Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 06, 2009

O índice da repugnância

da veja

Macacos nos mordam

Mas só se forem bem limpinhos, ou você vai disparar na 
escala de nojo. Isso mesmo: estudo americano estabelece
índice de repugnância e suas conexões sociopolíticas


Suzana Villaverde

Divulgação
PRATO CHEIO
Kate Capshaw no banquete simiesco de Indiana Jones e o Templo da Perdição: um clássico

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Nesta reportagem
• 
TESTE DE RESISTÊNCIA
Qual é sua reação diante de situações que atentam contra a higiene, o bom gosto e o estômago frágil?

Você é do tipo de pessoa que compra um pacote de frutas pré-lavadas, chega em casa e lava tudo de novo? Não encosta em nenhum machucado, nem o seu próprio? Sente pavor incontrolável diante de todo e qualquer inseto? O motivo, como era de esperar, está num recanto do seu cérebro, território que vem sendo mapea-do com precisão cada vez maior, para intenso fascínio dos leigos no assunto. O recanto, no caso, chama-se córtex pré-frontal medial, uma área crucial para a elaboração de julgamentos. Nos indivíduos que têm circuitos neurológicos mais sensíveis a ameaças sociais, essa região do cérebro desencadeia intensa aversão a elementos externos indesejáveis. Daí a sensação de nojo incontrolável diante de situações que os mais insensíveis toleram e até dão risada, como atestam clássicos da repugnância do patamar da inesquecível cena do banquete com miolos de macaco em Indiana Jones e o Templo da Perdição, em que a atriz Kate Capshaw reflete o sentimento das pessoas normais diante daquilo. Mais importante ainda, do ponto de vista das pesquisas comportamentais, é o fato de que, quando alguém não suporta a visão de uma barata, não é a barata, em si, que desperta tamanha aversão, mas sim o julgamento moral que faz dela: um bicho que vive no esgoto e na sujeira. Para avaliar o grau de repugnância dos indivíduos, o psicólogo americano Jonathan Haidt, professor da Universidade de Virgínia, desenvolveu, com colegas, uma "escala de nojo" que virou notícia, inclusive, no New York Times. Sua função, segundo ele, não é simplesmente dividir as pessoas entre as que têm maior ou menor tolerância a coisas repugnantes. A definição é mais abrangente, envolve valores e regras pessoais e chega até o espectro político: quanto mais cheio de cuidados com o que come, vê e manipula, mais conservador é o indivíduo. "Liberais costumam ser abertos a novas experiências e situações. Conservadores adotam uma postura cuidadosa, escolhem com segurança – e geralmente têm mais nojo", diz Haidt, usando a terminologia americana para esquerda e direita.

O teste mede a propensão individual para a repulsa com perguntas que avaliam três tipos de nojo: aquele que recorda que somos mortais e vamos apodrecer, como o que se sente diante de cadáveres; o que remete a contaminação, como usar o garfo que outra pessoa levou à boca; e o nojo clássico, que faz tapar a boca e virar o rosto. A aversão a situações de contaminação, segundo Haidt, é a mais indicativa da tendência conservadora. "Ela não é determinante, até porque na ciência social não existem leis. Mas comprova uma predisposição, um empurrão naquela direção", explica. Mulheres sentem, sim, mais nojo do que homens, e Haidt credita essa atitude a seu papel na evolução humana: "São as mulheres que cuidam dos bebês e por isso precisam se preocupar com limpeza e risco de infecções. Homens, em geral, nem chegam a reparar na sujeira". Na sociedade atual, o nojo visceral não tem mais função evolutiva, mas a repugnância diante de certas ações ainda molda o comportamento humano. "O chamado nojo moral, que faz o indivíduo rejeitar ideias e atitudes deploráveis, é capaz de desencadear reações compatíveis com as provocadas por um alimento estragado", explica o neurologista Jorge Moll, coordenador do Centro de Neurociências, no Rio de Janeiro. Quando o nojo é excessivo, e incomoda, a forma de amenizá-lo é uma só: expor-se continuadamente ao objeto da aversão. Técnico de necropsia há 45 anos, o paraibano Geraldo Ferreiro, 69, lembra a primeira vez que teve de abrir um cadáver. "Não sabia direito qual era o trabalho e, quando soube, vomitei a feijoada que tinha almoçado", diz, resumindo em uma dúzia de palavras algumas das situações mais nojentas possíveis para um ser humano. Passou três meses sem comer carne, mas acabou se acostumando. "Hoje mexo em cadáveres em decomposição sem problema algum", orgulha-se. Já Haidt, após tantos anos estudando o nojo, ainda se arrepia só de pensar em usar um banheiro sujo. "Para mim, é o pior", confessa, deixando entrever que quem é de esquerda, mesmo, nem repara nessas coisas.

