Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 11, 2009

Celso Ming Ortografia e negócios

A nova ortografia não determina apenas o que está certo ou errado na escrita em língua portuguesa. Determina um novo campo de negócios que, se fosse medido, seria em bilhões de reais.



De um dia para o outro, todos os dicionários ficaram desatualizados, à espera de renovação. Na avaliação da Editora Positivo, a versão corrigida do Aurélio deve ter as vendas aumentadas entre 5% e 10% até o fim deste ano.



Em 2007, o mercado de livros vendeu 329 milhões de exemplares no Brasil e faturou R$ 3 bilhões, conforme aponta o mais recente levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, a Fipe. Pesquisa da Associação Nacional de Livrarias (ANL) indica que o mercado cresceu 10,5% em 2008, o que deve puxar esse número para algo em torno dos R$ 3,5 bilhões (já contada a inflação).



As novas edições terão de vir com a nova ortografia e isso implicará novos custos. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) prevê que a despesa das editoras, somente com atualização ortográfica, varie de R$ 1,2 mil a R$ 3 mil por título. A Companhia das Letras, por exemplo, estima em R$ 4,5 milhões o custo para atualização dos seus 1,5 mil títulos de catálogo. E a Positivo contratou 20 novos revisores exclusivamente para reformular as publicações.



A mudança traz não só custos mas, também, oportunidades. A presidente da CBL, Rosely Boschini, entende que a reforma vai ser especialmente benéfica para o Brasil na medida em que cresce a demanda por livros produzidos aqui por parte de países da África e da Ásia de fala portuguesa.



Este é um fenômeno relativamente novo, que já provoca desconforto entre as editoras de Portugal. Elas temem perder para as brasileiras o atual mercado de Angola e Moçambique. Com esses novos compradores em potencial, os editores brasileiros de livros pretendem pelo menos repetir o bom faturamento de 2008, mesmo com a crise global.



A reutilização de livros didáticos também fica prejudicada. Apenas o Ministério da Educação encomendou 103 milhões de livros para serem distribuídos em 2009, a um custo total de R$ 702 milhões. A maior parte deles não leva em conta a nova ortografia. O governo é, de longe, o maior comprador nesse mercado. Em 2007, os programas públicos ficaram com quase 40% da produção de livros didáticos. O setor editorial faturou R$ 727 milhões com vendas para o governo.



O impacto da reforma não se restringe ao mercado editorial. Até o final de 2012, os laboratórios farmacêuticos terão de reeditar todas as bulas de medicamentos e o mesmo deverá ocorrer com materiais de divulgação e manuais de proprietário ou de consumidor dos setores de veículos, aparelhos domésticos, instrumentos eletrônicos e máquinas.



Ao longo da semana, a imprensa já lembrou que Perdigão e Sadia deixarão de vender ?lingüiça? para oferecer ?linguiça?, já que o trema caiu. Enfim, isso mostra que também as embalagens terão de ser revistas.



Na área de informática se preveem mais mudanças. Os produtores de programas de correção de texto terão de atualizar-se. A Microsoft avisa que o consumidor terá acesso gratuito às novas versões pela internet.



Quem quer ter uma ideia mais precisa do impacto econômico dessa mudança vai ter de garimpar bem mais os números.

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