O GLOBO - 04/01/12
O problema das dívidas dos países que vencem este ano não é tão grande quanto parece, mas é suficientemente grave. Ontem, a Bloomberg chegou ao número assustador de US$ 7,6 trilhões vencendo em 2012; isso é mais do que uma China. Parece uma grande encrenca. Mas o importante não é o tamanho da dívida e sim a capacidade de pagar. O Japão é o maior devedor, mas não tira o sono de ninguém.
Do total, US$ 3 trilhões são títulos que terão que ser pagos ou rolados pelo Japão. O país tem a maior dívida do mundo em relação ao PIB há muitos anos e sempre conseguiu financiá-la a um custo muito baixo, às vezes até negativo. Tem uma enorme capacidade de poupança e seus maiores credores são os próprios japoneses.
A segunda maior conta que bate este ano é a dos títulos americanos, aqueles para os quais os investidores correm em momento de insegurança. Os US$ 2,6 trilhões que vencem este ano serão facilmente rolados. A ansiedade que houve no ano passado foi criada pelo impasse político que impedia a elevação do teto da dívida. A paralisia decisória continua sendo a grande dificuldade dos Estados Unidos.
Outro país que terá um grande vencimento é a Alemanha - US$ 285 bilhões - mas também sobre ela não há dúvida sobre a capacidade de pagamento. A Alemanha está no centro da crise por ser a economia mais poderosa num continente em convulsão, mas tem enorme capacidade de pagamento. O país tem tido dados positivos, destoantes dos de outros países da área. Ontem, saiu a taxa de desemprego de 6,8%, a mais baixa desde 1991. No mesmo dia, na outra ponta da crise europeia, a Espanha chegou ao inacreditável índice de 22% de desemprego.
A China entrou na conta da Bloomberg porque tem US$ 121 bilhões vencendo, mas sinceramente ninguém pensa que o país não possa pagar esse valor, montada como a China está em US$ 3,2 trilhões de reservas cambiais. O Brasil teria por essa conta US$ 169 bi vencendo no ano. Tem mais do que o dobro disso de reservas cambiais. Se houver mais escassez de oferta de crédito, como ocorreu em 2008, os juros ficarão mais caros. Nesse contexto, o Brasil terá problemas que poderá enfrentar com as mesmas armas de 2008, quando o BC irrigou o mercado usando em parte as reservas.
Noves fora os que podem se financiar, sobram os grandes problemas e o maior deles é da Itália. Há outras encrencas graves como Grécia e Espanha. O que cria instabilidade não é o volume da dívida vencendo, mas a confiança na capacidade de o país honrar seus compromissos, ou equilibrar suas contas em algum dia no futuro. Se há dúvidas de que o país cumprirá suas metas - e ontem a Espanha disse que não cumprirá - isso significa que a dívida será realimentada pelo déficit e continuará crescendo. A tendência é a de os bancos pediram uma taxa maior para rolar as dívidas e neste contexto vai se formando um círculo vicioso. Quanto maior a desconfiança, maior será a taxa de juros cobrada pelos investidores. Quanto mais elevada for a taxa, mais dificuldade o país terá de pagar e portanto maior a desconfiança dos bancos credores.
As contas feitas pela Consultoria Tendências mostram dados um pouco diferentes dos da Bloomberg, e estão em euros, mas pode-se conferir no gráfico abaixo que há problemas graves nas dívidas de alguns países europeus. A Itália tem a maior concentração de vencimentos no primeiro trimestre - C130,6 bilhões - o que significa dizer que está entrando no ano com dificuldades. A França também tem uma concentração de títulos a serem renegociados, ou refinanciados, no primeiro trimestre. São C 124 bilhões. A eleição presidencial na França adicionará um grau a mais de incerteza nesse quadro.
Outra forma de olhar os dados é comparando com seu PIB. A Alemanha que não tem problema grave de rolagem de dívida tem títulos vencendo que representam 9% do seu PIB; a Grécia, sobre a qual há muitas dúvidas sobre a capacidade de o país honrar seus compromissos, tem dívida vencendo em 2012 equivalente a 27% de sua economia. A Itália terá que resgatar ou rolar um quarto do seu PIB.
