A administração em jogo é política, pois a gerência dos efeitos da perda de arrecadação cabe ao governo e não à oposição, conforme bem afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega já no dia seguinte à decisão do Senado.
Ainda na madrugada da derrota, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, teve a elegância de telefonar ao líder do PSDB, Arthur Virgílio, propondo a aproximação. Em seguida, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso retribuiu o gesto de público, com uma nota em defesa do entendimento.
Mas o que pretendem as partes não está esclarecido. O "entendimento" ainda é um chamamento vago, embora já com alguma indicação de que todos compreendem os malefícios da intransigência e da exacerbação de sentimentos tanto por parte dos vitoriosos quanto por parte dos derrotados.
Inclusive porque o andar dessa carruagem é que dirá quem de fato ganhou ou perdeu do ponto de vista que aqui nos interessa: o embate das forças políticas.
A dúvida será dirimida menos pelo conteúdo dos temas a serem tratados na mesa - se mesa de tratativas houver - e mais pela forma como irão se conduzir os principais personagens em questão.
O protagonista absoluto é o presidente Luiz Inácio da Silva. No quente da derrota, ainda na Venezuela, limitou-se ao óbvio, qualificando o episódio como "coisa da democracia".
Já ontem subiu o tom, mas ainda se manteve dentro do limite do razoável para o padrão das reações presidenciais a revezes.
É de se conferir se a moderação resistirá aos discursos de improviso, principalmente aqueles já direcionados aos palanques de 2008.
Se o presidente da República der asas aos insultos e lançar desafios à oposição para que se explique diante da sociedade, mostrará que não quer diálogo nenhum.
Ademais, correrá o risco de errar o alvo. Primeiro porque a classe média certamente se identificou com a derrubada da CPMF - e aí, pela primeira vez depois de muito tempo, a oposição teve a chance de restabelecer boas relações com esse eleitorado.
E, segundo, porque todas as avaliações, inclusive de governistas, apontam conseqüências bem mais amenas que aquelas apregoadas quando a guerra congressual ainda estava em curso.
Por parte da oposição há de se testar também sua capacidade de manejar a vitória. Se subir nos saltos da petulância, achando que está com a vida ganha e que a partir de agora empareda o governo quando bem entender, também mostrará que seu negócio é faca no peito.
Nesse caso, a disposição inicial ao "entendimento" era só para fazer pose de responsável, se precaver de eventuais repercussões negativas e tentar aliviar as feridas internas por causa da posição divergente dos governadores.
A base de qualquer entendimento aceitável só pode ser a conversa institucional, de Poder para Poder, de partido para partido. O diálogo por si só não quer dizer nada.
É indispensável que tenha qualidade e, se possível, se estenda também às relações do Executivo com a Câmara dos Deputados, que paralisou os trabalhos para fazer a vontade do Planalto e saiu dessa história menor do que entrou.
Especialista
Governista, titular da Comissão de Assuntos Econômicos e suplente da Comissão Mista do Orçamento, o senador Francisco Dornelles não vê necessidade de transferir a votação do Orçamento da União para fevereiro.
Segundo ele, "em seis dias" o Congresso mesmo daria conta de fazer os ajustes necessários pós-derrubada da CPMF. Se é como diz o senador, o adiamento agora proposto visa, então, a impor desgaste político à oposição.
É do jogo.
Deixa estar
Constatação de observador interno da cena tucana: se dividido o PSDB vota unido, que se mostre, assim, verdadeiro um partido. Lato e estrito senso.
Relaxa
Chega de alguns leitores a sugestão para que o presidente Lula siga, no caso da CPMF, o conselho da ministra Marta Suplicy aos passageiros derrotados pelo caos aéreo.
Tira-teima
Foi aprovado pela Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara requerimento do deputado Raul Jungmann convidando para um debate na próxima terça-feira o presidente do Ipea e os quatro economistas demitidos do instituto, segundo eles por razões políticas, de acordo com Márcio Pochmann, por motivos técnicos.
Aos interessados em esclarecer a questão, está aberto o espaço.