Que saudades do tempo em que se comprava bilhete da ponte aérea e se embarcava em qualquer companhia |
D. SOLANGE: não te conheço, mas você é tão jovem, tem um sorriso tão bonito e me parece tão sensata em suas opiniões, que vou chamá-la de Solange, apesar do seu pomposo cargo à frente da Agência Nacional de Aviação Civil -a hoje famosa Anac. Vou desabafar contando algumas coisas banais que acontecem quando se é um passageiro comum, que quer fazer um vôo bem simples, tipo ponte aérea.
Outro dia eu estava em São Paulo e minha passagem para o Rio estava marcada para as 13h; mas como uma reunião foi desmarcada, cheguei ao aeroporto às 10h30 e perguntei se não havia um vôo saindo mais cedo.
Não só havia vários como os aviões estavam quase vazios. Mas para mudar o horário precisaria ir ao escritório da companhia e pagar mais 400 e poucos reais. Faz sentido? Que saudades do tempo em que se comprava um bilhete da ponte aérea e se embarcava em qualquer avião de qualquer companhia, a qualquer hora, o que era um conforto total. A regra foi mudada para acabar com o cartel, quando todas as companhias cobravam o mesmo preço pelas passagens, mas em compensação enlouqueceu os passageiros; são tantas as tarifas existentes atualmente que não dá para entender que passagem se deve comprar. Dá um jeito nisso, Solange.
De outra vez, comprei uma passagem para a Europa; queria viajar numa determinada data, mas como nesse dia o avião estava cheio, tive que marcar na semana seguinte. Soube depois, por meio de uma amiga, que no dia que eu gostaria de ir tinha lugar, sim. Liguei, contei a novela toda, e eles me disseram que, efetivamente, havia vagado um lugar na data que eu queria. Só que deveria pagar a módica quantia de US$ 200 pela modificação. É justo? Dá para entender? Não, não é justo nem dá para entender. Mas a Anac é para ver o lado de quem, das companhias ou do passageiro?
Quem projetou os aeroportos Santos Dumont, Tom Jobim, Congonhas e Cumbica nunca andou de avião. Anda-se quilômetros para embarcar, para desembarcar, e para poderem ganhar mais dinheiro e lucrar mais, os construtores dos aeroportos colocam os pisos sempre de mármore. Resultado: no Santos Dumont, com mármore no chão e vidro nas paredes, não se entende nada do que é anunciado pelos alto-falantes.
Com o dinheiro gasto no mármore, seria bem melhor botar esteiras rolantes, para não ter que andar quilômetros até chegar ao embarque (ou desembarque). Outra coisa é o "overbooking". As companhias vendem mais passagens para se prevenir dos passageiros que não aparecem e os aviões não voarem vazios. Mas por que nunca ninguém pensou em punir esses passageiros, cobrando uma bela multa para quem não aparecer na hora do embarque? Elementar, Solange.
Pesquisando na internet, descobri que se pode conseguir um vôo de Lisboa a Londres por 28 euros. Nunca ouvi falar que isso existisse no Brasil, mas a Infraero agora está se vangloriando e se exibindo na televisão pelo fato de os aviões estarem saindo no horário e da ausência de filas. Ora, isso é obrigação, não motivo de comemoração. Não entendo de problemas da Aeronáutica, mas morando no Rio, é claro que todas as vezes que tenho que tomar um avião, se puder ser do Santos Dumont, é sempre mil vezes melhor, pois economizo meu tempo, meu dinheiro e minha paciência. E qual a razão do nosso tão simpático governador carioca ser contra o aumento de vôos saindo do Santos Dumont e obrigar os passageiros das novas companhias se deslocarem para o aeroporto internacional (R$ 30 de taxi, só a ida)? Boa pergunta.
Mas a resposta? Como sou sua fã, Solange, e acredito muito no bom senso e na honestidade das mulheres, torço e espero que você dê ordem a esse caos, sobretudo pensando no bem-estar dos passageiros comuns, como eu. Boa sorte e não nos decepcione.