O que não dá mais, na opinião do senador que comandou a resistência da bancada contra a pressão do governo e, sobretudo, dos governadores tucanos, é o PSDB continuar atuando como "oposição pronto-socorro".
"A pretexto de sermos responsáveis acabamos servindo como bote salva-vidas do governo quando ele está em dificuldade. Resultado: perdemos o nosso peso simbólico e não conseguimos ser reconhecidos como força política de oposição porque nos prestamos ao papel de estepe."
Arthur Virgílio também não acha que o caminho correto seja o da intransigência total. "É preciso encontrar um meio-termo entre o tudo ou nada e a flacidez de posições." O senador rende homenagens à estratégia dura do Democratas - "nossos parceiros preferenciais, inclusive em termos eleitorais" -, mas pondera que os objetivos e os momentos dos dois partidos impõem atuações diferentes.
Sem projeto de poder à vista, o DEM pode agir com mais liberdade. "Nós, como temos dois candidatos a presidente e que são governadores, não podemos dispensar o instrumento do recuo e da cautela para poder avançar com segurança."
Pois, então, não seria esse raciocínio incongruente com a trombada entre a posição defendida pelos governadores e a decisão tomada pelos senadores?
"Não. Do ponto de vista eleitoral, a posição da bancada acaba dando respaldo à construção de candidaturas marcantes; do contrário, entraremos na disputa em posição inicial de vantagem, mas mais fragilizados para enfrentar o candidato de Lula no segundo turno, por falta de personalidade partidária. Por que o PT é forte? Porque tem personalidade, gostemos dela ou não."
Sob o aspecto da vida do partido e da sua atuação parlamentar, Arthur Virgílio argumenta que a divergência com os governadores é sinal de vivacidade. "Divergimos, discutimos, tomamos decisões, cumprimos o decidido e, com isso, começamos a mostrar que estamos vivos."
O líder defende a solidariedade interna. Diz que na hora em que for preciso conversa com José Serra e Aécio Neves, reconhece que há feridas abertas, mas não vê utilidade na vivência dessas mágoas. "Não podemos chorar pelos cantos, quem perdeu foi o governo."
Numa demonstração de que há curativos a serem feitos, permite-se um desabafo: "Considerei um erro retumbante o apoio do partido a Arlindo Chinaglia, mas não fiz nenhuma crítica em público, resolvi para dentro." A referência não poderia ser mais explícita à articulação de Serra e Aécio (até hoje negada pelos dois) em favor da eleição do petista para a presidência da Câmara.
Agora, para resolver a questão de uma vez por todas sobre a melhor linha a ser adotada, Arthur Virgílio propõe que se faça uma ampla consulta ao partido - "à juventude principalmente" - para saber se o PSDB "deve agir como apêndice do governo para se mostrar confiável e responsável ou se ganha mais força investindo na personalidade própria".
A convicção de que vence a segunda hipótese o fez correr o risco de bancar a posição de resistência. "Poderia ter quebrado a cara, mas pelas reações que percebo e recebo, não quebrei."
Missão Múcio
O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, vai se dedicar na próxima semana inteiramente ao Senado. Fará uma peregrinação senador a senador em busca de uma relação mais civilizada com a oposição e da reconstrução das pontes com os dissidentes da base aliada.
A chave de tudo, na opinião dele, é a recuperação da confiança. José Múcio acha que a primeira providência é o governo passar a cumprir acordos. "É a origem de tudo e a regra número um para a restauração do entendimento."
O ministro fará uma espécie de radiografia da derrota, a fim de identificar as razões dos votos contrários entre os aliados. "Ali houve recados enviados e ressentimentos armazenados."
A derrota, reafirma, foi "pedagógica". Serviu para o governo medir seu distanciamento do Senado e perceber que a maioria de 53 senadores é apenas formal. "Hoje temos, na melhor das hipóteses, o quórum constitucional de 49 votos. Precisamos ver se isso é ocasional ou permanente e mudar a situação que, no momento, é de total insegurança."
De ouvido
O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral Filho, coleciona as notícias sobre o desejo da cúpula do PMDB de fazê-lo candidato à Presidência da República em 2010 e não dá uma palavra a respeito. Mas adora ouvir o que se diz a esse respeito.