O GLOBO - 09/12
Se o ex-presidente Lula distribuir no exterior a nota oficial em que o Diretório Nacional do PT critica o STF pelo resultado do julgamento do mensalão, como anunciou o partido ontem, estará assumindo uma crítica que ainda não fez publicamente no Brasil, e terá que responder a muitas perguntas, o que tem evitado desde que o julgamento começou.
Agora mesmo em Berlim, perguntado se havia se surpreendido com as revelações da operação Porto Seguro, o ex-presidente, sempre tão falante, saiu-se com uma resposta lacônica: "Não, não fui surpreendido" que tanto pode significar que considera normal esse tipo de ação da Polícia Federal, como que sabia o que estava acontecendo na representação da Presidência em São Paulo, que ele frequentava com assiduidade.
Pelo noticiário internacional, vê-se que o combate à corrupção tem sido um dos pontos de destaque a favor do país nos últimos dias, e já não há quem, interessado pelas coisas do Brasil, não esteja devidamente informado sobre o que realmente aconteceu por aqui no primeiro governo Lula, e ainda acontece, mais uma vez dentro do círculo mais íntimo da Presidência da República.
Muito embora só reste aos petistas a tentativa de desqualificar a chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, o fato é que, mesmo sem qualificação, ela foi instalada em um cargo estratégico na hierarquia de poder, a ponto de ter acesso a ministros e altos dirigentes para nomeações diversas de parentes, amigos e agregados.
A corrupção também é vista como um dos entraves ao desenvolvimento brasileiro, e fator de insegurança jurídica para os investidores, pois há muitos momentos em que não se sabe se o que vale nas negociações é a letra da lei ou os arranjos pessoais com figuras pouco conhecidas do público, mas bastante conhecidas dos que sabem os caminhos mais curtos para atingir os objetivos.
Relações
As relações do PT com a imprensa são conflituosas na retórica partidária, mas não encontram eco na realidade do governo Dilma Rousseff, o que é uma das suas boas facetas. No mesmo dia em que a presidente Dilma respondeu meio sem jeito a críticas da revista britânica "The Economist" à performance de seu governo, ressalvando sempre que a liberdade de imprensa permite que qualquer meio de comunicação faça críticas, o partido da presidente soltou uma nota em que defende mais uma vez uma nova legislação de controle dos meios de comunicação no Brasil, elogiando a Ley de Medios da Argentina, que está sendo contestada na Justiça daquele país.
Na Argentina, uma disputa política entre o governo Kirchner e os meios de comunicação culminou com a edição dessa lei, que tem o evidente sentido de reduzir a capacidade de ação do maior grupo jornalístico argentino, o Clarin.
São posições completamente divergentes, sendo que a do PT tem a ver com diretrizes regionais combinadas entre governantes de esquerda da América Latina que têm o mesmo sentimento em relação aos meios de comunicação: consideram-nos inimigos dos governos populares, a serviço de interesses golpistas. Isso com relação aos veículos independentes que cumprem sua função de fiscalizar os governos em nome da opinião pública. Os veículos chapa-branca, muitos custeados por verbas oficiais, estes são tolerados.
A presidente Dilma até o momento mantém-se firme na defesa da liberdade de imprensa como básica para a democracia, e chega ao ponto de responder às críticas da "The Economist" como se ela refletisse uma opinião oficial da comunidade europeia. Certamente, devido a sua respeitabilidade, a revista ao mesmo tempo espelha uma situação e influencia posições com as teses que defende. Mas não passa disso, sem que seja necessário dar às críticas uma conotação política, como a presidente Dilma fez quando sugeriu que o país estaria sendo alvo de uma espécie de conspiração dos investidores estrangeiros devido à redução dos juros, que teria afetado os seus interesses.
De qualquer maneira, assim como a presidente diz que prefere o ruído da imprensa livre ao silêncio das ditaduras, é também preferível uma resposta democrática, mesmo equivocada, às críticas dos meios de comunicação à edição de uma legislação que cerceie a liberdade de imprensa.
Se o ex-presidente Lula distribuir no exterior a nota oficial em que o Diretório Nacional do PT critica o STF pelo resultado do julgamento do mensalão, como anunciou o partido ontem, estará assumindo uma crítica que ainda não fez publicamente no Brasil, e terá que responder a muitas perguntas, o que tem evitado desde que o julgamento começou.
Agora mesmo em Berlim, perguntado se havia se surpreendido com as revelações da operação Porto Seguro, o ex-presidente, sempre tão falante, saiu-se com uma resposta lacônica: "Não, não fui surpreendido" que tanto pode significar que considera normal esse tipo de ação da Polícia Federal, como que sabia o que estava acontecendo na representação da Presidência em São Paulo, que ele frequentava com assiduidade.
Pelo noticiário internacional, vê-se que o combate à corrupção tem sido um dos pontos de destaque a favor do país nos últimos dias, e já não há quem, interessado pelas coisas do Brasil, não esteja devidamente informado sobre o que realmente aconteceu por aqui no primeiro governo Lula, e ainda acontece, mais uma vez dentro do círculo mais íntimo da Presidência da República.
Muito embora só reste aos petistas a tentativa de desqualificar a chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, o fato é que, mesmo sem qualificação, ela foi instalada em um cargo estratégico na hierarquia de poder, a ponto de ter acesso a ministros e altos dirigentes para nomeações diversas de parentes, amigos e agregados.
A corrupção também é vista como um dos entraves ao desenvolvimento brasileiro, e fator de insegurança jurídica para os investidores, pois há muitos momentos em que não se sabe se o que vale nas negociações é a letra da lei ou os arranjos pessoais com figuras pouco conhecidas do público, mas bastante conhecidas dos que sabem os caminhos mais curtos para atingir os objetivos.
Relações
As relações do PT com a imprensa são conflituosas na retórica partidária, mas não encontram eco na realidade do governo Dilma Rousseff, o que é uma das suas boas facetas. No mesmo dia em que a presidente Dilma respondeu meio sem jeito a críticas da revista britânica "The Economist" à performance de seu governo, ressalvando sempre que a liberdade de imprensa permite que qualquer meio de comunicação faça críticas, o partido da presidente soltou uma nota em que defende mais uma vez uma nova legislação de controle dos meios de comunicação no Brasil, elogiando a Ley de Medios da Argentina, que está sendo contestada na Justiça daquele país.
Na Argentina, uma disputa política entre o governo Kirchner e os meios de comunicação culminou com a edição dessa lei, que tem o evidente sentido de reduzir a capacidade de ação do maior grupo jornalístico argentino, o Clarin.
São posições completamente divergentes, sendo que a do PT tem a ver com diretrizes regionais combinadas entre governantes de esquerda da América Latina que têm o mesmo sentimento em relação aos meios de comunicação: consideram-nos inimigos dos governos populares, a serviço de interesses golpistas. Isso com relação aos veículos independentes que cumprem sua função de fiscalizar os governos em nome da opinião pública. Os veículos chapa-branca, muitos custeados por verbas oficiais, estes são tolerados.
A presidente Dilma até o momento mantém-se firme na defesa da liberdade de imprensa como básica para a democracia, e chega ao ponto de responder às críticas da "The Economist" como se ela refletisse uma opinião oficial da comunidade europeia. Certamente, devido a sua respeitabilidade, a revista ao mesmo tempo espelha uma situação e influencia posições com as teses que defende. Mas não passa disso, sem que seja necessário dar às críticas uma conotação política, como a presidente Dilma fez quando sugeriu que o país estaria sendo alvo de uma espécie de conspiração dos investidores estrangeiros devido à redução dos juros, que teria afetado os seus interesses.
De qualquer maneira, assim como a presidente diz que prefere o ruído da imprensa livre ao silêncio das ditaduras, é também preferível uma resposta democrática, mesmo equivocada, às críticas dos meios de comunicação à edição de uma legislação que cerceie a liberdade de imprensa.