Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 07, 2012

Irã: a guerrilha antes da guerra - ROBERTO ABDENUR Irã: a guerrilha antes da guerra - ROBERTO ABDENUR


FOLHA DE SP - 07/03/12 


Obama e Netanyahu discordam de como lidar com o programa nuclear do governo iraniano



Agrava-se cada vez mais a tensão em torno do programa nuclear iraniano. Enquanto Netanyahu fala em atacar, Obama pede tempo para que as sanções produzam efeito e a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) reitera suas preocupações com possíveis intenções militares por parte do Irã, as eleições da semana passada naquele país resultaram na vitória do aiatolá Khamenei, um linha-dura.

Dado o curso de confrontação há décadas entre as duas capitais, esse ambiente não prenuncia uma evolução favorável da questão, mediante negociações diplomáticas.

Obama proclama que os EUA jamais aceitarão um Irã nuclearmente armado, mas acredita no efeito das sanções. Netanyahu, de seu lado, não se contenta com nada menos do que a desistência do Irã de seu programa nuclear, o que, insinua Obama, não é realista.

Para Israel, não cabe condenar o programa iraniano apenas quando estiver a produzir uma bomba. É inaceitável que aquele país chegue a dispor da capacidade para tanto, o que se daria em pouco tempo mais.

Nisso tudo, é interessante notar a verdadeira guerrilha verbal em que se empenham Netanyahu e Obama. Em pronunciamento perante a Aipac, o poderoso lobby pró-Israel, Obama reforçou suas juras de solidariedade e apoio, chegando a afirmar estar disposto, em último caso, a recorrer a uma ação militar. Ponderou, contudo, ainda não ser chegado esse momento.

Indicou os sérios riscos que uma conflagração teria na região e no contexto político e econômico internacionais, inclusive por força de uma explosão nos preços do petróleo. E criticou o excessivo falatório sobre o problema.

No posterior encontro de três horas com Netanyahu na Casa Branca, o clima foi tenso. Obama reiterou sua posição, mas Netanyahu expressou sua descrença nos meios diplomáticos e reafirmou o direito soberano de Israel de defender-se. Netanyahu gostaria de ver os EUA concordarem com critérios estritos e um cronograma para um ataque, ao que aparentemente resistiu Obama.

O americano, por sua vez, não terá propriamente vetado a priori um ataque israelense. Apenas o haveria desaconselhado por enquanto.

Na noite de segunda-feira, Netanyahu fez dramático pronunciamento perante a Aipac, relembrando o Holocausto e afirmando que as sanções não funcionam e o tempo se esgota. Numa crítica indireta a Obama, colocou no mesmo saco os que consideram demasiado arriscado um conflito e aqueles que foram inertes diante do Holocausto.

A guerrilha verbal entre Netanyahu e Obama não é nova. Vem de há muito.

Suas discordâncias começaram a propósito da questão palestina. Netanyahu venceu aquela queda de braço. Agora, ao que tudo indica, houve algo como um empate.

Afigura-se improvável que Israel, sem o apoio de Washington, ataque o Irã nos próximos meses, o que criaria imenso desafio para Obama no contexto de sua luta pela reeleição. Mas Netanyahu marcou bem suas posições perante um establishment político que nos EUA é bipartidário no apoio a Israel.

A hipótese de uma guerra parece afastada de momento, mas tudo pode acontecer após as eleições presidenciais norte-americanas.

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