O Estado de S. Paulo - 04/01/2012 |
Apesar das explicações e, mais do que isso, apesar do que mostrou, a atuação do Banco Central no primeiro ano do governo Dilma levanta dúvidas sobre quantas metas a política monetária (política de juros) tenta perseguir.
Em janeiro, seu novo presidente, Alexandre Tombini, já avisava que, em 2011, desistira de entregar a meta cheia de inflação (4,5%). Esse objetivo ficaria para depois, mais precisamente para este ano. O argumento, mais implícito do que explícito, foi o de que o choque de oferta das commodities e a forte alta dos alimentos, em final de 2010 e início de 2011, tornavam impraticável o cumprimento do propósito.
O adiamento do cumprimento da meta cheia já pareceu comportamento fora dos padrões – uma vez que a banda de ajuste, de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo, existe para compensar casos extraordinários de desvios do centro do alvo.
Mais adiante se viu que algo novo vinha sendo engendrado. Além de meta de inflação, o Banco Central se encarregaria de calibrar sua política monetária para cumprir uma meta de juros, em torno de 9,0% e 9,5%, em 2012.
Mesmo com os desmentidos de praxe, entendeu-se que o Banco Central não trabalharia mais com toda autonomia. Passaria a atuar mais afinado com o Ministério da Fazenda e mais focado no aumento da atividade produtiva.
Portanto, na concepção econômica voluntarista do governo Dilma, o Banco Central não se limitaria a enfiar a inflação para dentro da meta, mas, na condição de coexecutor de uma política econômica de viés desenvolvimentista e mais protecionista, ajudaria a perfazer outros três objetivos de governo: (1) assegurar o avanço do PIB da ordem de 4% a 5% ao ano: derrubar juros básicos (Selic) para o patamar de um dígito, entre 9,5% e 9,0% ao ano; e desvalorizar o real em relação ao dólar.
Nessa estratégia, o aprofundamento da crise internacional e o subsequente achatamento dos preços das commodities concorreriam para controlar a inflação. O Ministério da Fazenda intensificaria políticas macroprudenciais cujo efeito colateral seria conter moderadamente o crédito. O compromisso com a obtenção do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) seria reforçado para abrir caminho para a derrubada dos juros básicos (Selic) e, assim, ajudaria a dar cumprimento à meta dos juros.
O arranjo econômico funcionou somente em parte. O governo Dilma está entregando pouco mais da metade do crescimento econômico prometido (veja o gráfico). O consumo cresce quase o dobro da produção. Aumentou o risco de que 2012 termine com um avanço do PIB não superior a 2,5% e de que a inflação avance para além dos 6,0%. Nessas condições, até mesmo o cumprimento da pretendida meta de juros pode não se concretizar, porque o Banco Central pode vir a ser obrigado a voltar a puxar os juros para cima. Esse quadro mostra que, cedo ou tarde, todo o governo Dilma terá de refazer suas escolhas. Não terá como perseguir tantas metas como as pretendidas ao longo do ano passado.
O comportamento estagnante do cenário internacional, que poderia ajudar a conter a inflação, já trabalha contra a obtenção de um impulso do PIB de 4,5% a 5,0%, tal como pretendido pelo governo Dilma – por conspirar contra a elevação das exportações de produtos industrializados. O Banco Central já avisou não esperar por crescimento da atividade econômica superior a 3,5%.
Menos produção implica certa quebra na arrecadação esperada e ameaça também o superávit desejado das contas públicas, na medida em que o Tesouro enfrentará ainda mais despesas num ano eleitoral.
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quarta-feira, janeiro 04, 2012
Metas demais Celso Ming
Arquivo do blog
-
▼
2012
(2586)
-
▼
janeiro
(218)
- O iPad, os chineses e nós Pedro Doria
- Naufrágio do euro continua Gilles Lapouge
- Longe de uma solução Celso Ming
- É o câmbio, é o câmbio... - Denfim Netto
- O dono do voto Dora Kramer
- A última chance Merval Pereira
- Contágio português Miriam Leitão
- TCU, o mordomo da hora - Denise Rothenburg
- Conselho a Cabral Ricardo Noblat
- Questão de decoro Melchiades Filho
- O tango do crioulo doido Roberto Giannetti da Fon...
