FOLHA DE SP - 06/12
Medidas anunciadas pelo governo federal para estimular a economia são necessárias, mas pecam por seu caráter provisório
A redução dos custos em tese estimula empresas a produzir mais. Caso inexista capacidade produtiva ociosa, pode ser que o investimento aumente. Tudo dependerá, porém, do estado geral de ânimo de consumidores, de empresários e do investimento do governo.
É preciso ter em mente tais pressupostos a fim de analisar o efeito das medidas de estímulo à construção civil, anunciadas anteontem, e a nova redução das taxas de juros de empréstimos do BNDES, alardeadas ontem como nova solução para a inércia do PIB.
O impacto de tais providências sobre o investimento, ressalte-se, é incerto. A princípio, a diminuição de impostos e linhas de crédito de curto prazo mais baratas vão contribuir para a redução de dívidas da construção civil. Tal premência é que levou as empresas do ramo a solicitar sua inclusão no programa de contribuições especiais para o INSS e crédito mais barato.
Juros menores que a inflação no BNDES podem dar alguma contribuição adicional ao investimento. Mas, assim como a desoneração da folha de pagamento e outras medidas de estímulo à economia, ainda não induziram o empresário beneficiado a investir mais. O investimento declina desde o segundo trimestre de 2011.
Os pacotes do governo têm sido remédio provisório para empresas em dificuldades devido a dívidas ou à concorrência de produtos importados. No geral, é atenuante para a alta de custos que prejudica a competitividade brasileira.
Custos elevados reduzem a perspectiva de lucros. Esse é um dos obstáculos à retomada do investimento. Há vários outros. A incerteza sobre a economia mundial e o crescimento brasileiro reduz a confiança empresarial, assim como a ingerência excessiva do governo. O consumidor endividou-se demais e os bancos estão retraídos devido à inadimplência: o crédito, pois, cresce com mais vagar.
Devagar também anda o ritmo dos investimentos do governo federal. Ausência de bons projetos, autorizações ambientais problemáticas e falta de capacidade operacional emperram as obras federais.
Mas não só. Variados escândalos levaram o governo a promover uma varredura que dificulta a implementação de projetos. O desarranjo de agências reguladoras -muitas vezes dirigidas por amadores apadrinhados ou corrompidas- desorganiza o mercado.
Ao reduzir impostos, o governo remove apenas um dos empecilhos que bloqueiam a retomada dos investimentos. Sem dúvida trata-se de medida necessária, embora enfraquecida pelo seu caráter provisório. Mas cabe ainda combater a própria inércia nos investimentos e dar cabo da desordem regulatória e administrativa que vem desorientando o setor privado.