Teste de resistência

Qual é sua reação diante de situações que atentam contra a higiene, o bom gosto e o estômago frágil? O teste abaixo se propõe a definir os diferentes índices de tolerância ou repugnância

1. Você é assim?

A cada proposição clique na alternativa que melhor se traduza sua reação:

Eu jamais comeria carne de macaco
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Eu me sentiria desconfortável se entrasse numa aula de ciências e visse uma mão humana conservada num vidro
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Sinto-me incomodado ao ouvir alguém pigarreando
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Nunca encosto nenhuma parte do corpo em vaso sanitário de banheiro público
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Mudaria de caminho para não passar perto de cemitério
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Ver uma barata na casa de outra pessoa me incomoda
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Eu me sentiria muitíssimo mal se tocasse num cadáver
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Se vejo alguém vomitar, também sinto ânsia de vômito
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Não iria a meu restaurante preferido se soubesse que o chef está gripado
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Eu me sentiria desconfortável se visse alguém tirando o olho de vidro na minha frente
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Eu me incomodaria se visse um rato cruzar a minha frente num parque
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Mesmo com fome, não tomaria minha sopa preferida se tivesse sido mexida com um mata-moscas muito bem lavado
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

Eu me sentiria desconfortável em dormir num bom quarto de hotel se alguém tivesse morrido lá de ataque cardíaco na noite anterior
Discordo totalmente
Discordo em parte
 Sou indiferente
 Concordo em parte
 Concordo totalmente

2. Repugnante demais?

A cada situação clique na alternativa que melhor se traduza sua reação:

Ver larvas cobrindo um pedaço de carne na lata de lixo
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Atravessar uma passagem subterrânea e sentir cheiro de urina
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Tomar um gole de refrigerante e depois perceber que o copo é de um conhecido
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Ter de pegar com as mãos nuas o gato morto de algum amigo
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Ver alguém pôr ketchup no sorvete de creme e comer
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Ver alguém acidentado com o intestino de fora
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Descobrir que uma pessoa conhecida só troca a roupa de baixo uma vez por semana
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Ganhar de um amigo um chocolate em forma de excremento de cachorro
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Tocar sem querer nas cinzas de uma pessoa cremada
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Levar o copo à boca e sentir cheiro de leite azedo
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Ter de encher de ar uma camisinha na aula de educação sexual
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Andar descalço no cimento e pisar numa minhoca
Não acho nada nojento
Acho ligeiramente nojento
Acho um pouco nojento
Acho muito nojento
Acho extremamente nojento

Total: 

Conclusão

Na pesquisa feita, a média de pontos das mulheres foi 47 e a dos homens, 39. Dez pontos acima ou abaixo ainda é considerado dentro da média. Menos que isso, você é despreocupado, o que é bom, mas corre certorisco de contrair infecções. Mais que isso, você é limpíssimo,o que é bom, mas vive sob tensão e pode ser mal compreendidopelas pessoas – principalmente as do outro grupo

Fontes: Jonathan Haidt (Universidade da Virgínia), Paul Rozin (Universidade da Pensilvânia)


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