A troca de ministro da pasta da Pesca tem vários significados, nenhum
deles relacionado à versão palaciana de que o senador Marcelo Crivella
"prestará relevantes serviços ao Brasil" depois do trabalho feito (?)
pelo deputado Luiz Sérgio ao qual o governo empresta "profundo
reconhecimento".
Relação alguma, tampouco, com a necessidade de "prestar uma homenagem"
ao falecido vice-presidente José Alencar por ter sido do PRB agora
presenteado por Dilma Rousseff.
A substituição diz respeito ao movimento de redução de danos
eleitorais que o Planalto vem empreendendo na direção das "igrejas".
Crivella é um líder importante no segmento evangélico (foi eleito
senador por isso) no qual o governo federal enxerga um potencial
grande de prejuízo se não estabelecer com ele alguns compromissos de
caráter preventivo.
A entrega de uma pasta cuja importância é nenhuma, basta? Não, mas é
um gesto. Precedido de outro, antes do carnaval, quando a presidente
Dilma Rousseff fez do secretário-geral da Presidência, Gilberto
Carvalho, seu enviado especial à bancada evangélica no Congresso para
dissolver "mal-entendidos".
Basicamente três: a opinião da ministra de Política para Mulheres
sobre aborto, as cartilhas anti-homofobia encomendadas pelo Ministério
da Educação na gestão de Fernando Haddad e declarações do próprio
Gilberto Carvalho no Fórum Social de Porto Alegre sobre a necessidade
de o PT disputar a classe média emergente com "setores conservadores",
segundo ele dominados pelos evangélicos.
Como se vê agora pela entrega de um ministério – ainda que
desimportante, dado que a generosidade do PT no quesito perda de
espaços tem limites estreitos–, a ofensiva continua.
Não por acaso ontem mesmo Haddad tratou de se declarar contra o aborto.
Duas inverdades são esclarecidas nesse episódio: uma a de que a
presidente não se envolverá em eleições e outra dá conta de sua recusa
a incluir ministérios na mesa de negociações políticas.
Sob essa alegação de princípios Marta Suplicy não ganhou lugar na
Esplanada para desistir da candidatura a prefeita. Mas os evangélicos
ganharam, na expectativa de que persistam no apoio ao governo.
Calcanhar
Aliados de Serra atestam sua desistência de disputar a Presidência em
2014 a fim de aplicar um antídoto antecipado ao discurso adversário
sobre a hipótese de, se eleito, renunciar como fez em 2006 para
concorrer ao governo de São Paulo e depois em 2010 para ser candidato
à presidencial.
O próprio, quando confrontado com o assunto, diz o seguinte: "O
projeto Presidência fica para depois".
Sim, mas depois quando? "Aí tenho de confiar na minha juventude."
O tema, no entanto, vai permear a campanha e na seara tucana há quem
tenha argumento engatilhado: se houvesse condenação incontornável a
renúncias, Serra não teria sido eleito governador depois de deixar a
prefeitura.
Faca de gume duplo que poderá não soar convincente ao eleitorado
Confusão à toa
Militares da reserva insistem em confrontar os fatos e desqualificar
autoridade do ministro da Defesa por causa da Comissão da Verdade,
segundo eles "um ato de revanchismo explícito e de afronta à lei da
Anistia".
Criam um caso, desprovidos de sustentação consistente. A comissão é
fruto de lei e não tem poder sequer de sugerir punições: seu objetivo
é relatar ao país as agressões aos direitos humanos ocorridas durante
o regime autoritário.
A reação desses militares não se justifica entre outros motivos porque
o Supremo Tribunal Federal já decidiu que a anistia é intocável.
Portanto, quaisquer ações judiciais pedindo punições a partir de
informações levantadas pela Comissão da Verdade cairiam no Supremo.
A única possibilidade seria o Congresso alterar a Lei da Anistia, o
que está inteiramente fora de cogitação.