Entrevista:O Estado inteligente
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sábado, março 31, 2012
Uma história de conflitos Merval Pereira, O Globo
quinta-feira, março 29, 2012
Artigos
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- Palpite infeliz - DORA KRAMER
- O humor que desmoraliza - MARTHA MEDEIROS
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- Toureando a fera - ILIMAR FRANCO
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- Como é uma vida sexual saudável? CONTARDO CALLIGAR...
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- O alerta por trás do caso Demóstenes - EDITORIAL O...
- Tolerância máxima - ELIANE CANTANHÊDE
- SINAL DE FUMAÇA - MÔNICA BERGAMO
- Tolices curriculares - EDITORIAL O ESTADÃO
- Controle civil das prisões militares - ALEXANDRE B...
- A primeira pedra - LUIZ FERNANDO VERISSIMO
- Reforço na escola - CLAUDIA COSTIN
- Taxação do câmbio? - CELSO MING
- Indústria para todos - EDITORIAL FOLHA DE SP
- O impacto fiscal da re-renegociação - RIBAMAR OLIV...
- CLAUDIO HUMBERTO
- QUINTA NOS JORNAIS
- Fonte blog do Murilo
Millôr e Brizola Claudia Antunes
RIO DE JANEIRO - Biografias de Millôr lembraram ontem a passagem do escritor e cartunista pelo antigo "Jornal do Brasil", na década de 80. Ele entrara em atrito com a "Veja", onde trabalhava antes, por causa do seu apoio a Leonel Brizola, que fundou o PDT ao voltar do exílio e disputava a primeira eleição direta para o governo do Estado do Rio.
Em 1982, quase todo o resto da imprensa carioca apoiava a candidatura de Moreira Franco, hoje no PMDB e ministro de Assuntos Estratégicos de Dilma, de cuja "base aliada" o PDT também faz parte. Moreira concorria a governador pelo PDS, que virou o atual DEM, mas era, então, a sigla nova da Arena, o partido situacionista criado pelo regime militar.
O ex-governador gaúcho, cunhado de Jango e líder da Cadeia da Legalidade em 1961, fez uma campanha com poucos recursos e amparada em sua habilidade retórica, reivindicando uma continuidade histórica com a experiência nacional-popular interrompida em 1964.
O momento mais tenso veio após a eleição, quando a Proconsult, empresa contratada para informatizar as planilhas de voto (que ainda era em cédula de papel), passou a divulgar a dianteira de Moreira, contrariando as pesquisas. Uma apuração paralela feita pela rádio Jornal do Brasil provou que votos brancos e nulos eram computados para o governista.
Eleito com o antropólogo Darcy Ribeiro como vice, Brizola construiu Cieps, escolas públicas de horário integral. Autorizou uma linha de ônibus direta do subúrbio a Ipanema, e proibiu que a polícia invadisse casas em favelas -política que muita gente culpa pela entrada do tráfico nos morros, mas que na época era a correta.
Com o tempo, Millôr se tornou crítico veemente de Brizola, que viria a fazer um segundo governo sofrível no Estado, de 1991 a 1994.
Cada um com a seu modo, no entanto, os dois buscaram manter a coerência até o fim.
segunda-feira, março 26, 2012
‘Não tem nada de mais’ - a série - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O ESTADÃO - 26/03/12
SÃO PAULO - E segue a nossa série "não tem nada de mais", feita com a colaboração das autoridades quando explicam algumas situações, digamos, embaraçosas. E vamos falar francamente: há boas mentiras, histórias bem contadas, que ficam de pé por muito tempo. Há também mentiras inocentes, daquelas que todo mundo sabe, mas deixa passar. Não é o caso das versões contadas pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi.
Reparem: não é que ele se esqueceu do nome e do jeitão de um eleitor qualquer, desses com os quais as autoridades vivem topando por aí, apesar dos seguranças. Ele não se lembrou de ter viajado num jatinho com o diretor de uma organização não governamental (ONG) que tem contratos com o seu ministério, nem se lembrou de ter jantado na casa do empresário.
Como não se lembrava, negou. Confrontado com fotos e vídeos, além das declarações do diretor da ONG dizendo que serviu a janta para o ministro pessoalmente, Lupi caiu em si. "É mesmo!" - deve ter comentado - "agora me lembro."
Então o ministro havia mentido na primeira versão?
De jeito nenhum, ele simplesmente não tem "memória absoluta", contestou, não num bate-papo de bar, mas numa reunião oficial no Senado.
Qual é o problema? Político se encontra com tanta gente, frequenta tantos almoços e jantares que é impossível lembrar tudo assim, de memória, explicou Lupi.
E o jatinho? Ora, ministro de Estado está toda hora viajando de jatinhos e jatões, como é que pode se lembrar em qual voou tanto tempo atrás? Mais impossível ainda é lembrar quem era o dono do jatinho ou quem pagou a viagem. Isso lá é atribuição de ministro? - argumentou Lupi.
Vamos supor, portanto, que tenha ocorrido uma enorme coincidência. O ministro precisou de um avião confortável e um assessor desavisado providenciou o aparelho logo com um empresário conhecido e que tem negócios com o ministério.
Não haveria aí um problema ético? Não gera a suspeita de troca de favores?
Só na cabeça da mídia e da oposição. Como se pode pensar nisso - segue a argumentação do ministro -, se ele nem sabia de quem era o avião ou quem estava pagando o aluguel do jatinho?
Reparem: se essa tese, digamos, faz algum sentido, então qualquer autoridade pode apanhar carona no avião de um traficante. Não teria nada de mais, se a autoridade não soubesse quem estava patrocinando sua viagem.
Fico imaginando: o assessor diz ao ministro "arrumei um avião, excelência, o problema é que pertence ao...". E o ministro adverte: "Não me diga nada, quer me comprometer?".
Resumindo, pois: o ministro agora sabe que viajou num jatinho providenciado pelo diretor da ONG que tinha interesse concreto em decisões tomadas por ele, ministro. Mas, como ele não sabia na ocasião, não tem nada de mais. Também não tem nada de mais ele ter apresentado duas versões, porque a primeira fora uma traição da memória.
O problema é que o Código de Conduta da Alta Administração Federal diz, em seu artigo 7.º: "A autoridade pública não poderá receber (...) transporte, hospedagem ou quaisquer favores de particulares de forma a permitir situação que possa gerar dúvida sobre a sua probidade ou honorabilidade".
Ressalva e explica o parágrafo único desse artigo: "É permitida a participação em seminários, congressos e eventos semelhantes, desde que tornada pública eventual remuneração, bem como o pagamento das despesas de viagem pelo promotor do evento, o qual não poderá ter interesse em decisão a ser tomada pela autoridade".
Ou seja, não apenas a autoridade tem de saber quem patrocina sua viagem e sua boca-livre. Todo mundo precisa saber. E se a coisa toda puder gerar alguma suspeita de favorecimento, então não pode fazer.
Poderia uma autoridade alegar que não sabia dessa regra?
Claro que não, no entanto Lupi já deu um drible na Comissão de Ética da Presidência. Informado de que não poderia ser, ao mesmo tempo, ministro de Estado e presidente do Partido Democrático Trabalhista (PDT), depois de ter reclamado muito Lupi se licenciou do cargo no partido. De araque. Todo mundo sabe que ele continuou comandando o PDT. Aliás, na tal viagem, ele estava justamente num trabalho partidário. Tanto que já disse que vai devolver a diária de ministro.
Assim, viajou na condição de ministro de Estado no avião providenciado pelo diretor da ONG contratada pelo ministério, fez campanha partidária e ainda cobrou diária do bolso dos contribuintes. Não tem nada de mais. Devolve o dinheiro e o resto se esquece, certo?
O ministro ainda perguntou: estão me acusando de quê?
Presentinho? O Código de Conduta da Alta Administração ainda esclarece: "É vedada à autoridade pública a aceitação de presentes, salvo de autoridades estrangeiras nos casos protocolares em que houver reciprocidade". Agora, presentinhos pode, desde que "distribuídos por entidades de qualquer natureza a título de cortesia, propaganda, divulgação habitual ou por ocasião de eventos especiais ou datas comemorativas, não ultrapassem o valor de R$ 100 (cem reais)".
Quem sabe o aluguel do jatinho saiu por uns R$ 99,99?
Desindustrialização - PAULO BROSSARD
ZERO HORA - 26/03/12
Os fatos falam por si. Entidade ligada ao setor noticiava que, nos últimos cinco anos, o trabalho na indústria nacional, em dólar, encarecera 46%, enquanto apenas 3,6% para os americanos, os preços da energia elétrica aqui subiriam 245% entre 2003 e 2011 e apenas 35,3% para os americanos; saliente-se que 34% do preço da energia corre por conta de impostos; para encerrar, a balança comercial, em 2005, acusava um superávit de R$ 9,1 bilhões em favor do Brasil e no ano passado o superávit se converteu em déficit de US$ 8 bilhões e, no momento em que escrevo, leio esta manchete em grande jornal paulista: "Brasil cresce menos que todos os países vizinhos".
A indicar que o problema não se restringe a um setor da atividade econômica, para o aumento do consumo das famílias em 2,1% no ano passado, a produção industrial cresceu 1,6%, e considerando tão só a manufatureira, excluído o minério de ferro, o crescimento se reduz a 0,1%.
É sabido que se os custos industriais no Brasil também são pesados pelos encargos que o oneram, sem excluir os de natureza trabalhista, na China, o regime laboral é geralmente considerado de mão escrava, no entanto, foi o ex-presidente Luiz Inácio que outorgou à China o diploma de economia aberta. Não estranha, por tudo isso, que a indústria nacional tenha perdido a competitividade, assim no mercado externo, como no interno, e mesmo aqui não tem como concorrer com a estrangeira.
Não desejo falar a respeito das medidas sumariamente arroladas pelo governo. Almejo sejam excelentes. Mas, as boas medidas podem tornar-se ineficazes quando extempestivas. A oportunidade é tão importante quanto a sabedoria da providência. À margem, longe de menosprezar o efeito da concorrência externa e sem falar em outros fatores, observo que ninguém se lembra de que a alta no tocante ao petróleo, por si só, bastaria para agravar o quadro, e ela não é improvável.
Volto a insistir que de todo o exposto resulta uma evidência, o descalabro finalmente reconhecido pelo governo não surgiu de súbito, resultado de um ciclone ou de uma enchente. Ele começou no governo passado, "o maior e melhor de todos os tempos"; sua sucessora declarou que quando da crise de 1998 o Brasil não tremeu e que agora não haveria de tremer. Pode ser que sim, pode ser que não. Ficando no fato de que o país tenha chegado ao atual grau de desindustrialização, desnecessário dizer que ele é aliado do desemprego, pois não há emprego sem empresa e empresa sem competitividade é entidade moribunda.
Liberdade e regulação Denis Lerrer Rosenfield
O Estado de S. Paulo - 26/03/2012 |
O debate sobre a regulação dos meios de comunicação torna-se cada vez mais necessário, tendo em vista que o Brasil convive com uma situação de fato dissociada da legislação vigente do setor. Para se ter uma ideia da defasagem basta constatar que leis atuais, que datam dos anos 70 do século passado, foram feitas para um mundo que desconhecia computador, internet e todas as novas mídias que depois se desenvolveram. As empresas de comunicação acompanharam essa evolução, criando novas realidades não contempladas na lei ou exigindo a sua modificação por um evidente descompasso do legal em relação ao real. Renovar é preciso. No governo anterior, porém, esse debate foi indevidamente identificado com uma regulação de conteúdo, com interferência direta na liberdade de imprensa. Seu projeto era, nesse sentido, intervencionista, tendo o apoio de setores partidários e de movimentos sociais que clamavam - e clamam - por um "controle social da mídia" ou por uma "democratização dos meios de comunicação". Assim colocada, a questão terminou sendo confundida com um tipo de censura, tendo como mote controlar a livre-iniciativa e a liberdade do setor. O viés ideológico contra certos grupos econômicos foi muito manifesto, produzindo, de parte deles, uma legítima reação contra qualquer tipo de regulação. A presidente Dilma Rousseff utilizou uma expressão muito apropriada para expressar sua posição. Disse que o único controle possível é o controle remoto, que o indivíduo, diante de seu aparelho de TV, utiliza para mudar de canal. Vale a liberdade de escolha. O ministro Paulo Bernardo está seguindo, muito seriamente, essa linha de ação, afastando-se, precisamente, de qualquer viés ideológico, abordando a questão de maneira eminentemente técnica. Isso significa uma orientação pela mudança, atenta à modernização regulatória necessária para o setor, e o abandono dos preconceitos ideológicos. Para que tal reforma do marco regulatório se torne possível é, no entanto, preciso que se distinga a regulação formal - ou seja, a reforma do marco regulatório - da regulação de conteúdo, que seria uma forma de cerceamento da liberdade de imprensa. O novo governo está dando mostras de fazer essa distinção. Logo, os diferentes agentes econômicos e políticos envolvidos nesse processo deveriam partir desse reconhecimento, fortalecendo a mudança de posição em curso. O elogiável deve ser elogiado, o criticável deve ser criticado, sem nenhum tipo de parti-pris político. Embora tenha sido pouco noticiado, o atual ministro das Comunicações fez importantes mudanças na legislação até então vigente sobre TV por assinatura, em função das profundas transformações do mundo digital. Observe-se que a legislação que rege a televisão aberta se distingue da fechada, que envolve a telecomunicação, enquanto a primeira se situa na radiodifusão. Tais alterações, apesar de sua pouca repercussão pública, foram fruto de intensas negociações, feitas num ambiente de diálogo. Há, contudo, ainda muito por fazer, sobretudo considerando a necessária mudança do marco regulatório em geral. Segundo a legislação atual, por exemplo, a propriedade cruzada é proibida, não podendo uma mesma empresa manter jornais, rádios e televisão numa mesma cidade. Algumas empresas nãos seguem o que a lei estabelece. Pode-se, todavia, colocar a questão de se deve aplicar-se estritamente a lei ou modificá-la em razão da interconexão dos diferentes meios de comunicação. Não se trata, contudo, de uma questão simples, pois qualquer mudança no marco regulatório deveria seguir os princípios da concorrência e da pluralidade de opiniões e posições. Outro aspecto que deveria ser posto em questão é o controle de meios de comunicação por políticos, que agiriam segundo seus interesses eleitorais. O tema das outorgas de emissoras ou retransmissoras de rádio e TV entra aqui em pauta e, aí, sim, dentro de um espírito de fortalecimento da cena democrática, independentemente de quaisquer apadrinhamentos. Nesse sentido, alguns princípios norteadores de tal discussão deveriam ser precisamente estabelecidos, tendo como condição evitar qualquer confusão com controle do conteúdo ou cerceamento da liberdade de imprensa. O fortalecimento da pluralidade na comunicação é uma condição mesma de Estados democráticos, cuja regulação deveria ter em vista esse objetivo maior. Critérios e condições deveriam ter em vista esse "bem" estruturante da democracia. A concorrência entre distintas empresas é certamente imprescindível, pois quem ganha com isso é o cidadão consumidor, que pode escolher entre distintas alternativas que a ele se apresentam. Quanto maior for a concentração, menor a concorrência. Eis um debate que deveria ser levado em conta sem nenhum viés ideológico. Isso pressupõe que a livre-iniciativa reja o setor, com empresas concorrendo entre si e com empresas públicas e comunitárias, em espírito concorrencial, tendo como finalidade o interesse de todos os cidadãos. Dever-se-ia, igualmente, tratar dos canais religiosos, sem preconceito algum, pois são legítimas suas formas de manifestação, independentemente das igrejas envolvidas, católica ou evangélicas. Na situação atual, há provavelmente equilíbrio entre elas. Nada disso, porém, é possível se não for realizado um amplo debate público que leve em conta os diferentes atores e sensibilidades. A divulgação de propostas de modificação do marco regulatório é aqui central, cada um tendo direito de apresentar suas ideias. Se nada for feito, teremos, apenas, a conservação do status quo. O ministro Paulo Bernardo já deu mostras de ter distensionado o ambiente, num espírito de abertura e discussão. Oportunidades desse tipo não podem ser desaproveitadas, em nome da democracia brasileira. |
domingo, março 25, 2012
La Argentina, enojada con el mundo Por Joaquín Morales Solá
Cristina Kirchner quiere un enemigo. Tarde o temprano, siempre lo
termina construyendo según la medida de su necesidad política. Ahora
le tocó al mundo. Los Estados Unidos están a punto de sacarle a la
Argentina las ventajas comerciales para exportaciones nacionales. El
rey Juan Carlos viajará en los próximos meses a México, Brasil y
Chile. En un recorrido parecido al de Barack Obama en su momento,
pasará por el cielo de la Argentina sin aterrizar en Buenos Aires en
medio del grave conflicto por el control de YPF, propiedad mayoritaria
de la española Repsol.
El Fondo Monetario Internacional podría dictar duras sanciones contra
la Argentina en los próximos tres o cuatro meses para castigar sus
trastornos estadísticos y económicos, según adelantaron inmejorables
fuentes. Los empresarios de Brasil y Chile están presionando
fuertemente a sus gobiernos para que tomen distancia de un régimen
argentino de importaciones que depende de la voluntad absoluta y
contradictoria de un solo hombre. La bronca europea oscila entre las
trabas comerciales de Moreno, el caso Repsol y la inexplicable
sobreactuación argentina contra los británicos por Malvinas.
¡Qué maravilla! Hemos argentinizado YPF sin poner un peso. La
exclamación fue de Néstor Kirchner poco después de que la familia
Eskenazi accediera a parte del paquete accionario y al gerenciamiento
de la petrolera. Se la dijo a un funcionario que todavía está en la
administración. No se hacen esas cosas sin poner un peso. La compra de
acciones por parte de los Eskenazi debía ser pagada con sus ganancias
en la empresa.
