O Estado de S. Paulo - 03/04/2010
Quem acompanhou pela imprensa afirmações recentes dos diretores da Petrobrás sobre o projeto de capitalização da empresa ficou com a impressão de enorme desencontro de opiniões.
Dia 24 de março, em declarações dadas no Rio, o presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli, mostrou preocupação com a falta de pressa do Congresso em definir o novo marco regulatório do setor. Avisou que o programa de investimentos exige reforço de capital ainda no primeiro semestre do ano e disse mais coisas que levaram muita gente a entender que, se o Congresso não aprovar a tempo o projeto de lei de capitalização, a Petrobrás colocaria em marcha um plano B.
Não ficou claro o que seria esse plano alternativo. Mas dois dias depois o gerente de Relações com os Investidores, Alexandre Quintão, em reunião com analistas de mercado promovida pela Apimec, pareceu admitir que, na hipótese de falta de autorização do Congresso, a subscrição do novo capital da Petrobrás poderia ser realizada em ações preferenciais.
Terça-feira, o diretor Financeiro da estatal, Almir Barbassa, respondendo a perguntas de investidores em Nova York, negou a existência de um plano B: "Não trabalhamos com outra hipótese que não seja a aprovação do projeto de capitalização pelo Congresso." Também disse que não haverá redução do programa de investimentos. Mas não explicou o que aconteceria se o Congresso não aprovar a capitalização em tempo hábil ou se não houver condições de mercado para a maior chamada de capital da história, de pelo menos US$ 30 bilhões.
Quarta-feira, Gabrielli bateu no mesmo bumbo: "Não há plano B", avisou. E não voltou a avançar sobre o que aconteceria se o Congresso demorar demais para aprovar a proposta do governo.
A esta Coluna, em nota escrita, a direção da Petrobrás afirma que "não há desencontro nas informações prestadas por seus executivos e, sim, distorção do que disseram. A Petrobrás trabalha com um único cenário, o da capitalização com cessão onerosa". Assim, se a capitalização não for possível neste ano ou por falta de decisão do Congresso ou de condições de mercado, não dá para saber o que virá. E, no entanto, são hipóteses com boa probabilidade de que venham a acontecer.
Flávio Conde, analista da Gradual Investimentos, por exemplo, teme que este não seja o melhor momento para uma operação de subscrição tão grande porque as condições externas (crise europeia, incertezas na China) não ajudam: "O apetite por novas emissões diminuiu. E o apetite por grandes emissões, que envolvam mais de US$ 10 bilhões, diminuiu ainda mais." Nelson Matos, analista do BB Investimentos, adverte para a quantidade de incógnitas que envolvem o processo. A existência ou não de um plano B, caso o projeto não seja aprovado pelo Congresso, é uma incógnita adicional. E o levantamento de capital somente com a participação dos minoritários diluiria a participação da União no capital da empresa, o que foge da proposta original do governo. Auro Rozenbaum, analista do Bradesco, imagina que outras saídas, caso a capitalização não ocorra, seriam vender reservas de petróleo da própria Petrobras ou reduzir os investimentos.
Assim, o estado maior da Petrobras está entrando numa guerra de tudo ou nada. Não prevê saídas estratégicas se, por alguma razão, os planos originais derem errado. Colaborou Isadora Peron .
Entrevista:O Estado inteligente
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