Entrevista:O Estado inteligente
O Brasil visto como não gosta CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 02/10/11
O suposto ou verdadeiro "imperialismo" brasileiro ressurge na estrada que gerou uma crise na Bolívia
Um tosco cartaz de papelão colocou o Brasil no coração da crise que sacode a Bolívia e jogou a popularidade do presidente Evo Morales a 36%, o nível mais baixo em seus seis anos de governo.
Dizia o cartaz: "Evo, fascista, servente dos empresários brasileiros". Era levado por um dos manifestantes convocados pela COB (Central Operária Boliviana) para protestar, na quarta-feira, contra a repressão a outra marcha, a dos indígenas contra a construção de uma estrada que cortará ao meio o Tipnis (Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure), na Amazônia.
Ao usar a palavra "fascista", o cartaz denuncia que é uma manifestação de esquerda (só ela usa esse rótulo para designar os adversários). Se a esquerda chegou a tanto e se tanto a COB como parte dos indígenas se manifestam contra Evo, é óbvio que o presidente, ele próprio de origem indígena e sindical (dos "cocaleros") está perdendo sua base de apoio.
Ao citar "empresários brasileiros", refere-se à OAS, a empreiteira que constrói a estrada contestada, com financiamento do BNDES.
Mas o cartaz seria mais justo se dissesse que os governos brasileiros, e não Evo Morales, estão servindo a interesses empresariais.
Não custa lembrar que esta Folha já divulgou documentos mostrando que o Itamaraty tentou interferir em licitações internacionais para ajudar empreiteiras brasileiras a conseguirem contratos de obras públicas.
Foi nos anos 90, época em que a esquerda toda, PT incluído, batizava a OAS de "Obras Arranjadas pelo Sogro", em alusão ao fato de que um de seus diretores era genro do então todo-poderoso Antônio Carlos Magalhães.
No governo, no entanto, o lulo-petismo aderiu com gosto à prática e o fez publicamente. Lula cansou-se de dizer que era um "mascate" a vender o Brasil no exterior.
O problema de Evo e do Brasil não está nesse tipo de atitude, cada vez mais comum em todos os governos. Está em não lidar adequadamente com o dilema entre o desenvolvimento e a sustentabilidade ambiental.
No caso do presidente boliviano, é especialmente grave, como aponta Pablo Solón, ativista ambiental e que foi embaixador da Bolívia de Evo na ONU até três meses atrás: "Deve haver coerência entre o que dizemos e o que fazemos.
Não se pode falar de defesa da 'Pachamama' (a Mãe Terra) e, ao mesmo tempo, promover a construção de uma estrada que fere a Mãe Terra, não respeita os direitos indígenas e viola de maneira imperdoável os direitos humanos".
Ajuda-memória: Evo Morales conseguiu aprovar uma Constituição que transformou a Bolívia em Estado Plurinacional, em que as 36 etnias indígenas ganham status de nações, com direito à autonomia, ao autogoverno e à consolidação de seus territórios.
O Estado se obriga a consultar tais nações quando toma decisões que afetem seus territórios. Evo descumpriu, pois, a Constituição que promoveu.
No caso do Brasil, o dilema desenvolvimento/respeito ao ambiente rendeu choques entre a ambientalista Marina Silva e a desenvolvimentista Dilma Rousseff.
Como diria Elio Gaspari, o Brasil deu-se ao luxo de atravessar a calçada (no caso a fronteira) para escorregar numa casca de banana feita na Bolívia.
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
outubro
(224)
- Agnelo na mira REVISTA ÉPOCA
- Escândalo latente REVISTA VEJA
- À moda stalinista ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
- Histórias e males da inflação – Parte 1 MAÍLSON DA...
- O Brasil vai ao Mundial desfalcado de Orlando Silv...
- Capitanias hereditárias no século 21 PAULO BROSSARD
- Esperando em vão PAULO GUEDES
- O primeiro grande erro de Dilma RENATO JANINE RIBEIRO
- E se a população mundial encolher? COLUM LYNCH
- Eles bebem. Você paga!
- Além da Indignação Carta ao leitor
- Não confesso que vivi LÚCIA GUIMARÃES
- Juventude sequestrada CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- Lula, Dilma e o câncer JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
- Subsídio secular EDITORIAL FOLHA DE SP
- Deixem Aldo em paz RICARDO NOBLAT
- Do acaso à necessidade FERREIRA GULLAR
- Na crise, a indústria global se movimenta JOSÉ ROB...
- Travas à corrupção SUELY CALDAS
- Dexter entre a ciência e a religião MARCELO GLEISER
- Somos 7 bilhões CELSO MING
- A baderna a serviço do crime EDITORIAL
- República destroçada MARCO ANTONIO VILLA
- Copa - dinheiro, soberania e catarse GAUDÊNCIO TOR...
- Longe do prazer PAULO SANT’ANA
- Indignados e desanimados VINICIUS TORRES FREIRE
- Consertar é possível DORA KRAMER
- Coisas que nos unem DANUZA LEÃO
- Defendendo a pátria JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Argentina grau abaixo MAC MARGOLIS
- A lição que Tancredo deixou ZUENIR VENTURA
- Ainda faltam oito ministros LEONARDO CAVALCANTI
- Ajuda chinesa será limitada GILLES LAPOUGE
- E se não vier a tempestade? CELSO MING
- Um país melhor FERNANDO RODRIGUES
- As políticas do BC e nossas convicções ALBERTO GOL...
- Liberdade de cátedra, herança e ambiguidades CLAUD...
- Orlando, ocupe Wall Street! GUILHERME FIUZA
- Do Enem à OAB WALTER CENEVIVA
- O erro de Haddad HÉLIO SCHWARTSMAN
- Reprovado EDITORIAL FOLHA DE SP
- Mais uma cerveja RICARDO NOBLAT
- Economia e moral DENIS LERRER ROSENFIELD
- Corrupção e conflitos no vácuo do Legislativo PAUL...
- Deu errado ALON FEURWERKER
- As apostas entre o BC e o mercado estão na mes Mar...
- A lei inédita de Lavoisier Roberto Luis Troster
- A liberdade de expressão Renato Janine Ribeiro
- Fechar a torneira José Roberto de Toledo
- Trancos e barrancos DORA KRAMER
- O PNBC do Terceiro Setor GAUDÊNCIO TORQUATO
- Os Kirchners, uma vez mais SERGIO FAUSTO
- Sob a proteção de Lula JOÃO BOSCO RABELLO
- Nadir, Euripedes e Yuri MARTHA MEDEIROS
- Internautas do mundo todo, uni-vos! FERREIRA GULLAR
- O Brasil deve aprender mais ciência MARCELO GLEISER
- O poço que não tem fundo DANUZA LEÃO
- Nuvens no horizonte JOSÉ MILTON DALLARI
- As trapalhadas como IPI EDITORIAL O ESTADÃO
- De onde vêm as desigualdades SUELY CALDAS
- E falta o principal conserto CELSO MING
- Líbia não afeta petróleo ALBERTO TAMER
- PAUL KRUGMAN - O partido da poluição
- A anomalia das microssiglas FERNANDO RODRIGUES
- Além da faxina EDITORIAL DE SP
- Risco líbio REGINA ALVAREZ
- HÉLIO SCHWARTSMAN A maldição da abundância
- Fim de semana para ser lembrado LUIZ CARLOS MENDON...
- As provas pedidas EDITORIAL
- Vade retro, Luiz! JOÃO MELLÃO NETO
- Em jogo, o futuro do euro CELSO MING
- Partilha REGINA ALVAREZ
- Questão dos royalties virou escárnio EDITORIAL
- Conduta uniforme DORA KRAMER
- O fim da guerra ao verde NELSON MOTTA
- Combinação mortal HÉLIO SCHWARTSMAN
- O tempora o mores RICARDO NOBLAT
- Turquia versus Brics RUBENS RICUPERO
- Aposta perigosa do governo Dilma LUIZ CARLOS MENDO...
- A terceirização do governo JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
- Calamidade no DNIT ALAYR MALTA FALCÃO
- A maldição de Guadalajara VINICIUS MOTA
- Governo desmoraliza Camex e erra em comércio exter...
- Jornal, qualidade e rigor CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- Na base do puxadinho CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Martins, o barbeiro PAULO SANT’ANA
- O Ocidente entre a Grande Pedalada e a Grande Frea...
- Passeatas de feriado acabam em pizza GUILHERME FIUZA
- Direito à vida Ives Gandra da Silva Martins
- Mais um corte nos juros CELSO MING
- Quais os limites da guerra cambial? ROBERTO GIANN...
- PIB recua, inflação sobe. E daí? ALBERTO TAMER
- República de surdos DORA KRAMER
- Comércio e finanças na economia internacional CELS...
- O Iraque como modelo para o Oriente Médio JACKSON ...
- Roubalheira recorde EDITORIAL
- Política sem sonhos FERREIRA GULLAR
- A travessia MERVAL PEREIRA
- O filme da sua mente MARCELO GLEISER
- Greves infames PAULO SANT’ANA