Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 01, 2007

O ranking das melhores escolas estaduais paulistas

Lição bem-feita

Um novo ranking revela escolas estaduais
de ótimo ensino. Elas serão premiadas por isso


Camila Pereira

Fabiano Accorsi
Escola Marechal Mallet, uma das campeãs: os estudantes de lá adoram matemática

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A educação brasileira costuma chamar atenção no cenário internacional por dois motivos – um bom e outro ruim. O negativo diz respeito ao nível do ensino. Entra ranking, sai ranking, e o Brasil aparece invariavelmente nas últimas posições. O outro motivo para o país sobressair diante dos demais é positivo e merece destaque. Poucos países possuem um sistema para aferir a qualidade do ensino tão abrangente e eficaz. Ele permite rastrear com precisão as dificuldades em sala de aula e chegar, enfim, a um diagnóstico dos problemas. Até então, no entanto, os dados serviram basicamente para subsidiar os teóricos – e quase nenhum uso se fez deles no campo prático. O Ministério da Educação (MEC) deu um notável passo adiante ao criar um sistema segundo o qual as escolas públicas passarão a ter metas de desempenho e serão cobradas por isso, justamente com base nas avaliações. Algo semelhante acaba de ser anunciado pela Secretaria Estadual de Educação em São Paulo – e surpreendeu os observadores por ser ainda mais radical nas medidas. Neste caso, as escolas não só terão objetivos concretos a atingir como, ainda, uma expressiva melhora no nível das aulas será premiada com bônus de até três salários a mais por ano para cada funcionário. Diz a secretária de Educação, Maria Helena Guimarães: "Só com um sistema capaz de reconhecer o talento das pessoas é possível sonhar com um bom ensino. Funciona assim em outros países".

Uma das bases para o novo monitoramento das escolas em São Paulo será o Saresp, uma prova de matemática e leitura aplicada a 2 milhões de estudantes. Ela existe desde 1996, mas pela primeira vez o governo decidiu divulgar as notas das escolas (veja as campeãs no ranking). Esse novo levantamento – a partir do qual o progresso dos colégios será medido – primeiro reforça a idéia de decadência do ensino. O pior resultado foi em matemática. Ao final do ensino fundamental, os estudantes tiraram nota 3,3. Isso numa escala de zero a 10. Além de ter dado números às notórias deficiências, outro mérito do Saresp foi jogar luz sobre um raro conjunto de escolas públicas em que o ensino é de ótimo nível. Com isso, propagam-se exemplos como o da escola Theresa de Arruda Bailão, de Serra Negra, município de 25.000 habitantes no interior do estado. Ela é a melhor do ranking. Os alunos de lá, na maioria filhos de agricultores sem quase nenhum estudo, têm seus horizontes ampliados com a ajuda da diretora Ivone Pereira, há 25 anos em escolas públicas. Com um ônibus cedido pela prefeitura e dinheiro arrecadado em festas na escola, ela passou a levar as crianças para exposições de arte e bibliotecas. Foi a chance de Jonas Carra, 8 anos, e de alguns de seus amigos de pisar pela primeira vez num cinema. "Essa escola é o máximo", diz o menino.

Fabiano Accorsi
Instituto Popular Humberto de Campos, de Campinas: os alunos passam dez horas por dia na escola


Um levantamento nos dez colégios do topo da lista revela a aplicação disciplinada de uma fórmula simples e eficiente. Além de diretores dispostos a encontrar soluções caseiras para a crônica falta de dinheiro, eles contam com professores bem treinados, prédios sem luxos mas bem-cuidados, incentivos variados à leitura e pais participantes da vida escolar. No colégio Marechal Mallet, em Campinas, outro dos campeões, a diretora, Maria Emília Gasparetti, é sempre a primeira a chegar e a última a sair. Ela traduz o clima predominante nas escolas em destaque no ranking: "Todo mundo aqui sabe que está fornecendo às crianças um serviço, e, como qualquer outro, ele deve ser o mais personalizado possível". É algo raríssimo de ver no cenário das escolas brasileiras.

Em comparação com a média, os professores nesses oásis de bom ensino são visivelmente mais animados – e preparados – para o exercício da profissão, mas não ganham um centavo a mais por isso. No geral, eles dizem sentir-se "reconhecidos" e "incentivados" por iniciativas cuja maior qualidade é a simplicidade. Em Serra Negra, a diretora corre atrás de cursos de treinamento para os professores e organiza pessoalmente, para cada um, pastas nas quais inclui novos estudos sobre práticas pedagógicas e rankings de ensino. Com o programa de premiação às melhores escolas, eles passarão, enfim, a receber um incentivo concreto pelos resultados alcançados na sala de aula. Tem funcionado em outros países. O estudo mais abrangente sobre o assunto foi feito pelo americano Eric Hanushek, doutor em economia da Universidade Stanford. Ele calculou o efeito das várias medidas para melhorar o nível de ensino, entre elas o aumento do salário dos professores. Concluiu que nenhuma outra produz tanto impacto positivo quanto um sistema de cobrança de resultados e premiação ao mérito. Mais uma razão para prestar atenção na experiência de São Paulo.


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