Um empresário estrangeiro me perguntou por que há aqui no Brasil tanta gritaria no debate sobre a política econômica. Os números macroeconômicos parecem sólidos. A inflação embica para a meta; nunca, como neste ano, o País produziu um superávit comercial (exportações menos importações) tão alto, de US$ 44 bilhões; o Banco Central vai fechar o ano com reservas líquidas da ordem de US$ 53 bilhões, as mais altas desde 1997; o emprego está crescendo; o índice de risco Brasil resvala para abaixo dos 300 pontos; os juros ainda estão muito altos, mas já iniciaram a queda, que continuará provavelmente até os 14% ao ano; a dívida pública está controlada em torno dos 51% do PIB; a dívida externa, que em 2002 equivalia a 4,5 vezes as exportações, agora não passa de 1,4 vez; o superávit primário, que é a sobra de arrecadação para redução da dívida pública, será superior a 4,75%; o crescimento econômico não será maior que 2,5% ao ano, mas gira em torno dessa mediocridade há mais de 20 anos; e, além de tudo, a economia não foi contaminada pela crise política gerada pelos escândalos do mensalão. Apesar desse fortalecimento notável dos fundamentos da economia, a estridência contra a política econômica é enorme entre políticos, empresários, consultores, economistas e até entre colunistas econômicos. O destempero começa lá em cima. O vice-presidente da República não escolhe palavras. Já disse que a política de juros é um "caso de polícia" e que a política cambial "é burra". A ministra Dilma Rousseff acusou a equipe econômica de primarismo ao atacar o plano de ajuste fiscal de longo prazo proposto pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo: "É uma proposta rudimentar", disse ela. Para o ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, a política econômica do governo de que faz parte só gera desânimo. O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, entende que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, está tomado por "obsessão" pelo cumprimento da meta inflacionária, como se não fosse para levar essa tarefa a sério. O presidente do BNDES, Guido Mantega, chegou a desancar a diretoria do Banco Central e culpa nominalmente o diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, por "excesso de zelo" na execução da política monetária. Seu antecessor, Carlos Lessa, carrega ainda mais nos adjetivos: "Esta política monetária é frenética, burra e suicida"; os juros são "indecentes e repugnantes". O presidente Lula não pára de alardear o sucesso da política econômica que tantos membros de seu governo abominam. E o partido do governo, o PT, acaba de condená-la em resolução do diretório nacional. Para sua ala esquerda, trata-se de uma política "neoliberal", "imposta pelos banqueiros", defendida pelos "rendeiros" e propugnada pelos formuladores do Consenso de Washington. Os dirigentes da Fiesp a consideram equivocada e excessivamente focada no combate à inflação. Para contrabalançar o que acham ser um peso excessivo dos ortodoxos no comando da política econômica, pedem cadeira cativa no Conselho Monetário Nacional e a instituição do que chamam de "autoridade produtiva". Acabam de promover um fórum para demonstrar que há uma desindustrialização em curso no País e que o setor produtivo brasileiro está ameaçado. Para salvá-lo do colapso, pedem mais intervenção do governo. Paradoxalmente, não gostam do candidato José Serra, porque o consideram "intervencionista demais". O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ligado à indústria, tem denunciado a valorização artificial do real e o processo de extinção do setor exportador desde que o dólar caiu para abaixo dos R$ 3,00. A que atribuir essa exasperação quando há motivos para crer que os fundamentos da economia se fortalecem e, aparentemente, pouco falta para que receba "grau de investimento" das agências de classificação de risco, objetivo perseguido há tantos anos? Amanhã tem mais.
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Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, dezembro 23, 2005
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