Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 15, 2007

Celso Ming As regras do petróleo


Ontem, a pedido da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado de capitais, a Petrobrás confirmou o elevado potencial de reservas abaixo da camada de sal. Nos próximos meses, os resultados das pesquisas em curso podem trazer novas boas surpresas nessa matéria.
Há uma semana, em entrevista ao Estado, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, defendeu mudança na Lei do Petróleo. Para ele, a descoberta do Campo de Tupi mudou as condições. O risco de procurar e explorar petróleo e gás no Brasil diminuiu muito e isso tem de ser levado em conta nos novos contratos.
Não há o que inventar nesse assunto. Os especialistas Giovani Loss, do escritório de advocacia Fullbright & Jaworski, de Houston (EUA), e Alexandre Aragão, da Uerj, apontam os modelos em uso no mundo e o que se poderia esperar de cada um deles, se adotados por aqui.

(1) Modelo norte-americano - As reservas de petróleo e gás são privadas. O governo só é dono do que for encontrado em terras do Estado ou no mar. É um sistema cuja aplicação no Brasil está fora de cogitação.

(2) Concessão - É o adotado hoje no Brasil. Prevê leilão de áreas (blocos) a serem exploradas por empresas estatais ou privadas. Elas se tornam donas do petróleo encontrado e pagam uma porcentagem da receita em participações governamentais. No Brasil, há quatro: bônus de assinatura (pago pela licitação), royalties (no País, 10%), participações especiais (PEs, de até 40%) e taxa pela retenção da área. O modelo deu certo e talvez continue sendo adotado aqui, com probabilidade de que aumentem as PEs, o que dispensa reforma da Constituição. Depende só de decreto.

(3) Partilha - É adotada em Angola, Bahrein, Colômbia e México. Uma estatal se encarrega dos projetos de exploração e tem participação ativa nas licitações. As empresas privadas têm direito a explorar as reservas, mas ficam subordinadas às estatais e têm de dividir com elas o faturamento. É um contrato de cooperação. A mudança para o modelo de partilha tem sido apontada como uma das opções para o Brasil. Mas, para mudar o modelo, teria de ser aprovada nova lei. Problema: a empresa líder tem de ser 100% estatal. Se o modelo fosse adotado aqui e a estatal líder fosse a Petrobrás, a partilha criaria privilégios para os acionistas privados. A saída seria criar outra empresa para isso, 100% estatal.

(4) Modelo boliviano - As empresas privadas exploram em sociedade com a estatal, mas pagam PEs excessivamente altas, acima de 80% sobre o faturamento. É um modelo que limita a rentabilidade do investimento. No Brasil, seria inviável por causa do impacto que o "quase monopólio" teria sobre os investidores.

(5) Modelo estatal - O governo explora em regime de monopólio as atividades de exploração, desenvolvimento e produção. Praticamente desapareceu após a crise do petróleo dos anos 70, mas voltou com o presidente Hugo Chávez, na Venezuela. Para o Brasil, que começa a ganhar a confiança dos investidores, pode ser um retrocesso. Por isso, parece hipótese descartada.

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DORA KRAMER A qualidade do diálogo

A oposição se diz disposta a conversar e o governo também. Falta, entretanto, dizer quais são as bases desse diálogo, cuja proposição, por enquanto, parece só uma maneira de ambos os lados ganharem tempo para ver como administram o "day after" da derrubada da CPMF.

A administração em jogo é política, pois a gerência dos efeitos da perda de arrecadação cabe ao governo e não à oposição, conforme bem afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega já no dia seguinte à decisão do Senado.

Ainda na madrugada da derrota, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, teve a elegância de telefonar ao líder do PSDB, Arthur Virgílio, propondo a aproximação. Em seguida, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso retribuiu o gesto de público, com uma nota em defesa do entendimento.

Mas o que pretendem as partes não está esclarecido. O "entendimento" ainda é um chamamento vago, embora já com alguma indicação de que todos compreendem os malefícios da intransigência e da exacerbação de sentimentos tanto por parte dos vitoriosos quanto por parte dos derrotados.

Inclusive porque o andar dessa carruagem é que dirá quem de fato ganhou ou perdeu do ponto de vista que aqui nos interessa: o embate das forças políticas.

A dúvida será dirimida menos pelo conteúdo dos temas a serem tratados na mesa - se mesa de tratativas houver - e mais pela forma como irão se conduzir os principais personagens em questão.

O protagonista absoluto é o presidente Luiz Inácio da Silva. No quente da derrota, ainda na Venezuela, limitou-se ao óbvio, qualificando o episódio como "coisa da democracia".

Já ontem subiu o tom, mas ainda se manteve dentro do limite do razoável para o padrão das reações presidenciais a revezes.

É de se conferir se a moderação resistirá aos discursos de improviso, principalmente aqueles já direcionados aos palanques de 2008.

Se o presidente da República der asas aos insultos e lançar desafios à oposição para que se explique diante da sociedade, mostrará que não quer diálogo nenhum.

Ademais, correrá o risco de errar o alvo. Primeiro porque a classe média certamente se identificou com a derrubada da CPMF - e aí, pela primeira vez depois de muito tempo, a oposição teve a chance de restabelecer boas relações com esse eleitorado.

E, segundo, porque todas as avaliações, inclusive de governistas, apontam conseqüências bem mais amenas que aquelas apregoadas quando a guerra congressual ainda estava em curso.

Por parte da oposição há de se testar também sua capacidade de manejar a vitória. Se subir nos saltos da petulância, achando que está com a vida ganha e que a partir de agora empareda o governo quando bem entender, também mostrará que seu negócio é faca no peito.

Nesse caso, a disposição inicial ao "entendimento" era só para fazer pose de responsável, se precaver de eventuais repercussões negativas e tentar aliviar as feridas internas por causa da posição divergente dos governadores.

A base de qualquer entendimento aceitável só pode ser a conversa institucional, de Poder para Poder, de partido para partido. O diálogo por si só não quer dizer nada.

É indispensável que tenha qualidade e, se possível, se estenda também às relações do Executivo com a Câmara dos Deputados, que paralisou os trabalhos para fazer a vontade do Planalto e saiu dessa história menor do que entrou.

Especialista

Governista, titular da Comissão de Assuntos Econômicos e suplente da Comissão Mista do Orçamento, o senador Francisco Dornelles não vê necessidade de transferir a votação do Orçamento da União para fevereiro.

Segundo ele, "em seis dias" o Congresso mesmo daria conta de fazer os ajustes necessários pós-derrubada da CPMF. Se é como diz o senador, o adiamento agora proposto visa, então, a impor desgaste político à oposição.

É do jogo.

Deixa estar

Constatação de observador interno da cena tucana: se dividido o PSDB vota unido, que se mostre, assim, verdadeiro um partido. Lato e estrito senso.



Relaxa

Chega de alguns leitores a sugestão para que o presidente Lula siga, no caso da CPMF, o conselho da ministra Marta Suplicy aos passageiros derrotados pelo caos aéreo.



Tira-teima

Foi aprovado pela Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara requerimento do deputado Raul Jungmann convidando para um debate na próxima terça-feira o presidente do Ipea e os quatro economistas demitidos do instituto, segundo eles por razões políticas, de acordo com Márcio Pochmann, por motivos técnicos.

Aos interessados em esclarecer a questão, está aberto o espaço.

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