O GLOBO
As boas notícias: o ministro Guido Mantega disse que a confiança está voltando à economia; o economista José Roberto Mendonça de Barros acredita que a queda livre da economia acabou; o empresário Jorge Gerdau, que tem usinas no Brasil e nos Estados Unidos, acha que aqui está melhor. Mas, nesta terça-feira, o Brasil será oficialmente informado de que está em recessão.
Hoje, sai o resultado do PIB do primeiro trimestre e ele vai confirmar o que temos dito aqui desde o começo do ano: o Brasil entrou em recessão no final do ano passado. Na quarta-feira, o país verá um fato histórico: a queda dos juros abaixo de 10%. Qualquer que seja a decisão do Copom - de corte de 0,5; de 0,75; ou de 1 ponto percentual -, os juros vão atravessar uma marca histórica.
Ontem, o Fórum Globonews reuniu Mantega, Gerdau e José Roberto. Coordenei o debate cujo resumo vai ao ar no próximo domingo. Mesmo divergindo em vários pontos, os três mostram o retrato de um meio do caminho: a situação não está tão grave quanto já foi, mas ainda há muitos desafios a serem enfrentados antes que se possa dizer que a crise acabou.
José Roberto acha que a recuperação pode ser em "W", ou seja, pode haver outra queda depois dessa melhora recente. Gerdau acha que há chances de evitar um novo tombo. Ele acredita que o risco de a situação voltar a piorar está nos Estados Unidos.
- Este ano não escapamos de uma recessão forte nos EUA, nos países desenvolvidos, e em parte dos emergentes - disse Mantega, que continua afirmando que o Brasil deve crescer 1%. Mas ele admite que isso não é projeção, mas uma meta.
José Roberto acredita que o resultado do PIB do primeiro trimestre vai mostrar quedas de 3,4% em relação ao mesmo período do ano passado e de 2,3% em relação ao último trimestre. E que em 2009 o país deve ficar num PIB de zero. Ele não faz a previsão mais pessimista do mercado. Mantega não quis arriscar números do PIB do trimestre. No almoço que se seguiu ao Fórum, sentei ao lado do ministro, e ele me disse que o segundo trimestre deve ser positivo, ainda que ele esteja esperando uma recuperação fraca, de talvez 0,5%. O que todos concordaram é que o final do ano será muito melhor do que esse trimestre que deixamos. José Roberto acha que o consumo das famílias estará crescendo a 1,2% no fim do ano.
Jorge Gerdau acha que mais importante do que o momento atual é o fato de que não nos preparamos para sair bem da crise. Segundo ele, o Brasil não fez mudanças necessárias para ser mais competitivo e continua taxando o investimento.
- Fiz um investimento de US$600 milhões em São Paulo. Paguei US$130 milhões de imposto, consegui abater uma parte disso, mas pelo menos US$60 milhões não recuperei - disse ele, explicando em grandes números o que quer dizer com a reclamação de que "no Brasil se paga imposto sobre o imobilizado".
Onde não houve acordo foi no gasto público. O economista disse que o Brasil está aumentando o gasto de forma irracional porque estão crescendo as despesas correntes há muitos anos em termos reais. O ministro disse que aumento de gasto é a forma de se fazer política anticíclica. O empresário acha que o gasto não é eficiente. Esse assunto, claro, tomou boa parte da discussão.
Mantega acha que está reduzindo a carga tributária com medidas pontuais. Gerdau concordou que várias das medidas tomadas pelo governo aliviaram, sim, as empresas. Mas José Roberto alerta que tudo o que provocou o aumento da arrecadação nos últimos anos não vai mais ocorrer.
- O bônus tributário acabou. O governo aumentou a arrecadação por que vários setores que não pagavam imposto passaram a pagar com mudanças como o Simples. Houve queda de custo com a redução de juros, só este ano o governo vai deixar de gastar um ponto percentual do PIB com juros. Mas, nada disso se repete. E o governo aumentou gastos de forma permanente com funcionários e salários - disse José Roberto.
- As contas fiscais estão melhores no Brasil que em outros países. Os gastos com pessoal estão estáveis como percentual do PIB e o Brasil precisava mesmo contratar mais e gastar mais com educação, saúde, segurança. Não acho que isso é gasto - respondeu Mantega.
Os três acham que o Brasil volta a crescer no ano que vem, ainda que mais devagar. José Roberto aposta em 3%. Ele acredita que o câmbio deve continuar fraco, que pode ir abaixo de R$1,90 e que no fim do ano deve estar em R$2,00. Mantega descartou qualquer tipo de política para tentar evitar a entrada de dólares. Nem IOF sobre entrada de capital. Ele disse que tem entrado pouco recurso para renda fixa, que a maior parte é para a bolsa. Sobre o IPI de automóveis, cuja redução acaba no fim do mês, o ministro não quis adiantar se ele continua ou não. Lembrou apenas que é uma política temporária.
No debate de duas horas e meia muita coisa foi conversada, mas no resumo o que se vê é a cena de um país atravessando a crise. Felizmente, uma parte dela já ficou para trás. E o numero que sai hoje faz parte desse passado.