Ese fue el acuerdo de Repsol con los Eskenazi, que Kirchner respaldó y
del que luego se ufanó. No es cierto que no se invirtió. YPF invirtió.
¿Pudo invertir más? Sí, pero el acuerdo para argentinizarla obligaba a
liquidar las ganancias , recordó otro funcionario que trabajó en el
acuerdo. El presidente de Repsol YPF, Antonio Brufau, le recordó los
términos de ese pacto al propio representante del Estado, Roberto
Baratta, durante una tensa reunión del directorio de la compañía. Los
españoles no saben ya qué ha cambiado desde entonces, ni quién es
ahora un interlocutor argentino fiable, ni qué es lo que quiere la
Presidenta.
Quiere el espectáculo de la guerra, por ahora. En la famosa reunión
del directorio en la que no pudieron ingresar Baratta y dos
funcionarios nacionales, Axel Kicillof y Daniel Cameron, hubo una
mediación frustrada. Un miembro independiente del directorio, Mario
Blejer, consiguió que Brufau accediera a que se sentaran en la reunión
Cameron y Kicillof; éstos habían aceptado antes la mediación de
Blejer. Cuando llegó la invitación, los funcionarios se negaron a
ingresar. Habían consultado con Cristina Kirchner y ésta les ordenó
rechazar la mediación. Luego, los funcionarios denunciaron ante los
periodistas que no se los dejó entrar, lo cual fue cierto en el primer
momento, pero no en el último.
En una segunda reunión, los mismos funcionarios, ya en reunión de
directorio, aceptaron aprobar la memoria y el balance, aunque pidieron
un cuarto intermedio para redactar dos objeciones parciales. Cuando
regresaron, anunciaron que votarían en contra de todo el balance y que
no le agregarían nada. La Presidenta había vuelto a obturar cualquier
posibilidad de acuerdo.
La tercera reunión fue la del miércoles pasado. La mayoría de los
accionistas de YPF, Repsol y los Eskenazi anunciaron que no
liquidarían dividendos de los años 2010 y 2011, que usarían esos
recursos para capitalizar la empresa, que no comprarían dólares y que
no girarían divisas al exterior. Era la respuesta perfecta para las
quejas presidenciales por la liquidación de ganancias. La Presidenta
volvió a rechazar el acuerdo y pidió que ese dinero no sirviera para
capitalizar la empresa, sino para crear un "fondo de inversión".
Una empresa capitalizada está en mejores condiciones de conseguir
créditos para inversiones. Es improbable, además, que los dueños de
YPF usen esa capitalización para hacerse de dólares en Nueva York,
como denunció Kicillof. Incurrirían en una mentira o en una traición.
En tal caso, la maquinaria de inteligencia y mediática del Estado les
caería encima en el acto.
Los dueños de YPF decidieron no sentar el precedente de un "fondo de
inversión", que luego el Gobierno podría digitar a su antojo. ¿Por qué
no reclamaría más recursos para ese fondo? ¿Por qué no podrían pagarse
con esos recursos las importaciones de combustibles, que este año
podrían oscilar entre los 10.000 y los 12.000 millones de dólares?
Las inversiones de Repsol en la Argentina son las inversiones
industriales más importantes de España en el mundo. En la Argentina
está la primera colectividad española en el exterior. El rey Juan
Carlos tiene una histórica relación con la sociedad argentina y con la
propia Presidenta. El monarca rompió todas las reglas del Estado
español cuando en 2007, poco antes de las elecciones que ganó
Cristina, recibió a ésta en su residencia de verano. El rey no recibe
visitas extranjeras durante sus vacaciones ni se reúne con candidatos.
La Presidenta nunca le devolvió ningún favor.
Yo no le aconsejaría al rey que viaje ahora a la Argentina , dijo un
funcionario español, que aceptó que Buenos Aires es una escala
indefinida e inasible para todo el gobierno de su país. El funcionario
español había tenido acceso a los informes que revelaron la exasperada
reunión de Cristina con el príncipe Felipe durante los fastos de su
asunción, en diciembre pasado. ¿Para qué iría el rey ahora a Buenos
Aires en medio de la disputa por Repsol, que es una cuestión de Estado
para España? , se preguntó el funcionario.
El caso Repsol, que tiene un 20 por ciento de sus acciones en manos de
norteamericanos, y las restricciones para acceder al dólar y para
liquidar dividendos, han destruido cualquier posibilidad de inversión
externa o local. ¿Quién traería dólares al país si después no podría
sacarlos? Un prestigioso analista económico fue contratado por dos
fondos de inversión, uno en Miami y otro en Bruselas, para dar
conferencias ante potenciales inversores. No dio ninguna conferencia.
Cobró sus honorarios y se volvió sin poder hablar. No hubo ningún
interesado en invertir en la Argentina.
Los industriales de San Pablo están en pie de guerra con la Argentina.
El método Moreno para las importaciones es tan "indescifrable" para
ellos como lo es el sistema cambiario argentino para el BID, un banco
amigo del Gobierno. Una delegación de empresarios chilenos vino a
Buenos Aires para reunirse con Moreno; querían conversar sobre las
limitaciones a las exportaciones chilenas. Moreno canceló la reunión
cuando los empresarios ya estaban en Buenos Aires, apenas 48 horas
antes de que la Presidenta fuera a Santiago. Los chilenos no están más
serenos que los brasileños.
Sólo faltaba el aislamiento cultural. Llegó. La última decisión de
Moreno, que frenó la importación de libros y su compra por Internet,
es una de las más autoritarias que tomó la democracia argentina. Los
pretextos que respaldan esa decisión son embusteros. ¿Cristina
Kirchner conoció con antelación la decisión sobre los libros? ¿Esa es
la misma presidenta que autorizó personalmente el primer homenaje a
los valerosos jueces que juzgaron a las Juntas Militares en 1985,
olvidados durante casi nueve años por el kirchnerismo?
Los libros no son de consumo masivo, es cierto, pero son un símbolo de
la libertad. ¿Sabe la Presidenta que las restricciones a los libros
(y, por lo tanto, a la cultura y al conocimiento) son una vieja
expresión del oscurantismo político? ¿Aspira a que ese sea el legado
de su presidencia? Los libros aparecen, así, como otro enemigo en la
larga saga presidencial de batallas culturales y de guerras
políticas..
A visita de Zecamunista João Ubaldo Ribeiro
Relutei em voltar a falar em Zecamunista pela terceira vez em pouco
tempo, mas os pedidos foram muitos em toda a vizinhança, que ele
visitou brevemente, nos três dias de sua estada no Rio de Janeiro.
Revolucionário de um lado e profissional do pôquer de outro, desde
seus precoces 14 anos, habituou-se à clandestinidade, a codinomes,
endereços secretos e disfarces dos mais variados, de maneira que,
segundo ele, o primeiro impulso que sente ao despertar é se esconder
da repressão. Só depois de um minuto ou dois, ele acorda de vez,
suspira aliviado e canta a Internacional em voz alta, ritual
cotidiano. Entre seus disfarces, o mais célebre e sempre lembrado na
ilha é do tempo em que ele, ainda bem antes dos 14, fazia sucesso com
mágicas de baralho em todo o Recôncavo, de turbante e usando o nome
artístico de Abdul Saladim, em alusão a suas origens árabes. Daí para
o pôquer foi um pulo e rendam graças aos céus os jogadores de pôquer
do Rio por ele ter vindo por motivos estritamente políticos e, como
sempre, subversivos.
A pedido dele, fui encontrá-lo na orla, ainda de manhã bem cedo. Ele
me esperava de óculos escuros e chapéu enterrado na cabeça,
contemplando o mar e usando seu inseparável brochinho da foice e
martelo na lapela.
- Mas isto aqui é a paisagem mais linda do mundo - disse ele, com a
voz um pouco embargada. - Nem em toda a União Soviética se encontrava
uma paisagem que rivalizasse com esta. Nem em Itaparica, a verdade é
esta. Até o nome é bom.
- Rio de Janeiro?
- Gua-na-ba-ra, a gente enche a boca. Você sabe o que quer dizer
Guanabara em tupi-guarani?
- Eu li não sei onde que quer dizer "baía grande".
- Errado! Ignorância! Alienação! Os índios nem sabiam o que era baía,
quanto mais se era grande ou pequena, eles só conheciam esta. A
interpretação certa é "seio-mar", isso sim, faz justiça a esta baía
extraordinária. Um grande peitão marítimo, um grande, farto e
acolhedor regaço feminino! Você não acha que a Baía de Guanabara tem a
forma de um peitão, o Grande Peitão?
- Bem, sinceramente, eu já olhei no mapa e nunca me pareceu isso.
- Os índios não tinham Google, para eles era um peitão! Olhada daqui é
um peitão absoluto, o Grande Peitão, um peitão magnífico e
arrebatador, como somente a carioc... Você reuniu algumas candidatas a
se alistar na ala feminina dos Bem-te-vis da Pátria?
- Bem, eu devo confessar que não tenho muito jeito para isso.
- Eu já esperava, você não presta nem como linha auxiliar, nem como
inocente útil você tem serventia.
- Eu falei com algumas amigas, mas a verdade é que elas ficaram um
pouco desconfiadas do exame que você quer fazer nelas.
- Nelas não! Com elas! Olhe a regência, você quer me difamar, atenção
no quinta-colunismo! Eu não vou fazer nada nelas, eu nunca faço nada
nas mulheres, eu faço com elas, atenção na preposição, eu mando uma
carta de protesto para a Academia e acabo com seu cartaz lá, se é que
você tem algum!
- Que é isso, Zeca, também não precisa se exaltar.
- Desculpe, mas eu fico transtornado com essas coisas. Somente um
cafajeste é que vai chegar para uma mulher, ainda mais a carioca, e
dizer que quer fazer um negócio nela. Ele diz que quer fazer um
negócio com ela, é diferente, é ali junto. É por essas e outras que
desde o tempo de menino que você tenta apanhar mulher e não consegue,
muito menos uma carioca, e para arranjar quem o aguentasse teve que
engabelar uma jovem inocente em Birigui.
- Bem, de qualquer forma, quando eu disse o nome do exame, elas não gostaram.
- O psicotoque? É preciso ser muito maldoso, para condenar um exame de
tanta utilidade, que eu mesmo desenvolvi a partir de certas
descobertas de Pavlov. Ele fazia isso com cachorros, mas eu, modéstia
à parte, faço com as mulheres, elas ficam babando que nem os cachorros
dele, quando me veem, é reflexo condicionado. Mas essas suas amigas
ficaram intimidadas foi com sua preposição insidiosa. Acharam que eu
queria fazer o psicotoque nelas, mas eu quero fazer é com elas. Você
tem obrigação de escrever isso no jornal, eu não quero me ver obrigado
a entrar na justiça contra você, por difamação e injúria.
- Tudo bem, eu escrevo, mas não vai adiantar nada, acho que seu
movimento não começou bem.
- Porque ainda não começou. Resolvi adiar o lançamento nacional aqui
na Guanabara, preciso de uma preparação mais cuidadosa, não pensei que
ainda por cima seria sabotado por amigos falsos e conterrâneos
pérfidos. Você ainda ouvirá falar muito na ala feminina dos Bem-te-vis
da Pátria. Eu tive uma ideia mercadológica, de vez em quando é preciso
usar as armas do capitalismo, eu trabalhei muito em agitação e
propaganda lá na ilha.
- Desde que eu nasci, nunca vi agitação na ilha.
- Não aceito insinuações. E minha decisão já está tomada. Vou fazer um
anúncio naiternet, somente para as cariocas: "Seja uma comandante dos
Bem-te-vis da Pátria! Venha fazer seu psicotoque com Zecamunista em
Itaparica! Uma semana com todas as despesas pagas! Para melhor
concentração, pais, maridos e namorados não serão aceitos! Não perca
esta oportunidade!".
- Até que pode dar certo, Zeca, mas de onde virá a grana?
- Patrocínio. O psicotoque é de interesse nacional, quem já fez
confirma. E a mulher carioca é cultura, estou tranquilo, acho que vou
de Petrobrás.
As prefeituras e o atraso na educação - SUELY CALDAS
O Estado de S.Paulo - 25/03/12
Todos os dias o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descreve um quadro cor-de-rosa, risonho e feliz da economia brasileira. Não chega a dizer "nunca antes na história deste país", como repetia o ex-presidente Lula, mas em tempos de crise no mundo rico ele amplia o foco para o exterior: "Nenhum país do mundo" foi mais bem-sucedido do que o Brasil nisto ou naquilo. Menos, ministro, menos. Na realidade, em 2011 o Brasil foi lanterna na América Latina (AL) em matéria de crescimento: 12 países cresceram mais do que nós em índices que variaram de 9% (Equador) a 3% (Suriname). A média no continente foi de 4,3%, bem acima do estreito 2,7% do Brasil.
Inúmeras razões explicam esse fraco desempenho e uma delas tem sido associada à persistente queda da produção industrial e à baixa produtividade do trabalhador, que encarece o custo do trabalho e tira competitividade do produto brasileiro na disputa com concorrentes. A instituição de pesquisa americana The Conference Board mediu a produtividade dos trabalhadores de 17 países da AL, e o Brasil aparece em 15.º lugar, com US$ 19.764 por trabalhador, apenas 47,4% do rendimento do argentino (US$ 37.589) e 44,9% do chileno (US$ 35.864). É como se o brasileiro levasse dois dias para produzir o mesmo que o argentino e o chileno fazem em um.
Por que a diferença? Basicamente é a educação. O rendimento do brasileiro é baixo porque sua qualificação também é baixa: na média, ele estudou e aprendeu na escola quase metade dos anos do argentino ou do chileno. O conhecimento é limitado para desenvolver seu trabalho. É verdade que, desde 1994, quando o Plano Real estabilizou a economia, a população pobre vem ascendendo socialmente. Hoje mais da metade está incluída na faixa de renda que economistas classificam de classe média. Mas essa melhora contrasta com o lento ritmo de progresso na educação. Se programas sociais, como o Bolsa-Família, ajudaram a levar crianças para a escola, não há outros que ajudem a retê-las, e elas acabam desistindo de estudar. Tampouco há investimento em qualificação de professores. O resultado disso está no elevadíssimo grau de analfabetismo funcional, em que a criança aprende a ler, mas não sabe interpretar o que leu.
Pesquisa recente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) sobre a situação financeira de 5.266 municípios do País ajuda a entender as razões do atraso na educação e a explicar por que, segundo o Ministério da Educação, 23,18% da população rural com mais de 15 anos é analfabeta e 50,95% não concluiu o ensino fundamental.
Das 5.266 prefeituras avaliadas, 83% não geram nem 20% de receita própria e vivem de transferências financeiras do governo federal. Nas regiões Norte e Nordeste há muitos municípios onde os habitantes não encontram trabalho e o dinheiro que circula vem de aposentadorias do INSS aos idosos.
Segundo a pesquisa, 64% das prefeituras avaliadas apresentam situação financeira difícil ou crítica porque comprometem seu orçamento com o pagamento de dívidas e salários de funcionários, e pouco ou nada sobra para investimento, educação e saúde. Só uma parcela diminuta de 95 prefeituras (1,8% do total) tem gestão considerada de excelência. Entre elas, Poá, Barueri, Piracicaba, Caraguatatuba, Birigui e Paraibuna, todas em São Paulo; e só três capitais - Porto Velho (RO), Vitória (ES) e Porto Alegre (RS). Nelas, a excelência em gestão está no binômio baixo custo da folha de salários e elevado investimento.
É nos municípios que vive a população, é onde ela usa os serviços públicos e onde é fundamental concentrar o orçamento em investimentos sociais. Mas, como o foco dos prefeitos está sempre em vencer a próxima eleição, eles seguem a vida multiplicando funcionários e contraindo dívidas para fazer caixa. É o que explica o triste resultado da pesquisa da Firjan.
Enquanto esse quadro não for invertido e a educação não virar prioridade nas três instâncias de partilha do dinheiro público - federal, estadual e municipal -, o trabalhador continuará com produtividade baixa e o Brasil, a exibir índices medíocres de crescimento econômico.
Onde cresce o emprego - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 25/03/12
Alguns economistas olham para o desempenho medíocre da indústria e, depois, para os belos números do emprego no Brasil e concluem: "Aí está um paradoxo. Como a indústria patina e, enquanto isso, a economia vive ambiente de pleno emprego?". A propósito, sexta-feira, em São Paulo, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, comemorou fato inédito: "O índice de desemprego no Brasil é o terceiro menor em todo o mundo".
Não há paradoxo. Há, sim, mais uma comprovação de que a indústria não tira proveito do aumento do consumo, turbinado pelo crescimento da renda e do crédito. Mais do que isso, o desempenho fraco da indústria já não abala o mercado de trabalho. Seis meses de desaceleração da atividade industrial e cortes de pessoal nos setores automotivo, de eletrodomésticos e têxtil não tiveram efeito negativo na criação geral de vagas. A desocupação no País continua abaixo dos 6,0% da força de trabalho (5,7%, em fevereiro).
Para o especialista em Economia do Trabalho Hélio Zylberstajn, da Universidade de São Paulo (USP), a indústria brasileira está mais vulnerável às mudanças do que a global. No mundo, a incorporação intensiva de automação nas linhas de produção e de tecnologia de informação provocou ondas de cortes de pessoal. No Brasil, esse impacto não vem sendo diferente. Mas, fora isso, a indústria se ressente demais de sua excessiva dependência do mercado interno e, neste momento, para reduzir custos, tem de recorrer às importações de insumos, peças e conjuntos - o que também elimina empregos.
Outro especialista da USP na matéria, o professor José Pastore adverte que o aumento da política protecionista por parte do governo, além de não ajudar a indústria a exportar, incapacita-a de atender ao mercado interno, em forte expansão. Assim, o aumento das importações tira ainda mais competitividade da indústria.
Como se vê no Confira, a mão de obra brasileira se concentra em serviços (6,7%, em serviços domésticos; 16,3%, a empresas; e 17,9% em outros, como encanadores, pintores, eletricistas, etc.), na construção civil (7,8%) e no comércio (18,9%).
Enquanto isso, a indústria emprega só 16,0% dos trabalhadores, fatia que diminui ao longo dos anos (em 2003, por exemplo, era de 17,6%). Em 2011, o setor só assinou 11,0% do 1,9 milhão de novas carteiras de trabalho. Serviços, construção civil e comércio forneceram nada menos que 82,3% do total.
Esta república sindicalista, que mantém fortes raízes metalúrgicas no ABC, tende a achar que todo emprego não proporcionado diretamente pela indústria é de segunda classe.
Para muita gente, postos de trabalho oferecidos pelo setor de serviços não deveriam nem figurar nas estatísticas: "É emprego mal remunerado para serviçais de condomínio, atendentes de call centers ou para atuantes em segurança privada", afirmou leitor desta Coluna - como se fossem ocupações de menor valor social e econômico.
E, no entanto, é nos setores de serviços, no comércio e na construção, cujas ofertas de vagas crescem entre 6% e 8% ao ano, que o emprego se expande no Brasil - e não na indústria. / COLABOROU GUSTAVO SANTOS FERREIRA
O planalto e a planície - GAUDÊNCIO TORQUATO
O Estado de S.Paulo - 25/03/12
A conclusão é inescapável: Dilma Rousseff tem vestido o figurino de governante mais corajosa do ciclo da redemocratização. Em pouco mais de um ano de mandato, sob o escudo de mais de 60% de aprovação popular, decide enfrentar experimentados exércitos envergando a bandeira da "mudança de paradigma" na esfera da política, pois "chegou a hora de enfrentar antigas práticas", como bem frisou o novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM).
Mudar a política, como ensina o professor de Harvard Albert Hirschman, implica reduzir o poder de grupos até então privilegiados e melhorar o status de setores desprivilegiados. Quem patrocina uma reforma há de guerrear não só contra blocos tradicionais, os que temem perder poder, mas contra "núcleos revolucionários", os que lutam para transformar a política numa dicotomia entre "progressistas" e "reacionários", bons e maus, mocinhos e bandidos. Uns receiam diminuir sua participação no processo governativo, outros querem impor sua visão de mundo, rompendo elos com o passado e tradições. Já o reformador deverá demonstrar alta habilidade para implantar um programa de mudanças, evitando fazer tudo bruscamente. A sabedoria da ciência política recomenda que a agenda das necessidades seja adaptada ao calendário das possibilidades.
Diante desse quadro, emergem as dúvidas. A presidente encaixa-se no perfil capaz de limpar finas louças na cristaleira sem arranhar nenhuma? Ou, como reza o ditado popular, exerce a habilidade de chupar cana e assoviar ao mesmo tempo? Teria feito uma análise de viabilidade da mudança de paradigma da política? Avaliou poder extirpar da cena institucional, com uma canetada, vícios, práticas e mazelas que formam nosso DNA político desde a era colonial? Ninguém soprou em seu ouvido que há ingredientes culturais difíceis de ser eliminados por simples atos de vontade, mesmo que as decisões partam de fontes que detenham o máximo poder, como é o caso da mandatária-mor? Será que seu patrocinador, o ex-presidente Lula, que lhe dá apoio público para "virar a mesa dos velhos costumes", acredita ser isso possível sem abrir feridas no governo?
Pelo andar da carruagem, a predisposição de Dilma é promover mesmo as mudanças necessárias para oxigenar os pulmões da política. Sem transigências ou barganhas. Como diria o arrependido ex-presidente Collor, o tempo é o senhor da razão.
Antes, porém, de inferir o que poderá acontecer a favor ou contra o governo, vale lembrar que a análise de viabilidade no campo político separa duas esferas: a da decisão e a da operação. Uma coisa é a capacidade da presidente de decidir sobre o modelo de gestão política que pretende implantar, outra é a execução das tarefas, que pressupõe o envolvimento de elementos e fatores exógenos, fora do controle do tomador de decisões. A materialização de um projeto de "mudança de paradigma" na política implica verificação do conjunto de forças e participação ativa de senadores e deputados no processo. E se não concordarem com a intenção da governante de mudar "antigas práticas"?
Alteração de padrões e métodos sinaliza orientação para uma administração de resultados, modelagem que abriga conceitos como meritocracia, racionalidade, qualificação de quadros, predomínio da visão técnica sobre a motivação política e desenvolvimento de estruturas especializadas para o desempenho das funções do Estado. O escopo é bom. Mas a realização de uma obra desse molde num território com raízes profundas no passado soa como utopia. Imaginemos o caso da barganha de apoios por votos no Congresso. Se o Executivo decide mudar a liturgia de entrega de ministérios e autarquias aos partidos, é lógico supor que seus projetos serão rechaçados pelo Legislativo. Aliás, os parlamentares já deram o primeiro recado na semana passada. O governismo de coalizão é um sistema de mão dupla: parceiros podem travar ou destravar a dinâmica governativa à medida de inputs recebidos.
Urge reconhecer que se a presidente pretende desenhar a administração à sua imagem e semelhança - conferindo-lhe identidade técnica -, o momento adequado é este, quando alcança elevada taxa de apoio popular. Nenhum governante é capaz de segurar a montaria do governo quando as rédeas são longas. Dilma plaina nas alturas do balão da opinião pública. Mas a distância entre o planalto das glórias e a planície dos apupos é pequena, sendo a rota bastante tumultuada pelas nuvens da imponderabilidade. Por isso, a presidente deveria medir a temperatura do corpo político para passar o remédio mais apropriado, algo entre o desejável, o necessário e o possível. Inusitada é ainda a estratégia governista de abrir muitas frentes de luta ao mesmo tempo. Basta registrar as ondas de indignação que se formam no entorno do governo, além da correnteza que engolfou a base governista no Congresso e resultou no afastamento do PR da base situacionista.
Entre as marolas, registra-se a da indústria, que vê seu PIB despencar pela proliferação de importados, particularmente chineses. Setores liderados pela Fiesp acusam o governo de inércia ante a desindustrialização que assola o País. Militares da reserva fazem manifesto com críticas à presidente por permitir mudança no comportamento oficial sobre os tempos da ditadura - a onda é pequena, mas faz barulho. Centrais sindicais, que em tempos idos desfilavam seu poder de pressão no Palácio do Planalto sob as boas-vindas de Lula, sentem-se hoje desprestigiadas. Preparam manifestações. Na área da cultura, artistas de todos os naipes pedem a substituição da ministra Ana de Hollanda.
É fogueira por todo lado. Estrategistas ensinam que o guerreiro deve travar uma batalha por vez. E como ensina o velho general Sun Tzu, "há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas".
Desafio americano - MIRIAM LEITÃO
Em 10 anos, de 1999 a 2009, os EUA tiveram perdas fortes de participação no mercado global de quase todos os setores industriais: -36% no mercado de veículos aeroespaciais e de defesa; -9% na tecnologia de informação; -8% em equipamento de telecomunicação; -3% no setor automotivo. A economia americana tem problemas de competitividade. O que dá a eles vantagem é o nível do debate.
A Harvard Business Review fez uma edição especial sobre o tema, conduzido pelo especialista em competitividade Michael Porter, o mais conhecido autor de livros, estudos e pesquisas sobre o tema. A primeira novidade é o avanço da definição do que é competitividade. Seria, segundo ele, a habilidade de as empresas competirem com sucesso na economia global, ao mesmo tempo em que criam as condições para um alto — e crescente — nível de vida para a média da população.
Não basta, portanto, ser capaz de vencer a competição, é preciso também garantir que os trabalhadores ganhem mais. Há um avanço em relação ao conceito dos anos 1990, época em que eram elogiadas as lean and mean: empresas magras e más. Segundo o texto da Harvard Business Review, a produtividade de um país não deve ser calculada com base na população empregada, mas na população empregável. O que significa que se os lucros das empresas subirem, mas aumentar o desemprego, ou se as exportações crescerem, mas com base na redução de salário, o país não está elevando sua competitividade de longo prazo.
“Salários baixos nos Estados Unidos não impulsionam a competitividade americana. Nem o dólar barato. Alguns passos que reduzem os custos de curto prazo das empresas podem na verdade trabalhar contra a verdadeira competitividade”, diz o texto de Porter, escrito com Jan Rivkin.
Algumas frases — como essa acima — parecem ter sido escritas para o mundo empresarial brasileiro. Há outra ainda mais eloquente, principalmente neste momento em que pela milionésima vez empresários vão a Brasília pedir ajuda ao governo, em que o cenário político do Congresso é de impasse e os estados esperam que soluções mágicas surjam em Brasília. “Para restaurar sua competitividade, os Estados Unidos precisam de uma estratégia de longo prazo. Isso vai exigir numerosas mudanças políticas por parte do governo, o que parece improvável com o impasse político de Washington. No entanto, muitos passos cruciais podem ser dados pelos estados e regiões onde estão muitos dos fatores-chave de competitividade. Mais importante, os líderes empresariais podem e devem ter um papel muito mais pró-ativo na transformação da competição e no investimento nas comunidades locais, em vez de serem vítimas passivas das políticas públicas ou reféns de acionistas equivocados.”
Por outro lado, explica Porter, criar mais emprego com medidas de proteção a setores que empregam muita mão de obra, sem aumentar a produtividade, também não resolve o problema. Isso não cria as condições de aumento sustentado do nível do emprego nem elevação do nível de vida da população. As medidas de estímulo do governo como as que o Brasil adota frequentemente conseguem apenas ser um alívio temporário, não são aumento de competitividade.
Segundo os especialistas de Harvard, as empresas durante anos reduziram o número de funcionários e transferiram para o exterior parte de sua produção. Como resultado, os salários ficaram estagnados, e a renda das famílias da classe média reduziu-se. Isso foi compensado com a oferta de crédito barato que deu às pessoas a sensação de riqueza. O excesso de oferta de crédito e a renda estagnada estão na raiz da crise de 2008.
Porter critica também o sistema de remuneração dos executivos baseado em participações acionárias. Isso teria levado os administradores a terem interesse apenas em decisões que elevem o lucro trimestral e desestimulou as estratégias empresariais de longo prazo.
Uma pesquisa feita por Harvard ouviu dez mil ex-alunos da escola de negócios da universidade sobre as perspectivas da economia americana: 71% registraram que estão prevendo um declínio da competitividade dos Estados Unidos nos próximos anos. Disseram também que o país perde duas em cada três disputas com outros países pela localização de um investimento.
Michael Porter acha que, na competitividade, não vale o jogo de que um país só ganha se o outro perder. O aumento do nível de vida da Índia pode fazer com que os indianos comprem mais produtos e serviços do Vale do Silício. A prosperidade americana — sustenta a revista — é do interesse dos outros países do mundo, até pela dimensão da economia dos EUA.
A lista do que fazer é parecida com a nossa: reduzir a complexidade tributária, melhorar a educação, aperfeiçoar o ambiente de negócios, investir na infraestrutura de transportes e telecomunicações. Mas no principal quesito os americanos continuam na frente: a inovação. Nesse ponto, a proposta para os Estados Unidos é apenas continuar sendo inovadores. Um especialista chinês Xu Xiaonian admite, numa coluna escrita na mesma edição, que o modelo chinês de copiar e imitar funcionou até agora, mas criou problemas de longo prazo.
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