O GLOBO - 06/01/12
Os primeiros sinais emitidos pelas primárias republicanas são de animar os democratas. O eleitorado republicano está pulverizado entre vários candidatos, o partido radicalizou tanto seu discurso que virou uma direita bizarra. A genuína representante do Tea Party está fora da disputa. Mesmo assim, Barack Obama tem que superar uma difícil marca histórica.
Nenhum presidente, desde o mitológico Franklin Delano Roosevelt, conseguiu se reeleger com uma taxa de desemprego tão alta quanto a atual. A economia começa a dar alguns sinais de melhora, mas eles são insuficientes, e os economistas continuam prevendo um ano de baixo crescimento. A popularidade do presidente está fora da zona de conforto para quem busca a reeleição.
A média das pesquisas mostra um índice de aprovação de 48% para Obama. É baixo, mas parece consagrador se comparado aos 13% de aprovação do Congresso. Mas o pior para o presidente é que 70% acham que o país está na direção errada. Obama tem contra si a taxa de desemprego alta, o baixo nível de atividade econômica, o fim do encanto com o "sim, nós podemos" da primeira campanha. Tem a seu favor o fato de que os republicanos estão agarrados a teses ultraconservadoras, e as urnas costumam favorecer quem caminha para o centro.
Com intensidades e preferências diferentes, os pré-candidatos da oposição defendem a mesma lista de ideias com data de validade vencida. Acham que os 12 milhões de imigrantes ilegais devem ser expulsos do país, mesmo que morem lá por décadas, e que os 48 milhões de pessoas sem planos de saúde devem ser simplesmente abandonados pelo setor público. Sustentam que a mudança climática é uma conspiração da esquerda, que a América Latina é liderada por Cuba e Venezuela, que deve ser abolido o casamento gay mesmo nos estados que votaram por isso. Para eles, a Agência de Proteção Ambiental, EPA, o Ibama dos EUA, deveria ser fechada, e as armas, liberadas. Ao alinhar essas opiniões, a revista "Economist" lamenta que está sem candidato. Não que a revista inglesa mude voto nos Estados Unidos, mas o lamento é sintomático. Disse que já anunciou em outras eleições apoio a candidatos republicanos, mas não tem como fazê-lo agora. A revista inglesa acha que falta na corrida presidencial um candidato de centro-direita com credibilidade e pró-business.
A lista de pré-candidatos é uma coleção de dinossauros de fazer inveja ao Jurassic Park. Pelo menos, Michelle Bachman saiu da disputa, ao ficar em sexto lugar em Iowa. Em um dos seus textos, que assinou com outros do Tea Party, defendeu que a chance de uma criança negra ser criada pelos seus pais era maior no tempo da escravidão do que agora. A tese, além de tudo, é falsa. O casamento de escravos era proibido.
O problema não é apenas a coleção de velharias que os pré-candidatos defendem, mas o fato de que eles não apresentam propostas confiáveis sobre como fazer o que promete o líder em Iowa, Mitt Romney, "pôr a economia americana de volta aos trilhos". Apenas para lembrar um detalhe da história recente, o trem descarrilou no governo republicano de George Bush.
Nos quatro anos do governo Obama ele de fato não conseguiu espantar o fantasma da crise. O país ainda patina em ambiente recessivo, a despeito de alguns dados favoráveis, como o do desemprego que saiu ontem mostrando queda dos pedidos de seguro-desemprego ao menor nível dos últimos três anos. A criação de empregos do setor privado no mês de dezembro veio mais forte do que o esperado, com novas 325 mil vagas. Ainda assim, os economistas olham esse número com desconfiança, porque, segundo dizem, ele é muito sensível à sazonalidade. A taxa de desemprego ainda está em 8,6%.
O preço das residências americanas fechou 2011 em queda de 3,5%, o que é bom diante das quedas de anos anteriores. A expectativa da consultoria Capital Economics é de que os preços parem de cair este ano, mas só voltem a subir em 2014. O crédito para o setor imobiliário continua escasso e o alto índice de despejos aumenta a oferta de residências no país. O índice de encomendas dos gerentes de compras - um dado que antecipa a atividade econômica - está em terreno positivo, em 53 pontos. Mesmo assim, há outros indícios de que os empresários estão investindo menos, e os bancos, preferindo deixar o dinheiro em títulos do Tesouro, que estão com taxas menores do que no início do ano.
O economista Roberto Prado, do Itaú BBA, disse que os dados mostram que a economia nos últimos três meses teve indicadores melhores do que o esperado. Houve aumento da produção para recompor estoques e a retomada do nível de produção de automóveis, que havia sido atingida pela falta de peças após o desastre nuclear japonês. Mesmo assim, o banco brasileiro não está apostando numa recuperação de 2,5% a 3% da economia. Acha que ela continuará entre 1,7% e 1,8%.
Sem uma recuperação mais forte da economia, e sem a criação de empregos de forma robusta, o presidente Barack Obama terá que contar apenas com as divisões e falta de musculatura dos candidatos do Partido Republicano. A oposição tem ajudado. Enquanto isso, Obama se prepara para a campanha dizendo que cumpriu o que prometeu: aprovou a reforma da saúde e determinou a retirada das tropas do Iraque. Isso é pouco para empolgar quem sonhou que sim, ele poderia fazer muito mais, principalmente na economia e na oferta de emprego.
Nenhum presidente, desde o mitológico Franklin Delano Roosevelt, conseguiu se reeleger com uma taxa de desemprego tão alta quanto a atual. A economia começa a dar alguns sinais de melhora, mas eles são insuficientes, e os economistas continuam prevendo um ano de baixo crescimento. A popularidade do presidente está fora da zona de conforto para quem busca a reeleição.
A média das pesquisas mostra um índice de aprovação de 48% para Obama. É baixo, mas parece consagrador se comparado aos 13% de aprovação do Congresso. Mas o pior para o presidente é que 70% acham que o país está na direção errada. Obama tem contra si a taxa de desemprego alta, o baixo nível de atividade econômica, o fim do encanto com o "sim, nós podemos" da primeira campanha. Tem a seu favor o fato de que os republicanos estão agarrados a teses ultraconservadoras, e as urnas costumam favorecer quem caminha para o centro.
Com intensidades e preferências diferentes, os pré-candidatos da oposição defendem a mesma lista de ideias com data de validade vencida. Acham que os 12 milhões de imigrantes ilegais devem ser expulsos do país, mesmo que morem lá por décadas, e que os 48 milhões de pessoas sem planos de saúde devem ser simplesmente abandonados pelo setor público. Sustentam que a mudança climática é uma conspiração da esquerda, que a América Latina é liderada por Cuba e Venezuela, que deve ser abolido o casamento gay mesmo nos estados que votaram por isso. Para eles, a Agência de Proteção Ambiental, EPA, o Ibama dos EUA, deveria ser fechada, e as armas, liberadas. Ao alinhar essas opiniões, a revista "Economist" lamenta que está sem candidato. Não que a revista inglesa mude voto nos Estados Unidos, mas o lamento é sintomático. Disse que já anunciou em outras eleições apoio a candidatos republicanos, mas não tem como fazê-lo agora. A revista inglesa acha que falta na corrida presidencial um candidato de centro-direita com credibilidade e pró-business.
A lista de pré-candidatos é uma coleção de dinossauros de fazer inveja ao Jurassic Park. Pelo menos, Michelle Bachman saiu da disputa, ao ficar em sexto lugar em Iowa. Em um dos seus textos, que assinou com outros do Tea Party, defendeu que a chance de uma criança negra ser criada pelos seus pais era maior no tempo da escravidão do que agora. A tese, além de tudo, é falsa. O casamento de escravos era proibido.
O problema não é apenas a coleção de velharias que os pré-candidatos defendem, mas o fato de que eles não apresentam propostas confiáveis sobre como fazer o que promete o líder em Iowa, Mitt Romney, "pôr a economia americana de volta aos trilhos". Apenas para lembrar um detalhe da história recente, o trem descarrilou no governo republicano de George Bush.
Nos quatro anos do governo Obama ele de fato não conseguiu espantar o fantasma da crise. O país ainda patina em ambiente recessivo, a despeito de alguns dados favoráveis, como o do desemprego que saiu ontem mostrando queda dos pedidos de seguro-desemprego ao menor nível dos últimos três anos. A criação de empregos do setor privado no mês de dezembro veio mais forte do que o esperado, com novas 325 mil vagas. Ainda assim, os economistas olham esse número com desconfiança, porque, segundo dizem, ele é muito sensível à sazonalidade. A taxa de desemprego ainda está em 8,6%.
O preço das residências americanas fechou 2011 em queda de 3,5%, o que é bom diante das quedas de anos anteriores. A expectativa da consultoria Capital Economics é de que os preços parem de cair este ano, mas só voltem a subir em 2014. O crédito para o setor imobiliário continua escasso e o alto índice de despejos aumenta a oferta de residências no país. O índice de encomendas dos gerentes de compras - um dado que antecipa a atividade econômica - está em terreno positivo, em 53 pontos. Mesmo assim, há outros indícios de que os empresários estão investindo menos, e os bancos, preferindo deixar o dinheiro em títulos do Tesouro, que estão com taxas menores do que no início do ano.
O economista Roberto Prado, do Itaú BBA, disse que os dados mostram que a economia nos últimos três meses teve indicadores melhores do que o esperado. Houve aumento da produção para recompor estoques e a retomada do nível de produção de automóveis, que havia sido atingida pela falta de peças após o desastre nuclear japonês. Mesmo assim, o banco brasileiro não está apostando numa recuperação de 2,5% a 3% da economia. Acha que ela continuará entre 1,7% e 1,8%.
Sem uma recuperação mais forte da economia, e sem a criação de empregos de forma robusta, o presidente Barack Obama terá que contar apenas com as divisões e falta de musculatura dos candidatos do Partido Republicano. A oposição tem ajudado. Enquanto isso, Obama se prepara para a campanha dizendo que cumpriu o que prometeu: aprovou a reforma da saúde e determinou a retirada das tropas do Iraque. Isso é pouco para empolgar quem sonhou que sim, ele poderia fazer muito mais, principalmente na economia e na oferta de emprego.