As boas notícias: o ministro Guido Mantega disse que a confiança está voltando à economia; o economista José Roberto Mendonça de Barros acredita que a queda livre da economia acabou; o empresário Jorge Gerdau, que tem usinas no Brasil e nos Estados Unidos, acha que aqui está melhor. Mas, nesta terça-feira, o Brasil será oficialmente informado de que está em recessão.
Hoje, sai o resultado do PIB do primeiro trimestre e ele vai confirmar o que temos dito aqui desde o começo do ano: o Brasil entrou em recessão no final do ano passado. Na quarta-feira, o país verá um fato histórico: a queda dos juros abaixo de 10%. Qualquer que seja a decisão do Copom - de corte de 0,5; de 0,75; ou de 1 ponto percentual -, os juros vão atravessar uma marca histórica.
Ontem, o Fórum Globonews reuniu Mantega, Gerdau e José Roberto. Coordenei o debate cujo resumo vai ao ar no próximo domingo. Mesmo divergindo em vários pontos, os três mostram o retrato de um meio do caminho: a situação não está tão grave quanto já foi, mas ainda há muitos desafios a serem enfrentados antes que se possa dizer que a crise acabou.
José Roberto acha que a recuperação pode ser em "W", ou seja, pode haver outra queda depois dessa melhora recente. Gerdau acha que há chances de evitar um novo tombo. Ele acredita que o risco de a situação voltar a piorar está nos Estados Unidos.
- Este ano não escapamos de uma recessão forte nos EUA, nos países desenvolvidos, e em parte dos emergentes - disse Mantega, que continua afirmando que o Brasil deve crescer 1%. Mas ele admite que isso não é projeção, mas uma meta.
José Roberto acredita que o resultado do PIB do primeiro trimestre vai mostrar quedas de 3,4% em relação ao mesmo período do ano passado e de 2,3% em relação ao último trimestre. E que em 2009 o país deve ficar num PIB de zero. Ele não faz a previsão mais pessimista do mercado. Mantega não quis arriscar números do PIB do trimestre. No almoço que se seguiu ao Fórum, sentei ao lado do ministro, e ele me disse que o segundo trimestre deve ser positivo, ainda que ele esteja esperando uma recuperação fraca, de talvez 0,5%. O que todos concordaram é que o final do ano será muito melhor do que esse trimestre que deixamos. José Roberto acha que o consumo das famílias estará crescendo a 1,2% no fim do ano.
Jorge Gerdau acha que mais importante do que o momento atual é o fato de que não nos preparamos para sair bem da crise. Segundo ele, o Brasil não fez mudanças necessárias para ser mais competitivo e continua taxando o investimento.
- Fiz um investimento de US$600 milhões em São Paulo. Paguei US$130 milhões de imposto, consegui abater uma parte disso, mas pelo menos US$60 milhões não recuperei - disse ele, explicando em grandes números o que quer dizer com a reclamação de que "no Brasil se paga imposto sobre o imobilizado".
Onde não houve acordo foi no gasto público. O economista disse que o Brasil está aumentando o gasto de forma irracional porque estão crescendo as despesas correntes há muitos anos em termos reais. O ministro disse que aumento de gasto é a forma de se fazer política anticíclica. O empresário acha que o gasto não é eficiente. Esse assunto, claro, tomou boa parte da discussão.
Mantega acha que está reduzindo a carga tributária com medidas pontuais. Gerdau concordou que várias das medidas tomadas pelo governo aliviaram, sim, as empresas. Mas José Roberto alerta que tudo o que provocou o aumento da arrecadação nos últimos anos não vai mais ocorrer.
- O bônus tributário acabou. O governo aumentou a arrecadação por que vários setores que não pagavam imposto passaram a pagar com mudanças como o Simples. Houve queda de custo com a redução de juros, só este ano o governo vai deixar de gastar um ponto percentual do PIB com juros. Mas, nada disso se repete. E o governo aumentou gastos de forma permanente com funcionários e salários - disse José Roberto.
- As contas fiscais estão melhores no Brasil que em outros países. Os gastos com pessoal estão estáveis como percentual do PIB e o Brasil precisava mesmo contratar mais e gastar mais com educação, saúde, segurança. Não acho que isso é gasto - respondeu Mantega.
Os três acham que o Brasil volta a crescer no ano que vem, ainda que mais devagar. José Roberto aposta em 3%. Ele acredita que o câmbio deve continuar fraco, que pode ir abaixo de R$1,90 e que no fim do ano deve estar em R$2,00. Mantega descartou qualquer tipo de política para tentar evitar a entrada de dólares. Nem IOF sobre entrada de capital. Ele disse que tem entrado pouco recurso para renda fixa, que a maior parte é para a bolsa. Sobre o IPI de automóveis, cuja redução acaba no fim do mês, o ministro não quis adiantar se ele continua ou não. Lembrou apenas que é uma política temporária.
No debate de duas horas e meia muita coisa foi conversada, mas no resumo o que se vê é a cena de um país atravessando a crise. Felizmente, uma parte dela já ficou para trás. E o numero que sai hoje faz parte desse passado.