Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 01, 2007

Os sete pecados dos gordos brasileiros

Sentados sobre
uma bomba-relógio

Uma pesquisa revela os sete pecados
à mesa dos gordos brasileiros


Adriana Dias Lopes

Acaba de ser concluído o maior e mais minucioso levantamento sobre os hábitos alimentares dos gordos brasileiros. Realizada pelo instituto Toledo & Associados, a pedido da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, a pesquisa revela um cenário preocupante. Eles fazem tudo errado – comem muito e rápido demais, preparam mal os alimentos e, aos sábados e domingos, exageram ainda mais na comilança. "Essas pessoas não têm noção do risco que correm", diz o cirurgião Luiz Vicente Berti, coordenador do estudo. "Com esse tipo de comportamento, é como se estivessem sentadas sobre uma bomba-relógio." Ao todo, foram entrevistados 2.179 homens e mulheres, de 18 a 65 anos, das cinco regiões do país e pertencentes às classes de A a E. Metade deles estava pelo menos 5 quilos acima do peso ideal. Por essa amostragem, conclui-se que o contingente nacional de adultos com sobrepeso é de 60 milhões de pessoas. Quanto aos obesos, aqueles com mais de 10 quilos além do desejável, estima-se que somem 15 milhões. A seguir, os sete pecados mais comuns cometidos à mesa pelos gordos brasileiros.

A TV como companheira


Ilustrações Orlando

Indagados sobre o local preferido para fazer as refeições, os gordinhos e obesos foram unânimes: em frente à televisão. "Isso não é recomendável para quem tem de perder peso", diz o endocrinologista José Antonio Marcondes, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. "É fundamental prestar atenção nos alimentos que estamos ingerindo, de modo a fazer as escolhas mais acertadas, o que na frente da televisão é impossível." O correto é iniciar as refeições com os alimentos de difícil absorção, como as fibras presentes nos legumes e verduras. Eles ocupam bastante espaço no estômago, o que favorece a sensação de saciedade. Quando as refeições são feitas à mesa, as pessoas tendem a se servir de porções menores, aos poucos e na ordem certa – a salada, o prato principal e a sobremesa. Já em frente à TV, o comum é colocar, de uma única vez, todo tipo de comida no prato, e em maior quantidade.

Refeições ultra-rápidas


Somado, o tempo dedicado às três principais refeições é inferior a uma hora. O café-da-manhã é devorado em doze minutos, em média; o almoço, em 22 minutos; e o jantar, em 21 minutos. Cada uma das refeições deveria durar pelo menos o dobro disso. Um processo de mastigação mais lento é essencial para que o cérebro receba a mensagem de que é hora de cruzar os talheres. Quando o alimento é ingerido muito rapidamente, o estômago não tem tempo de transmitir a informação de saciedade ao sistema nervoso central.

Descanso regado a gordura


Quando chega o fim de semana, seis de cada dez gordos liberam geral. Eles gostam de empanturrar-se de refrigerante e churrasco – em geral, aquele em que o espeto sai do fogo pingando gordura. Quem precisa emagrecer tem de controlar o apetite todos os dias da semana. Sábados e domingos de comilança só são permitidos para os que estão em forma. "No caso das pessoas acima do peso, não adianta controlar a alimentação durante a semana e soltar o freio nos dias de descanso. Mudanças drásticas no padrão alimentar desregulam o metabolismo, fazendo com que ele funcione mais devagar e, com isso, queime menos calorias", diz o cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração, em São Paulo. Depois de uma variação abrupta na dieta, são necessários até três dias para que o ritmo metabólico volte à velocidade anterior.

Preparo inadequado


A forma mais comum como os gordos brasileiros costumam preparar os alimentos em casa é o cozimento. A princípio parece uma boa notícia em meio a tanta comilança desregrada. Mas é preciso lembrar que o método inclui desde brócolis fervidos a ensopados mergulhados em creme de leite. Não é difícil imaginar o que os glutões preferem. A fritura aparece em segundo lugar, com 52% da preferência de todos eles. Um alimento frito tem o dobro de calorias. Não custa repetir: os alimentos crus e grelhados são os mais saudáveis – levam pouco ou nenhum óleo e conservam mais os nutrientes.

Coxinha, chocolate, biscoito...


Dos brasileiros com sobrepeso e obesos, 42% e 56%, respectivamente, têm o péssimo hábito de beliscar o dia inteiro. E só comem bobagens – coxinha, chocolate, biscoitos recheados e pastel, entre outros quitutes que estouram qualquer controle alimentar. Refeições diárias, de fato, eles fazem poucas – 3,5, em média. Entenda-se por refeição o momento em que a alimentação é a principal atividade. O ideal é que elas sejam cinco, bem distribuídas ao longo do dia: café-da-manhã, lanche, almoço, lanche e jantar. "Se deixamos o organismo mais de três horas sem alimento, ele reage como se fosse passar fome e retarda o ritmo do metabolismo, o que ajuda a acumular gordura", diz o endocrinologista José Antonio Marcondes.

Pão e arroz

No café-da-manhã, o pão é o alimento mais presente, fazendo parte da refeição de 78% dos gordinhos e de 84% dos obesos. As frutas são consumidas por uma minoria. No almoço e no jantar, o arroz aparece em primeiro lugar. As verduras só estão presentes à mesa de metade deles. Quem está acima do peso tem de controlar – e muito – o consumo de carboidratos. Nesse caso, eles não devem ultrapassar 40% do total de calorias de uma refeição. Numa dieta de 1.200 calorias, por exemplo, isso significa que, no café-da-manhã, é permitido, no máximo, meio pãozinho francês. No almoço e no jantar, apenas uma concha de arroz em cada refeição. E, ao longo do dia, de lanche, uma banana ou meio mamão papaia.

A padaria como diversão

De cada dez brasileiros acima do peso, sete escolheram "ir à padaria" como a principal atividade de lazer. Na segunda posição do ranking dos programas mais divertidos, apareceu o restaurante. Dispensa-se aqui qualquer tipo de comentário: ninguém vai à padaria ou ao restaurante com outro objetivo senão o de comer.

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