O Estado de S. Paulo - 06/05/2011 |
Há uma boa probabilidade de que a inflação de abril, medida pelo IPCA, a ser divulgada hoje, aponte para uma evolução dos preços de mais de 6,5% em 12 meses. Se esse estouro da meta anual da inflação for confirmado, a grande briga na economia pela defesa da renda e do patrimônio também irá se acirrar. Nessa briga, tenderá a se acelerar o processo de reindexação da economia, ou seja, de correção de preços e valores pela inflação passada (correção monetária), procedimento que tende a perpetuar a inflação. A indexação não é uma instituição que funciona só no Brasil, mas ela começou por aqui e, apesar de tudo quanto se fez para erradicá-la, continua viva. A correção monetária foi instituída pelo então ministro do Planejamento do primeiro governo militar (Castelo Branco), Roberto Campos, em março de 1964. Foi quando a caderneta de poupança foi relançada, desta vez com correção monetária equivalente à inflação passada, com o objetivo de estimular a formação de poupança depois de muitos anos em que as aplicações financeiras foram esmerilhadas pela inflação. A ideia do ministro Roberto Campos era limitar a correção monetária apenas à caderneta, para que os próprios efeitos da alta de preços atuassem para atacar a inflação. Mas, dois anos depois, em 1966, para melhorar as condições do mercado de trabalho, o governo Castelo Branco entendeu que devesse trocar o estatuto da estabilidade no emprego (garantia do emprego para o funcionário com dez anos de casa) por uma compensação financeira. Para isso, foi criado o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), para o qual o empregador passaria a depositar mensalmente na conta do seu empregado o equivalente a 8% do salário bruto. Para que esse patrimônio do trabalhador não fosse corroído pela inflação, os recursos do FGTS também passaram a ter correção monetária idêntica à da poupança. Nos anos 70, a disparada da inflação provocou a generalização da indexação da economia, que é a aplicação de algum critério de correção monetária a preços e valores. O emprego generalizado da indexação nada mais é do que um gigantesco jogo de empurra da conta da inflação para quem estiver mais perto. A indexação é um realimentador da inflação porque aumenta preços, salários e valores, na mesma proporção da inflação passada. O Plano Real não acabou com esse mecanismo, mas o tombo da inflação o estava tornando menos importante. Agora, com a subida dos preços, a indexação da economia vai novamente aumentando de proporções. O Ministério da Fazenda está estudando formas de reduzir seu impacto. As primeiras manifestações a respeito, as do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, são decepcionantes. A ideia de trocar o IGP-M na correção dos aluguéis pelo IPCA não muda em nada a natureza da indexação. E, se for por aí, é mais provável que as tentativas de acabar com ela fracassem. De todo modo, atacar a indexação é atacar o sintoma e não o problema principal, que é a inflação. Quando a inflação cair para níveis vigentes nos países avançados (cerca de 2% ao ano), a indexação poderá ser abolida por decreto. E quaisquer correções de preços e valores serão revistas mediante negociação contratual. Isso valerá para financiamentos (inclusive hipotecários), para aluguéis, contratos de leasing e salários. No entanto, enquanto a inflação continuar nesses níveis, a correção monetária continuará a ser no Brasil uma espécie de rabo que abanará o cachorro e não o contrário. CONFIRA Desabou Vai mal |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, maio 06, 2011
Rabo que abana o cachorro - Celso Ming
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