Entrevista:O Estado inteligente
Lula e Dilma EDITORIAL FOLHA DE SÃO PAULO
28/05/11
Blindagem de Palocci cria oportunidade para pressões fisiológicas, além de abrir espaço para volta ruidosa de ex-presidente à cena política
A desenvoltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília, ao empalmar o comando do combate ao incêndio do caso Palocci, é o maior sintoma da vertiginosa fragilização de Dilma Rousseff no curso da semana.
A própria presidente viu-se impelida, ato contínuo, a mostrar as caras e as falas, para reaver parte do espaço ocupado pelo mentor.
Diante da cena clássica de um homem poderoso -o ministro Antonio Palocci- recusando-se a dar explicações sobre o súbito aumento de seu patrimônio pessoal, puseram-se em marcha as engrenagens de um enredo igualmente conhecido. Manietado pela necessidade de montar operações de blindagem, silêncio e desconversa, Palocci perdeu o controle sobre a votação do Código Florestal.
O texto aprovado na Câmara dos Deputados, ao pender para o lado dos proprietários rurais, foi recebido em várias praças como uma lei para atrasar a entrada do país no século 21. Um Código Florestal que anistia responsáveis por alguns desmatamentos ilegais galvanizou uma larga maioria de parlamentares, que alia setores ruralistas tradicionais à base fisiológica do governo -todos ansiosos por mais fatias de poder.
Faltava, nesse cenário de enfraquecimento do Planalto e de volatilização de sua confortável maioria no Congresso, a contribuição de outra bancada tradicional, a dos deputados evangélicos. Manifestaram-se -e foram atendidos pelo Planalto- no caso do chamado kit anti-homofobia. O recuo de Dilma foi imediato e constrangedor, ao menos para o ministro da Educação, Fernando Haddad.
Além dos arranjos de geometria variável que reúnem ruralistas, evangélicos e fisiológicos em torno de demandas mais defensáveis ou menos, e obviamente de Lula, quem se beneficia com a presidente e seu articulador-mor na defensiva é o PMDB de Michel Temer.
Mesmo que Palocci venha a dar explicações plausíveis sobre a profícua atividade empresarial paralela (o que se afigura cada vez mais complicado), ou no caso de a blindagem tanto conter o fogo amigo quanto resistir às investigações do Ministério Público e da imprensa, o ministro verá seu raio de ação reduzido. Haverá, decerto, ampliação proporcional do balcão de varejo que o operador palaciano sempre termina obrigado a manter aberto e polido, para servir ao PMDB e a outros sócios vorazes do poder.
A julgar pela deterioração da situação política na semana, o caso Palocci não irá embora tão cedo. Na hipótese de agravar-se, quem tem mais a perder não é o ministro, mas Dilma -como parece ter intuído, rapidamente, o sempre sagaz ex-presidente Lula.
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