Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 16, 2007

Celso Ming

A encrenca dos ''''Ninjas''''


Estão em curso três grandes operações que atacam a crise das hipotecas de alto risco. Mas elas não avançam sobre a origem de tudo.

A primeira operação, arquitetada por três grandes bancos (Citigroup, JP Morgan e Bank of America), é a criação de um superfundo de US$ 75 bilhões que se encarregaria de comprar (com certo desconto) hipotecas micadas. Apesar das bênçãos do secretário do Tesouro, Henry Paulson, o mercado recebeu a idéia com forte dose de desconfiança.

A outra frente foi a decisão do governo americano de congelar por cinco anos os juros pagos pelo tomador de financiamentos habitacionais que prevêem repactuação (reajuste). A reação prevalecente é de que se trata de um teatro montado com fins eleitorais e não de uma ação eficaz.

A terceira foi a atuação coordenada de cinco bancos centrais (o Federal Reserve, dos Estados Unidos; o Banco Central Europeu, da zona do euro; o Banco da Inglaterra, o Banco Nacional da Suíça e o Banco do Canadá). Tem por objetivo criar linhas especiais de socorro aos bancos que não vêm obtendo crédito de outros bancos. É uma intervenção aparentemente inevitável que garante certo fôlego aos bancos. Mas pára por aí.

Antes de prosseguir, convém puxar o foco de luz sobre o problema de base. Todo esse negócio depende de captar no mercado recursos a prazos curtos para repassá-los a compradores de imóveis, que os vão quitar em até 20, 25 ou 30 anos, em (relativamente) suaves mensalidades.

Com medo de perder lucro e fatia do mercado, os bancos americanos (e de outros países ricos) participaram de um rali de crédito. Quando os segmentos ocupados por bons pagadores se esgotaram, atacaram a turma de baixo, os tais Ninjas (no income, no job, no assets - sem salário, sem emprego e sem patrimônio), sem olhar sua capacidade de honrar compromissos. É a faixa sub dos subprime que, por sua vez, é apenas uma parcela do mercado mas foi capaz de armar toda a encrenca.

E os recursos, de onde vieram? Os bancos enfiaram as hipotecas, entendidas como recebíveis a longo prazo, em pacotes de nomes complicados (SIV, ou Veículos de Investimentos Estruturados, é um deles) e as repassaram como cotas de fundos para os aplicadores. Essas cotas podem ser resgatadas em prazos relativamente curtos, dependendo do formato da aplicação.

Mas chegou o dia em que a prestação imobiliária não coube mais no orçamento do Ninja e a inadimplência aumentou. E veio a execução das hipotecas (retomada do imóvel), a sobra de imóveis e a queda dos preços. Com a desvalorização, os imóveis já não davam plena garantia para o empréstimo. Foi quando os investidores se deram conta de que o retorno de suas aplicações corria risco e engrossaram os pedidos de resgate das cotas dos fundos. Quando as companhias hipotecárias e os bancos tiveram de suspender os resgates por falta de tomador para as cotas, a bolha estourou.

As tentativas de resolver a crise externa esbarram nos limites das intervenções. A operação dos bancos centrais apenas tenta desobstruir canais de crédito e reesticar prazos. Não provê conserto para a incapacidade técnica dos mutuários subprime de pagar suas prestações.

E parece afastada a hipótese de que os bancões atolados no negócio paguem todo o preço pelos créditos incompetentes feitos por eles.
Animado com a performance da bancada do PSDB na derrubada da CPMF, mas ainda sem conseguir medir com precisão as perdas e os ganhos políticos do gesto, o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio, acha que daqui para frente os tucanos devem ser diferentes: "O PSDB precisa aprender a correr riscos e pagar os preços por isso, sejam altos ou baixos, benéficos ou maléficos."

O que não dá mais, na opinião do senador que comandou a resistência da bancada contra a pressão do governo e, sobretudo, dos governadores tucanos, é o PSDB continuar atuando como "oposição pronto-socorro".

