectado a grandes negócios — a começar pela exposição na área de petróleo e gás — nos quais aparece associado a outros grandes bancos e grandes companhias nacionais e estrangeiras. O envolvimento de seu controlador nos meandros do petrolão oferece, sim, um risco sistêmico. E ameaça arrastar outras instituições financeiras e não financeiras.


Ponto importante: se confirmado o modo de atuação de André Esteves nesse episódio — a operação nos bastidores da polícia, da Justiça e do governo, cujos indícios são avassaladores — a Lava-Jato terá apanhado um caso extremo de "capitalismo de amigos, dos negócios arranjados nas mesas políticas.


Sim, a Lava-Jato já apanhou muitos casos assim. Empresários que fizeram delação premiada, como Ricardo Pessoa, contaram que ou entravam no esquema de corrupção da Petrobras/PT ou não tinham obras.


Mas o banqueiro André Esteves é muito mais que isso. Tem peso, talvez, até maior que o de Marcelo Odebrecht. E, para falar francamente, não é de hoje que os mercados olham com certa restrição para o modo de operação de Esteves. Se ele foi efetivamente apanhado, vão muita gente e muito negócio atrás.


Que a política está toda comprometida, já se sabia. Piorou, é verdade. A prisão do senador líder do governo, determinada pelo STF, jogou a crise um degrau acima. Mais exatamente, jogou a crise para a praça ao lado, do prédio do Congresso para o Palácio do Planalto — onde, aliás, já estava parcialmente, conduzida pelos membros do PT apanhados na Lava-Jato.


Ou seja, já havia aí um ambiente de perplexidade política. Como se chegou a esse ponto? Repararam que todos os envolvidos na Lava-Jato já foram acusados, denunciados e... 


liberados em inúmeros outros casos? Como é possível que um Congresso funcione com tantos dirigentes envolvidos em casos graves de corrupção? E como foi possível que esses personagens estejam tanto tempo por aí?


Pois o fato novo de ontem é que se pode levar essa perplexidade para o mundo econômico, público e privado. Como foi possível que o país tenha suportado por tanto tempo esse modo de negócios nos quais há um assalto do setor privado sobre o público?


O pior de tudo é que, pensando bem, não há com o que se espantar. Há uma cultura anticapitalista no país, difundida nos meios políticos, intelectuais e acadêmicos, nas escolas, na verdade, na sociedade toda. Empresários e banqueiros, estes principalmente, são todos uns ladrões — tal é a opinião rasa.


E parece que essa opinião é tão difundida que os próprios capitalistas nacionais aderiram a ela. Ok, vamos para a ressalva. Parte dos capitalistas nacionais parece ter pensado: se é tudo roubalheira, por que não? Ou seja, a cultura anticapitalista acaba produzindo um capitalismo de negócios escusos, que, ao final, confirma aquela cultura.


Temos, portanto, uma perfeita crise de valores, que paralisa a política e ameaça paralisar a macroeconomia. Só não paralisa os milhões e milhões de brasileiros que continuam comparecendo ao trabalho, cumprindo suas tarefas e tentando ganhar a vida honestamente. Para que estes não façam o papel de trouxas, está mais do que na hora de uma mudança radical na política — um novo governo, uma nova força, uma nova composição, o que seja — mas que seja capaz de tocar o país.


E que seja capaz, entre outras coisas, de reformar o capitalismo nacional.


Quanto ao Judiciário, se havia alguma dúvida sobre sua conduta, parece que não há mais. Viva a Lava-Jato, que criou a oportunidade para que se lave tudo isso.



quarta-feira, novembro 18, 2015

Cora Rónai As redes sociais e os atentados

O GLOBO

No Brasil, assim que as primeiras bandeirinhas francesas começaram a colorir os avatares, a patrulha do Facebook deu as caras 

É nas grandes emergências que a internet em geral, e as mídias sociais em particular, mais se mostram — e o que se vê é como a Humanidade que as alimenta, ao mesmo tempo bom e mau, solidário e egocêntrico, confuso e esclarecedor. Os atentados ainda estavam acontecendo em Paris, e as redes sociais já estavam fervendo. O número de vítimas crescia, a desinformação ainda era geral, mas a intolerância já mostrava a sua cara em tuítes escabrosos. Os pobres refugiados sírios, que deixaram as suas vidas para trás justamente por causa do Estado Islâmico, se tornaram alvo de um festival de xenofobia; ao mesmo tempo, as grandes potências ocidentais viraram saco de pancadas de quem atribui todos os males do mundo à Europa e aos Estados Unidos, que certamente têm grande parcela de culpa pela situação desesperadora do Oriente Médio, mas não estão sozinhos no comando do inferno.

Do lado bom, viu-se uma imensa corrente de solidariedade, compaixão e troca de informações relevantes. O Facebook ativou um recurso até aqui usado apenas em desastres naturais, o Safety Check, para que todos pudessem ver se os seus amigos e conhecidos estavam a salvo; e incontáveis parisienses abriram as suas casas para estranhos ilhados pela falta de transporte com a hashtag #porteouverte, porta aberta.

Essa bela iniciativa, lamentavelmente, naufragou em pouco tempo, diante da incompreensão maciça do que vem a ser uma hashtag, que é uma etiqueta feita para que se encontrem dados ou informações sobre determinado assunto. Milhares de usuários do Twitter , encantados com a ideia, passaram a louvá-la — usando a própria hashtag e, consequentemente, a inutilizando. O resultado é que quem precisava mesmo de uma #porteouverte, passou a se perder numa barragem de tuites inúteis: coisas do tipo "Que emocionante, os franceses estão usando #porteouverte para oferecer as suas casas!", imediatamente seguidas por respostas como "Burros, parem de usar #porteouverte à toa!".

No Brasil, assim que as primeiras bandeirinhas francesas começaram a colorir os avatares, a patrulha moralista do Facebook deu as caras, em toda a sua glória e estupidez, cobrando dos outros a bandeira mineira pela tragédia de Mariana — como se fosse preciso desligar uma dor para ligar a outra. É claro que a maioria das pessoas que se achou no direito de fiscalizar o luto alheio nunca havia feito um único post sobre o crime ambiental em Minas, muito menos trocado o seu avatar para qualquer espécie de manifestação de pesar.

Também houve muita cobrança nas mídias sociais, e não só no Brasil, pela diferença de reação entre os atentados na França e os que atingiram, antes, o Líbano, a Nigéria, o Quênia ou o próprio avião russo. Essa diferença de reação existe mesmo, e talvez se explique ou porque nos sentimos todos muito mais próximos da França do que de Beirute ou de Garissa, ou porque atentados em regiões percebidas como politicamente instáveis não chamem tanto a atenção, ou pelas duas coisas, e ainda tantas outras mais, juntas.

A verdade, porém, é que — novamente — os patrulheiros de plantão gastaram muito mais tempo e esforço cobrando a dor alheia por Paris do que denunciando os demais atentados assim que aconteceram. Se todos tivessem gritado em alto e bom som no momento em que os outros crimes foram perpetrados, ninguém poderia dizer, hoje, que eles passaram em branco.

