Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 13, 2009

Estados Unidos Pandemônio no Senado de Nova York

da Veja

Cadê a minha bola de gude?

O Senado de Nova York vira circo que corteja seus
piores elementos num ambiente de arruaça infantil. 
As táticas: eles apagam a luz, escondem a chave...


André Petry, de Nova York

Nathaniel Brooks/The New York Times/Redux
DÚVIDA NO AR
Eleitores protestam: nos cartazes, "O Senado não está à venda". Não?

O caso começou quando o bilionário Tom Golisano ficou chateado com a proposta de aumento de impostos. Em Albany, capital do estado de Nova York, Golisano foi reclamar com o senador democrata Malcolm Smith, a quem ajudou a eleger. (Nos EUA, os parlamentos estaduais são bicamerais, com assembleia e senado, mas, por favor: não copiem essa ideia. A seguir, se entenderá por quê.) Smith nem tirou os olhos do seu BlackBerry durante a conversa, Golisano saiu furioso e resolveu derrubá-lo do cargo de líder da maioria. Com bilhões de argumentos, e a ajuda de um articulador que tatuou a cabeça de Richard Nixon nas costas, o bilionário convenceu dois senadores democratas – ambos hispânicos, Pedro Espada e Hiram Monserrate – a se bandear para os republicanos. Foi o início do pandemônio. Os democratas passaram a semana impedindo que os republicanos instalassem a sessão e assumissem a presidência e a liderança da maioria.

Primeiro, apagaram as luzes do plenário. Não deu certo. Então, trancaram o plenário e sumiram com a chave. "Isso é infantil", reclamou Espada, o novo presidente do Senado. "Parece criança levando embora as bolinhas de gude." O governador David Paterson, primeiro negro e primeiro cego a assumir o estado, lamentou: "Está meio ridículo. Eles precisam agir como adultos". O plenário ficou às moscas de segunda a quinta-feira, até que Espada apareceu com uma chave dourada, que balançava no ar, e dizia: "Eu tenho a chave! Eu tenho a chave!". Entraram no plenário, sob protesto de eleitores com cartazes nos quais se lia "O Senado não está à venda", mas não deu quo-rum. O caso foi parar na Justiça, como sempre acontece quando os políticos deixam de fazer política. Na sexta-feira, a Justiça mandou que negociassem uma saída no fim de semana.

Os vira-casacas são o pântano de Nova York. Monserrate está sendo processado sob a acusação de retalhar sua companheira com um caco de vidro. Espada, eleito pelo Bronx, foi condenado por fraude financeira na eleição e tem uma entidade tão nebulosa que seus próprios colegas suspeitam que só serve para desviar dinheiro público. Investiga-se até se Espada vive mesmo no Bronx. Como presidente do Senado, ele é o primeiro na linha da sucessão, já que Paterson era vice de Eliot Spitzer, derrubado ao ser pego usando serviços de uma rede de prostituição. Os democratas, agora, insinuam que os republicanos compraram Monserrate e Espada. De fato, há que reclamar. Nos bazares que se prezam, ninguém compra quem já foi comprado antes. Perguntado se não fizera um movimento antiético, o bilionário Golisano respondeu: "Não me venha falar de ética em Albany. Temos um governador que foi à televisão dizer que teve um caso extraconjugal e cheirou cocaína". (Está claro por que o Brasil vai bem sem senados estaduais?)

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