"A pretexto de sermos responsáveis acabamos servindo como bote salva-vidas do governo quando ele está em dificuldade. Resultado: perdemos o nosso peso simbólico e não conseguimos ser reconhecidos como força política de oposição porque nos prestamos ao papel de estepe."

Arthur Virgílio também não acha que o caminho correto seja o da intransigência total. "É preciso encontrar um meio-termo entre o tudo ou nada e a flacidez de posições." O senador rende homenagens à estratégia dura do Democratas - "nossos parceiros preferenciais, inclusive em termos eleitorais" -, mas pondera que os objetivos e os momentos dos dois partidos impõem atuações diferentes.

Sem projeto de poder à vista, o DEM pode agir com mais liberdade. "Nós, como temos dois candidatos a presidente e que são governadores, não podemos dispensar o instrumento do recuo e da cautela para poder avançar com segurança."

Pois, então, não seria esse raciocínio incongruente com a trombada entre a posição defendida pelos governadores e a decisão tomada pelos senadores?

"Não. Do ponto de vista eleitoral, a posição da bancada acaba dando respaldo à construção de candidaturas marcantes; do contrário, entraremos na disputa em posição inicial de vantagem, mas mais fragilizados para enfrentar o candidato de Lula no segundo turno, por falta de personalidade partidária. Por que o PT é forte? Porque tem personalidade, gostemos dela ou não."

Sob o aspecto da vida do partido e da sua atuação parlamentar, Arthur Virgílio argumenta que a divergência com os governadores é sinal de vivacidade. "Divergimos, discutimos, tomamos decisões, cumprimos o decidido e, com isso, começamos a mostrar que estamos vivos."

O líder defende a solidariedade interna. Diz que na hora em que for preciso conversa com José Serra e Aécio Neves, reconhece que há feridas abertas, mas não vê utilidade na vivência dessas mágoas. "Não podemos chorar pelos cantos, quem perdeu foi o governo."

Numa demonstração de que há curativos a serem feitos, permite-se um desabafo: "Considerei um erro retumbante o apoio do partido a Arlindo Chinaglia, mas não fiz nenhuma crítica em público, resolvi para dentro." A referência não poderia ser mais explícita à articulação de Serra e Aécio (até hoje negada pelos dois) em favor da eleição do petista para a presidência da Câmara.

Agora, para resolver a questão de uma vez por todas sobre a melhor linha a ser adotada, Arthur Virgílio propõe que se faça uma ampla consulta ao partido - "à juventude principalmente" - para saber se o PSDB "deve agir como apêndice do governo para se mostrar confiável e responsável ou se ganha mais força investindo na personalidade própria".

A convicção de que vence a segunda hipótese o fez correr o risco de bancar a posição de resistência. "Poderia ter quebrado a cara, mas pelas reações que percebo e recebo, não quebrei."

Missão Múcio

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, vai se dedicar na próxima semana inteiramente ao Senado. Fará uma peregrinação senador a senador em busca de uma relação mais civilizada com a oposição e da reconstrução das pontes com os dissidentes da base aliada.

A chave de tudo, na opinião dele, é a recuperação da confiança. José Múcio acha que a primeira providência é o governo passar a cumprir acordos. "É a origem de tudo e a regra número um para a restauração do entendimento."

O ministro fará uma espécie de radiografia da derrota, a fim de identificar as razões dos votos contrários entre os aliados. "Ali houve recados enviados e ressentimentos armazenados."

A derrota, reafirma, foi "pedagógica". Serviu para o governo medir seu distanciamento do Senado e perceber que a maioria de 53 senadores é apenas formal. "Hoje temos, na melhor das hipóteses, o quórum constitucional de 49 votos. Precisamos ver se isso é ocasional ou permanente e mudar a situação que, no momento, é de total insegurança."

De ouvido

O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral Filho, coleciona as notícias sobre o desejo da cúpula do PMDB de fazê-lo candidato à Presidência da República em 2010 e não dá uma palavra a respeito. Mas adora ouvir o que se diz a esse respeito.

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