'Não se tributa dinheiro, e sim o que ele pode comprar'
Para tributarista, governo está entre o diálogo e a retaliação
O GLOBO
Adauri Antunes Barbosa
SÃO PAULO.
Adversário histórico da CPMF, cuja constitucionalidade já questionou em tribunais superiores, o tributarista Ives Gandra da Silva Martins acredita que o governo tem duas saídas diante do fim do tributo: ou parte para a retaliação, criando impostos e aumentando alíquotas, ou começa um diálogo com a sociedade. Ele afirma que há “falcões” no governo favoráveis à retaliação. Para ele, deixar de arrecadar os R$ 40 bilhões do imposto não é nada impactante nas contas públicas.
O GLOBO: Como ficam as contas do governo com o fim da CPMF?
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS: O Orçamento está em discussão no Congresso. Vejo a possibilidade de o governo reformular principalmente despesas de administração. Há duas soluções. Uma é partir para a retaliação e aumentar a contribuição social sobre o lucro, atacar o sistema “S”, alterar o IPI e o IOF, o que acho ruim, porque teremos um confronto com a sociedade. O que houve foi uma reação da sociedade através do Senado, que disse: “Não agüentamos mais”. Todo ano o governo bate recorde de arrecadação tributária e diz que precisa, precisa... E a sociedade?
A sociedade não é ouvida?
GANDRA: Não. O governo diz que o país está crescendo, mas não como deveria. Nossos pontos referenciais são Rússia, China e Índia. O Brasil cresceu 5,7% neste trimestre, a Rússia 7,6%, a Índia 8,9% e a China 10,2%. Estamos atrás por quê? Excesso de carga tributária e burocrática. Se o governo criar um sistema de desburocratização e atingir a carga burocrática, não vai precisar de uma carga tributária tão grande. A sociedade sinalizou: “Nós é que somos sacrificados, nós é que somos tributados, nós é que temos pago mais para sustentar uma máquina em que não há nenhum esforço”. A máquina cresce mais que a inflação e mais que o PIB todo ano.
Os R$ 40 bilhões que deixarão de ser arrecadados farão falta?
GANDRA: O Orçamento é de R$ 704 bilhões. Os R$ 40 bilhões representam 6% do Orçamento. Não considero nada impactante. Até porque este ano tiveram arrecadação superior ao que estavam desejando, o equivalente a uma CPMF pelo menos.
Por que o senhor sempre foi contra a CPMF?
GANDRA: Entrei com ação no Supremo porque é um tributo muito ruim. Por que, em 200 países, só três têm? Brasil, Argentina e Colômbia. Por que a União Européia, os Estados Unidos, os países desenvolvidos não adotam? Por que Ana Krueger, que foi vice presidente do FMI, diz que é o pior tributo do mundo? Porque ninguém tributa o próprio dinheiro. Dinheiro é instrumento de circulação. Tributa aquilo que o dinheiro pode comprar, a renda que obtemos com o dinheiro, a mercadoria que compramos. Nenhum país do mundo tributa além das operações, o patrimônio, a renda, a prestação de serviços e a circulação de bens.
Com o fim da CPMF, o senhor crê em aumento de impostos?
GANDRA :O governo pode dizer que vai au mentar tributos, a contribuição social sobre os lucros. Mas teria que ser por projeto de lei; ou aumentar o IPI, o que pode ser feito por decreto; ou aumentar o IOF, que não precisa de lei, e atacar o sistema “S” como forma de vingança à Fiesp, que brandiu mais a bandeira contra a CPMF. Tenho a impressão de que seria a pior das formas. A melhor, claro, seria uma composição do governo com a sociedade. Tenho a esperança de que o Lula, que sempre teve sensibilidade política, parta para esse cenário, mas sei que há falcões e pombas dentro do governo. Os falcões são favoráveis à retaliação.
Quem são os falcões e as pombas?
GANDRA :Todos aqueles que não querem a redução da máquina administrativa precisam de mais receita tributária. Esses vão tentar tirar mais da sociedade. A sociedade tem que sustentar o governo. O interesse público está acima do interesse privado. O interesse dos detentores do poder estão acima dos interesses da sociedade. As pombas defendem o diálogo com a sociedade e a oposição.
Como sair desse impasse?
GANDRA :O Brasil tem mais carga tributária que a China, a Rússia e a Índia e o menor desenvolvimento econômico. Temos que competir com essa gente. Cabe àqueles que têm essa visão de competitividade dentro do governo encontrar alternativas de desenvolvimento e não de burocratização. Hoje há uma corrente favorável ao crescimento do país, através do segmento privado, e outra que entende que o Estado deve controlar tudo dentro do próprio governo. E o Lula administra as duas correntes.
Fora do diálogo, então, não há salvação?
GANDRA: Fora do diálogo vamos sofrer mais. O Brasil está no efeito maré da economia, mas crescendo menos. Até agora os burocratas definiram tudo e a sociedade é obrigada a seguir, sem discutir. Ela sempre perdeu no Congresso. Agora ganhou pela primeira vez. Então, é um momento de reflexão.
O diálogo poderia começar com o projeto de reforma tributária que o governo está para mandar ao Congresso?
GANDRA: Pode, mas não da forma como tem sido apresentado. Se não houver um brutal entendimento prévio, antes de se mandar qualquer coisa reforma tributária ao Congresso, a reforma tributária não vai sair, como não saiu até hoje. Tentar no Congresso fazer com que os governadores se entendam, quando todos têm interesses diferentes, é muito difícil. Estamos falando de reforma tributária desde 1990. São 17 anos e até hoje não há um só projeto encaminhado, esquecendose os que foram discutidos e rejeitados no passado.
“Todo ano o governo bate recorde de arrecadação tributária e diz que precisa, precisa... E a sociedade?"
“Tenho esperança de diálogo, mas sei que há falcões e pombas dentro do governo. Os falcões são favoráveis à retaliação"
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2007
(5161)
-
▼
dezembro
(467)
- Clipping de 31 de dezembro
- Nunca antes nestepaiz pagamos tanto em impostos
- O Estado de S. Paulo ENTREVISTA Fernando Gabeira
- Comendo no prato em que cuspiram
- Desenvolvimento econômico sustentável
- Otimismo Carlos Alberto Di Franco
- Um ano excepcional
- Síndrome de Policarpo Antonio Sepulveda
- UMA MENSAGEM FÚNEBRE DE ANO NOVO
- DANUZA LEÃO
- FERREIRA GULLAR
- CLÓVIS ROSSI Ano Novo e quarta marcha
- ELIANE CANTANHÊDE "De olho no imposto"
- Miriam Leitão O balanço das horas
- João Ubaldo Ribeiro Lá vem ou lá foi, eis a questão
- DANIEL PISA
- Mailson da Nóbrega O que pode dar errado em 2008
- Bolsas fecham o ano sem crise
- Suely Caldas Bom na economia, ruim na política
- Celso Ming Festa na Bolsa
- Olhando as estrelas Gaudêncio Torquato
- Convivência e conflito Sergio Fausto
- Um canteiro de ineficiência
- RUY CASTRO Bom era antes
- O amigo do terror 2 – Oliver Stone, o palhacinho d...
- Chaves é criticado por negligenciar onda de seqües...
- Oposição reage com irritação e críticas
- 2007 | Carta do Editor: Roberto Civita
- MILLÔR
- Veja.com
- Paquistão O assassinato de Benazir Bhutto
- Juíza italiana manda prender brasileiros ligados à...
- Inflação em 2008 é ameaça séria
- Retrospectiva 2007 | Brasil
- Retrospectiva 2007 | Internacional
- Retrospectiva 2007 | Economia
- Retrospectiva 2007 | Gente
- Retrospectiva 2007 | Veja essa
- Retrospectiva 2007 | Humor
- Retrospectiva 2007 | Saúde
- Retrospectiva 2007 | Tecnologia
- Retrospectiva 2007 | Memória
- Retrospectiva 2007 | Ideologia
- Retrospectiva 2007 | Brasil
- Retrospectiva 2007 | Livros
- VEJA Especial Teste
- Clipping 28 de dezembro
- Celso Ming - Mais breque que acelerador
- Eliane Cantanhede - Natal sangrento
- Comendo no prato em que cuspiram
- Lula na TV: o elogio às conquistas do governo FHC...
- E os outros reféns das Farc? Eis a questão
- Clóvis Rossi - Chamar as coisas pelo nome
- Investimentos da Petrobrás
- Villas-Bôas Corrêa : Segundo mandato espremido em...
- Clipping 27 de dezembro
- Clovis Rossi-Lições cubanas
- Demétrio Magnoli A guerra camba
- ALI KAMEL Favelas
- Perspectivas do setor externo
- Colômbia, Venezuela, Brasil: o delírio coletivo
- YEDA E O DIREITO DE PROPRIEDADE
- Clipping 26 de dezembro
- RUY CASTRO Notícias do dia 24
- VALDO CRUZ Bons sinais
- CLÓVIS ROSSI
- Governo estuda recriar a Previc
- Celso Ming Lições para 2008 (2)
- Quem usa fantasia depois do carnaval?
- O médico Palocci se consolida como a referência ec...
- Governo e Congresso driblam a ética
- Vem aí a Sessão Saudade de 1968
- Entre presentes
- Diante do presépio
- GEORGE VIDOR - Cobertor curto
- Os Luízes
- Miriam Leitão Do Nobel ao rodapé
- Merval Pereira Um bom ano
- FERREIRA GULLAR
- DANUZA LEÃO
- ELIANE CANTANHÊDE O Brasil e os brasileiros
- Clovis Rossi- O errado que funcionou
- João Ubaldo Ribeiro
- DANIEL PISA
- Americanos consomem mais
- Salvando duas estatais e o rádio digital Iboc
- Mailson da Nóbrega
- O futuro dos bancos públicos
- Celso Ming Bush tapa o nariz
- DORA KRAMER Limite ultrapassado
- As faltas do funcionalismo
- Urgente, uma agenda positiva
- Incertezas
- Aquele abraço
- Tortura e morte em SP: Serra responde com um ato e...
- Miriam Leitão Lógica invertida
- Merval Pereira Conflito ético
- CLÓVIS ROSSI Olha ela aí outra vez
- RUY CASTRO Nelson como Crusoé
- Celso Ming
-
▼
dezembro
(467)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA