Ninguém permanecerá indiferente ao visitar a exposição dos irmãos
Campana, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio.
Trata-se de uma retrospectiva que é, ao mesmo tempo, a seleção do que
de melhor realizaram entre os anos de 1989 e 2009, quando esses
trabalhos foram expostos noVitra Design Museum, de Weil am Rhein, na
Alemanha.
Ela se intitula "Anticorpos" e reúne peças de mobiliário, joias,
instalações e obras de artes plásticas, numa rara demonstração de
criatividade e audácia. Vendo-os, entende-se por que Fernando e
Humberto Campana se tornaram nomes conhecidos e prestigiados no âmbito
do design industrial.
Nascidos no interior de São Paulo -Humberto em Rio Claro, em 1953 e
Fernando em Brotas, em 1961- ainda que um deles se tenha formado em
direito e o outro em arquitetura, os dois deveriam se juntar, um pouco
mais adiante, para constituir uma dupla voltada prioritariamente para
o desenho de móveis e onde se revelariam excepcionalmente audaciosos e
inventivos.
Embora sejam hoje conhecidos internacionalmente, ainda poucos os
conhecem no Brasil. Basta dizer que levaram uma década, após esse
reconhecimento, para ter uma primeira peça de sua autoria reproduzida
aqui.
Na verdade, foi na Itália -para onde se haviam transferido no final da
década de 80- que desenvolveram o trabalho de designers e obtiveram
reconhecimento.
Ao que se sabe, uma luminária, intitulada "Estela", que expuseram em
1997, em Milão, bastou para lhes conferir posição de destaque na
indústria italiana de design. Aqui, isto seria impossível, mesmo
porque, naquela época, a presença do design no circuito de arte no
Brasil era praticamente nenhuma, conforme observou Ana Weiss.
Ao contrário disso, a Itália -particularmente, Milão-, a partir de
meados do século 20, tornara-se um dos campos mais propícios ao
desenvolvimento artístico e mercadológico desse tipo de arte.
A exposição dos irmãos Campana, no CCBB, surpreende e encanta pela
originalidade e riqueza das peças expostas, tanto pela variabilidade
dos materiais utilizados (ou reutilizados) -que vão de cordas, cabos
de plástico, madeira, borracha, pano, papelão- como pelo inusitado da
concepção formal das obras expostas, sejam poltronas, cadeiras, mesas,
camas ou luminárias, sem falar em objetos aparentemente sem qualquer
função prática.
Mas o que essa exposição particularmente me revelou (ou me fez
descobrir) foi uma inesperada relação, hoje, entre o design e a
chamada arte contemporânea. Começa pelo fato de que ambos abandonaram
as normas e os limites que os caracterizavam antes, no começo do
século 20.
É interessante observar que, naquele momento, enquanto no âmbito das
artes plásticas procedia-se à desintegração das linguagens estéticas,
a Bauhaus, no campo do desenho industrial, redesenhava o mobiliário,
substituindo o decorativismo superficial e excessivo mau gosto por
formas limpas, determinadas pela estrita funcionalidade. E essa
tendência se manteve por décadas, com poucas alterações.
Enquanto isso, as artes plásticas -à exceção da pintura geométrica que
geraria o concretismo- seguindo a tendência anti-arte de Duchamp,
abandonavam os suportes tradicionais e partiam para criar instalações
e promover happenings.
Em consequência disso, uma parte da arte conceitual, passou a valer-se
de toda e qualquer coisa ou material, para expressar-se, optando, em
geral, pelo chocante e pelo deliberado mau gosto, que a caracterizaria
como anti-arte.
Nada disso se encontra no que nos mostram Fernando e Humberto Campana.
O que os aproxima da arte contemporânea é o descompromisso com
quaisquer normas estéticas pré-estabelecidas. No caso deles, porque se
trata de criar objetos funcionais -como poltronas ou luminárias ou
cadeiras ou camas- em certos momentos essa funcionalidade é
desconsiderada.
É quando a expressão se sobrepõe à função ou a subverte. Mas como,
ainda assim, a poltrona continua poltrona -já que sua forma se mantém
reconhecível-, escapa à arbitrariedade que caracteriza a arte
conceitual. Pode-se dizer que eles são anti-Bauhaus mas não anti-arte.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
domingo, março 18, 2012
Anti-Bauhaus - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 18/03/12
Arquivo do blog
-
▼
2012
(2586)
-
▼
março
(162)
- Uma história de conflitos Merval Pereira, O Globo
- Artigos
- Millôr e Brizola Claudia Antunes
- ‘Não tem nada de mais’ - a série - CARLOS ALBERTO ...
- Desindustrialização - PAULO BROSSARD
- Liberdade e regulação Denis Lerrer Rosenfield
- La Argentina, enojada con el mundo Por Joaquín Mor...
