Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 15, 2007

DORA KRAMER A qualidade do diálogo


A oposição se diz disposta a conversar e o governo também. Falta, entretanto, dizer quais são as bases desse diálogo, cuja proposição, por enquanto, parece só uma maneira de ambos os lados ganharem tempo para ver como administram o "day after" da derrubada da CPMF.

A administração em jogo é política, pois a gerência dos efeitos da perda de arrecadação cabe ao governo e não à oposição, conforme bem afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega já no dia seguinte à decisão do Senado.

Ainda na madrugada da derrota, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, teve a elegância de telefonar ao líder do PSDB, Arthur Virgílio, propondo a aproximação. Em seguida, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso retribuiu o gesto de público, com uma nota em defesa do entendimento.

Mas o que pretendem as partes não está esclarecido. O "entendimento" ainda é um chamamento vago, embora já com alguma indicação de que todos compreendem os malefícios da intransigência e da exacerbação de sentimentos tanto por parte dos vitoriosos quanto por parte dos derrotados.

Inclusive porque o andar dessa carruagem é que dirá quem de fato ganhou ou perdeu do ponto de vista que aqui nos interessa: o embate das forças políticas.

A dúvida será dirimida menos pelo conteúdo dos temas a serem tratados na mesa - se mesa de tratativas houver - e mais pela forma como irão se conduzir os principais personagens em questão.

O protagonista absoluto é o presidente Luiz Inácio da Silva. No quente da derrota, ainda na Venezuela, limitou-se ao óbvio, qualificando o episódio como "coisa da democracia".

Já ontem subiu o tom, mas ainda se manteve dentro do limite do razoável para o padrão das reações presidenciais a revezes.

É de se conferir se a moderação resistirá aos discursos de improviso, principalmente aqueles já direcionados aos palanques de 2008.

Se o presidente da República der asas aos insultos e lançar desafios à oposição para que se explique diante da sociedade, mostrará que não quer diálogo nenhum.

Ademais, correrá o risco de errar o alvo. Primeiro porque a classe média certamente se identificou com a derrubada da CPMF - e aí, pela primeira vez depois de muito tempo, a oposição teve a chance de restabelecer boas relações com esse eleitorado.

E, segundo, porque todas as avaliações, inclusive de governistas, apontam conseqüências bem mais amenas que aquelas apregoadas quando a guerra congressual ainda estava em curso.

Por parte da oposição há de se testar também sua capacidade de manejar a vitória. Se subir nos saltos da petulância, achando que está com a vida ganha e que a partir de agora empareda o governo quando bem entender, também mostrará que seu negócio é faca no peito.

Nesse caso, a disposição inicial ao "entendimento" era só para fazer pose de responsável, se precaver de eventuais repercussões negativas e tentar aliviar as feridas internas por causa da posição divergente dos governadores.

A base de qualquer entendimento aceitável só pode ser a conversa institucional, de Poder para Poder, de partido para partido. O diálogo por si só não quer dizer nada.

É indispensável que tenha qualidade e, se possível, se estenda também às relações do Executivo com a Câmara dos Deputados, que paralisou os trabalhos para fazer a vontade do Planalto e saiu dessa história menor do que entrou.

Especialista

Governista, titular da Comissão de Assuntos Econômicos e suplente da Comissão Mista do Orçamento, o senador Francisco Dornelles não vê necessidade de transferir a votação do Orçamento da União para fevereiro.

Segundo ele, "em seis dias" o Congresso mesmo daria conta de fazer os ajustes necessários pós-derrubada da CPMF. Se é como diz o senador, o adiamento agora proposto visa, então, a impor desgaste político à oposição.

É do jogo.

Deixa estar

Constatação de observador interno da cena tucana: se dividido o PSDB vota unido, que se mostre, assim, verdadeiro um partido. Lato e estrito senso.



Relaxa

Chega de alguns leitores a sugestão para que o presidente Lula siga, no caso da CPMF, o conselho da ministra Marta Suplicy aos passageiros derrotados pelo caos aéreo.



Tira-teima

Foi aprovado pela Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara requerimento do deputado Raul Jungmann convidando para um debate na próxima terça-feira o presidente do Ipea e os quatro economistas demitidos do instituto, segundo eles por razões políticas, de acordo com Márcio Pochmann, por motivos técnicos.

Aos interessados em esclarecer a questão, está aberto o espaço.

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