O GLOBO - 07/12
COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO
Depois de cair cinco trimestres consecutivos, é grande a expectativa sobre a recuperação do investimento. Até agora, há um termômetro frio e outro quente. A produção de bens de capital caiu em outubro, mas a importação cresceu. O ritmo dos investimentos, numa taxa acumulada em 12 meses, saiu de 21%, no final de 2010, para -2,4% no terceiro trimestre deste ano.
Como já escrevemos aqui, a alta do dólar é ruim para os investimentos porque dificulta a importação de máquinas. Mas há outro efeito negativo, como explica o presidente da Niely Cosméticos, Daniel de Jesus. A empresa, que faturou, em 2011, R$ 528 milhões, gastou muito mais com a compra de matéria-prima importada. Depois disso, ficou com menos caixa para investir.
- Uma fatura de US$ 1 milhão representava um custo, em reais, de R$ 1,7 milhão. Agora, eu pago R$ 2,1 milhões. A diferença é grande, de R$ 400 mil. Poderia investir em pesquisa com esse dinheiro, gerar empregos, vender mais barato - explicou.
Como o fôlego do consumo hoje é menor, é importante que os investimentos voltem a crescer para impulsionar o PIB. A Formação Bruta de Capital Fixo é o principal indicador do IBGE para medir os investimentos e ele teve essa desaceleração forte, de 21% para -2,4%. Mede as compras de máquinas, de tratores e caminhões, e obras de infraestrutura.
A importação de bens de capital subiu de US$ 3,8 bilhões em setembro para US$ 4,5 bi em outubro, mesmo com a alta do dólar. Aumento de 18%. A principal importação foi de maquinaria industrial, que foi de US$ 1,24 bi para US$ 1,59 bi. Alta de 28%.
O vice-presidente da Abimaq, José Velloso, vê esse aumento com cautela. Acha que se trata de um repique estatístico. Pelo seu termômetro de vendas internas, acredita que a demanda por investimentos continua fraca e que haverá nova queda no quarto trimestre.
- Estamos numa fase descendente desde junho e é difícil dizer que já chegamos ao pior momento. O mais provável é que não tenhamos crescimento no nosso setor até o segundo trimestre do ano que vem. Como o setor de máquinas representa 53% da FBCF, medida pelo IBGE, o quarto trimestre deve ter nova queda - disse.
Velloso diz que o setor de máquinas tem um saldo negativo de 9 mil postos de trabalho no ano e que novas demissões estão a caminho. A carteira de encomendas está muito baixa, em 15,5 semanas, o que significa redução de 11% em relação a 2011. Em 2010, quando a economia brasileira estava aquecida, as encomendas representavam, em média, 22 semanas de trabalho garantido. A ociosidade do setor chega a 29%, quando o normal é oscilar entre 15% e 20%.
Bancos privados mais cautelosos
A estratégia do governo para destravar os investimentos foi liberar mais crédito para os empresários. O problema é que essa arma tem se mostrado pouco eficaz. Os bancos públicos já aumentaram muito a concessão à indústria, que subiu 18% de outubro de 2011 a outubro deste ano, chegando a R$ 233 bi. Mas os bancos privados colocaram o pé no freio, com aumento de apenas 5,3% no mesmo período. Por causa da inadimplência, os bancos privados estão mais conservadores na concessão. Economistas explicam que enquanto a inadimplência não baixar os empréstimos continuarão contidos.
PIB E JUROS. Depois da divulgação da ata do Copom e do PIB mais fraco no terceiro tri, o Itaú revisou para 6,25% a projeção para a Selic em 2013.
EUROPA EM CRISE. O Banco Central Europeu cortou projeções de crescimento para a zona do euro no ano que vem, para a faixa entre -0,9% e 0,3%.
GASTO INDIRETO. A presidente Dilma disse que o Tesouro bancará a queda da conta de luz. Ou seja, de forma indireta, quem pagará é o contribuinte.
COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO
Depois de cair cinco trimestres consecutivos, é grande a expectativa sobre a recuperação do investimento. Até agora, há um termômetro frio e outro quente. A produção de bens de capital caiu em outubro, mas a importação cresceu. O ritmo dos investimentos, numa taxa acumulada em 12 meses, saiu de 21%, no final de 2010, para -2,4% no terceiro trimestre deste ano.
Como já escrevemos aqui, a alta do dólar é ruim para os investimentos porque dificulta a importação de máquinas. Mas há outro efeito negativo, como explica o presidente da Niely Cosméticos, Daniel de Jesus. A empresa, que faturou, em 2011, R$ 528 milhões, gastou muito mais com a compra de matéria-prima importada. Depois disso, ficou com menos caixa para investir.
- Uma fatura de US$ 1 milhão representava um custo, em reais, de R$ 1,7 milhão. Agora, eu pago R$ 2,1 milhões. A diferença é grande, de R$ 400 mil. Poderia investir em pesquisa com esse dinheiro, gerar empregos, vender mais barato - explicou.
Como o fôlego do consumo hoje é menor, é importante que os investimentos voltem a crescer para impulsionar o PIB. A Formação Bruta de Capital Fixo é o principal indicador do IBGE para medir os investimentos e ele teve essa desaceleração forte, de 21% para -2,4%. Mede as compras de máquinas, de tratores e caminhões, e obras de infraestrutura.
A importação de bens de capital subiu de US$ 3,8 bilhões em setembro para US$ 4,5 bi em outubro, mesmo com a alta do dólar. Aumento de 18%. A principal importação foi de maquinaria industrial, que foi de US$ 1,24 bi para US$ 1,59 bi. Alta de 28%.
O vice-presidente da Abimaq, José Velloso, vê esse aumento com cautela. Acha que se trata de um repique estatístico. Pelo seu termômetro de vendas internas, acredita que a demanda por investimentos continua fraca e que haverá nova queda no quarto trimestre.
- Estamos numa fase descendente desde junho e é difícil dizer que já chegamos ao pior momento. O mais provável é que não tenhamos crescimento no nosso setor até o segundo trimestre do ano que vem. Como o setor de máquinas representa 53% da FBCF, medida pelo IBGE, o quarto trimestre deve ter nova queda - disse.
Velloso diz que o setor de máquinas tem um saldo negativo de 9 mil postos de trabalho no ano e que novas demissões estão a caminho. A carteira de encomendas está muito baixa, em 15,5 semanas, o que significa redução de 11% em relação a 2011. Em 2010, quando a economia brasileira estava aquecida, as encomendas representavam, em média, 22 semanas de trabalho garantido. A ociosidade do setor chega a 29%, quando o normal é oscilar entre 15% e 20%.
Bancos privados mais cautelosos
A estratégia do governo para destravar os investimentos foi liberar mais crédito para os empresários. O problema é que essa arma tem se mostrado pouco eficaz. Os bancos públicos já aumentaram muito a concessão à indústria, que subiu 18% de outubro de 2011 a outubro deste ano, chegando a R$ 233 bi. Mas os bancos privados colocaram o pé no freio, com aumento de apenas 5,3% no mesmo período. Por causa da inadimplência, os bancos privados estão mais conservadores na concessão. Economistas explicam que enquanto a inadimplência não baixar os empréstimos continuarão contidos.
PIB E JUROS. Depois da divulgação da ata do Copom e do PIB mais fraco no terceiro tri, o Itaú revisou para 6,25% a projeção para a Selic em 2013.
EUROPA EM CRISE. O Banco Central Europeu cortou projeções de crescimento para a zona do euro no ano que vem, para a faixa entre -0,9% e 0,3%.
GASTO INDIRETO. A presidente Dilma disse que o Tesouro bancará a queda da conta de luz. Ou seja, de forma indireta, quem pagará é o contribuinte.