- A visita de Zecamunista João Ubaldo Ribeiro
- As prefeituras e o atraso na educação - SUELY CALDAS
- Onde cresce o emprego - CELSO MING
- O planalto e a planície - GAUDÊNCIO TORQUATO
- Desafio americano - MIRIAM LEITÃO
- Jacaré e cobra d"água - DORA KRAMER
- Perigo anunciado - DANUZA LEÃO
- Da fala ao grunhido - FERREIRA GULLAR
- A banda desafinada do governo - VINICIUS TORRES FR...
- O pesadelo do mensalão Merval Pereira - Merval Per...
- Um par de chinelos Ruy Castro
- Jornada de vexames - Editorial Estadão
- A redução do desemprego - Luiz Carlos Mendonça de ...
- Limites na coalizão Merval Pereira
- Desordem e regresso Dora Kramer
- Conversa é pouco Celso Ming
- Sustentabilidade do setor elétrico ameaçada Nelson...
- Show de realidade Nelson Motta
- Dilma já está no outono João Mellão Neto
- As rachaduras nos Brics Brahma Chellaney
- 'Privatizações', ontem e hoje Josef Barat
- União impossível - MERVAL PEREIRA
- Os 'bandidos de toga' - EDITORIAL O ESTADÃO
- O risco de uma Comissão do Acerto de Contas - DENI...
- Repartição de danos Dora Kramer
- Aberração fiscal Celso Ming
- Pátria amada Carlos Alberto Sardenberg
- O direito à morte digna Flávia Piovesan e Roberto...
- Estados e municípios sob extorsão José Serra
- Como melhorar o trânsito a custo zero (ou quase) -...
- Lúcia Guimarães - Em busca da ética digital
- O tempo escoa para Dilma - EDITORIAL O ESTADÃO
- Doença brasileira - ROLF KUNTZ
- Economia - ANTONIO DELFIM NETTO
- Desonerar para quê? - CELSO MING
- Só as reformas salvam - CRISTIANO ROMERO
- China e a balança - REGINA ALVAREZ
- Alcançar o oásis - ROBERTO DaMATTA
- O incentivo da impunidade à corrupção - EDITORIAL ...
- O Brasil e a bacia do Atlântico - ROBERTO ABDENUR
- Amigos da onça - DORA KRAMER
- Esperando Lula - MERVAL PEREIRA
- Reajuste convém sair logo em ano eleitoral - ADRIA...
- Burrocracia - MARTHA MEDEIROS
- Os serial killers não param - GILLES LAPOUGE
- Momento tenso - MERVAL PEREIRA
- Águas de março e bolhas globais - VINICIUS TORRES ...
- Inesperado cenário para o governo Dilma - EDITORIA...
- A lei, ora, a lei - EDITORIAL O ESTADÃO
- Pecado original - Dora Kramer
- O câmbio, novo custo Celso Ming
- Agenda azul Xico Graziano
- A liberdade é temerária e perigosa Rodrigo Constan...
- CLAUDIO HUMBERTO
- PIB mostra que país caminha a passo de caranguejo ...
- Fazer a coisa certa - SUELY CALDAS
- De trava em trava - CELSO MING
- Argélia: sangue e liberdade - GILLES LAPOUGE
- O Brasil no início de 2012 - JOSÉ ROBERTO MENDONÇA...
- Descontinuidades - MERVAL PEREIRA
- O jumento vai à China - GAUDÊNCIO TORQUATO
- O fascínio dos designers - ETHEVALDO SIQUEIRA
- Não matarás - ROBERTO ROMANO
- Anti-Bauhaus - FERREIRA GULLAR
- Pré-diluviano - DORA KRAMER
- MARTHA MEDEIROS - Felizes por nada
- O mais importante - DANUZA LEÃO
- Tabelinha entre a glória e a corrupção - HANS ULRI...
- A guerra com que nos enrolam - João Ubaldo Ribeiro
- Bons ventos Merval Pereira
- Pedi, e não recebereis - CELSO MING
- Tempos apocalípticos Paulo Brossard
- Celso Ming É a indústria definhando
- Em busca do tempo perdido - PEDRO MALAN
- A experiência brasileira - MERVAL PEREIRA
- É a hora e a vez dos EUA - ALBERTO TAMER
- Vem aí o Estatuto da Palavra - JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Os arrependimentos - DANUZA LEÃO
- Segurança jurídica - DORA KRAMER
- Razão, emoção e polarização - GAUDÊNCIO TORQUATO
- Desfazendo equívocos - FERREIRA GULLAR
- A missão do Banco Central - SUELY CALDAS
- Círculo militar Míriam Leitão
- Percalços da presidente - EDITORIAL ESTADÃO
- À espera de uma fagulha - GILLES LAPOUGE
- Guerra cambial e custo Brasil - MÁRCIO GARCIA
- Faltou explicação - CELSO MING
- Crescimento da economia em 2011 - LUIZ CARLOS MEND...
- Fim de farra - MERVAL PEREIRA
- Não levo meus netos para ver esse futebol - IGNÁCI...
- Nova lógica - MIRIAM LEITÃO
- Não é força, é jeito - DORA KRAMER
- A profecia: a nova bolha - VINICIUS TORRES FREIRE
-
▼
março
(162)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA