O Estado de S.Paulo - 12/01/12
Enquanto a situação na Europa "caminha" para trás, nos Estados Unidos melhora. Os governos da Alemanha e França continuam se reunindo, levando pitos da diretora do FMI, a assustada Christine Lagarde, para que façam alguma coisa, que decidam não só sobre a dívida soberana com vencimento de 1,3 trilhão este ano, mas sobre a saída da recessão e a retomada do crescimento. Até agora, nada. A dívida pode continuar sendo rolada aos trancos e barrancos, se o Banco Central Europeu decidir comprar mais títulos dos países em crise, o que é absolutamente imprescindível - mas isso não evita a recessão.
Está engraçado. A posição da Alemanha contra aumentos de gastos para estimular a demanda - o desemprego na Eurozona já está em 10,3% e aumentando - é ridícula e está ficando até engraçada. Merkel impõe que todos os governos da Eurozona apliquem uma rigorosa política de austeridade, que aumentem impostos, cortem gastos, despeçam, para reduzir o déficit e a dívida soberana. Mas, se não houver consumo, se a economia do bloco não crescer, quem vai comprar sua produção, mesmo que reduzida, quem aí compraria a produção, mesmo reduzida? Ora, diz Paul Kugman, assinalando esse fantástico contrassenso, os "extraterrestres". Ou será que a Eurozona está pensando que poderá continuar exportando para os Estados Unidos e China? Eles têm seus próprios problemas e um deles é que também precisam exportar mais para a União Europeia - que tem um PIB igual ao dos Estados Unidos e mais de duas vezes o da China. Essa mesma União Europeia que Merkel quer paralisar.
EUA vão bem. Nesse cenário que desanima até os mais conservadores, em que o FMI continua reduzindo as revisões de crescimento da economia mundial e apontando para um recuo ainda maior dos G-7, a boa noticia é que a economia americana começa a reagir. Não são sinais isolados, mas sinais claros.
O principal é o desemprego que recuou de quase 10% da força de trabalho para 8,5%. Mais importante, não foi o governo, constrangido pelos ultraconservadores medievais do Partido Republicano no Congresso, mas a indústria que criou esses empregos. Um aumento de 6,6% sobre dezembro do ano anterior. Mas é um fato passageiro, dizem os pessimistas? Não! O desemprego vem caindo há seis meses consecutivos! Outro indicador, os americanos estão menos assustados e voltaram a pegar empréstimos nos bancos que estavam com dólares empossados à espera deles.
O que ainda preocupa é o setor imobiliário, onde tudo começou, e reage pouco. Mas o Fed, banco central americano, já afirmou que está atento, pede uma ação conjunta com o Congresso e o Executivo. Vai agir. Não afasta também que pode voltar a injetar mais liquidez, vai emitir mais dólares, mesmo porque o risco de inflação este ano é menor. A prioridade é aumentar o consumo interno com aumento de emprego e renda. E começam a conseguir isso.
Mas e a Europa? Será que ela não vai atrapalhar? Para os analistas, o fato de a economia americana estar reagindo bem enquanto a europeia estagna mostra que há um processo de isolamento da crise. Os bancos fizeram reservas, o Fed oferece liquidez, o crédito interno a juros reduzidos atrai o consumidor, os investimentos estrangeiros no país aumentam e, mais ainda, o governo está realizando uma agressiva política para exportar mais e importar menos.
Resumindo. Os Estados Unidos, que já saíram da recessão, estão fazendo, mesmo com atraso, tudo o que a Eurozona rejeita por imposição da Alemanha que pretende "crescer com austeridade". Como diz Krugman, só se for vendendo para extraterrestres. Para nós, no Brasil, é que não. Mais do que nunca, estamos sendo realistas, nos protegendo e pisando em terra firme. A propósito, uma terra que produz safras recordes e ajuda a alimentar o mundo. Agora é esperar que a economia americana continue reagindo e cresça 3% este ano. E a Europa? Ora, estamos, você, leitor, e a coluna, cansados dessa crise insensatez das Merkels e dos Sarkozys, que dura mais de dois anos. Se der, vamos deixar ela pra lá.