Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 21, 2007

O potencial da usina do Rio Madeira

Agora vai sair da maquete

Depois de cinco anos de governo, Lula vai dar
início a seu primeiro grande projeto de energia


Julia Duailibi

Oscar Cabral

Modelo que simula o funcionamento de hidrelétrica do Madeira

O governo Lula termina o ano de 2007 com um marco no setor energético. Foi dada a largada para a construção do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, em Rondônia. Trata-se de um conjunto de duas usinas que vão despejar mais de 6 000 megawatts no sistema elétrico brasileiro. Isso representa cerca de 6% de toda a capacidade instalada no país. É energia suficiente para atender 25 milhões de pessoas, mais que a região metropolitana de São Paulo. A notícia merece aplausos. É o primeiro grande projeto nessa área desde que Lula assumiu o governo, em 2003. Fazia seis anos que o Complexo do Madeira patinava na burocracia estatal e no cipoal de órgãos ambientais. A primeira das duas usinas a ser construídas será a de Santo Antonio, orçada em cerca de 10 bilhões de reais. Sua concessão foi a leilão no dia 10 de dezembro e, quando pronta, agregará 3.150 megawatts à matriz energética brasileira. Se tudo correr bem, as primeiras turbinas entrarão em atividade em 2012. Em 2016, a usina alcançará sua capacidade plena, com 44 turbinas em operação. O consórcio vencedor, formado por Furnas e pela construtora Odebrecht, fez uma proposta agressiva. Dispôs-se a vender no mercado uma energia 35% mais barata que a tarifa máxima estipulada pelo governo. Isso foi possível porque toda a energia produzida antes de dezembro de 2012 poderá ser vendida à indústria, no mercado livre, onde os preços são bem mais altos do que aqueles oferecidos no leilão.

A segunda usina a ser licitada, a de Jirau, também no Complexo do Rio Madeira, adicionará outros 3 300 megawatts à matriz energética. O leilão está marcado para o começo de 2008. Santo Antonio e Jirau são duas das obras estrategicamente mais importantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com o qual o governo espera colocar de pé a combalida infra-estrutura do país. Visam a reduzir o risco de racionamento que ronda o sistema elétrico desde o apagão de 2001. A situação é dramática. Só não houve um novo colapso até agora porque as chuvas ajudaram a encher os reservatórios, e o crescimento da economia vinha em ritmo de banho-maria. O país precisa urgentemente de fontes novas de energia porque o consumo per capita, que aumentou 1% ao ano entre 2000 e 2005, vai crescer a taxas três vezes mais altas entre 2005 e 2010. A região amazônica, onde fica o Complexo do Madeira, é a mais promissora fronteira energética do país, pouco aproveitada por causa de sua distância em relação aos grandes centros consumidores. Alguns estudos indicam que a exploração na região pode chegar a 43 000 megawatts nos próximos dez anos. Isso equivale a mais de três usinas de Itaipu. Também na região, o governo pretende levar a leilão a construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, entre 2009 e 2010. As três usinas juntas vão adicionar 17 450 megawatts ao potencial de produção de energia – um pouco menos que a capacidade instalada do estado de São Paulo.

Será um enorme avanço, mas talvez venha tarde demais. Estimativas mostram que, se o país crescer a 5%, serão necessários 3.500 megawatts por ano, já em 2008, para que não haja falta de energia. O problema é que Santo Antonio, a primeira das duas usinas do Madeira, só começará a gerar energia em 2012, inicialmente com apenas 450 megawatts. O sucesso do leilão, no entanto, deixou claro o tamanho do apetite dos investidores privados pelo setor de infra-estrutura. E mostrou como o governo ganha, sempre que concede estímulos corretos. Outros leilões de concessão ao longo deste ano também tiveram êxito. Em outubro, o governo abriu a disputa para a administração privada de 2 600 quilômetros de rodovias federais. Devido à concorrência, o valor dos pedágios ficou até 65% mais baixo do que o previsto. Na semana passada, foi a vez do leilão de faixas de freqüências de 3G (que permitirão conexão dos celulares com a internet com velocidade de banda larga): o governo esperava angariar 2 bilhões de reais; embolsará mais de 5 bilhões de reais.

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