Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, janeiro 04, 2009
Feliz novo século Alberto Dines
Nunca foi tão fácil adivinhar a agenda para o próximo ano como nesta virada de 2008/2009. Impossível prever qual será o encaminhamento das diferentes crises que nos assombram mas conhecemos as coordenadas.
Sosseguem: as bolas de cristal não serão aposentadas. Persistem enormes estoques de dúvidas e mistérios quanto ao teor das soluções mas os problemas estão claramente expostos e, como sabemos, a armação correta de uma equação é meio caminho para resolvê-la.
Socializou-se a futurologia global graças ao arsenal de ferramentas estatísticas e matemáticas. Mas não podemos esquecer que nossas percepções em relação ao futuro se aguçaram, porque aperfeiçoamos a capacidade de remexer e reciclar o emaranhado do passado. Neste jogo de prismas o espelho retrovisor desempenha papel crucial: podemos visualizar os ingredientes ancestrais das nossas angústias ou razões para rejeitar imagens obsoletas.
O que mais importa nos exercícios de profetismo é a noção do corte, a consciência da ruptura. Os filósofos de esquina até já rotularam a atual conjuntura como "pós-tudo", porque resulta de uma sucessão de barreiras derrubadas e substituídas por combinações pós-raciais, pós-ideológicas, pós-religiosas, pós-sociais, pós-modernas e pós-filosóficas.
Alguns dos dilemas que nos intoxicam completaram mil anos, estão saturados. Outros desaparecem por agregação. A ameaça concreta do aquecimento global, devidamente equacionada, aposenta um conjunto de venerandos confrontos.
Tudo indica que, pela importância do sacolejo, o século 21 esteja efetivamente começando. Assim como o anterior iniciou-se 18 anos depois da data convencional (no fim da Primeira Grande Guerra), este também ultrapassou os limites do calendário e inaugura-se quase uma década depois. O século 20 veio acompanhado por uma drástica alteração no mapa-múndi e este 21, embora sem tocar em fronteiras, varreu-as.
O mundo é uma bola. Ou uma bolha. Ao compreender esta bola e evitar as bolhas já estamos enfiados num processo terapêutico de grandes proporções que deve se prolongar por alguns anos e, obrigatoriamente, se impor aos litígios correntes.
A maior ameaça está no plano econômico – quanto a isso parece não haver dúvidas – mas enquanto persistirem ressentimentos religiosos, ou melhor, enquanto as religiões existirem como projetos de poder distanciadas de suas motivações espirituais, estaremos desperdiçando recursos e energias armazenadas para emergências globais.
A humanidade não é burra, sua agressividade parece ilimitada até o momento em que a sobrevivência corre perigo. Os fatores de dissensão situados habitualmente no campo ideológico, religioso ou racial, terão de ser superados. A conquista territorial tornou-se secundária, mais importante é a conquista de novas tecnologias, elas – e não o espaço vital – garantem as soberanias.
O fim da Guerra dos 30 Anos em 1648 e a criação em 1951 do núcleo da futura União Européia que interrompeu um ciclo de conflitos no coração do Velho Mundo são exemplos alentadores da sobrevivência do bom senso. O entendimento é possível. O arranjo funciona melhor do que os desarranjos
Uma pauta de transformações anti-catastróficas levará anos para ser implementada, impossível confiná-la em periodizações artificiais como os calendários das Copas do Mundo ou Jogos Olímpicos.
Com os cronogramas para a preservação da natureza entramos na era dos projetos decenais de grande porte e longa duração capazes de funcionar como freios para evitar exuberâncias e descontroles.
Barack Obama com a sua visão pós-racial do Sonho Americano deu um poderoso empurrão ao Século Pós-Tudo. O 4 de Novembro de 2008 pode ser o novo "Fin-de-Siècle" e sua posse a 20 de Janeiro de 2009, a primeira etapa de uma revisão em larga escala.
Feliz Ano Novo é pouco. Melhor saudar o novo século.
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