segunda-feira, novembro 16, 2015

terça-feira, novembro 10, 2015

JOSÉ CASADO A máfia e o cartel

O Globo

Cade mostra como 30 operadores financeiros de 15 bancos globais manipularam durante seis anos um dos principais indicadores econômicos do Brasil — a taxa de câmbio
Durante seis anos, entre 2007 e 2013, 30 operadores financeiros vinculados a 15 dos maiores bancos globais manipularam um dos principais indicadores econômicos do Brasil — a taxa de câmbio, preço-chave para investimentos e comércio exterior. Eles fizeram acordos para influenciar cotações do real, dólar e outras moedas. Dividiam-se em dois grupos no sistema de chat da agência Bloomberg: um autodenominava-se “A Máfia”, outro identificava-se como “O Cartel”.
Flagradas nos EUA, as casas bancárias acabaram multadas em US$ 5,6 bilhões. Em junho uma delas foi à Procuradoria, em São Paulo. Fez acordos de leniência e delação premiada.
O caso foi repassado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que viu nas provas recebidas “fortes indícios de condutas anticompetitivas” e “de infração à ordem econômica”. O processo avança sob sigilo.
O Cade lista 11 protagonistas da manipulação de cotações da moeda brasileira: Banco Standard de Investimentos, Barclays, Citigroup, Deutsche Bank, HSBC, Merrill Lynch, Morgan Stanley, Nomura, Royal Bank of Canada, Standard Chartered e UBS.
Atribui a oito as maquinações com moedas estrangeiras: Banco Tokyo-Mitsubishi UFJ, Barclays, Citigroup, Credit Suisse, HSBC, JP Morgan Chase, Royal Bank of Scotland e UBS.
Indicia por conspiração, via chat, os operadores Alexandre Gertel Nogueira, Sergio Correia Zanini, Alexandre Santos, Christoph Durst, Christopher Ashton, Colin Devereux, Daniel Evans, Daniel Yuzo Shimada Kajiya, Eduardo Hargreaves, Fábio Ramalho, Felipe Leitão, Fernando Pais, Frank Cahill, James Witt, James Wynne, John Erratt, José Aloisio Teles Jr., Marco Christen, Mark Clark, Martin Tschachtli, Matthew J. Gardiner, Michael Weston, Niall O’Riordan, Pablo Frisanco Oliveira, Paul Nash, Renato Lustosa Giffoni, Ralf Klonowski, Richard Gibbons, Richard Usher e Rohan Ramchandani.
Segundo o Cade, eles fizeram acordos para fixar a diferença (spread) entre o valor de compra e venda de moedas, potencializando lucros dos bancos e os prejuízos dos clientes. Combinaram cotações falsas e negociaram moedas a preços específicos, cartelizados. Atuaram para bloquear outros operadores (brokers) no mercado de câmbio do Brasil, concorrentes ou que se recusaram a aceitar influência. Compartilharam informações sobre os negócios de clientes, incluindo contratos, fluxo de recursos, ordens de negociação, preços, posições confidenciais, estratégias e objetivos.
Coordenaram, também, operações prévias às colheitas de safras agrícolas, para influenciar os índices de referência num “movimento de mercado”, alterando as cotações dos produtos.
A federação dos bancos alega que a taxa de câmbio (PTax) é apurada e divulgada pelo BC a partir de informações de mais de 180 instituições num mercado com movimentação média de US$ 6 bilhões por dia, “o que torna praticamente impossível sua manipulação”.
Exportadores que se sentem prejudicados vislumbraram manobra governamental para esvaziar a investigação. Recorreram ao senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que levou o caso ao Senado. Não se conhece, ainda, a extensão dos danos às empresas e pessoas físicas no Brasil. É certo, porém, que o cartel e a máfia causaram perdas bilionárias.

RODRIGO CONSTANTINO Feministas igualitárias

O Globo

Nossa primeira demanda é acabar com a diferença na idade de aposentadoria. Onde já se viu a mulher poder se aposentar antes?

Sou o presidente da ONG Feministas Unidas pelas Mulheres Estranhas e Igualitárias (Fumei), e ia aderir à campanha #AgoraÉQueSãoElas, cedendo este espaço para a jornalista Joice Hasselmann, que acaba de sair da VEJA. Mas desisti, pois Joice é muito independente e pouco igualitária para representar minha ONG, que não aprecia esse tipo de postura. Ela também é bonita e feminina demais para falar em nome das mulheres estranhas que idolatram Simone de Beauvoir, aquela submissa ao amante Sartre. Sei que o leitor pode achar estranho que um homem presida uma entidade feminista, mas não há nada de anormal nisso. Ora, todos esses homens que cederam o espaço nos jornais por um dia às mulheres, preservando os demais dias do ano para si, agem de forma similar, como se a mulher fosse tão fraca a ponto de necessitar de um empurrãozinho masculino, uma concessão abnegada. Vai entender!

A Fumei defende bandeiras mais radicais, pois percebeu que muitas mulheres que se dizem feministas chegam a um limite o qual não estão dispostas a avançar. A Fumei, ao contrário, busca igualdade plena entre homens e mulheres. Por isso que nossa primeira demanda é acabar com a diferença na idade de aposentadoria. Onde já se viu a mulher poder se aposentar antes? Ainda mais quando sabemos que sua expectativa de vida é maior. Qual a lógica desse privilégio?

Além da idade igual de aposentadoria, a Fumei defende o alistamento obrigatório das mulheres nas Forças Armadas. Algumas feministas lutaram no passado pelo direito de a mulher ingressar no Exército, mas achamos isso muito pouco. Queremos o dever, tal como ocorre com os homens.

Outra coisa que tem chamado a nossa atenção é a enorme desproporção entre homens e mulheres na população carcerária do país. Simplesmente quase 95% do total de presos são homens. Onde está a igualdade? Como podemos combater as desigualdades no mercado de trabalho se não atacarmos também a desigualdade na quantidade de presidiários?

A Fumei condena veementemente os protestos de outras feministas em igrejas, esfregando os seios nus na cara dos padres. Isso já é coisa do passado, não tem mais graça. Em nome da igualdade, queremos ver as feministas balançando os peitos na cara dos aiatolás do Oriente Médio, na cara dos líderes do Estado Islâmico. A mulher na Arábia Saudita não pode nem dirigir ou usar biquíni, e as feministas vão focar na "opressão" ocidental?

Algo que irrita profundamente nós da Fumei é mulher que deixa o homem trocar o pneu furado do carro ou matar baratas. Coisa de mulherzinha que alimenta a desigualdade. O certo é a mulher meter a mão na massa e trocar o pneu sozinha, mesmo debaixo de chuva, e deixar de frescura e pisar na maldita barata, mesmo que descalça. A igualdade é fundamental, companheiras!

Alguns chatos, como aquele presidente do Instituto Liberal, falam que o feminismo igualitário é coletivista, que não enxerga indivíduos, que não reconhece que homem e mulher são complementares, e não inimigos mortais. Mas não caímos nessa ladainha. Sabemos que a família é como uma luta marxista, só que em vez de classes, se dá entre gêneros. O macho oprime a fêmea, e isso precisa acabar.

Economistas mostram que diferenças em salários médios derivam das escolhas feitas, do perfil de trabalho, da maior quantidade de mulher em profissões mais flexíveis com o tempo, e pelo fato de serem elas que engravidam, algo que ainda não temos muito como mudar. Não importa essa lógica toda. Somos pós-modernos, estamos acima da razão, não precisamos de coerência. O relevante é só pintar a mulher como vítima e o homem como opressor, tudo em nome da igualdade.

Por isso, não suportamos essas mulheres fortes, independentes, tais como Margaret Thatcher, Carly Fiorina ou Ayn Rand. Preferimos aquelas que só chegaram aonde chegaram graças a um homem, como Dilma, criatura de Lula. A nossa presidenta sempre usou a cartada sexual, inclusive no título do cargo, lembrando que era mulher e que toda crítica que recebe é fruto do machismo. Thatcher nunca se vitimizou assim, nem Ayn Rand. Não ajudam em nossa causa.

Mas, apesar de toda a consideração para com Dilma, a Fumei precisa defender seu impeachment. Afinal, estamos aqui lutando pela igualdade plena das mulheres estranhas, e convenhamos, Dilma é excelente ícone do grupo. Se Fernando Collor, com "aquilo roxo", foi alvo de um processo de impeachment, não seria justo blindar Dilma agora. Queremos igualdade, e só haverá igualdade se Dilma também cair, como aconteceu com Collor. Seja nobre, Dilma. Renuncie em nome da igualdade!

Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal

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