As novas contas nacionais, de 2000 a 2005, divulgadas esta semana pelo IBGE (com metodologia modificada, como resultado de atualizações e aprimoramentos em sua base de dados), trouxeram uma reversão de expectativas em relação a uma possível “inflexão positiva” da economia do Estado do Rio. O PIB do estado, que historicamente é o segundo da federação, apresentava entre 1995 e 2004, pela metodologia anterior, uma evolução positiva de participação no PIB brasileiro, passando de 11,5% para 12,6%, resultado extremamente impulsionado pelo crescimento da indústria de extração de petróleo e gás. Pela nova metodologia, porém, PIB estadual voltou a ter exatamente o mesmo peso de 11,5% no PIB nacional que detinha em 1995. Não está muito claro ainda o que aconteceu, pois não foram divulgados ainda os dados das contas municipais, mas os especialistas fazem especulações.
O professor da UFRJ Mauro Osório, especialista em planejamento urbano, diz que petróleo e gás passaram a valer menos da metade do que na metodologia anterior na formação do PIB estadual. Pelos dados da produção física industrial do IBGE, o Rio de Janeiro, entre 1995 e 2004, apresenta uma queda na indústria de transformação de 13,2%, e um crescimento na indústria extrativa mineral de 137,6%. No mesmo período, no Brasil ocorre um crescimento de 16,7% na indústria de transformação e de 109,6% na indústria extrativa mineral.
Ou seja, analisa Mauro Osório, apesar do dinamismo do setor do petróleo, o baixo dinamismo em outros setores fez com que o estado permanecesse estagnado nos últimos dez anos, não tendo acontecido, de fato, o crescimento de participação no PIB nacional, embora o estado continue sendo a segunda economia do país, só superado por São Paulo.
Já o economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), embora não considere ainda suficientes os dados para uma análise definitiva, acha que os novos indicadores mostram que o Estado do Rio não cresceu tanto quanto se esperava em serviços, sendo que muitos deles foram para São Paulo. Segundo Urani, o crescimento da economia do Rio de Janeiro nos últimos anos se concentrava no interior do estado e essencialmente em torno da indústria do petróleo, dos royalties e das aposentadorias.
O PIB crescia um pouco acima do conjunto do país — alguma coisa em torno de 3,5% ao ano entre 1996 a 2004, contra uma média nacional de cerca de 2,5% ao ano —, mas o resultado era impulsionado por um crescimento chinês de quase 30% na Região Norte, por causa do petróleo; e de 32% na Região dos Lagos, devido também aos royalties, alavancando investimentos públicos, turismo e o que os técnicos chamaram de “efeito Dorival Caymmi”: o aposentado que foi para a Região dos Lagos com receio da violência.
Ao mesmo tempo, houve um encolhimento de 2% ao ano da Região Metropolitana.
Para André Urani, o que as novas contas nacionais do IBGE constatam é que o Estado do Rio passou por uma situação muito difícil, um período longo de pelo menos três décadas de estagnação econômica, “mas, a partir de patamares muito deprimidos, nos últimos dois anos há sinais de uma retomada forte em curso”.
Essa tendência é otimista, mesmo que parta de patamares muito baixos, insiste André Urani, que compara a situação do Rio com a da Argentina, que está crescendo bastante depois de ter passado por uma grave crise econômica.
Já o economista Mauro Osório concorda apenas em parte com essa análise: “O Estado do Rio de Janeiro apresenta, junto com o Estado de Pernambuco, as piores trajetórias de desenvolvimento econômicosocial, quando olhamos o cenário a partir dos anos 70”, diz ele. E acrescenta: “Quando olhamos os dados do PIB recémdivulgados de 2004 para 2005, vemos que o desempenho do Estado do Rio de Janeiro continua baixo, apresentando um crescimento de 2,9%, contra um crescimento no Brasil de 3,2%, e a 24apior evolução entre as unidades federativas”.
Segundo o economista da UFRJ, o Rio de Janeiro passa a ter, a partir da década de 70, uma lógica regional extremamente clientelista, hegemonizada inicialmente por Chagas Freitas. Simbólico desse fato e da construção de um marco de poder extremamente clientelista e desestruturante é a declaração da governadora Rosinha, datada de 2003, quando do início de seu governo, de que, no Rio de Janeiro, “após o chaguismo e o brizolismo, por que não o garotismo?”.
Essa lógica clientelista vai gerando uma desestruturação na máquina pública estadual e tragédias como as vinculadas à situação da Cedae e à poluição da Baía de Guanabara, além dos dados relativos à violência, principalmente da periferia do Rio de Janeiro, diz Mauro Osório.
“No que se refere à reestruturação do setor público, o recente lançamento de concurso público na área fazendária, após mais de 20 anos de inexistência, da mesma forma que o início dos esforços no sentido de reorganizar o sistema de planejamento, são fatores que devem ser reforçados visando à efetivação de uma nova lógica”, comemora. (Continua amanhã)
Entrevista:O Estado inteligente
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