Folha de S Paulo
O iminente fracasso da Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio), depois de dez anos de laboriosas negociações, é sintomático de tendência inquietante. Não existe mais uma potência hegemônica capaz de fazer as coisas acontecerem.
Durante mais de 60 anos, esse papel coube aos EUA, responsáveis pela ordem política e econômica construída sobre as ruínas da Segunda Guerra Mundial.
Essa ordem de inspiração liberal refletia a visão e os interesses americanos, mas gozava da crescente aceitação consensual da maioria dos outros países. Assentava-se nas grandes organizações internacionais criadas para administrar a ordem: as Nações Unidas, o FMI, o Banco Mundial, a OMC e seu antecessor, o Gatt.
Nasceram da evolução da consciência humana nas sociedades americana e europeia as principais ideias-força que ganharam forma nos tratados e programas promovidos por tais entidades: os direitos humanos, a democracia, o ambiente, a igualdade entre mulheres e homens, o desenvolvimento econômico, o Estado de bem-estar social, a economia de mercado, a liberalização econômica e comercial.
De algum tempo para cá, notavam-se certo esgotamento e perda de fôlego no avanço desses temas. A persistente crise do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a falta de consenso para a reforma do Conselho de Segurança, a constante frustração em atingir as metas para o combate ao aquecimento global são alguns desses indícios da paralisia do impulso criador nas questões mundiais.
Até agora, porém, nunca se havia assistido ao que ameaça ocorrer na OMC: uma década de esforços jogados fora. Preocupados com o desgaste cumulativo de adiamentos em série, alguns propõem que se fixe data definitiva e inadiável para concluir a rodada com êxito ou para declará-la um fracasso.
Há muitas razões para o impasse nas negociações, mas a primeira delas é que lhes falta o fator decisivo em todas as oito rodadas anteriores: a liderança insistente e flexível dos americanos.
Desta vez, enfraquecidos pela interminável crise econômica e pelas dificuldades de se libertar de guerras impopulares no Iraque e no Afeganistão, desmoralizados pela estridência selvagem das divisões domésticas, os EUA revelam apetite cada vez menor para a liderança. Suas propostas irrealistas para a conclusão de Doha parecem mais manobras para transferir a outros a culpa pelo fiasco do que intentos sérios de edificar consenso.
O problema é que ninguém se dispõe a ocupar o vazio criado pela retração de Washington, a começar pela China que, fora dos negócios de seu direto interesse, demonstra inapetência ainda maior que a americana pelos assuntos globais.
Não era diferente a atitude do Japão na época em que parecia destinado a rivalizar com os EUA. O que impõe pergunta perturbadora, ainda que a deriva do eixo do mundo em direção à Ásia demore décadas: como seria uma ordem internacional pós-ocidental?
A não ser quando é imposta pela força, a hegemonia tem de ser cultural e moral, cimentada por ideais e valores partilhados por culturas e países diversos. Sabemos quais são os valores e ideais universais do Ocidente. Quem é capaz de dizer quais seriam os da China?
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
maio
(328)
- Novos rumos MERVAL PEREIRA
- O Fundo, no fundo MIRIAM LEITÃO
- À moda da tucanagem Dora Kramer
- Gato e rato - Celso Ming
- Ele voltou Marco Antonio Villa
- Contrapartidas ao bom-mocismo Adriano Pires e Abel...
- MEC não quer ensinar CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- O FMI do homem branco Marcelo de Paiva Abreu
- Nau sem rumo José A. Guilhon Albuquerque
- Brasil - a desordem do progresso Antonio Corrêa De...
- A lista de Palocci Carlos Alberto Sardenberg
- Os donos do poder Daniel Piza
- Strauss-Kahn e as teorias da conspiração Gilles La...
- Clientes e patronos de Palocci VINICIUS TORRES FREIRE
- Chama Lula! Alberto Dines
- Resistindo à chantagem Suely Caldas
- Esse Palocci é um gênio CLÓVIS ROSSI
- Educação para o debate SERGIO FAUSTO
- O criador contra a criatura JANIO DE FREITAS
- Verdade e preconceito FERREIRA GULLAR
- Turbulência no voo MIRIAM LEITÃO
- Política e democracia DORA KRAMER
- Um amigo leve DANUZA LEÃO
- Furando as teias mafiosas GAUDÊNCIO TORQUATO
- Observações de um usuário JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Acorda, Congresso! Otávio Leite
- Confronto não ajuda Dilma - Alberto Dines
- Jangada de pedra CESAR MAIA
- Da casa do lobby ao apartamento da empresa MIGUEL ...
- Os estragos da tormenta EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- Lula e Dilma EDITORIAL FOLHA DE SÃO PAULO
- A presidente ''ultrapassada'' Editorial de O Estad...
- ANTONIO PALOCCI E MARCOS VALÉRIO: UM ESQUEMA ANÁLO...
- Melhor que roubar bancos VINICIUS TORRES FREIRE
- O fino da grossura NELSON MOTTA
- Fissura profunda - Dora Kramer
- Devagar demais Celso Ming
- Palocci e o jogo do futuro Fernando Gabeira
- O terreno difícil dos agrotóxicos Washington Novaes
- Não esquecer Rogério L.F. Werneck
- Strauss-Kahnikov
- Lula sobe, Dilma desce ELIANE CANTANHÊDE
- Dilma, cadê você? CLÓVIS ROSSI
- Lula assume o comando EDITORIAL O Estado de S. Paulo
- Caso Pimenta e o pior da Justiça brasileira EDITOR...
- Melhor do que o esperado - Celso Ming
- Fratura exposta Dora Kramer
- Palocci e a hidra de duas cabeças Demétrio Magnoli
- As hidrelétricas já foram pagas? Vilson D. Christo...
- A indústria faz a diferença José Serra
- Palocci Fiction FERNANDO DE BARROS E SILVA
- Na corda bamba MIRIAM LEITÃO
- Fale, Palocci JOSÉ CARLOS DIAS
- Gabinete de Palocci violou sigilo de caseiro, diz ...
- Assim era Palocci VINICIUS TORRES FREIRE
- Cara presidente DANIEL PIZA
- Combustível no pasto ALEXANDRE SCHWARTSMAN
- Reis e dentes podres ROBERTO DaMATTA
- Remédio pior que a doença Celso Ming
- Mera maquiagem Dora Kramer
- Modelando a macroeconomia - Rubem Novaes
- Leis demais: nenhuma lei José Nêumanne
- Europa não deveria controlar o FMI Martin Wolf
- Aldo Rebelo também escreve carta aberta à presiden...
- Palavras forjadas, crise ao vento ELIANE CANTANHÊDE
- O mérito, as cotas e o racismo DEMÓSTENES TORRES
- O Brasil e o churrasquinho grego VINÍCIUS TORRES F...
- A novela vai longe ALON FEUERWERKER
- Sim à agropecuária e sim também ao meio ambiente K...
- Primeira crise Míriam Leitão
- Duvidoso, e daí? Dora Kramer
- Continua ruim Celso Ming
- Domésticas - profissão em extinção? José Pastore
- Controle de capital ou protecionismo Hector R. Torres
- Traduzindo Palocci RICARDO NOBLAT
- O estrategista tupiniquim MARCO ANTONIO VILLA
- " Se pelo menos ensinassem Português" CARLOS ALBER...
- Após revisão em Itaipu, cabe conta ao Paraguai- Se...
- O PT vai encarar a corrupção? Renato Janine Ribeiro
- Pelo Brasil Denis Lerrer Rosenfield
- Notícias argentinas Fabio Giambiagi
- Dos efeitos do priapismo na economia mundial Marco...
- A ponta do iceberg - Sérgio Abreu e Lima Florencio
- Augusto Nunes Vale replay
- ENTREVISTA LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
- Caso reaberto-o uso de dinheiro público no Mensalã...
- Quem comprou Palocci? Clóvis Rossi
- Ente que mente Mary Zaidan
- Sangria desatada Dora Kramer
- Poder fragilizado Merval Pereira
- A 'PEC do Peluso' EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- Quanto vale o show de consultoria? VINICIUS TORRES...
- A ''espertocracia'' educacional GAUDÊNCIO TORQUATO
- Presidente, diga a que veio SUELY CALDAS
- Saia justa FERREIRA GULLAR
- Palocci explica Palocci JANIO DE FREITAS
- Responda, se tiver coragem DANUZA LEÃO
- A era do bedelho universal JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Sobre a vida após a morte MARCELO GLEISER
- Onda azul CESAR MAIA
-
▼
maio
(328)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA