Entrevista:O Estado inteligente
Dúvidas ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 05/10/11
Há um enorme "ruído" de alguns analistas financeiros que não se conformam com um fato elementar: quando as condições se alteram, altera-se também a resposta da política econômica.
Como o futuro é opaco e cheio de surpresas, a política econômica exige uma visão prospectiva preliminar que procura avaliar o cenário mais desfavorável possível e levá-lo em conta em sua formulação.
Podemos sofisticar esse comportamento atribuindo "probabilidades" (de sentido altamente duvidoso) aos diversos cenários. Não devemos esquecer, porém, que o futuro só será desvendado quando transformar-se em presente!
Não é estranho, portanto, que haja diferenças profundas entre os formuladores da política econômica devido às suas visões do presente e às percepções do futuro.
É absolutamente natural (e saudável) que haja divergência sobre o diagnóstico e sobre as formas de corrigir o que se supõe que sejam "distorções" (a diferença entre a realidade e o paradigma com a qual a comparo) ou prevenir possíveis ocorrências futuras sobre os quais não temos controle.
Por definição, o poder incumbente tem menos grau de liberdade na sua formulação porque, querendo ou não, corre o risco dos efeitos da sua ação. Os críticos, por mais honestos e responsáveis que sejam, sentem um peso muito menor. Não tendo o poder de decidir e implantar suas sugestões, não arcam com as suas consequências.
A esse respeito, aliás, talvez haja algumas críticas produzidas por puro desconhecimento, como a que a ideia de dar maior peso na fixação da taxa de juros ao PIB com relação à inflação destrói o sistema de "metas".
No fundo, a versão básica do sistema de "metas de inflação" se baseia num modelo novo-keynesiano de três equações simples, uma das quais é a chamada "regra de Taylor".
Esta sugere que a taxa básica do juro nominal deve ser a soma da taxa de juros "real" neutra (de difícil estimativa) somada à expectativa de inflação à qual se juntam, ainda, com pesos variáveis (cuja soma é cem) os desvios da taxa de inflação à meta e do PIB com relação ao PIB potencial (de difícil estimativa).
Desde a origem, a moda foi dar o mesmo peso aos dois desvios, ou seja, supor que um desvio de 1% com relação à meta é equivalente a um desvio de 1% com relação ao PIB potencial. Mas não há nada de destrutivo (dentro do próprio modelo) dar, por exemplo, o peso de 30% para o desvio inflacionário e de 70% para o desvio do PIB, lembrando que há uma relação relativamente estável entre o nível do crescimento e o do desemprego.
Significa, apenas, que se aceita alongar o cumprimento da meta de inflação para tentar manter um nível maior de proteção ao PIB e do emprego.
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