O Globo - 25/03/2012 |
O julgamento do caso do mensalão não está tirando o sono apenas dos cidadãos que temem as manobras protelatórias dos 38 acusados, entre eles figuras de influência política como José Dirceu, ex-chefe do Gabinete Civil de Lula e importante liderança petista, (corrupção ativa de outros políticos, formação de quadrilha e peculato) e o deputado federal petista João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara (corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato). Também os ministros do Supremo Tribunal Federal estão preocupados com as manobras protelatórias que volta e meia são especuladas na imprensa, como a possibilidade de o julgamento não se realizar este ano devido às eleições municipais. Nunca essa questão foi discutida entre eles, asseguram os ministros, preocupados em afastar ligações políticas das decisões do Tribunal. É majoritária a percepção entre eles de que o caso tem que ser julgado logo, para que não pairem dúvidas sobre sua condução. O atraso do julgamento, que já não deve se realizar em maio, como previsto, tem interessados diretos, como o deputado João Paulo Cunha, que pretende se candidatar a prefeito de Osasco. Se for condenado no processo do mensalão, ficará impedido de concorrer, enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de políticos condenados por colegiado. Mas se o julgamento acontecer apenas em agosto, ele poderia disputar a eleição, já que o registro da candidatura precisa ser feito até o dia 5 de julho, e é concedido de acordo com a situação do político naquela data. Mas, ainda assim, Cunha correria riscos, pois há interpretações de que, condenado no processo do mensalão, ele não poderia tomar posse mesmo se eleito. Com a Lei da Ficha Limpa, não há necessidade de a sentença transitar em julgado. Para João Paulo, portanto, o ideal é que o julgamento seja adiado para o próximo ano, depois de sua eventual posse na Prefeitura, caso vença a eleição. Mas a Lei da Ficha Limpa já teve efeitos entre os mensaleiros. Vários deles, inclusive o tesoureiro Delubio Soares, desistiram de se candidatar às eleições municipais. Para sorte da cidadania e azar dos mensaleiros, a partir de 18 de abril estaremos entrando em uma fase em que o Poder Judiciário será comandado por dois ministros do Supremo que, pelos seus votos e posicionamentos anteriores, têm a mesma percepção quanto a necessidade de reforçar a ética nas relações sociais: a ministra Cármem Lúcia assume o Tribunal Superior Eleitoral e o ministro Carlos Ayres Brito o Supremo Tribunal Federal. Como a Lei da Ficha Limpa tem uma nítida correlação com o julgamento do mensalão, o empenho dos dois será para que o processo entre em pauta a tempo de deixar livre o caminho para a realização das eleições sem questões jurídicas pendentes. Pelo noticiário, a ministra Cármem Lúcia já vai ter muito trabalho para implementar a legislação pela estrutura frágil da Justiça Eleitoral. A preocupação sobre a prescrição das penas para os acusados de formação de quadrilha está superada pela jurisprudência. Embora seja o de menor prazo para a prescrição - oito anos a contar da data do crime -, a interpretação mais acatada é que o prazo para a sua prescrição é contado a partir do momento em que cessa a associação, o que teria acontecido apenas em 2005, quando o então deputado Roberto Jefferson denunciou a existência do mensalão. A prescrição, portanto, seria apenas em 2013, e não em agosto deste ano, como sugeriram os advogados dos acusados e até mesmo o ministro Ricardo Lewandowski em entrevista já famosa em que admitia que alguns crimes prescreveriam antes do julgamento. Lewandowski, aliás, é peça fundamental nesse julgamento. Como revisor do voto do ministro Joaquim Barbosa, depende dele a data do seu início. Há um outro complicador para o julgamento: ele deve durar pelo menos um mês. O processo tem 50 mil páginas, divididas em 233 volumes e 495 apensos, com 38 réus, cada um com direito a apresentar sua defesa oral por uma hora. Em setembro, o atual presidente do Supremo, Cezar Peluso, fará 70 anos e terá que se aposentar. Em novembro, será a vez do ministro Ayres Brito se aposentar por idade. Por isso, ele quer que o julgamento comece ainda no primeiro semestre, para que possa finalizá-lo antes de encerrar sua carreira no Judiciário. Nos dois casos, se as manobras protelatórias surtirem efeito, o julgamento será paralisado para a nomeação pela presidente Dilma do substituto, já que é consenso que um processo dessa importância não pode se dar sem a presença dos 11 ministros no plenário. Há outros obstáculos. O ex-ministro da Justiça Marcio Thomas Bastos, por exemplo, está tentando levar o julgamento para a primeira instância, retirando o foro privilegiado de seu cliente, um diretor do Banco Rural envolvido no escândalo. Há ainda a dificuldade de compatibilizar as agendas dos ministros. As sessões normais de quarta e quinta-feiras podem não ser suficientes para concluir o julgamento em um mês, e o funcionamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não poderá ser interrompido nesse período importante do calendário eleitoral. Há a possibilidade, já admitida pelo futuro presidente Ayres Britto, de utilizar o recesso de julho para apressar o julgamento, mas certamente os que são favoráveis a um adiamento da decisão se oporão a isso. É provável que nem todos os réus sejam condenados por todos os crimes de que são acusados. Mas o certo é que os crimes não prescreverão antes de um julgamento, e a tendência é que dificilmente algum dos réus escape de pelo menos uma condenação. Segundo a Constituição, constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
domingo, março 25, 2012
O pesadelo do mensalão Merval Pereira - Merval Pereira
Arquivo do blog
-
▼
2012
(2586)
-
▼
março
(162)
- Uma história de conflitos Merval Pereira, O Globo
- Artigos
- Millôr e Brizola Claudia Antunes
- ‘Não tem nada de mais’ - a série - CARLOS ALBERTO ...
- Desindustrialização - PAULO BROSSARD
- Liberdade e regulação Denis Lerrer Rosenfield
- La Argentina, enojada con el mundo Por Joaquín Mor...
- A visita de Zecamunista João Ubaldo Ribeiro
- As prefeituras e o atraso na educação - SUELY CALDAS
- Onde cresce o emprego - CELSO MING
- O planalto e a planície - GAUDÊNCIO TORQUATO
- Desafio americano - MIRIAM LEITÃO
- Jacaré e cobra d"água - DORA KRAMER
- Perigo anunciado - DANUZA LEÃO
- Da fala ao grunhido - FERREIRA GULLAR
- A banda desafinada do governo - VINICIUS TORRES FR...
- O pesadelo do mensalão Merval Pereira - Merval Per...
- Um par de chinelos Ruy Castro
- Jornada de vexames - Editorial Estadão
- A redução do desemprego - Luiz Carlos Mendonça de ...
- Limites na coalizão Merval Pereira
- Desordem e regresso Dora Kramer
- Conversa é pouco Celso Ming
- Sustentabilidade do setor elétrico ameaçada Nelson...
- Show de realidade Nelson Motta
- Dilma já está no outono João Mellão Neto
- As rachaduras nos Brics Brahma Chellaney
- 'Privatizações', ontem e hoje Josef Barat
- União impossível - MERVAL PEREIRA
- Os 'bandidos de toga' - EDITORIAL O ESTADÃO
- O risco de uma Comissão do Acerto de Contas - DENI...
- Repartição de danos Dora Kramer
- Aberração fiscal Celso Ming
- Pátria amada Carlos Alberto Sardenberg
- O direito à morte digna Flávia Piovesan e Roberto...
- Estados e municípios sob extorsão José Serra
- Como melhorar o trânsito a custo zero (ou quase) -...
- Lúcia Guimarães - Em busca da ética digital
- O tempo escoa para Dilma - EDITORIAL O ESTADÃO
- Doença brasileira - ROLF KUNTZ
- Economia - ANTONIO DELFIM NETTO
- Desonerar para quê? - CELSO MING
- Só as reformas salvam - CRISTIANO ROMERO
- China e a balança - REGINA ALVAREZ
- Alcançar o oásis - ROBERTO DaMATTA
- O incentivo da impunidade à corrupção - EDITORIAL ...
- O Brasil e a bacia do Atlântico - ROBERTO ABDENUR
- Amigos da onça - DORA KRAMER
- Esperando Lula - MERVAL PEREIRA
- Reajuste convém sair logo em ano eleitoral - ADRIA...
- Burrocracia - MARTHA MEDEIROS
- Os serial killers não param - GILLES LAPOUGE
- Momento tenso - MERVAL PEREIRA
- Águas de março e bolhas globais - VINICIUS TORRES ...
- Inesperado cenário para o governo Dilma - EDITORIA...
- A lei, ora, a lei - EDITORIAL O ESTADÃO
- Pecado original - Dora Kramer
- O câmbio, novo custo Celso Ming
- Agenda azul Xico Graziano
- A liberdade é temerária e perigosa Rodrigo Constan...
- CLAUDIO HUMBERTO
- PIB mostra que país caminha a passo de caranguejo ...
- Fazer a coisa certa - SUELY CALDAS
- De trava em trava - CELSO MING
- Argélia: sangue e liberdade - GILLES LAPOUGE
- O Brasil no início de 2012 - JOSÉ ROBERTO MENDONÇA...
- Descontinuidades - MERVAL PEREIRA
- O jumento vai à China - GAUDÊNCIO TORQUATO
- O fascínio dos designers - ETHEVALDO SIQUEIRA
- Não matarás - ROBERTO ROMANO
- Anti-Bauhaus - FERREIRA GULLAR
- Pré-diluviano - DORA KRAMER
- MARTHA MEDEIROS - Felizes por nada
- O mais importante - DANUZA LEÃO
- Tabelinha entre a glória e a corrupção - HANS ULRI...
- A guerra com que nos enrolam - João Ubaldo Ribeiro
- Bons ventos Merval Pereira
- Pedi, e não recebereis - CELSO MING
- Tempos apocalípticos Paulo Brossard
- Celso Ming É a indústria definhando
- Em busca do tempo perdido - PEDRO MALAN
- A experiência brasileira - MERVAL PEREIRA
- É a hora e a vez dos EUA - ALBERTO TAMER
- Vem aí o Estatuto da Palavra - JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Os arrependimentos - DANUZA LEÃO
- Segurança jurídica - DORA KRAMER
- Razão, emoção e polarização - GAUDÊNCIO TORQUATO
- Desfazendo equívocos - FERREIRA GULLAR
- A missão do Banco Central - SUELY CALDAS
- Círculo militar Míriam Leitão
- Percalços da presidente - EDITORIAL ESTADÃO
- À espera de uma fagulha - GILLES LAPOUGE
- Guerra cambial e custo Brasil - MÁRCIO GARCIA
- Faltou explicação - CELSO MING
- Crescimento da economia em 2011 - LUIZ CARLOS MEND...
- Fim de farra - MERVAL PEREIRA
- Não levo meus netos para ver esse futebol - IGNÁCI...
- Nova lógica - MIRIAM LEITÃO
- Não é força, é jeito - DORA KRAMER
- A profecia: a nova bolha - VINICIUS TORRES FREIRE
-
▼
março
(162)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA