BRASÍLIA - Quando um político recua e desmancha um erro, há motivos para festejar. Ontem foi um desses dias raros, pois Brasília conseguiu produzir algo positivo.
A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados anulou uma bobagem praticada na semana anterior. Cancelou a gratificação de até R$ 1.800 para os funcionários com cargos de chefia. Também ficou, por ora, abandonada a possibilidade exótica de tentar criar um plano de saúde para 12 mil famílias de servidores sem gastar nada.
Se houver má vontade, enxerga-se timidez excessiva na nota emitida pelos deputados sob o comando do presidente da Casa, Arlindo Chinaglia. Em vez de simplesmente dizer "erramos", o texto lista várias desculpas esfarrapadas. Nessas horas, quanto mais se fala, pior é. No caso do plano de saúde "gratuito", por exemplo, os deputados dizem estar agora interessados em voltar ao tema quando houver uma "proposta fundada em números". Por analogia, conclui-se que na semana passada as excelências tomaram a decisão sem ter uma proposta em mãos.
Mas, mesmo envergonhado, o recuo dos deputados é positivo. Apesar da verborragia, ficou para as calendas o tal plano de saúde com ou sem a "proposta fundada em números". Esse é o resultado mais relevante: anulou-se um erro.
O caso também é exemplar para mostrar o pior e o melhor do Congresso. Os deputados são capazes de adotar medidas estapafúrdias numa semana. Na outra, depois de pressionados, voltam atrás. A Câmara é o poder mais devassado do país. Não há na República órgão mais investigado. O Senado fica muito atrás, por sua tradição hermética. O Executivo e o Judiciário estão a léguas de distância quando o assunto é transparência.
Admitir um erro é doloroso. A Câmara, sempre criticada neste espaço, desta vez acertou ao recuar.
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