O GLOBO - 05/04/2010
NOVA YORK. Há alguns anos (poucos, na verdade) "vender" o Rio de Janeiro como um estado com oportunidades de investimento em diversas áreas seria desperdício de tempo ou a tentativa seria vista aqui como armação de arapuca para incautos. Não só a situação da economia brasileira era das mais complicadas, como o próprio Rio vivia um quadro de profunda decadência.
Mas isso, felizmente, mudou, em todos os sentidos, seja quanto ao país ou em relação ao estado e sua capital. O governador Sérgio Cabral pôde trazer a Nova York, sem constrangimento, seu secretário de segurança, José Mariano Beltrame, para falar em um painel do seminário organizado pelo Wall Street Journal e o Valor Econômico. Beltrame estava ladeado por Celina Borges Carpi, presidente do grupo Libra (que tem a concessão de um dos dois terminais de cointêineres do Porto do Rio) e Otávio Azevedo, presidente do grupo Andrade Gutierrez. Celina, depois de afirmar que os empresários voltaram a acreditar que uma política específica na segurança trará resultados contra a violência urbana, profetizou que o Estado do Rio terá a melhor estrutura logística do país. Azevedo, por sua vez, informou que estava transferindo de São Paulo para o Rio 250 executivos. E que, ele, mineiro, mas vivendo entre as duas maiores cidades do país, já tinha sido assaltado cinco vezes em São Paulo e nunca no Rio (despertando risos na platéia).
A segurança patrimonial e pessoal é uma grande preocupação para quem avalia oportunidades de investimento no Rio ou em qualquer outra parte do Brasil. Mas hoje já se vê luzes no fim do túnel. Para isso, vem contribuindo a melhora da economia brasileira e do Rio, em especial. Eike Batista, para o qual estavam direcionadas boa parte das atenções do seminário, disse que os altos executivos das empresas americanas deveriam visitar o Brasil, pois só assim constatariam as mudanças que vêm ocorrendo no país. Citou suas empresas como exemplo de que a América do Sul, com destaque para o Brasil, é hoje o melhor lugar do mundo para se investir. Eike confirmou que o presidente chinês Hu Jintao visitará, no dia 17, o Porto do Açu, em construção no Norte Fluminense. Lá deverá ser instalada a primeira siderúrgica chinesa no Brasil.
Brincando com os ouvintes, Eike perguntou como um investidor poderia não se interessar pelo Brasil se, independentemente da nacionalidade do capital, ainda teria a possibilidade de se financiar junto a uma entidade nacional de fomento, como o BNDES, aberto a todo tipo de projeto econômico e financeiramente viável.
Na platéia, muitos consultores ligados ao setor de petróleo e gás. Mas esse nem acabou sendo o foco do seminário, embora Eike tenha frisado que a indústria de equipamentos para essa área (no qual está representado com sua empresa OGX) ainda não descobriu o Brasil.
O seminário sobre investimentos no Rio foi realizado nos salões do famoso hotel Plaza. A última vez que tinha postos os pés ali foi em dezembro de 1982, para cobrir as reuniões de autoridades brasileiras com representantes dos credores do país. O clima era tenso porque o Brasil estava sem reservas cambiais, sem condições de honrar seus compromissos. Um acordo foi feito, mas levamos anos para sair daquela enrascada.
Desta vez, não se falou em dívidas (a não por uma breve menção do secretário estadual de Fazenda, Joaquim Levy, ao se referir ao grau de investimento obtido recentemente pelo estado no ranking da agência de classificação de risco Standard&Poors). O tema passou a ser investimento, Copa do Mundo de 2014, Olimpíadas de 2016. Uma mudança da água para o vinho.
Paragominas já esteve no topo da lista dos municípios do Pará com índices de desmatamento acelerado. Funcionavam lá nada menos que 200 serrarias. Um esforço coletivo, começando pela prefeitura, que envolveu pecuaristas e agricultores, reduziu o desmatamento a praticamente zero nos dois últimos anos. Com isso, Paragominas foi a primeira cidade amazônica a sair da lista que o impedia de receber créditos do governo.
O número de serrarias acabou diminuindo para cerca de 50, abastecidas com árvores de replantio. No lugar das antigas está surgindo uma fábrica de MDF (só há oito delas em todo o Brasil), produto cada vez mais utilizado pela indústria de móveis. A fábrica — a primeira se instalar nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste — usará uma árvore nativa como matéria-prima.
O município de Paragominas é cortado pela rodovia Belém-Brasília. Ainda tem 55% de seu território coberto por florestas. Está agora entre as regiões com mais rápido percentual de reflorestamento.
Um exemplo de como o desenvolvimento sustentável não é romantismo: conciliar atividade econômica rentável com preservação ambiental é perfeitamente possível.
O presidente da Unica, que reúne produtores de álcool em São Paulo, Marcos Jank, espera que os EUA eliminem, este ano, a tarifa de 2,5% incidente sobre importações do etanol brasileiro. Fundamental para isso foi o reconhecimento, pelos americanos, de que o etanol derivado da cana-de-açúcar reduz em 61% as emissões de gases poluentes, quando comparado a gasolina.
No caso do etanol do milho, o percentual de redução é de 21%. O percentual do etanol de cana seria até maior, mas nesse cálculo os americanos descontam as emissões relativas ao transporte (por via marítima e terrestre) do álcool até o consumidor nos EUA, além do "efeito indireto do uso da terra", que seria o deslocamento da pecuária e de outras culturas de florestas para áreas de floresta.
Jank contesta, pois o crescimento da produção de cana no Brasil se dá mais por ganho de produtividade, com a aplicação de técnicas avançadas e variedades geneticamente melhoradas, do que por expansão do plantio.
Quanto ao futuro, ele acredita que a consolidação do etanol no Brasil se dará mesmo pela ampliação da frota de carros flex. No exterior, será pela mistura do álcool à gasolina (30 países já o fazem).
Os comentários de Jank estão na internet, no podcast da Rio Bravo, gestora de fundos e carteiras de investimento, que tem como um dos sócios o expresidente do Banco Central Gustavo Franco.
Mas isso, felizmente, mudou, em todos os sentidos, seja quanto ao país ou em relação ao estado e sua capital. O governador Sérgio Cabral pôde trazer a Nova York, sem constrangimento, seu secretário de segurança, José Mariano Beltrame, para falar em um painel do seminário organizado pelo Wall Street Journal e o Valor Econômico. Beltrame estava ladeado por Celina Borges Carpi, presidente do grupo Libra (que tem a concessão de um dos dois terminais de cointêineres do Porto do Rio) e Otávio Azevedo, presidente do grupo Andrade Gutierrez. Celina, depois de afirmar que os empresários voltaram a acreditar que uma política específica na segurança trará resultados contra a violência urbana, profetizou que o Estado do Rio terá a melhor estrutura logística do país. Azevedo, por sua vez, informou que estava transferindo de São Paulo para o Rio 250 executivos. E que, ele, mineiro, mas vivendo entre as duas maiores cidades do país, já tinha sido assaltado cinco vezes em São Paulo e nunca no Rio (despertando risos na platéia).
A segurança patrimonial e pessoal é uma grande preocupação para quem avalia oportunidades de investimento no Rio ou em qualquer outra parte do Brasil. Mas hoje já se vê luzes no fim do túnel. Para isso, vem contribuindo a melhora da economia brasileira e do Rio, em especial. Eike Batista, para o qual estavam direcionadas boa parte das atenções do seminário, disse que os altos executivos das empresas americanas deveriam visitar o Brasil, pois só assim constatariam as mudanças que vêm ocorrendo no país. Citou suas empresas como exemplo de que a América do Sul, com destaque para o Brasil, é hoje o melhor lugar do mundo para se investir. Eike confirmou que o presidente chinês Hu Jintao visitará, no dia 17, o Porto do Açu, em construção no Norte Fluminense. Lá deverá ser instalada a primeira siderúrgica chinesa no Brasil.
Brincando com os ouvintes, Eike perguntou como um investidor poderia não se interessar pelo Brasil se, independentemente da nacionalidade do capital, ainda teria a possibilidade de se financiar junto a uma entidade nacional de fomento, como o BNDES, aberto a todo tipo de projeto econômico e financeiramente viável.
Na platéia, muitos consultores ligados ao setor de petróleo e gás. Mas esse nem acabou sendo o foco do seminário, embora Eike tenha frisado que a indústria de equipamentos para essa área (no qual está representado com sua empresa OGX) ainda não descobriu o Brasil.
O seminário sobre investimentos no Rio foi realizado nos salões do famoso hotel Plaza. A última vez que tinha postos os pés ali foi em dezembro de 1982, para cobrir as reuniões de autoridades brasileiras com representantes dos credores do país. O clima era tenso porque o Brasil estava sem reservas cambiais, sem condições de honrar seus compromissos. Um acordo foi feito, mas levamos anos para sair daquela enrascada.
Desta vez, não se falou em dívidas (a não por uma breve menção do secretário estadual de Fazenda, Joaquim Levy, ao se referir ao grau de investimento obtido recentemente pelo estado no ranking da agência de classificação de risco Standard&Poors). O tema passou a ser investimento, Copa do Mundo de 2014, Olimpíadas de 2016. Uma mudança da água para o vinho.
Paragominas já esteve no topo da lista dos municípios do Pará com índices de desmatamento acelerado. Funcionavam lá nada menos que 200 serrarias. Um esforço coletivo, começando pela prefeitura, que envolveu pecuaristas e agricultores, reduziu o desmatamento a praticamente zero nos dois últimos anos. Com isso, Paragominas foi a primeira cidade amazônica a sair da lista que o impedia de receber créditos do governo.
O número de serrarias acabou diminuindo para cerca de 50, abastecidas com árvores de replantio. No lugar das antigas está surgindo uma fábrica de MDF (só há oito delas em todo o Brasil), produto cada vez mais utilizado pela indústria de móveis. A fábrica — a primeira se instalar nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste — usará uma árvore nativa como matéria-prima.
O município de Paragominas é cortado pela rodovia Belém-Brasília. Ainda tem 55% de seu território coberto por florestas. Está agora entre as regiões com mais rápido percentual de reflorestamento.
Um exemplo de como o desenvolvimento sustentável não é romantismo: conciliar atividade econômica rentável com preservação ambiental é perfeitamente possível.
O presidente da Unica, que reúne produtores de álcool em São Paulo, Marcos Jank, espera que os EUA eliminem, este ano, a tarifa de 2,5% incidente sobre importações do etanol brasileiro. Fundamental para isso foi o reconhecimento, pelos americanos, de que o etanol derivado da cana-de-açúcar reduz em 61% as emissões de gases poluentes, quando comparado a gasolina.
No caso do etanol do milho, o percentual de redução é de 21%. O percentual do etanol de cana seria até maior, mas nesse cálculo os americanos descontam as emissões relativas ao transporte (por via marítima e terrestre) do álcool até o consumidor nos EUA, além do "efeito indireto do uso da terra", que seria o deslocamento da pecuária e de outras culturas de florestas para áreas de floresta.
Jank contesta, pois o crescimento da produção de cana no Brasil se dá mais por ganho de produtividade, com a aplicação de técnicas avançadas e variedades geneticamente melhoradas, do que por expansão do plantio.
Quanto ao futuro, ele acredita que a consolidação do etanol no Brasil se dará mesmo pela ampliação da frota de carros flex. No exterior, será pela mistura do álcool à gasolina (30 países já o fazem).
Os comentários de Jank estão na internet, no podcast da Rio Bravo, gestora de fundos e carteiras de investimento, que tem como um dos sócios o expresidente do Banco Central Gustavo Franco.