A crise global é como o repolho. Você tira a folha de fora, tem a seguinte, depois mais uma... Dá trabalho chegar ao talo.
Os analistas agora já não se contentam em conferir as manifestações externas do problema. Tentam se aprofundar. Não dá para parar nos créditos hipotecários podres (subprime), na crise patrimonial dos bancos, no estrangulamento do crédito. Para chegar às razões subjacentes é preciso avançar camada por camada.
Um dos atuais focos dos analistas é o enorme desequilíbrio macroeconômico que divide o mundo entre cigarras e formigas; entre gastadores contumazes e poupadores inveterados. Entre as cigarras se encontram os países ricos, especialmente os Estados Unidos. Entre as formigas, os emergentes, e nesse grupo não está apenas a China; estamos - quem diria - nós, do Brasil.
Simplificadamente, a China exporta produtos industrializados para os Estados Unidos e forma superávits comerciais (exportações substancialmente mais altas do que importações). Eles vão para as reservas que, por sua vez, são aplicadas em títulos da dívida americana (T-Bonds). Na prática, os dólares do superávit comercial chinês são reinjetados nos Estados Unidos que, assim, recuperam dólares para continuar a consumir, a importar produtos asiáticos... E assim vai.
Tudo se passa, então, como se o resto do mundo e, em especial os emergentes, estivessem aí a exportar produtos de consumo para os países ricos e estes se obrigassem a fazer dívidas para continuar financiando seu consumo e suas importações.
O problema agora é que o consumo das famílias americanas praticamente estancou. Ainda na segunda-feira saíram os números da indústria automobilística nos Estados Unidos que dão boa indicação das proporções do fenômeno. Em 2008, a queda das vendas da General Motors foi de 22,7%, pior desempenho em 49 anos; a da Ford, de 20,7%; e a da Chrysler, de 30,0%.
Para que a roda continue girando, o consumo das famílias tem de ser substituído pelo do governo americano (aumento das despesas públicas). É o que explica a necessidade de pacotes fiscais sucessivos.
Ontem o presidente eleito Barack Obama advertiu que o déficit orçamentário anual vai superar US$ 1 trilhão, número visto como conservador. Ainda ontem, o analista Martin Wolf avisou, em coluna do Financial Times, de Londres, que o rombo orçamentário necessário para manter o nível de consumo interno nos Estados Unidos (e de produção global) é de pelo menos 10% do PIB, o que dá US$ 1,5 trilhão. E não basta que ocorra só no primeiro ano; tem de se repetir ano após ano.
Como ficou dito, o Brasil é parte desse jogo global. É forte exportador para o mundo rico (37% do total para os Estados Unidos e União Europeia) e fornecedor de alimentos e matérias-primas para os emergentes asiáticos (19%). Além disso, na medida em que também acumula reservas e as aplica em títulos do Tesouro americano, o Brasil é financiador do consumo americano.
Ainda não está claro como o talo do repolho será recomposto. Mas um pedaço da solução está no aumento do consumo interno dos emergentes. E é essa a razão pela qual se pode dizer que a força do mercado interno do Brasil contribui para isso.
Confira
Destrancou - Nesta semana, o Tesouro voltou a tomar recursos em dólares por meio do lançamento de títulos públicos. É a primeira aguinha que chega desde maio do ano passado, quando o crédito externo ficou bloqueado pela crise.
Na cola do Tesouro, as grandes empresas brasileiras voltam agora a garimpar financiamentos em moeda estrangeira. A Petrobrás, por exemplo, está buscando US$ 12 bilhões.
Se esse movimento for bem-sucedido, aumentará a fatia disponível para pequenas e médias empresas. À medida que os bancos tiverem de disputar o cliente, o custo do crédito pode cair.
Entrevista:O Estado inteligente
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