Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 13, 2009

villas-Bôas Corrêa - O escândalo que saiu do baú


Quando a temporada de escândalos do pior Congresso de todos os tempos parecia ter esgotado o repertório para a pré-campanha eleitoral, que começa a esquentar no primeiro trimestre do próximo ano, eis que surge do fundo do baú dos segredos da cumplicidade o que parece disputar o recorde do maior do período do mandato e meio da reeleição do presidente Lula.

A esta altura, a encruada CPI da Petrobras ou a esquálida CPI das ONGs foram rebaixadas das manchetes para os destaques das páginas internas. E desta vez cabe ao Senado o lugar no alto do pódio. Ele não compartilha com a Câmara dos Deputados, apesar das muitas leviandades e trampas do seu repertório, a descoberta que a Mesa do Senado vinha guardando a sete chaves, à espera da melhor hora de divulgar o seu feito histórico.

Vamos aos fatos, antes de mais delongas. A atenta e severa Mesa Diretora do Senado foi informada, com o suporte de dados preliminares, da descoberta de mais de 500 atos secretos, que nunca foram publicados no Boletim Administrativo, como é da rotineira exigência da lei, que distribuem, com a generosidade dos que lidam com o dinheiro da explorada Viúva, favores em cascata para senadores e a sua enorme parentela dos afins, além do cupinchas, cabos eleitorais e amigos do peito e do bolso, de nomeações aos privilégios que podem render mais do que o salário.

Alguns senadores com o queixo enterrado no pescoço mexem-se para a apuração rigorosa do tamanho da trapaça, uma vez que o seu principal responsável é de fácil identificação: o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, genial inventor da fraude dos atos secretos, utilizados pelos ex-presidentes nos últimos dez anos.

E na forma do costume a apuração deslizou como água de córrego, sem bulha, na maior moita. Quando começou a varredura, o otimismo da Mesa do Senado foi alimentado pela avaliação da comissão instalada para investigar os atos secretos, em cerca de 300.

De 300 para 500 é menos que o dobro, uma mixaria. Mas não há como manter o sigilo depois do estouro do traque. E o relatório, final que deveria ser apresentado hoje, ficou adiado para a próxima semana, tempo para recuperar o fôlego. O azar nunca anda sozinho. O Ministério Público vai pedir ao Tribunal de Contas da União (TCU) a anulação dos atos secretos e a devolução do dinheiro que os ex-felizardos embolsaram e, por certo, gastaram com a imprevidente com que se costuma dissipar o que não custou o suor e o esforço do bestunto.

Até aqui, a corriola dos senadores vinha tentando abafar o estrondo da denúncia, com o pinga-pinga da liberação das apurações nas últimas páginas do Boletim Administrativo.

Não será tarefa para amadores encolher escândalo que se alinha entre os recordistas, com o tom de criatividade e ineditismo, da nomeação secreta de meio milhar de parentes, amigos, cupinchas, crias da casa, além de cargos de agentes secretos, aumentar salários ou a mais simples criação de horas extras sem limite.

Afinal, a longa permanência do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, e a sua prosperidade de milionário pródigo, tem a sua explicação exposta à luz dos números na apuração da comissão criada para apurar o milagre. Até prova em contrário, senadores de todos os partidos, do governo e da oposição fartaram-se nos banquetes do ex-diretor-geral. Nada impedirá que contamine a campanha eleitoral e seja um dos destaques da rede nacional de TV e na de rádio para a propaganda eleitoral gratuita.

O líder do DEM, senador José Agripino Maia, antecipou-se na cobrança pública de punições e "com a devolução dos recursos aos cofres públicos". Não é tudo. O freio de mão da cautela aconselha prudência antes de conhecidos os beneficiários com a sangria secreta. Pois, o escândalo tem todo o jeito de ser superpartidário.

Mais afoito, o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), adiantou que vai pedir a demissão do ex-diretor do Senado Agaciel Maia, por improbidade administrativa. Com a agravante de ter mentido quando questionado por senadores: "Perguntei ao Agaciel se havia atos secretos nesta Casa, ele respondeu que não. Já pedi as notas taquigráficas para entrar com um processo administrativo por ele ter mentido aos senadores".

Se não perder o embalo, este será o escândalo do ano.

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