- A fraude na renúncia Demóstenes Torres
- Funai e meio ambiente Denis Lerrer Rosenfield
- Da janela vê-se Primrose Hill Ivan Lessa
- O sobrenatural sumiço da direita Eugênio Bucci
- Aperto na lei seca-Dora Kramer
- No mesmo barco Merval Pereira
- Alianças cruzadas - Gaudêncio Torquato
- Juventude, velhice Danuza Leão
- Nasce o poema Ferreira Gullar
- No mesmo passo - Míriam Leitão
- Bazucas em ação - Celso Ming
- Meta de crescimento - Amir Khair
- BC e Fed, a meta é crescer - ALBERTO TAMER
- Capitalismo sem rumo? - SUELY CALDAS
- Governo do trilhão - MIRIAM LEITÃO
- Energia cara demais - CELSO MING
- Manter o sonho - MERVAL PEREIRA
- Oposição sem rumo - MARCO ANTONIO VILLA
- Prazeres da "melhor idade" - RUY CASTRO
- Pleno emprego e juros - CELSO MING
- O que representa o Obelisco - JOÃO MELLÃO NETO
- Meta de juros - MIRIAM LEITÃO
- Alta ansiedade - DORA KRAMER
- Darth Vaders de toga - NELSON MOTTA
- Tão perto, tão longe - HÉLIO SCHWARTSMAN
- Por que alguns malfeitos tornam-se escândalos? - M...
- Merval Pereira - Em busca do caminho
- Tráfico e classe média Carlos Alberto Di Franco
- 2012: sem catástrofe, mas ainda dificil José Rober...
- Kassab e o espírito do tempo - VINICIUS TORRES FREIRE
- G-20 diz não à zona do euro - ALBERTO TAMER
- Saindo do faz de conta - SUELY CALDAS
- A tempestade pode não vir - CELSO MING
- A competitividade chinesa - MERVAL PEREIRA
- Que rei sou eu? - MÍRIAM LEITÃO
- Dura Lex - FERREIRA GULLAR
- Fora da curva - DORA KRAMER -
- Paris 2012 - DANUZA LEÃO
- As nossas coisas atípicas - GAUDÊNCIO TORQUATO
- "Olha a cabeleira do Zezé" - Carlos Brickmann,
- Travas no Mercosul - CELSO MING
- Justiça degradada - EDITORIAL FOLHA DE SP
- O verdadeiro problema - EDITORIAL O ESTADÃO
- A China inova - MERVAL PEREIRA
- Dúvidas do álcool - MIRIAM LEITÃO
- Transparência pública - HÉLIO SCHWARTSMAN
- Controle da magistratura - IVES GANDRA DA SILVA MA...
- Balé paulistano - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Carros de sobra - MIRIAM LEITÃO
- O STF e a maconha - MERVAL PEREIRA
- Enquanto Inês é viva - ELIANE CANTANHÊDE
- Os direitos humanos do dinheiro - VINICIUS TORRES ...
- Todos por um Dora Kramer
- Pior sem elas Celso Ming
- Sombras do passado Nelson Motta
- O crescimento necessário Rogério Furquim Werneck
- Em torno do verbo blindar Fernando Gabeira
- É preparar-se para o pior - CELSO MING
- Na descendente - MIRIAM LEITÃO
- O parto da montanha - DORA KRAMER
- Bom sinal - MERVAL PEREIRA
- Havel, cebolas e cenouras - DEMÉTRIO MAGNOLI
- Crise? Não ligue para ela... Alberto Tamer
- BNDES - mais recursos do Tesouro Roberto Macedo
- No meu tempo Zuenir Ventura
- Arrogância - ANTONIO DELFIM NETTO
- O vento bom - MIRIAM LEITÃO
- Sem oposição - MERVAL PEREIRA
- Corpo & alma - ROBERTO DaMATTA
- Especulações chinesas - VINICIUS TORRES FREIRE
- Efeito fio de cabelo Celso Ming
- Cabeça de juiz Dora Kramer
- PCHs - em coma induzido Adriano Pires e Abel Holtz
- Nova defesa para o cofre Rolf Kuntz
- ... E os oligarcas ainda mandam José Nêumanne
- De aço ou renda DORA KRAMER
- A charada do etanol - EDITORIAL O ESTADÃO
- O primeiro ano do governo Dilma - LUIZ CARLOS MEND...
- Abuso legal - DENIS LARRER ROSENFIELD
- Oposição por dentro - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
- Povo bobo - RICARDO NOBLAT
- O Etanol e política - JOSÉ GOLDEMBERG
- Gregos e troianos - GEORGE VIDOR
- A China não é mais aquela Vinicius Torres Freire
- Sem futuro - SUELY CALDAS
- Os sem direitos - MIRIAM LEITÃO
- Reflexões sobre a USP - CELSO LAFER
- O aparelho dos Coelho antecedeu o do PT - ELIO GAS...
- Desemprego, o risco esquecido - ALBERTO TAMER
-
▼
janeiro
(218)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA