O Estado de S.Paulo - 01/04/2010
O presidente Luiz Inácio da Silva e a ministra Dilma Rousseff rodaram o País à vontade por dois anos inteiros sem ser importunados por militantes de partidos da oposição ou por manifestações organizadas com o objetivo de impedir que nadassem "de braçada" nos comícios disfarçados em solenidades oficiais durante dois anos.
E não por falta de quem preferisse na época adequada votar na candidatura oposicionista conforme o registrado pelas pesquisas de opinião durante todo esse período, a despeito da estupenda aprovação do governo Lula.
Houve até quem criticasse a oposição por não levar "o povo às ruas" para não deixar que o governo fizesse política sem contraditório. É um jeito de fazer as coisas. Ou até falta de jeito. Ou carência de base social, identificação popular, o que for.
Muito bem. Partido com militância forte conta como vantagem. É legítimo e é do jogo.
O que foge à regra da civilidade é a violência, a falta de respeito com o cotidiano de uma cidade, o uso de estruturas coletivas para embates partidários e o cerceamento à movimentação de candidatos, cerco de milícias organizadas em defesa da manutenção de empregos, de transferências de recursos, de uma situação de poder que nada tem a ver com a disputa entre candidatos mais bem qualificados para presidir o Brasil.
Os dois principais candidatos à Presidência da República fizeram suas festividades para marcar a despedida de Dilma Rousseff e de José Serra, respectivamente da Casa Civil da Presidência da República e do governo de São Paulo.
Mobilizaram recursos em boa medida públicos ? senão em toda ?, mostraram cada um a sua força. Mas no caso de São Paulo os sindicatos ligados à CUT acharam por bem atrapalhar a festa do adversário e atazanar a vida do paulistano com greves, passeatas, interrupções de avenidas, congestionamentos, ameaças, hostilidades de toda sorte. Não se pode imaginar que tenha sido a mando da candidata que apoiam.
Nem acreditar por antecipação que o adversário não vá, em reação, recorrer ao mesmo tipo de expediente. Mas em última análise são eles sim ? os candidatos ? os responsáveis por evitar que as campanhas descambem para a selvageria.
As coisas começaram mal quando o presidente Lula começou a imprimir o padrão da popularidade inimputável que a todos os joelhos dobra, a todas as espinhas quebra.
No Brasil não funciona assim. Há uma imensa massa manobrável. Mas há outra imensidão resistente a exorbitâncias. Por cima dela não passa boi, não passa boiada, não passa controle "social" da informação, não passa terceiro mandato nem tampouco tentativas de dividir o País em nome de ambições hegemônicas de gente que não aceita a regra igualitária da competição e tem ojeriza ao da alternância de poder.
Cá pra nós. Essa história de Henrique Meirelles pedir tempo a Lula para pensar não existe. Ambos querem a vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff e ponto final. Não há nada a ser pensado, só a chance de isso vir a acontecer ou não.
Há cerca de 15 dias quando chegou a circular a notícia de que estava decidido a concorrer ao Senado por Goiás ? num período em que o presidente Lula queria agradar ao PMDB ?, Meirelles telefonou a um amigo avisando da decisão.
Minutos depois ligou de novo acrescentando que não era bem assim: o nome dele ainda estava na parada para vice.
Nesse meio tempo, o presidente do PMDB e candidato do partido a vice, Michel Temer, praticamente vetou Meirelles em público. E mais: a pesquisa Datafolha com Serra 9 pontos à frente de Dilma reforçou a posição do PMDB, vale dizer, de Temer, na chapa.
Qualquer que seja, ou tenha sido ontem, a decisão ? ficar ou sair do governo ?, quem dá as ordens é Lula.
Que, aliás, não tem se entendido bem com sua bússola no que tange ao rumo do PMDB.
Inconsoláveis. Tem petista que não se conforma com a decisão do DEM de proibir alianças com o PT em todo o País. Promete lutar, ir ao Supremo se preciso for.
Entrevista:O Estado inteligente
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