O Estado de S.Paulo - 04/12/11
O governo anunciou um pacote de medidas para estimular o consumo ainda neste mês e evitar um PIB negativo no quarto trimestre. O pacote - ou seja lá como se quer chamá-lo - chega atrasado e é pouco, reage o mercado. Os representantes do comércio, o setor mais favorecido, dizem que têm "baixo impacto". Vão vender mais em dezembro, sim, mas isso não vai compensar a forte retração dos últimos meses e o aumento dos estoques. Na área dos eletrodomésticos, onde o governo concentrou os estímulos, previa-se um aumento de vendas de 10% no início do ano, depois, 7 % e em agosto 4%.
Há também a redução de impostos para atrair investimentos externos, para construção civil, mas a soma das desonerações deve ficar em torno de R$ 7,5 bilhões. O 13.º salário pode ajudar, a antecipação de gastos com o novo mínimo também, mas poderiam no máximo evitar que a economia cresça menos neste fim de ano.
Informava-se em Brasília que a Fazenda ainda resistia às pressões do Desenvolvimento, extremamente impressionado com a estagnação da atividade industrial. O acerto final teria sido resolvido às pressas, na madrugada de quarta para quinta-feira. E veio o que veio. Argumento da Fazenda: reduzir impostos logo após a queda do juro e a primeira parcela do 13.º seriam suficientes para animar o consumidor. O mercado reage. Isso não é consistente, duraria alguns meses se contarmos com as liquidações de janeiro. Mas aí vem as férias...
É só o começo. A explicação mais provável para a timidez do governo foi refletida pelo economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. O pacote acanhado parece mais "um sinal do governo para dizer que está atento". Deve vir mais. Muitos lembram que outros setores e a indústria automobilística, que pesa muito, não foram incluídos no pacote atual.
Mantega sinalizou mais ação ao dizer que o governo tem um arsenal de medidas para conter a contaminação da crise externa. Juro menor, mais espaço para novas desonerações, a possibilidade de destravar os investimentos do governo, que sofrem forte retração este ano.
Não é 2008. Os analistas e a mídia se apressaram a comparar o pacote atual com o de 2008. As desonerações, agora de R$ 7,5 bilhões, são consideravelmente menores que os R$ 25 bilhões do plano anterior.
Mas é irreal comparar duas situações diferentes. Depois da quebra do Lehman Brothers, o sistema financeiro também quase quebrou e a economia mundial entrou em recessão. Em 2009, a crise foi maior e atingiu imediatamente o Brasil, que enfrentou recessão de dois trimestres; agora, ainda não.
A crise financeira anterior não foi prevista pelos governos, economistas, FMI, bancos centrais. Ninguém. Pensavam que era apenas uma questão de simples insolvência imobiliária nos Estados Unidos. Isso não está acontecendo agora. Há a irresponsabilidade incrível dominando a Eurozona, "os riscos de contágio na Europa se materializaram", afirma a madame Lagarde, no Brasil, onde veio pedir recursos.
A situação na Europa é grave, sim, pode ter desdobramentos perigosos, mas, pelo menos por enquanto, não se assemelha à de 2008. Pode piorar? Sim, se França e Alemanha continuarem não concordando em adotar medidas evidentes, que eles prometem de novo para os próximos dias 8 e 9.
E nós? Os analistas estão cautelosos e divididos. O governo mostra uma certa tranquilidade com o cenário interno e externo. A situação não é como a de 2008, quando a reação da equipe econômica foi eficiente e imediata, mas a desaceleração da economia agora foi mais brusca, de 7,5% para 3%, se tanto. E o trimestre pode ser negativo. A nova meta é crescer, diz a presidente Dilma.
Fica a pergunta: será que o pacote atual vai conseguir isso? Será que vender mais freezers, geladeiras e fogões vai resolver? Será que a linha branca vai tirar o PIB do vermelho e a economia do clima de recessão em que está vivendo? Para essas perguntas, resta a resposta da esperança.
O governo sinaliza que o pacote atual é apenas o começo. Esperem, vem mais. Quando? Não estamos atrasados? Não é hora de ousar? Perguntas...perguntas intranquilas à espera de respostas que se adiam.
O governo anunciou um pacote de medidas para estimular o consumo ainda neste mês e evitar um PIB negativo no quarto trimestre. O pacote - ou seja lá como se quer chamá-lo - chega atrasado e é pouco, reage o mercado. Os representantes do comércio, o setor mais favorecido, dizem que têm "baixo impacto". Vão vender mais em dezembro, sim, mas isso não vai compensar a forte retração dos últimos meses e o aumento dos estoques. Na área dos eletrodomésticos, onde o governo concentrou os estímulos, previa-se um aumento de vendas de 10% no início do ano, depois, 7 % e em agosto 4%.
Há também a redução de impostos para atrair investimentos externos, para construção civil, mas a soma das desonerações deve ficar em torno de R$ 7,5 bilhões. O 13.º salário pode ajudar, a antecipação de gastos com o novo mínimo também, mas poderiam no máximo evitar que a economia cresça menos neste fim de ano.
Informava-se em Brasília que a Fazenda ainda resistia às pressões do Desenvolvimento, extremamente impressionado com a estagnação da atividade industrial. O acerto final teria sido resolvido às pressas, na madrugada de quarta para quinta-feira. E veio o que veio. Argumento da Fazenda: reduzir impostos logo após a queda do juro e a primeira parcela do 13.º seriam suficientes para animar o consumidor. O mercado reage. Isso não é consistente, duraria alguns meses se contarmos com as liquidações de janeiro. Mas aí vem as férias...
É só o começo. A explicação mais provável para a timidez do governo foi refletida pelo economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. O pacote acanhado parece mais "um sinal do governo para dizer que está atento". Deve vir mais. Muitos lembram que outros setores e a indústria automobilística, que pesa muito, não foram incluídos no pacote atual.
Mantega sinalizou mais ação ao dizer que o governo tem um arsenal de medidas para conter a contaminação da crise externa. Juro menor, mais espaço para novas desonerações, a possibilidade de destravar os investimentos do governo, que sofrem forte retração este ano.
Não é 2008. Os analistas e a mídia se apressaram a comparar o pacote atual com o de 2008. As desonerações, agora de R$ 7,5 bilhões, são consideravelmente menores que os R$ 25 bilhões do plano anterior.
Mas é irreal comparar duas situações diferentes. Depois da quebra do Lehman Brothers, o sistema financeiro também quase quebrou e a economia mundial entrou em recessão. Em 2009, a crise foi maior e atingiu imediatamente o Brasil, que enfrentou recessão de dois trimestres; agora, ainda não.
A crise financeira anterior não foi prevista pelos governos, economistas, FMI, bancos centrais. Ninguém. Pensavam que era apenas uma questão de simples insolvência imobiliária nos Estados Unidos. Isso não está acontecendo agora. Há a irresponsabilidade incrível dominando a Eurozona, "os riscos de contágio na Europa se materializaram", afirma a madame Lagarde, no Brasil, onde veio pedir recursos.
A situação na Europa é grave, sim, pode ter desdobramentos perigosos, mas, pelo menos por enquanto, não se assemelha à de 2008. Pode piorar? Sim, se França e Alemanha continuarem não concordando em adotar medidas evidentes, que eles prometem de novo para os próximos dias 8 e 9.
E nós? Os analistas estão cautelosos e divididos. O governo mostra uma certa tranquilidade com o cenário interno e externo. A situação não é como a de 2008, quando a reação da equipe econômica foi eficiente e imediata, mas a desaceleração da economia agora foi mais brusca, de 7,5% para 3%, se tanto. E o trimestre pode ser negativo. A nova meta é crescer, diz a presidente Dilma.
Fica a pergunta: será que o pacote atual vai conseguir isso? Será que vender mais freezers, geladeiras e fogões vai resolver? Será que a linha branca vai tirar o PIB do vermelho e a economia do clima de recessão em que está vivendo? Para essas perguntas, resta a resposta da esperança.
O governo sinaliza que o pacote atual é apenas o começo. Esperem, vem mais. Quando? Não estamos atrasados? Não é hora de ousar? Perguntas...perguntas intranquilas à espera de respostas que se adiam.