O Estado de S. Paulo - 04/06/2009 |
O resgate da General Motors Corporation (GM) e da Chrysler com dezenas de bilhões de dólares em recursos públicos dos Estados Unidos foi justificado como uma operação de interesse nacional pelo presidente Barack Obama. Mas envolve enormes conflitos. Em seu pronunciamento de segunda-feira, Obama avisou que o governo americano se via como um "acionista relutante" da GM, agora que terá 60% de participação na companhia. Ele diz que se tornou necessário salvar as montadoras em nome da manutenção dos empregos e da imagem do país. Mas há enormes questionamentos a fazer. Um deles diz respeito aos subsídios. A intervenção do governo americano é uma enorme operação de distribuição de subsídios passível de contestação nos tribunais da Organização Mundial do Comércio (OMC), na medida em que parece configurar competição desleal no mercado de veículos dos Estados Unidos e do resto do mundo. A defesa da concorrência não se faz apenas desmanchando monopólios ou fusões suspeitas. Faz-se, também, por meio da premiação da gestão bem sucedida e da entrega das administrações irresponsáveis à sua própria sorte. Afinal, não são essas as regras do capitalismo sadio? Por que, por exemplo, a GM e a Chrysler puderam pintar e bordar durante anos de gestão que agora se revelou desastrosa, para, em seguida, receberem presentões oficiais? Enquanto isso, por que a Ford - e não vamos nem puxar aqui pelo nome de outras montadoras instaladas nos Estados Unidos - deve se conformar com comer o pão que o diabo amassou? Não seria melhor para a Ford parar de lutar para que o governo americano intervenha depois com injeções generosas de recursos públicos, sempre em nome da manutenção dos empregos e do orgulho nacional? Enfim, a concessão de status de invulnerabilidade a empresas e bancos apenas porque são grandes demais (too big to fail) alimenta o risco moral e encoraja administrações levianas. Isso não pode ser bom para o objetivo da sociedade. O outro grande conflito de interesses que sobrevém da operação de salvamento de duas das três grandes montadoras americanas é a nova condição da central sindical do setor, a United Auto Workers (UAW), cujo fundo de saúde se tornou proprietário de 17,5% do capital da GM e de 55% do capital da Chrysler. Nessa hora, os sindicatos não tiveram escolha. Ou trocariam seus créditos nas montadoras por posições acionárias ou correriam o risco de perder tudo. Mas, afinal, o que sairá desse arranjo? Qual será o interesse prioritário dos trabalhadores: obter o máximo de lucro para as empresas ou assegurar os maiores aumentos de salário, a melhor aposentadoria e os melhores planos de saúde? Nos anos 60, os frades dominicanos ajudaram a criar aqui no Brasil a Unilabor, empresa do setor de móveis, administrada por uma cooperativa de trabalhadores. Meses após sua fundação, os funcionários convocaram uma assembleia para decidir por uma greve para aumento de salários. "Contra quem é essa greve?", perguntou o líder. "Contra o patrão que paga salário baixo", responderam. "Mas o patrão são vocês...", ouviram do outro lado. É esse tipo de pergunta que os trabalhadores da GM e da Chrysler terão de responder agora. Confira Atrás da esquina - Todos os dias, aparece autoridade denunciando o risco de inflação nos Estados Unidos. Terça-feira, foi a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Ontem, foi o diretor do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) Thomas Hoenig. A preocupação geral é com o princípio de rejeição dos títulos do Tesouro americano de 30 anos, cujo rendimento (yield) não para de subir. Enquanto isso, o presidente do Fed, Ben Bernanke, avisou ontem que, além de não haver sinais de inflação, o desemprego continua crescendo e a crise pode ter uma recaída forte. |
Entrevista:O Estado inteligente
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Quem é o patrão? Celso Ming -
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