Blog Noblat
Quem reclama dos excessos populistas e das excentricidades nada acadêmicas dos políticos brasileiros deveria prestar mais atenção no presidente Hugo Chávez e se contentar que tudo seria muito pior se estivesse na Venezuela. O bolivariano tem um programa televisivo semanal chamado Aló Presidente onde enfara o povo do seu país com discursos intermináveis.
Ao vivo, demite e nomeia ministros, privatiza empresas, às vezes canta, em outras censura veículos de comunicação. Ou seja, administra o seu país por intermédio de um programa de TV criado para proteger os venezuelanos da contrainformação produzida pelos veículos de informação de direita. Leia-se a imprensa que tenta ser livre em uma ditadura socialista.
Na semana passada Chávez se superou ao estrear o que seria um novo formato do programa que faz dez anos em 2009. Trata-se do imperdível Aló Presidente Teórico. Teórico? Perfeitamente! Conferi a estreia e nunca me diverti tanto com tamanha asneira televisiva. De início, Chávez fez instrutiva explanação do que se tratava o Aló Presidente Teórico e passou a se dedicar à primeira lição: "O poder popular, os conselhos comunais, a comuna". Imediatamente, a plateia irrompeu em aplausos.
O curiboca do Orinoco instou todos os políticos aliados a preparar a formação das comunas, por meio das quais será "parido" o verdadeiro socialismo. Aparentemente, a ideia comporta a transferência do poder ao povo por meio de representação direta. O que equivale dizer que Chávez prepara as bases para acabar definitivamente com o Parlamento venezuelano.
No Aló Presidente Teórico há reflexões filosóficas interessantes e algumas lições práticas de historiografia. "Fiquei sabendo" por intermédio de Chávez que cartesiano vem de Descartes e que Simon Bolívar, 50 anos antes de Karl Marx, havia descoberto que a natureza nos faz desiguais.
Enquanto teoriza, a platéia registra rigorosamente cada palavra de Chávez como se estivesse a participar de aula magna. Só interrompe as anotações para honrar com simpático entusiasmo o grande líder em retumbantes aplausos. Entre a oferta de um conhecimento especulativo e outro, o mais engraçado no Aló Presidente Teórico são as carraspanas que Chávez passa em uma assessora meio atabalhoada e cheia de temor reverencial.
O expediente dá dinamismo ao programa. Aliás, conforme escreveu em editorial o jornal venezuelano El Nacional, a falta de massa cinzenta em Chávez não lhe permite, por mais esforço que faça, ir além do marxismo principiante, fato que o obriga a não se dedicar muito aos fundamentos filosóficos.
Então, intercala o teorismo pueril com elogios a Mahmoud Ahmadinejad, manda um positivo para o regime nortecoreano, recomenda a medicina cubana e distribui recursos para líderes das comunas. Em gesto de gratidão e obediência, eles erguem o braço direito com o punho cerrado em forma de saudação fascista de dar inveja ao fascista MST.
Chávez prega no Aló Presidente Teórico que a comuna, como ente revolucionário, como base territorial, social, política e moral deve ser construída. Não compreendi muito bem, mas gostei bastante do programa, um misto de Cassino do Chacrinha com Escolinha do Professor Raimundo. Pobres venezuelanos.