Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 01, 2007

O risco de trombose em viagens aéreas

Síndrome do avião apertado

Viagens longas e aeronaves cheias aumentam o
risco de trombose nas pernas, o que pode ser fatal


Vanessa Vieira

VEJA TAMBÉM
Nesta reportagem
Quadro: É raro mas acontece

Em março deste ano, após passar 65 horas num avião da Força Aérea durante uma missão de nove dias por vários países, o vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, deu entrada numa clínica em Washington com dores na perna esquerda. Seu quadro, aparentemente, não era grave, mas a internação pode ter salvado sua vida. Um exame de ultra-sonografia detectou que um coágulo sanguíneo havia se formado numa perna de Cheney. Sem tratamento, o nódulo poderia viajar pelo corpo, entupir a artéria do pulmão e levar o vice-presidente à morte. Cheney foi vítima do que se chama de síndrome da classe econômica – a trombose causada depois de vôos nos quais o passageiro fica praticamente imóvel durante muitas horas. Desde os anos 50 se associam os vôos longos à incidência de trombose, mas só agora se conseguiu descobrir o verdadeiro tamanho do risco que espreita os passageiros. Uma pesquisa feita pelo centro médico da Universidade Leiden, na Holanda, concluiu que os passageiros de vôos com mais de quatro horas de duração têm três vezes mais probabilidade de desenvolver um coágulo sanguíneo do que quem não viaja de avião.

Carol Carquejeiro
Thiago Soares: desmaio e
internação num hospital após
um vôo entre Paris e São Paulo

Para realizarem o estudo, durante quatro anos os cientistas acompanharam a rotina de 9 000 funcionários de empresas multinacionais. Descobriram que a possibilidade de obstrução parcial ou total de suas veias aumentava quanto maior a freqüência com que faziam viagens aéreas, especialmente de longa distância. A ameaça se potencializa em vôos na classe econômica, nos quais há menos espaço entre as poltronas para movimentar as pernas. A trombose venosa profunda, ou TVP, ocorre quando um coágulo sanguíneo se forma nas veias profundas do corpo, no interior dos músculos, geralmente das pernas. O coágulo prejudica a circulação normal do sangue, o que provoca dor e inchaço. Mas pode ser fatal quando se desloca pelo sistema circulatório e entope a artéria pulmonar. A esse quadro se dá o nome de embolia. "De cada 4.500 pessoas que fazem viagens aéreas, uma terá TVP em até oito semanas após o vôo", explica o holandês Frits Rosendaal, coordenador do estudo da Universidade Leiden.

O consultor de sistemas paulista Thiago Soares, de 28 anos, é um dos passageiros que engrossam essa estatística. Após um vôo de onze horas entre Paris e São Paulo, ele desembarcou sentindo dores e inchaço numa perna. Os sintomas se agravaram ao longo dos dias, até que Thiago começou a mancar. Ele só procurou um médico depois de desmaiar ao subir uma escada. "Quando fui levado ao hospital, descobri que tinha sofrido uma embolia pulmonar", ele recorda. Thiago foi tratado com drogas trombolíticas e medicamentos anticoagulantes e hoje leva vida normal. Explica o médico Cyrillo Cavalheiro Filho, chefe do serviço de hemostasia e trombose do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo: "Em viagens longas nas quais o passageiro não pode se movimentar, o sangue circula mais lentamente e as pernas não realizam as contrações musculares que ajudam a empurrá-lo dos membros inferiores para cima. A circulação sanguínea mais lenta favorece a formação de coágulos nas veias".

Esse mesmo processo pode ocorrer em quem passa muitas horas sentado no trabalho ou em viagens de carro, ônibus ou trem. Nos aviões, a situação é especialmente crítica porque não há paradas que permitam aos viajantes esticar o corpo e caminhar. As companhias aéreas exigem que os passageiros permaneçam nos assentos a maior parte do tempo. Como se isso não bastasse, para evitar a corrosão nas partes metálicas das cabines, o ar que se respira dentro das aeronaves é muito seco, o que deixa o corpo desidratado e o sangue mais viscoso, aumentando o risco de coagulação. Esse fator agravante deve desaparecer no novo avião da Boeing, o 787 Dreamliner, o primeiro cuja fuselagem é construída em grande parte de fibra de carbono. Com a troca do metal pelo carbono, um material menos sujeito à corrosão, a aeronave poderá ter um ar mais úmido em seu interior. Por enquanto, o que há a fazer é adotar medidas preventivas contra a trombose (veja o quadro) e levar em conta o espaço entre as poltronas do avião na hora de escolher a companhia aérea.




Certifica.com

Arquivo do blog