FOLHA DE SÃO PAULO - 22/05/11
Palocci promete para esta semana a explicação para seu atual atentado contra o bom andar governamental
ANTONIO PALOCCI, o homem-bomba, tem explicação para tudo. O que complicou nas atividades com o grupo de amigos, quando prefeito de Ribeirão Preto, não foi falta de explicações. Tanto que, passados alguns anos bem apropriados para o esquecimento, obteve as convenientes absolvições. O que complicou no escândalo quando ministro da Fazenda de Lula também não foi falta de explicações, no seu estilo. Fiel a si mesmo, ao menos a si, Palocci promete para esta semana a explicação pedida pela Procuradoria-Geral da República para seu atual atentado contra o bom andar governamental. O que vai complicar é o de sempre: a busca alheia de explicação factual ou documental para a explicação à maneira palocciana.
Sob a simpatia sorridente, com aquele ar de bebê dado a muitos volumosos não anabolizados, Roberto Gurgel é o terceiro na estirpe de procuradores-gerais, inaugurada por Cláudio Fontelles e continuada por Antonio Souza, que aliam firmeza, independência e serenidade (esta reviravolta na Procuradoria-Geral da República foi o que de melhor aconteceu às funções institucionais no país). Pois bem, do "olhar cuidadoso" que disse dirigir à notícia das incursões imobiliárias de Palocci, Roberto Gurgel passou a uma breve referência pessoal, paralela ao pedido de explicações mandado ao ministro: recebida a resposta, virá a análise da necessidade, ou não, de investigações ou mesmo de inquérito.
Explicações de Palocci, eis a segunda carga de explosivos. A nota que atribuiu a um assessor já deixou os traços paloccianos, como o relato completo dos bens feito à Comissão de Ética da Presidência da República, que se viu na constrangida contingência de informar que, completo, não era. E mais buracos, que nessas coisas o ex-ministro da Fazenda não é econômico.
Por falar em economia, há pouco apareceu a figura de um sobrinho viageiro a quem Palocci, "por não ser economista", pôs na direção formal de sua consultoria Projeto. Mas o registro e a direção de consultoria, mesmo se econômica, não requerem diploma em economia. O uso de nome alheio é uma prática comum para esconder a presença e a responsabilidade verdadeiras. Sugestão, por si só, da existência de motivo para o encobrimento.
O problema das explicações outra vez devidas por Palocci é que só valem se coincidirem com a explicação não apenas dada, mas provada pelo outro lado. O que promete surgirem "consultorias verbais" sem fim.
A Amil, uma das comadres do governo no seguro-saúde, já veio com sua parte de socorro ao consultor Palocci. Afirma que o contratou para palestras a seus clientes e executivos sobre a maneira de evitar a gripe aviária. Em sua especialidade de contato permanente com centenas ou milhares de médicos de todas as especialidades, a Amil escolheria, para prevenir a saúde de clientes e de seus executivos, um médico dedicado à política e a governos por mais tempo do que seu convívio real com a medicina.
Entre as características pessoais de Palocci está a de ser muito caseiro. Fechada por um depoente inesperado a casa civil que mantinha em Brasília com seu grupo de Ribeirão Preto, Palocci veio a acomodar-se na Casa Civil do Planalto. As repórteres Maria Lima e Isabel Braga, do "Globo", narraram que um dos presentes a uma reunião palaciana, quinta-feira, ouviu de Dilma Rousseff que vai "segurar Palocci no cargo "até o fim'".
Parece que a presidente não esclareceu, ou não prevê, "até o fim" de quê ou de quem. Embora as hipóteses não sejam muitas.