Ontem, a Grécia falou o que todos vinham pensando mas não tinham coragem de falar. Admitiu que pode sair da Zona do Euro. O problema das dívidas soberanas continua grave, mas o número de US$ 7,6 trilhões de vencimentos em 2012 faz com que ele pareça ainda maior.
Do total, US$ 3 trilhões são títulos que terão que ser pagos ou rolados pelo Japão. O país tem a maior dívida do mundo em relação ao PIB há muitos anos e sempre conseguiu financiá-la a um custo muito baixo, às vezes até negativo. Tem uma enorme capacidade de poupança e seus maiores credores são os próprios japoneses.
A segunda maior conta que bate este ano é a dos títulos americanos, aqueles para os quais os investidores correm em momento de insegurança. Os US$ 2,6 trilhões que vencem este ano serão facilmente rolados. A ansiedade que houve no ano passado foi criada pelo impasse político que impedia a elevação do teto da dívida. A paralisia decisória continua sendo a grande dificuldade dos Estados Unidos.
Outro país que terá um grande vencimento é a Alemanha - US$ 285 bilhões - mas também sobre ela não há dúvida sobre a capacidade de pagamento. A Alemanha está no centro da crise por ser a economia mais poderosa num continente em convulsão, mas tem enorme capacidade de pagamento. O país tem tido dados positivos, destoantes dos de outros países da área. Ontem, saiu a taxa de desemprego de 6,8%, a mais baixa desde 1991. No mesmo dia, na outra ponta da crise europeia, a Espanha chegou ao inacreditável índice de 22% de desemprego.
A China entrou na conta da Bloomberg porque tem US$ 121 bilhões vencendo, mas sinceramente ninguém pensa que o país não possa pagar esse valor, montada como a China está em US$ 3,2 trilhões de reservas cambiais. O Brasil teria por essa conta US$ 169 bi vencendo no ano. Tem mais do que o dobro disso de reservas cambiais. Se houver mais escassez de oferta de crédito, como ocorreu em 2008, os juros ficarão mais caros. Nesse contexto, o Brasil terá problemas que poderá enfrentar com as mesmas armas de 2008, quando o BC irrigou o mercado usando em parte as reservas.
Noves fora os que podem se financiar, sobram os grandes problemas e o maior deles é da Itália. Há outras encrencas graves como Grécia e Espanha. O que cria instabilidade não é o volume da dívida vencendo, mas a confiança na capacidade de o país honrar seus compromissos, ou equilibrar suas contas em algum dia no futuro. Se há dúvidas de que o país cumprirá suas metas - e ontem a Espanha disse que não cumprirá - isso significa que a dívida será realimentada pelo déficit e continuará crescendo. A tendência é a de os bancos pediram uma taxa maior para rolar as dívidas e neste contexto vai se formando um círculo vicioso. Quanto maior a desconfiança, maior será a taxa de juros cobrada pelos investidores. Quanto mais elevada for a taxa, mais dificuldade o país terá de pagar e portanto maior a desconfiança dos bancos credores.
As contas feitas pela Consultoria Tendências mostram dados um pouco diferentes dos da Bloomberg, e estão em euros, mas pode-se conferir no gráfico abaixo que há problemas graves nas dívidas de alguns países europeus. A Itália tem a maior concentração de vencimentos no primeiro trimestre - C130,6 bilhões - o que significa dizer que está entrando no ano com dificuldades. A França também tem uma concentração de títulos a serem renegociados, ou refinanciados, no primeiro trimestre. São C 124 bilhões. A eleição presidencial na França adicionará um grau a mais de incerteza nesse quadro.
Outra forma de olhar os dados é comparando com seu PIB. A Alemanha que não tem problema grave de rolagem de dívida tem títulos vencendo que representam 9% do seu PIB; a Grécia, sobre a qual há muitas dúvidas sobre a capacidade de o país honrar seus compromissos, tem dívida vencendo em 2012 equivalente a 27% de sua economia. A Itália terá que resgatar ou rolar um quarto do seu PIB.
Ontem, a Grécia falou o que todos vinham pensando mas não tinham coragem de falar. Admitiu que pode sair da Zona do Euro. O problema das dívidas soberanas continua grave, mas o número de US$ 7,6 trilhões de vencimentos em 2012 faz com que ele pareça ainda maior.