O Estado de S. Paulo - 26/05/2011 |
O resultado nas transações correntes do ano até abril, ou seja, as contas que reúnem todos os fluxos de recursos com exceção dos fluxos de capital, está negativo como esperado, mas abaixo do previsto. A balança comercial está registrando faturamento mais alto das exportações em consequência da forte melhora das relações de troca. Ou seja, os preços dos produtos exportados pelo Brasil estão subindo mais do que os preços dos importados. É a situação que reflete o bom desempenho das cotações das commodities agrícolas. É provável que as exportações deste ano ultrapassem os US$ 250 bilhões. (O Banco Central vem trabalhando com projeção de US$ 240 bilhões.) A maior surpresa está na Conta de Capitais e tem a ver com o desempenho dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Apenas nos quatro primeiros meses do ano, o Brasil recebeu US$ 23 bilhões, 3,04% do PIB, ou quase 42% do que o Banco Central prevê para o ano inteiro (US$ 55 bilhões). No período de 12 meses terminado em abril, o IED atingiu os US$ 63,7 bilhões (veja o gráfico). A entrada desses capitais durante 2011 tem tudo para ultrapassar esse volume. O mundo rico passa por uma forte crise e isso, por si só, coloca foco de luz no desempenho dos emergentes, entre os quais está o Brasil. Além disso, há enorme volume de recursos zanzando no mercado financeiro global. Essa massa de capitais ainda deve aumentar com as novas emissões do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). No entanto, boa parte desse aumento do IED neste ano deve estar relacionada com a imposição de um IOF de 6% sobre a entrada de recursos destinados a aplicações em renda fixa. Já que ficou bem mais caro trazer recursos para o Brasil nessa rubrica, os administradores de capitais podem estar usando o IED. Esse dado parece confirmar a baixa eficácia dos dispositivos de controle do afluxo de capitais pelo governo federal. Nada menos do que 62,2% dos investimentos estrangeiros estão indo para o setor de serviços, especialmente para telecomunicações, eletricidade e comércio. Outros 25,5% vão para a indústria e 12,3% para o setor primário (agropecuária e mineração). É mais um dado que confirma o forte crescimento do setor de serviços no Brasil. No mais, ainda não há sinais de deterioração das contas externas em consequência da forte valorização do real, que tantos economistas vêm prognosticando. Por enquanto, o rombo em transações correntes vem sendo financiado com entrada de capitais de longo prazo ou pelo IED, recursos considerados de boa qualidade. De todo modo, déficit em conta corrente equivale a consumo acima do desejado. O Brasil enfrenta crônico raquitismo em seu índice de poupança (não passa de 17% do PIB). Por isso, o consumo aquecido é indicador que aponta para uma das fragilidades da economia. CONFIRA Credor líquido Mais viagens |
Entrevista:O Estado inteligente
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