O Estado de S.Paulo - 07/05/11
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses, até abril, ficou em 6,51%, ultrapassando o limite superior da meta de inflação, de 6,5%. O ministro da Fazenda, no seu costumeiro otimismo, comentou: "Já poderemos respirar em maio". É uma visão arriscada, que os fatos podem desmentir.
O aumento de 0,77% do IPCA em abril - o mais alto registrado no mês desde 2005 - apresenta algumas melhoras: o IPCA-EX, que exclui do cálculo os preços de alimentos com comportamentos mais voláteis e combustíveis, ficou em 0,52%, ante 0,70% no mês anterior; o índice de difusão, que representa o porcentual de preços em alta, caiu para 59,38%, ante 62,23% no mês anterior; e os preços dos serviços, depois de uma alta de 0,85% em março, fecharam abril com elevação de 0,58%. Apenas os preços administrados - de responsabilidade do governo - acusam aumento de 1,29%, ante 1,05% em março. Não podemos esquecer que são gastos que pesam no bolso da população.
O recuo dos preços de alimentos e bebidas teve um efeito importante na redução, e mais ainda as despesas de educação, que têm um caráter sazonal. Não podemos desprezar os efeitos da queda do dólar, que ajudou na desaceleração do IPCA.
A análise dos dados de abril não aponta, necessariamente, para um futuro melhor. Em primeiro lugar, os resultados do passado não vão ajudar na evolução dos preços em 12 meses, pois a taxa do IPCA nos últimos 12 meses ficou quase negativa durante três meses em 2010 e, portanto, sofrerá uma elevação nos próximos 12 meses, como adverte o IBGE, que o ministro da Fazenda se esqueceu de consultar.
Por outro lado, as tarifas de energia elétrica e o transporte deverão pressionar os índices de preços de maio. A queda dos preços das commodities que se verifica atualmente só se poderá refletir no índice geral no mês seguinte.
O risco que se apresenta é que, sem uma atuação corajosa do governo, o resultado dos 12 meses estimule um próximo reajuste altista de preços e salários. O ministro da Fazenda anunciou que vai utilizar a taxa cambial para conter os preços e que poderá ampliar as restrições à entrada de capitais estrangeiros, que aumentam o poder aquisitivo da população. Trata-se de um reconhecimento do fracasso das tentativas do governo de contar a valorização do real. Mas, antes de tudo, é uma intenção que não leva em conta os interesses de nossa indústria, nem tampouco o déficit das transações correntes do balanço de pagamentos.