FOLHA DE SP - 07/12
Democratas e republicanos nos EUA ainda parecem distantes de um acordo para evitar o chamado abismo fiscal -cerca de US$ 600 bilhões em aumentos tributários e cortes de despesas que ocorrerão automaticamente a partir da virada do ano se não houver um entendimento para limitar o crescimento da dívida federal, que atingiu US$ 16 trilhões e superou o PIB do país.
O desafio do governo americano é encontrar o ponto de equilíbrio nesse processo. Austeridade excessiva pode desencadear uma recessão em 2013, mas leniência demais pode gerar uma crise fiscal por excesso de débitos. Estima-se que sejam necessários cortes de pelo menos US$ 2 trilhões, em dez anos, para reverter o crescimento da relação dívida/PIB e preservar a nota de crédito dos Estados Unidos.
A proposta do presidente Barack Obama prevê US$ 1,6 trilhão em aumento de receitas, a ser alcançado especialmente pela elevação do Imposto de Renda dos mais ricos. Em troca, o democrata aceita discutir cortes de despesas, inclusive em saúde e aposentadoria, e uma reforma tributária.
Os republicanos se opõem a subir o Imposto de Renda, mas concordam em elevar as receitas com a eliminação de deduções, sobretudo de empresas. Além disso, buscam reduções maiores nas despesas, com o foco principal voltado para o sistema de saúde.
Revigorado pela reeleição, Obama tem neste ano maior respaldo da opinião pública do que teve em negociação semelhante de 2011. Um eventual fracasso nas tratativas recairia com mais peso nas costas dos republicanos.
Ainda assim, ambos os partidos parecem dispostos a levar o impasse até o último minuto, na expectativa de que o outro ceda primeiro. O mais provável, pois, é um acordo parcial: algum aumento nos impostos e algum corte nas receitas, com o compromisso de retomar as negociações posteriormente.
Com isso, seria possível manter os impostos mais baixos para a classe média, limitar cortes imediatos e evitar a recessão. Um acordo desse tipo poderia resultar em economia de pelo menos US$ 1 trilhão em dez anos, a metade do mínimo necessário. O restante ficaria para os debates que o Congresso travará em 2013.
Será surpreendente se democratas e republicanos conseguirem chegar a um plano completo ainda neste ano, capaz de, no longo prazo, superar o desafio da dívida americana. Se a solução de ocasião não faz mais que jogar o problema para a frente, ela ainda é melhor que cair no abismo.